FISIOTERAPIA NA PREVENÇÃO DE DOENÇAS OSTEOMUSCULARES EM TRABALHADORES DE INDÚSTRIAS

PHYSIOTHERAPY IN THE PREVENTION OF OSTEOMUSCULAR DISEASES IN INDUSTRIAL WORKERS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8249491


Beatriz Cavalvanti de Souza
Gerlane Salles de lima Reis
Jéssica Alaide da Silva Lima
Orlando Olimpio da Silva
Patrícia Dias Costa
Rubenyta Martins Podmelle


RESUMO

Os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) representam um grupo de doenças que podem afetar diversas estruturas tendinosas, musculares e nervos periféricos. Trabalhadores de diferentes ramos no meio industrial, onde suas ocupações são bastante produtivas estão em maior risco de adoecimento, esses distúrbios podem levar ao afastamento periódicos e até mesmo a invalidez. Há anos, diversos programas de promoção à saúde (PPS) vêm sendo adotados por empregadores no ambiente de trabalho. A fisioterapia do trabalho é um dos recursos utilizados no desenvolvimento de programas preventivos nas empresas.  A mesma tem como objetivo não só resgatar a saúde do trabalhador, mas também atuar na manutenção e prevenção das DORT’s. O objetivo desse estudo foi abordar a importância da atuação do fisioterapeuta na prevenção de doenças osteomusculares em trabalhadores de indústrias. Trata-se de uma revisão da literatura composta por artigos publicados entre 2017 e 2022 nos idiomas português, inglês e espanhol. 1.848 artigos foram encontrados. Após a aplicação do filtro foram excluídos 1.664, restando 184, após leitura do título e do resumo foram excluídos 160, após leitura na íntegra foram eliminados 18 artigos, restando 6 estudos que compuseram a estrutura deste trabalho. A partir dos estudos foi possível verificar que a atuação do fisioterapeuta é importante e os estudos comprovam a eficácia das intervenções da fisioterapia e houve melhoria dos sintomas osteomusculares nos participantes.

DESCRITORES: Ergonomia; Condições de trabalho; Doenças músculo esqueléticas; transtornos traumáticos cumulativos

ABSTRACT

Musculoskeletal diseases are very common in workers who work in an industrial environment. Due to lack of prevention and time for recovery, many continue their daily journey with clinical manifestations such as localized, radiating pain, numbness, loss of strength, fatigue and muscle stiffening that often evolves into more severe and chronic cases that lead to disability. Therefore, this study aimed to address the importance of the physiotherapist’s role in the prevention of diseases in industrial workers. This is a literature review composed of articles published between 2017 and 2022. 1,848 articles were found, 1,842 were excluded after applying the filters, at the end 6 studies were selected to compose the structure of this work. From the studies it was possible to verify that the physiotherapist’s performance is important and the studies prove the effectiveness of the physiotherapy interventions and there was an improvement in the musculoskeletal symptoms in the participants.

KEYWORDS: Ergonomics; Work conditions; Musculoskeletal diseases; cumulative traumatic disorders.

INTRODUÇÃO

Desde os primórdios, há a preocupação em adaptar as ferramentas e o ambiente de trabalho às características anatômicas e fisiológicas do homem. Artefatos como empunhaduras de foices eram construídos no formato da pega humana para proporcionar maior conforto durante seu uso. Entretanto, foi só a partir de 1949, durante a Segunda Guerra Mundial, que a ergonomia teve sua aplicabilidade mais efetiva. Quando foi necessária a construção repentina de novos equipamentos tecnológicos como armas, submarinos e aviões, que seriam úteis para combater o exército inimigo (ABRAHÃO et al., 2009; BERNARDO et al., 2013).

Como muitos equipamentos não estavam adaptados às características físicas e não eram bem manuseados por quem iria operar, muitos acidentes aconteciam, ocasionando a mortes dos soldados em combate. Essas perdas representavam sérios problemas nas forças armadas, o que fez com que médicos, cientistas e engenheiros realizassem estudos e pesquisas em prol de adaptar esses soldados a essa nova realidade (BERNARDO et al., 2013; MORAIS; MONT’ALVÃO, 2000).

Essas mudanças na organização do trabalho derivadas do avanço tecnológico indicaram um novo caminho para a análise da relação homem-trabalho e suas consequências. A relevância de estudos destinados à prevenção de lesões musculoesqueléticas em situações laborais se deu devido ao fato de haver grandes possibilidades dessas doenças acarretarem consequências e prejuízos socioeconômicos para o Estado e empresas (FERREIRA; SHIMANO; FONSECA, 2009).

 Nas empresas, a redução do número de funcionários devido à ausência no trabalho por períodos de tempo prolongados significa queda na produção e na qualidade do serviço. Enquanto que, para o Estado, esses custos recaem sobre o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o pagamento recorrem dos benefícios previdenciários. Esse absenteísmo ocorre, frequentemente, devido a exigência e uso excessivo do sistema musculoesquelético, levando ao aumento da prevalência de distúrbios osteomusculares relacionado ao trabalho (DORT) (GUIMARÃES; AZEVEDO, 2012).

Os DORT´s são um conjunto de doenças que acometem articulações, músculos, nervos e tendões do corpo e são muito frequentes em meio industrial. Os membros superiores e inferiores são os mais afetados pela demanda do trabalho devido à exigência do uso excessivo que varia de acordo com a função prestada que muitas vezes acompanha a repetitividade, velocidade de movimentos e uma longa duração da atividade ((ZANDONADI et al., 2018). 

Por falta de prevenção e tempo para recuperação, os trabalhadores seguem sua jornada diária com manifestações clínicas como dor localizada, irradiada, dormência, perda de força, fadiga e enrijecimento muscular que muitas vezes evolui para casos mais graves e crônicos que levam à invalidez. Essas consequências não estão relacionadas apenas a fatores biomecânicos, havendo grande influência dos fatores organizacionais, individuais e psicossociais, o que leva a necessidade de uma estratégia preventiva. Dentre as estratégias para prevenção de agravo se manutenção da saúde do trabalhador, a fisioterapia pode atuar na diminuição dos fatores de riscos no local do trabalho, bem como na prevenção do desenvolvimento das doenças ocupacionais (GUIMARÃES; AZEVEDO, 2012; GONTIJO et al., 2012).

Com isso, a presente pesquisa teve como objetivo abordar a importância da atuação do fisioterapeuta na prevenção de doenças osteomusculares em trabalhadores. 

MÉTODO

Este artigo se trata de uma revisão da literatura. Foram coletados artigos científicos publicados entre 2018 e 2022, nos idiomas português, inglês e espanhol. As bases de dados BVSalud, PUBMED/MEDLINE, SCIELO, revistas científicas e livros foram consultadas definindo-se como descritores: fisioterapia, ergonomia, condições de trabalho, doenças músculo esqueléticas e Transtorno traumático cumulativo nos idiomas português e inglês.

Os critérios de inclusão adotados nesta pesquisa foram: artigos relacionados à relevância da atuação fisioterapêutica como prevenção para doenças osteomusculares em ambiente industrial. Foram excluídos artigos que abordaram a atuação fisioterapêutica nos setores administrativos e artigos de revisão. Os artigos coletados foram analisados através de estudo comparativo dos dados neles contidos referente à importância da atuação fisioterapêutica como prevenção de doenças nesse grupo de trabalhadores.

RESULTADOS 

A partir dos cruzamentos dos descritores, 1.848 artigos foram encontrados. Após aplicação dos filtros foram excluídos 1.664, restando 184, após leitura de título e resumo foi excluído 160, restando 24, após leitura na íntegra foram eliminados 18, sendo dez por fuga ao tema, três excluídos por duplicidade, e cinco excluídos por serem artigos de revisão, restando seis estudos que irão compor a estrutura deste trabalho. 

Os procedimentos de buscas e seleção dos artigos estão demonstrados na figura 1. 

Figura 1.  Fluxograma

Fonte: Elaborado por Autores, 2022.

Os artigos científicos selecionados foram agrupados e resumidos no quadro 1, a seguir:

Quadro 1.  Resumo dos artigos selecionados para a presente revisão

Autor/ AnoObjetivoMétodoConclusão
COMPER et al., 2017Avaliar a eficácia da rotação de empregos para reduzir as horas de trabalho perdidas devido ao afastamento por prevalência de sintomas musculoesqueléticosO estudo consistiu em um ensaio controlado aleatório. Os setores de produção da indústria têxtil foram randomizados para grupo de intervenção e controle. Ambos os grupos receberam treinamento ergonômico. O grupo de intervenção realizou um programa de rotação de trabalho, a principal medida do resultado foi o número de horas de trabalho perdidas devido a licença médica por doenças musculoesqueléticas. O programa de rotação de trabalho não foi eficaz para reduzir o número de horas de trabalho perdidas devido licença médica diminuir a prevalência de sintomas musculoesqueléticos ou melhorar a percepção da dor músculo esquelética e fatores de risco no local de trabalho. 
RON et al., 2018Um estudo descritivo com abordagem ergonômica para determinar risco de lesões músculo esqueléticas no trabalho Assistente de mesa de baixa pressão, em uma cervejaria na cidade de Cagua, Venezuela. Foi realizada uma avaliação ergonômica descritiva em duas fases do cargo de assistente de mesa de baixa pressão.  Havia 10 homens solteiros na fase I e dois homens na fase II, com idade média de 31 anos, trabalhando em turnos rotativos de segunda a sexta-feira. As tarefas consistiam em encaixotamento, remoção de placas, posicionamento, limpeza, transferências e paletização.O risco de lesão foi medido usando o método MODSI(Análise do modelo simples e integral) e a Equação NIOSH (equação NIOSH é baseada no conceito de que o risco de distúrbios osteomusculares aumenta com a distância entre o limite de peso preconizado e o peso efetivamente manejado)Uma vez aplicadas às metodologias de avaliação de risco aos distúrbios musculoesqueléticos, foi possível evidenciar que as tarefas posicionarem, enche, deslocar e paletizar requerem maior comprometimento postural, o que contribui para que o fator biomecânico seja o elemento mais estressante devido a fatores como posição prolongada em pé, movimentos de torção do tronco, extensão dos ombros, cotovelos e braços, lateralização dos punhos, flexão das costas e pescoço e força relativa
E. PETERS et al., 2018Verificar a eficácia de um programa voltado para saúde de todos os trabalhadores. A intervenção-ARM(todos os movimentos corretos) em canteiros de obras Comerciais, usando uma abordagem de métodos mistos.Foi realizado um ensaio controlado aleatório em dez locais de trabalho (cinco intervenções (n = 324); cinco locais de controle (n = 283). Foram coletadas informações com os trabalhadores em todos os locais antes e depois daExposição em um e seis meses. Modelos de regressão linear e logística avaliaram o efeito da intervenção sobre a dor e lesões, comportamentos alimentares e de atividade física, tabagismo, práticas ergonômicas e limitações de trabalho.A avaliação do processo revelou barreiras à fidelidade e implementação da intervenção, incluindo um canteiro de obras multi empregador seguro, a naturezaitinerante dos trabalhadores, as pressões de produção concorrentes, o apoio administrativo e oclima inclemente. O programa AlltheRight Moves (ARM) teve um impacto positivo a nível individual nos locais de trabalho com o programa. A longo prazo, a estrutura multi-organizacional no ambiente de trabalho da construção precisa ser considerada para facilitar mais mudanças a montante e alongo prazo.
BILLY et al.2019Integrar e avaliar os efeitos imediatos e de longo prazo das intervençõesSobre os resultados da exposição ocupacionalAs dores no pescoço e no ombro relacionadas ao trabalho (DORT) são problemas comuns, e pesquisas ocupacionais anteriores se concentraram em intervenções ergonômicas, como ajustar estações de trabalho, enquanto os fisioterapeutas tradicionalmente se concentravam no ensino de exercícios para melhorar a postura e o controle do movimento no cenário clínico. Um total de 101 pacientes diagnosticados com WRNSP foram randomizados em 2 grupos: grupo controle (CO) (n = 50) e grupo ergomotor (EM) (n = 51). Os participantes do grupo controle tiveram 12 semanas de cuidados habituais (fisioterapia convencional), enquanto os participantes do grupo EM receberam um programa integrado com treinamento de controle motor sob medida e aconselhamento ergonômico por 12 semanas. Intervenções executadas como aconselhamento ergonômico para o local de trabalho, biofeedback para relaxar os músculos tensos, tens e ultrassom, exercícios de reeducação de controle motor, terapia manual e exercícios padrões para alongamentos para pescoço. O presente estudo demonstrou a eficácia do programa inovador de intervenção ergomotora para trabalhadores com DORT para reduzir a demanda física autopercebida e melhorar a saúde psicossocial. O programa de 12 semanas consistiu em consulta de transferência de conhecimento de ergonomia, facilitação do controle motor por biofeedback e exercícios personalizados de condicionamento do pescoço e ombros
CLAUDON L. et al.,(2020)Investigar o impacto da estimulação restritiva ou flexível durante a montagem de produtos Avaliar para duas faixas etárias diferentes, os efeitos de dois ritmos de estimulação. Para tanto, os participantes realizaram uma tarefa de montagem leve e repetitiva com ou sem flexibilidade na duração do ciclo. Tanto as montagens de referência quanto as montagens personalizadas foram realizadas; este último incluiu operações suplementares que exigiam tempo de montagem adicional em comparação com a montagem de referênciaQuatorzes participantes jovens (YP) (25-30 anos) e 14 participantes mais velhos (OP) (55-60 anos) se voluntariaram para este estudo. Todos os participantes eram do sexo masculino, destros e possuíam experiência profissional envolvendo trabalho braçal.Os dados coletados foram usados para analisar o tempo de ciclo, desempenho de montagem, carga muscular e adaptações cinemáticasVerificou-se que a condição de estimulação flexível melhora o desempenho da produção, aumentando o tempo de ciclo de montagem personalizado e reduzindo a carga biomecânica, tanto para participantes jovens quanto para idosos. No entanto, como a tarefa exigia destreza manual fina, os participantes mais velhos foram submetidos a uma carga biomecânica maior, mesmo no cenário de estimulação flexível. Esses resultados devem encorajar os projetistas de linhas de montagem a permitir restrições de tempo flexíveis o máximo possível e a estarem particularmente atentos às necessidades dos trabalhadores mais velhos.
A. HESS et al., 2020Verificar a eficácia do treinamento ergonômico combinado com estratégias de comunicação de voz segura. O programa SAVE (SafetyVoicefor Ergonimics) foi aplicado e o treinamento foi projetado para fornecer aos pedreiros aprendizes conhecimentos detalhados de soluções ergonômicas, habilidades de resoluções de problemas e estratégias para falar de perigos que encontram no local de trabalho.Centros de treinamento de aprendizagem foram designados aleatoriamente para um dos três braços de estudo: somente treinamento ergonômico (E), treinamento de voz ergonômico e de segurança (ESV), ou em braço de controle sem intervenção de treinamento adicional (C). Todos os participantes consentidos dentro de um centro participaram deste estudo resultando em um projeto de ensaio controlado aleatório em cluster (RCT)  Foi desenvolvido o programa de treinamento SafetyVoicefor  Ergonimics (SAVE), o objetivo do programa era inserir o treinamento ergonômico no trabalho com evidências com o treinamento de comunicação e métodos apropriados para aprendizes adultos.Os aprendizes treinados do SAVE utilizaram, mas sua voz de segurança e tiveram maior participação na segurança. Eles adotaram práticas mais ergonômicas como o ajuste de andaimes e o uso de melhores posturas corporal.O SAVE é um programa muito eficaz, proporcionando o treinamento necessário de comunicação ergonômica e de segurança para os trabalhadores quando iniciam suas atividades. A ampla adoção do treinamento SAVE pela indústria de alvenaria tem o potencial de capacitar os aprendizes, elevar a cultura de segurança do comércio e, por fim reduzir os distúrbios musculoesqueléticos.

DISCUSSÃO

Nesta revisão bibliográfica foi possível verificar que os estudos selecionados utilizaram principalmente questionários e programas de intervenção ergonômica e segurança ao trabalhador e a saúde no geral. 

COMPER et al., (2017) realizaram um ensaio controlado aleatório, este estudo foi realizado em 1 ano por um terapeuta ergonômico. Os setores de produção de têxtil foram randomizados para grupos de intervenção e controle. Ambos os grupos receberam treinamento ergonômicos. O estudo foi realizado em uma grande fábrica de têxtil brasileira, quatro setores de produção (acabamento de meias, acabamentos de roupas íntimas, produção de costuras de meias e produção de costuras de roupas íntima) preencheram os critérios de compatibilidade e foram inclusos no estudo (n = 581).

Entretanto, durante os 12 meses de acompanhamento do estudo, 136 trabalhadores não quiseram participar e 330 foram demitidos por motivos comerciais. Por tanto setores foram realocados para o grupo de intervenção e dois para o grupo controle, os participantes eram predominantes por mulheres (77,8%). No acompanhamento por 12 meses houve uma melhora significante de punhos e mãos, já os sintomas de dor, dormência e formigamento teve uma melhora em quase o corpo todo pescoço, ombro, mão, coluna torácica e lombar, quadris, joelhos e pés. Após 12 meses os resultados mostraram que a rotação de trabalho não foi eficaz para reduzir o número de horas perdidas devido a licença por doenças musculoesqueléticos. 

RON et al. (2018) realizaram um estudo descritivo com abordagens ergonômicas em uma cervejaria na cidade de Cagua, Venezuela, 10 homens compuseram a fase 1 e na fase 2 foram 2 homens com idade média de 31 anos, trabalhando em turnos rotativos de segunda a sexta. As atividades consistiam em encaixotamento, remoção de placas, posicionamento, limpeza, transferências e paletização. Foram utilizadas entrevistas individuais e em grupos, para recolhimento de dados sobre características sociodemográficas e ponto de vista sobre questões de saúde referente ao trabalho. 

As avaliações do risco de lesões músculo esqueléticas no trabalho de auxiliar de mesa de baixa pressão indicam que nas tarefas de boxe, retirar placas o risco é de nível médio, enquanto no posicionamento, transferência e paletização o risco é alto. Além disso, para obter o risco de lombalgia a partir da atividade de paletização, foi utilizada a equação NIOSH. Os trabalhadores do posto de trabalho “mesa de baixa pressão” têm como atividade habitual durante seu turno de 8 horas; “paletização” de caixas de cerveja com garrafas vazias de aproximadamente 11 Kg. Esta tarefa é realizada diariamente durante 20 min. A caixa tem boa aderência, e em condições normais a velocidade de paletização é de 0,2 elevadores/minuto; a altura de colocação (destino) das caixas varia conforme o palete é preenchido e para cada palete são paletizadas 9 fileiras de 7 caixas cada fileira. 

Foi recomendado algumas mudanças na forma como o trabalho foi organizado.  Entre estes, implementar um plano de redução de garrafas rejeitadas, projetar ferramentas manuais para abrir garrafas, instalar uma cadeira multiposição para permitir mudanças de postura, desenvolver um plano preventivo de distúrbios osteomusculares, pausas de trabalho e prevenção de acidentes, fornecer equipamentos de proteção individual, ampliar o trabalho espaços e incorporando dispositivos de assistência mecânica adequados às características das tarefas e necessidades. 

E.PETERSet al., desenvolveram um ensaio de controle aleatório, para verificar a saúde dos trabalhadores. Em dez (5 pares combinados) canteiros de obras Comerciais (5 intervenções; 5 controle)em toda área metropolitana de Boston em Massachusetts, Estados Unidos. Os canteiros de obras foram combinados dentro de cada empresa contratante, com isto aleatoriamente cada par de canteiro recebeu intervenção e controle. Os grupos de intervenção foram aplicados a intervenção ARM (todos os movimentos corretos), e os grupos de controle não receberam intervenção. Os canteiros de obras foram selecionados da seguinte forma: tinham que estar em operação a mais de 4 meses, e ter 30 ou mais trabalhadores. 

Efeitos da intervenção ARM sobre a dor e lesões em um mês (FU1) e seis meses (FU2) pós-intervenções, há diferenças na incidência da dor entre os trabalhadores dos dois grupos de intervenção e controle. Ocorreram aproximadamente 42% de redução de risco de ter novas dores ou lesões em comparação aos locais de controle, enquanto a relevância desta redução de risco ficou mantida durante FU2. Os treinamentos dos profissionais variam entre 25 a 45 minutos, o número de inspeções ergonômicas relatórios e feedback diferiram muito nos cinco locais de intervenções. Muitas melhorias registradas se concentraram em como os trabalhadores estavam montando suas próprias áreas de trabalho em vez de mudanças de nível de sistema, como por exemplo, tirando equipamentos do chão e executando atividades em alturas da cintura e não abaixo do joelho. O programa ARM teve um impacto positivo em nível individual nos locais de trabalho que implementaram o programa. O experimento viu melhorias nas práticas ergonômicas, assim como a redução de novas dores e lesões, e uma melhor dieta e atividade física, conforme relatado pelos Trabalhadores.

BILLY et al, (2019) desenvolveram um desenho de ensaio clínico randomizado.. Cento e um participantes com dor no pescoço-ombro relacionado ao trabalho foram selecionados de dois departamentos de fisioterapia e dois ambulatórios do departamento de ortopedia e traumatologia em dois hospitais públicos em Hong Kong. Os participantes foram divididos em 2 grupos: participantes do grupo CO (controle) receberam 12 semanas de tratamentos fisioterapêuticos convencionais, incluído aparelhos como ultrassom tens (eletroestimulação transcutânea de nervos) para alívio de sintomas. 

O programa de intervenção no grupo EM (ergomotor) foi realizado em 12 semanas em 16 sessões sendo 60 minutos cada sessão. Os terapeutas desenvolveram algumas soluções ergonômicas de baixa tecnologia possível para diminuição de condições de risco ocupacional, facilitação do controle motor por meio do biofeedback (motor): os terapeutas por meio de análise da postura e biomecânica, orientaram o participante sobre a concepção controle muscular dos principais músculos posturais do pescoço e do ombro trapézio superior e trapézio inferior.

Na avaliação pós intervenção (T2) foram avaliadas medidas de resultado ocupacional e foi utilizado um questionário e perceberam que a redução foi mais significante no grupo EM ao grupo CO, ambos os grupos apresentaram melhoras significativas no estilo de trabalho. A redução significativa na classificação da percepção de esforço neste estudo pode estar referente potencialmente às mudanças realizadas nas práticas de trabalhos ou posturas no ambiente de trabalho no grupo EM. Esse achado foi importante para o estudo, foi considerado um indicador importante nas mudanças no hábito de controle motor dos participantes decorrente do treino ergo motor.

CLAUDON L, et al; (2020), executaram um estudo relacionado ao impacto da folga temporal nas cargas biomecânicas em uma força de trabalho em envelhecimento. Quatorzes participantes jovens (25-30 anos) e 14 participantes mais velhos (55-60 anos) se voluntariaram para este estudo. Todos os participantes eram do sexo masculino, destros e possuíam experiência profissional envolvendo trabalho braçal. Efeitos associados à idade foram observados na carga biomecânica nos membros superiores durante tarefas de montagem leve ou de computação repetitiva.  Esses efeitos conseguem resultar eminentemente em pontos mais altos da atividade em participantes mais velhos para alguns músculos, como o trapézio, o extensor comum de dedos, os extensores de pescoço, o infraespinal, e os músculos deltoides. 

Não houve diferença significativa entre as duas faixas etárias nem entre as condições em que a tarefa foi realizada ao examinar o posicionamento dos participantes durante a atividade de montagem. Os participantes mostraram uma tendência de colocar a metade superior direita do corpo ligeiramente para a frente em relação ao lado esquerdo, e esse avanço foi associado a uma ligeira elevação do lado direito ombro em relação à esquerda. Essa leve assimetria sistemática foi coerente com os deslocamentos do membro superior direito necessários para a realização da tarefa.

As amplitudes articulares do ombro e cotovelo foram monitoradas durante a movimentação das peças de seus recipientes de armazenamento em direção ao bloco e sua remoção, do bloco em direção aos contêineres. A amplitude de flexão do ombro direito no YP foi significativamente maior do que no OP durante a colocação das peças. Em contraste, durante a remoção de peças, a amplitude de flexão observada para YP foi significativamente menor do que a medida para OP. Durante a colocação das peças, a amplitude de abdução para o ombro e a amplitude de flexão para o cotovelo em OP foi significativamente maior que as medidas para YP. Durante a retirada das peças, não foram observadas diferenças significativas para essas amplitudes entre as duas faixas etárias. Esses resultados foram observados tanto nas condições CC quanto nas condições FC.

Comprovou-se que a condição de estimulação flexível melhora o desempenho da produção, aumentando o tempo de ciclo de montagem personalizado e reduzindo a carga biomecânica, tanto para participantes jovens quanto para idosos. No entanto, como a tarefa exigia destreza manual fina, os participantes mais velhos foram submetidos a uma carga biomecânica maior, mesmo no cenário de estimulação flexível. Esses resultados devem encorajar os projetistas de linhas de montagem a permitir restrições de tempo flexíveis o máximo possível e a estarem particularmente atentos às necessidades dos trabalhadores mais velhos.

A.J HASS et al., desenvolveram o programa de treinamento Safety Voice for  Ergonimics (SAVE), Um total de 183 aprendizes de alvenaria de 14 centros de treinamento de aprendizes do instituto internacional de alvenaria (IMI), foram selecionados para participar do estudo SAVE. Foi criada uma lista dos participantes, a partir desta lista 14 centros foram notificados e estes centros foram designados a um dos três grupos de intervenção aleatoriamente. (E, ESV e C) todos os participantes foram inscritos e selecionados para desenvolver o treinamento SAVE.

As dores musculoesqueléticas relatadas pelos participantes não houve melhoras significativas durante o estudo, no início da aplicação do SAVE todos os grupos relataram ter alto índice de dor músculo esquelética, especialmente na coluna, mãos e punhos. A dor lombar não se especifica e provavelmente resulta de inclinação repetitiva relacionado ao movimento combinada do trabalho com levantamento de peso frequentemente. As atividades foram bem programadas entre os trabalhadores, a equipe que desenvolveu o estudo não tiveram surpresas com a falta de mudança nas dores musculoesqueléticas pois o objetivo do SAVE era evitar lesões traumáticas acumulativas. Observando isto, os dados analisados mostram que os sintomas dos aprendizes não pioraram durante 6 meses de estudo. Os aprendizes que receberam o treinamento E, e ESV relataram que desenvolveram a maior prática segura no trabalho, como uso de melhores posturas, práticas ergonômicas em ajustes de andaime. O programa SAVE foi bem aceito e teve eficácia na melhoria em práticas ergonômicas. 

CONCLUSÃO 

Nesta revisão bibliográfica, foi possível verificar que a atuação do fisioterapeuta é importante e os estudos comprovam a eficácia das intervenções da fisioterapia e houve melhoria dos sintomas osteomusculares nos participantes. Os estudos relatam intervenções positivas sobre DORT utilizando liberação miofascial, TENS, ultrassom, práticas ergonômicas relacionadas à segurança do trabalhador no seu ambiente de trabalho como ajustes do corpo com seus materiais de trabalho e informativos sobre a postura. 

Foi percebido também que os estudos selecionados utilizaram principalmente questionários sobre dor, estresse, tempo de trabalho, pausa e tipo da tarefa para avaliar o trabalhador. Por tanto, para condutas terapêuticas se tem eficácia nas intervenções ergonômicas para prevenção de lesões musculoesqueléticas no meio industrial.  

Ainda, é importante ressaltar algumas limitações. Ao longo da pesquisa houve resultados insatisfatórios participantes abandonando o programa, empresas não se habituaram aos esquemas de realizações de intervenções, alguns trabalhadores foram demitidos ao longo do estudo. Contudo sugerimos que estudos futuros possam estudar empresas que tenham já uma rotina estabelecida e intervalos que possam ajudar no desenvolvimento do estudo. 

REFERÊNCIAS

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COMPER, M. L. C.; PADULA, R. S. The effectiveness of job rotation prevent work-related musculoskeletal disorders: protocol of a cluster randomized clinical trial. BMC MusculoskeletDisord, São Paulo, v. 15, n. 170, p. 1-6, may. 2014. DOI: 10.1186/1471-2474-15-170

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HESS, J. A et al. Safety Voice for Ergonomics (SAVE): Evaluation of a masonry apprenticeship training program. Applied Ergonomics, Oregon, v. 86, n. 103083, p. 1-15, jul. 2020. DOI: 10.1016/j.apergo.2020.103083

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