PHYSIOTHERAPY IN EARLY STIMULATION IN CHILDREN WITH BRAIN MALFORMATION.
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202506152109
Loraine Silva Santos¹
Ronaldo Nunes Lima²
Resumo
Introdução: A estimulação precoce em crianças com malformação cerebral é fundamental para potencializar o desenvolvimento neuropsicomotor, minimizando impactos funcionais e melhorando a qualidade de vida. Objetivo: Este estudo visa analisar a contribuição da fisioterapia na estimulação precoce de crianças com malformação cerebral, destacando seus benefícios na neuroplasticidade e funcionalidade. Materiais e Métodos: A metodologia baseia-se em uma revisão de literatura sobre técnicas fisioterapêuticas aplicadas à estimulação precoce, abordando intervenções motoras, sensoriais e cognitivas. Resultado: Estudos indicam que a fisioterapia precoce favorece a aquisição de habilidades motoras, melhora o tônus muscular e promove maior independência funcional. Conclusão: A estimulação precoce com abordagem fisioterapêutica demonstra ser uma estratégia eficaz para potencializar o desenvolvimento infantil, reforçando a importância da intervenção precoce na reabilitação de crianças com malformação cerebral.
Palavras-Chave: Estimulação precoce; fisioterapia; malformação cerebral; desenvolvimento infantil.
Abstract
Introduction: Early stimulation in children with brain malformation is essential to enhance neuropsychomotor development, minimizing functional impacts and improving quality of life. Objective: This study aims to analyze the contribution of physiotherapy in the early stimulation of children with brain malformation, highlighting its benefits in neuroplasticity and functionality. Materials and Methods: The methodology is based on a literature review on physiotherapy techniques applied to early stimulation, addressing motor, sensory and cognitive interventions. Result: Studies indicate that early physiotherapy favors the acquisition of motor skills, improves muscle tone and promotes greater functional independence. Conclusion: Early stimulation with a physiotherapy approach proves to be an effective strategy to enhance child development, reinforcing the importance of early intervention in the rehabilitation of children with brain malformation.
Keywords: Early stimulation; physiotherapy; brain malformation; child development.
Introdução
As malformações cerebrais representam um conjunto de anomalias estruturais do sistema nervoso central que podem ocorrer durante o desenvolvimento fetal, resultando em comprometimentos neurológicos significativos. Essas condições englobam desde alterações no desenvolvimento cortical até defeitos do tubo neural, impactando diretamente o desenvolvimento neuropsicomotor das crianças afetadas (Souza et al., 2023).
A estimulação precoce, definida como um conjunto de intervenções terapêuticas realizadas nos primeiros anos de vida, visa potencializar o desenvolvimento motor, cognitivo e social de crianças com risco de atrasos ou deficiências. No contexto das malformações cerebrais, a fisioterapia desempenha um papel crucial na promoção da neuroplasticidade e na aquisição de habilidades funcionais (Gonçalves et al., 2023).
Estudos recentes têm demonstrado a eficácia da intervenção fisioterapêutica precoce em crianças com paralisia cerebral, uma das consequências das malformações cerebrais. Gonçalves et al. (2023) observaram que a estimulação precoce auxilia no desenvolvimento neuropsicomotor por meio de estímulos que promovem a aquisição de habilidades não previamente presentes, contando com a intervenção de fisioterapeutas nesses casos.
De maneira semelhante, Souza et al. (2023) destacaram que a estimulação precoce é de extrema importância para o desenvolvimento de crianças com paralisia cerebral, com a fisioterapia e suas técnicas resultando em melhorias significativas no desenvolvimento global.
Dados epidemiológicos sobre a prevalência de malformações cerebrais no Brasil são limitados. No entanto, a paralisia cerebral, frequentemente associada a essas malformações, é uma das causas mais comuns de deficiência motora na infância, afetando aproximadamente 2 a 3 crianças a cada 1.000 nascidas vivas (Teixeira, 2020). Esses números ressaltam a importância de intervenções terapêuticas eficazes e precoces para minimizar os impactos dessas condições no desenvolvimento infantil.
A literatura atual enfatiza a relevância de uma abordagem multidisciplinar na estimulação precoce, na qual a fisioterapia se destaca por promover a funcionalidade e a qualidade de vida das crianças com malformações cerebrais. A intervenção precoce proporciona experiências sensório-motoras que auxiliam na maturação e ganho de habilidades funcionais, permitindo que a criança alcance seu pleno potencial de desenvolvimento (Teixeira, 2020).
Este estudo tem como objetivo analisar a contribuição da fisioterapia na estimulação precoce de crianças com malformação cerebral, destacando seus benefícios na neuroplasticidade e funcionalidade, bem como fornecer orientações para uma reabilitação adequada.
Referencial Teórico
A estimulação precoce em crianças com malformação cerebral representa uma intervenção terapêutica essencial, voltada à promoção do desenvolvimento neuropsicomotor e à minimização dos atrasos funcionais decorrentes de lesões cerebrais congênitas ou adquiridas nos primeiros anos de vida. Nesses casos, o Sistema Nervoso Central (SNC) ainda está em processo de maturação, o que permite maior plasticidade neuronal e melhores respostas às intervenções terapêuticas, especialmente quando iniciadas nos primeiros meses de vida (Mello et al., 2020).
Estudos recentes destacam a importância de programas de estimulação precoce, especialmente quando realizados de forma remota, no desenvolvimento motor de crianças com paralisia cerebral. Hartel et al. (2022) afirmam que o uso de programas remotos de estimulação precoce pode melhorar significativamente o desempenho motor de crianças com paralisia cerebral, conforme avaliado pela Medida da Função Motora Grossa (GMFM-88). A GMFM-88 é um instrumento padronizado que mede mudanças na função motora bruta ao longo do tempo. Segundo Russel et al. (2019), a escala GMFM-88 avalia cinco dimensões da função motora: (A) deitar e rolar, (B) sentar, (C) engatinhar e ajoelhar, (D) ficar em pé e (E) andar, correr e pular, pontuando cada item de 0 a 3, com base na capacidade da criança de realizar a tarefa.
A fisioterapia atua de forma significativa nesse contexto, oferecendo estratégias específicas que contribuem para o aprimoramento de habilidades motoras, cognitivas e sensoriais. De acordo com Oliveira et al. (2021), a estimulação precoce proporciona maior independência funcional a crianças com alterações neuromotoras, auxiliando no enfrentamento das limitações e melhorando sua qualidade de vida.
O conceito de estimulação precoce está fundamentado na neuroplasticidade, capacidade do sistema nervoso de se reorganizar em resposta a estímulos. Segundo Bosa e Tamanaha (2019), quanto mais cedo for iniciado o processo terapêutico, maiores são as chances de adaptação funcional do cérebro, uma vez que o ambiente pode influenciar diretamente a construção de novas conexões neurais.
Além disso, há consenso na literatura quanto à necessidade de uma abordagem multiprofissional. Santos et al. (2020) argumentam que a atuação conjunta de fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e psicólogos potencializa os resultados terapêuticos, promovendo não apenas avanços motores, mas também ganhos na comunicação, no comportamento e nas habilidades sociais da criança.
A fisioterapia, especificamente, conta com diferentes métodos e recursos terapêuticos. A Terapia Neuroevolutiva, também conhecida como abordagem Bobath, é amplamente empregada em reabilitação infantil. De acordo com Silva et al. (2023), essa técnica visa inibir padrões de movimento patológicos e facilitar padrões mais funcionais, promovendo o controle postural, a estabilidade proximal e o aprimoramento da funcionalidade. Outras estratégias incluem o uso da estimulação multissensorial, que estimula simultaneamente os sistemas tátil, visual e auditivo para reforçar conexões sinápticas (Carvalho et al., 2021), além da , uma intervenção que utiliza as propriedades da água, como a flutuação e a resistência, para facilitar o movimento, aliviar espasticidade e ampliar a amplitude de movimento (Lima; Ferreira, 2022).
As intervenções são adaptadas individualmente conforme o tipo e o grau de comprometimento neurológico. Souza et al. (2021) reforçam que terapias personalizadas, contínuas e iniciadas precocemente contribuem para o aumento da autonomia e melhora na qualidade de vida da criança e de sua família.
No cenário brasileiro, a Política Nacional de Atenção à Saúde da Pessoa com Deficiência (Brasil, 2020) prevê a estimulação precoce como parte das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), com foco em crianças de 0 a 3 anos. A política orienta que os atendimentos sejam realizados por equipes multiprofissionais e de forma integral, valorizando a participação da família no processo terapêutico. Apesar disso, persistem desigualdades de acesso entre as diferentes regiões do país, sendo os serviços mais concentrados em áreas urbanas e na rede suplementar de saúde (Gonçalves et al., 2022).
No Brasil, a estimulação precoce para crianças com paralisia cerebral é oferecida por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), através da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (RCPD). Essa rede integra serviços de atenção básica, especializada e hospitalar, visando promover o cuidado integral à pessoa com deficiência. A RCPD foi estabelecida pela Portaria de Consolidação nº 3/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, e tem como objetivos a promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação, com foco na autonomia e inclusão social (Brasil, 2022).
Na atenção básica, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) desempenham papel fundamental na identificação precoce de deficiências e no acompanhamento do desenvolvimento infantil. Estudo multicêntrico realizado em oito estados brasileiros evidenciou que 63,6% dos profissionais de saúde realizam ações de identificação precoce de deficiências, e 49% efetuam acompanhamento do desenvolvimento infantil. As equipes de Saúde da Família (eSF) e os Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) têm maior envolvimento nessas ações, destacando a importância da formação profissional e do conhecimento das normativas relativas à RCPD (Mendonça et al., 2024).
Na atenção especializada, os Centros Especializados em Reabilitação (CER) são responsáveis pelo diagnóstico, tratamento e reabilitação de pessoas com deficiência física, auditiva, visual e intelectual. Esses centros oferecem serviços multiprofissionais e são classificados em níveis II, III ou IV, conforme a quantidade de modalidades de reabilitação ofertadas. Durante a pandemia de COVID-19, os CER enfrentaram desafios significativos, incluindo a redução de 33,3% no total de procedimentos realizados no primeiro ano da pandemia. No entanto, houve recuperação das médias em relação ao ano anterior à pandemia em 11 grupos de procedimentos no segundo ano, evidenciando a resiliência e a capacidade de adaptação desses serviços (Suda et al., 2023).
As Diretrizes de Atenção à Pessoa com Paralisia Cerebral, atualizadas em 2024 pelo Ministério da Saúde, oferecem orientações às equipes multiprofissionais para o cuidado da pessoa com paralisia cerebral nos diferentes pontos de atenção da rede de saúde ao longo do ciclo de vida. Essas diretrizes enfatizam a importância da estimulação precoce como estratégia para potencializar o desenvolvimento neuropsicomotor e promover a inclusão social (Brasil, 2024).
A identificação precoce de bebês com risco de paralisia cerebral tem sido aprimorada por meio de avaliações neurodesenvolvimentais realizadas entre três e quatro meses de idade. Um estudo conduzido por Malhotra et al. (2024) demonstrou que tais avaliações podem prever com precisão a gravidade da paralisia cerebral, permitindo intervenções terapêuticas antecipadas, como fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia. Essas intervenções precoces aproveitam a neuroplasticidade cerebral nos primeiros meses de vida, resultando em melhores desfechos funcionais aos dois anos de idade. A pesquisa enfatiza a importância de integrar avaliações precoces na prática clínica de rotina para fornecer intervenções oportunas e melhorar os resultados a longo prazo para crianças com paralisia cerebral.
Além disso, uma revisão sistemática realizada por Damiano e Longo (2021) analisou intervenções motoras precoces em crianças de 0 a 3 anos com ou em risco de paralisia cerebral. A revisão destacou que abordagens baseadas em enriquecimento e atividades específicas, iniciadas antes dos cinco meses de idade, mostraram efeitos positivos no desenvolvimento motor. Entre as intervenções analisadas, a Terapia de Movimento Induzido por Restrição (CIMT) emergiu como eficaz, com tamanhos de efeito elevados. No entanto, a revisão também apontou a necessidade de mais estudos de alta qualidade para confirmar esses achados e orientar práticas clínicas baseadas em evidências.
Dessa forma, observa-se que a estimulação precoce em crianças com malformações cerebrais é uma abordagem amplamente respaldada pela literatura científica e pelas políticas públicas, sendo essencial a atuação precoce, contínua e integrada para promoção de um desenvolvimento mais funcional e com menor impacto futuro.
Materiais e Métodos
Opresente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura que teve como objetivo identificar e analisar as evidências científicas disponíveis acerca dos efeitos da estimulação precoce no desenvolvimento motor de crianças com paralisia cerebral. Para garantir a qualidade metodológica da pesquisa, foram adotados cuidados rigorosos nas etapas de seleção, dispensa e manutenção da amostra de estudos incluídos.
Inicialmente, foram definidos os critérios de inclusão com base na relevância dos temas abordados, no alinhamento com o objetivo da pesquisa e na atualidade dos dados. Foram incluídos artigos publicados nos últimos cinco anos (entre 2019 e 2025), disponíveis na íntegra, nos idiomas português, inglês ou espanhol, que abordassem de forma direta a estimulação precoce em crianças com diagnóstico de paralisia cerebral. A seleção priorizou estudos que apresentassem metodologias consistentes, com destaque para ensaios clínicos, revisões sistemáticas, estudos de coorte, artigos originais e relatos de caso que discutissem intervenções fisioterapêuticas precoces e seus efeitos no desenvolvimento motor infantil.
A busca dos artigos foi realizada nas bases de dados eletrônicas PubMed, SciELO, LILACS, PEDro e Google Acadêmico. Foram utilizados descritores controlados combinados por operadores booleanos como “paralisia cerebral”, “estimulação precoce”, “intervenção precoce”, “fisioterapia”, “desenvolvimento motor” e “neuroplasticidade”. O cruzamento dos termos foi realizado de forma a ampliar a abrangência dos resultados e garantir a inclusão de estudos relevantes. Após a busca inicial, foram identificados 68 artigos. Esses passaram por uma leitura preliminar de títulos e resumos, sendo excluídos aqueles que não correspondiam ao tema proposto, que apresentavam duplicidade nas bases de dados, ou que não estavam disponíveis na íntegra.
A seguir, procedeu-se à leitura crítica dos 52 artigos restantes, observando-se critérios de elegibilidade metodológica, clareza nos resultados, coerência nas conclusões e relação direta com a estimulação precoce em crianças com paralisia cerebral. Estudos que tratavam exclusivamente de outras condições neurológicas, que abordavam intervenções sem foco fisioterapêutico ou que apresentavam dados inconclusivos foram descartados. Ao final deste processo, a amostra foi composta por 35 artigos científicos que atenderam plenamente aos critérios estabelecidos.
A manutenção da amostra foi assegurada por meio da organização e registro sistemático de todos os dados em uma planilha eletrônica contendo informações como autor, ano de publicação, tipo de estudo, objetivo, principais intervenções, resultados e conclusões. Essa sistematização permitiu o acompanhamento detalhado da análise e garantiu a fidedignidade dos dados extraídos. O processo de seleção e avaliação foi realizado por duas pesquisadoras de forma independente, a fim de reduzir possíveis vieses, sendo resolvidas divergências mediante consenso.
Portanto, os procedimentos adotados asseguraram a seleção criteriosa e a integridade metodológica da amostra, contribuindo para a confiabilidade dos resultados obtidos nesta revisão integrativa.
Resultados e Discussão
A estimulação precoce em crianças com malformações cerebrais tem sido objeto de diversos estudos internacionais nos últimos cinco anos, evidenciando a eficácia de intervenções fisioterapêuticas no desenvolvimento neuropsicomotor desses pacientes.
Um estudo conduzido por Smith et al. (2020) avaliou 50 crianças com paralisia cerebral submetidas a um programa intensivo de fisioterapia baseado na abordagem Bobath. Os resultados demonstraram uma melhora significativa na função motora grossa, com um aumento médio de 20% nos escores da Gross Motor Function Measure (GMFM) após seis meses de intervenção.
Em outra pesquisa, Johnson e Lee (2019) investigaram os efeitos da estimulação precoce combinada com terapia ocupacional em 30 lactentes diagnosticados com malformações cerebrais congênitas. Os achados indicaram que 80% das crianças apresentaram avanços notáveis na coordenação motora fina e na capacidade de interação social após um período de oito meses de tratamento.
Além disso, um estudo longitudinal realizado por Wang et al. (2021) acompanhou 40 crianças com microcefalia submetidas a um protocolo de estimulação multissensorial. Os resultados apontaram para uma melhoria de 15% no desenvolvimento cognitivo e motor, conforme avaliado pela Bayley Scales of Infant Development, ao longo de um ano de intervenção.
Os resultados apresentados corroboram a literatura existente, ressaltando a importância da estimulação precoce no desenvolvimento de crianças com malformações cerebrais. A melhora significativa na função motora grossa observada por Smith et al. (2020) está alinhada com os achados de Vasconcelos et al. (2019), que destacam a relevância de intervenções fisioterapêuticas precoces para otimizar os ganhos funcionais nos primeiros anos de vida.
A combinação de estimulação precoce com terapia ocupacional, conforme investigada por Johnson e Lee (2019), reforça a necessidade de abordagens multidisciplinares no tratamento de crianças com defasagem no desenvolvimento neuropsicomotor. Essa perspectiva é apoiada por Souza, Lopes e Pereira (2023), que enfatizam os efeitos positivos da estimulação precoce no desenvolvimento global de crianças com paralisia cerebral.
Por outro lado, a melhoria observada no desenvolvimento cognitivo e motor em crianças com microcefalia submetidas à estimulação multissensorial, conforme relatado por Wang et al. (2021), sugere que intervenções diversificadas podem ser benéficas. No entanto, é essencial considerar as limitações desses estudos, como o tamanho reduzido da amostra e a ausência de grupos controle em alguns casos, o que pode influenciar a generalização dos resultados.
A aplicabilidade desses achados é significativa, pois destaca a necessidade de implementação de programas de estimulação precoce acessíveis e integrados a sistemas de saúde pública. No contexto brasileiro, iniciativas como as descritas por Vasconcelos et al. (2019) evidenciam a importância do acolhimento e cuidado multiprofissional para maximizar os ganhos funcionais em crianças com defasagem no desenvolvimento neuropsicomotor.
A estimulação precoce em crianças com malformações cerebrais tem demonstrado resultados positivos em diversos estudos recentes, reforçando a eficácia das intervenções fisioterapêuticas no desenvolvimento neuropsicomotor.
Gráfico – Principais resultados de estudos sobre estimulação precoce em crianças com malformações cerebrais.
Resultados de intervenções em crianças com malformações cerebrais

Os dados evidenciam que programas estruturados de estimulação precoce promovem ganhos funcionais relevantes. A melhora significativa na função motora grossa, observada por Smith et al. (2020), corrobora os achados de Vasconcelos et al. (2019), que destacam a importância da intervenção fisioterapêutica nos primeiros anos de vida como estratégia fundamental para a neuroplasticidade e o ganho funcional.
A abordagem multidisciplinar, como a combinação entre estimulação precoce e terapia ocupacional relatada por Johnson e Lee (2019), reforça a necessidade de uma atuação integrada entre fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e demais profissionais da saúde. Souza, Lopes e Pereira (2023) também confirmam que a atuação conjunta favorece não apenas o desenvolvimento motor, mas também o cognitivo e socioafetivo.
Em relação à estimulação multissensorial aplicada em crianças com microcefalia, Wang et al. (2021) apontam para a eficácia de protocolos diversificados. No entanto, ressalta-se que a maioria dos estudos possui limitações metodológicas, como tamanhos amostrais reduzidos, ausência de grupos controle e seguimento limitado. Tais fatores limitam a generalização dos resultados, o que também foi destacado por Curty, Cruz e Mendes (2020) como um dos desafios comuns nas pesquisas com populações pediátricas com deficiência.
Apesar disso, a consistência dos resultados positivos sugere a necessidade de implementação de programas de estimulação precoce integrados ao sistema de saúde, especialmente no SUS. Vasconcelos et al. (2019) enfatizam que o acolhimento multiprofissional e a continuidade do cuidado são fundamentais para garantir resultados duradouros no desenvolvimento infantil.
Para ampliar a robustez das evidências, futuras pesquisas devem considerar amostras maiores e delineamentos metodológicos mais rigorosos, como ensaios clínicos randomizados. O fortalecimento do corpo teórico contribuirá para a consolidação de práticas clínicas baseadas em evidências, essenciais na reabilitação pediátrica (Spector, 2021).
Conclusão
A presente pesquisa reforçou a importância da estimulação precoce como estratégia essencial para o desenvolvimento neuropsicomotor de crianças com malformação cerebral. Os resultados obtidos demonstraram que as intervenções fisioterapêuticas contribuem significativamente para a melhora funcional dessas crianças, promovendo ganhos motores, cognitivos e sociais. A atuação da fisioterapia, associada a uma abordagem multiprofissional, mostrou-se eficaz no favorecimento da neuroplasticidade e na potencialização das capacidades funcionais, especialmente quando iniciada nos primeiros anos de vida.
Foi possível verificar que técnicas como a Terapia Neuroevolutiva, a estimulação multissensorial, a hidroterapia e até mesmo programas remotos de estimulação precoce apresentam efeitos positivos sobre o tônus muscular, o controle postural e a funcionalidade global das crianças. Além disso, identificou-se que a integração entre diferentes profissionais da saúde oferece suporte mais completo tanto às crianças quanto às suas famílias, impactando positivamente no prognóstico e na inclusão social.
Observou-se que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece suporte significativo para a estimulação precoce de crianças com malformações cerebrais, especialmente por meio da atuação de serviços como os Centros Especializados em Reabilitação (CER) e a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (RCPD). Esses dispositivos ampliam o acesso a intervenções especializadas para a população de baixa renda, promovendo a equidade no atendimento. Assim, os resultados indicam que, apesar de eventuais desafios logísticos e regionais, o SUS constitui um importante facilitador no acesso à estimulação precoce, contribuindo de forma relevante para o desenvolvimento infantil e a inclusão social.
Dessa forma, conclui-se que a estimulação precoce representa uma ferramenta indispensável no processo de reabilitação de crianças com malformações cerebrais, sendo a fisioterapia um de seus pilares fundamentais. Recomenda-se a continuidade de estudos que investiguem os efeitos dessas intervenções a longo prazo, bem como a criação de estratégias que qualifiquem os profissionais envolvidos e ampliem o acesso equitativo aos serviços. Os achados deste trabalho podem subsidiar ações práticas e decisões clínicas mais assertivas no cuidado infantil, contribuindo para uma melhor qualidade de vida e desenvolvimento dessas crianças.
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¹Acadêmico do Curso de Fisioterapia
²Professor do Curso de Fisioterapia