REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202505300548
Orientadora: Laura de Moura Rodrigues1; Coordenador: Fabrício Vieira Cavalcante2; Maurício Araújo de Sousa; Miriam de Fátima C. C. Oliveira; Nadja Queila Mendes de Souza; Patrícia L. Diniz de Andrade; Raquel Gonçalves de Araújo;Stefanny de Azevedo Pires; Sinvaldo Pereira Ricardo; Sônia Barbosa de Sousa; Yngrid de Sousa Diniz
RESUMO
A artroplastia total de quadril (ATQ) é uma cirurgia ortopédica amplamente realizada, especialmente em idosos com doenças degenerativas. A reabilitação pós-operatória é essencial para restaurar a funcionalidade, reduzir a dor e melhorar a qualidade de vida. Este estudo teve como objetivo comparar a eficácia da fisioterapia convencional e da fisioterapia aquática no pós-operatório da ATQ. A fisioterapia convencional, tradicionalmente realizada em solo, envolve exercícios de fortalecimento, treino de marcha e mobilização articular sob supervisão profissional. Já a fisioterapia aquática se utiliza das propriedades físicas da água, como flutuação e resistência, permitindo uma reabilitação com menor impacto articular, favorecendo o conforto e a adesão ao tratamento, especialmente nas fases iniciais. Esta revisão sistemática foi conduzida conforme os critérios PRISMA, com uso do método PICO, incluindo ensaios clínicos randomizados obtidos nas bases PubMed e PEDro. Os desfechos analisados foram dor, amplitude de movimento, força muscular, marcha e qualidade de vida, medidos pelo HHS e SF-36. Ambas as abordagens apresentaram benefícios significativos, sendo a fisioterapia aquática mais eficaz nos aspectos psicossociais e funcionais iniciais, enquanto a fisioterapia convencional demonstrou boa eficácia na recuperação progressiva. Conclui se que ambas as modalidades são complementares e eficazes na reabilitação de pacientes pós-AT
Palavras-chave: artroplastia total de quadril, fisioterapia aquática, fisioterapia convencional, reabilitação, revisão sistemática.
ABSTRACT
Total hip arthroplasty (THA) is a widely performed orthopedic surgery, especially among elderly individuals with degenerative joint diseases. Postoperative rehabilitation is essential for restoring functionality, reducing pain, and improving quality of life. This study aimed to compare the effectiveness of conventional and aquatic physiotherapy in the postoperative recovery of THA patients. Conventional physiotherapy, traditionally performed on land, includes strengthening exercises, gait training, and joint mobilization under professional supervision. Aquatic physiotherapy, on the other hand, takes advantage of water’s physical properties such as buoyancy and resistance, promoting a lower-impact rehabilitation that enhances comfort and adherence, particularly in the early stages. This systematic review was conducted according to PRISMA guidelines using the PICO strategy, including randomized controlled trials from databases such as PubMed and PEDro. The analyzed outcomes were pain, range of motion, muscle strength, gait, and quality of life, assessed by the HHS and SF-36. Both approaches showed significant benefits, with aquatic physiotherapy proving more effective in psychosocial and early functional recovery, while conventional therapy showed progressive improvements. It is concluded that both modalities are complementary and effective for THA postoperative rehabilitation.
Keywords: total hip arthroplasty, aquatic physiotherapy, conventional physiotherapy, rehabilitation, systematic review.
1. INTRODUÇÃO
O quadril, formado pela articulação coxofemoral, é uma das articulações imprescindíveis ao corpo, sendo responsável pelo movimento de marcha no ato de caminhar. Seu comprometimento acarreta diversos outros problemas relacionados ao caminhar e ao movimentar os membros inferiores (GRAUP, 2009). No entanto, essa articulação pode ser substituída, quando há sua degeneração completa ou parcial, por próteses, as quais são implantadas por meio da cirurgia de Artroplastia Total de Quadril (ATQ) (MELO, 2009).
A artroplastia total de quadril (ATQ) é um procedimento cirúrgico amplamente utilizado para tratar doenças degenerativas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Segundo Galia (2017), a Artroplastia Total de Quadril (ATQ) é um dos maiores avanços no tratamento de lesão ortopédica. É uma das cirurgias mais realizadas no mundo e permite rápida recuperação, com retorno às atividades rotineiras. Isso permite que seja um procedimento cada vez mais realizado. Além disso, Laupasse et al (1995) afirma que é uma cirurgia que apresenta melhores resultados na ortopedia. Embora esse procedimento tenha surgido no século XIX, somente em 1938 Philipe Wiles elaborou o conceito inicial da ATQ (CALLAGHAN, 2007). Trata-se de um procedimento que tem maior incidência em idosos acima de 60 anos (GARBI, 2021).
O sucesso da cirurgia depende não apenas da técnica cirúrgica. Como todo procedimento operatório, a ATQ tem suas consequências. Segundo Lima et al. (2017), as complicações podem ser tanto locais como sistêmicas, desde luxaçẽs a infecções. Nesse sentido, Bandholm (2012) cita que, entre elas, está a atrofia muscular. Além disso, há casos de perda da funcionalidade do quadril, de amplitude de movimento e das dores. E essas sequelas afetam a qualidade de vida dos indivíduos, uma vez que reduz a independência e autonomia ao realizar atividades cotidianas (NUNES et al, 2010). Para a melhora da qualidade de vida dessas pessoas, a fisioterapia desempenha um papel fundamental e mostra-se medida necessária de uma reabilitação eficaz e indispensável ao equilíbrio da vida ativa.
Nessa análise, Dauty (2007) corrobora que a reabilitação física é capaz de trabalhar na redução da dor, bem como no aumento da capacidade física, melhorando o movimento de marcha, inclusive. Além disso, Bandholm (2012) complementa que a fisioterapia possibilita que o organismo aumente a densidade mineral óssea. Também permite melhoria no condicionamento físico e cardiorrespiratório.
Uma vez comprovada a eficácia da fisioterapia para pacientes que realizaram o procedimento, destaca-se que ela permite contribuir para o restabelecimento do estado de saúde dos pacientes. Nessa análise, Araujo (2017) assevera que a fisioterapia é uma ciência que não apenas trata distúrbios já presentes no organismo, mas que também previne e estuda distúrbios cinéticos que são gerados por traumas, por exemplo. E não apenas isso. Para Araújo (2017), a fisioterapia também permite o tratamento de doenças adquiridas, como aquelas que ocasionam o desgaste e degeneração do tecido ósseo ao longo dos anos.
Por esta razão, a fisioterapia tem se mostrado um mecanismo eficaz para a reabilitação de pacientes submetidos à ATQ, especialmente quando da substituição total da articulação (WANG et al., 2015). Nesse sentido, a fisioterapia é introduzida no primeiro dia após o procedimento, por meio de estímulos, como mudança de decúbito. Além disso, realizam movimentos com o tornozelo e exercícios respiratórios associados aos movimentos dos braços (BARBOZA, 2017). Ainda para Barboza (2017), ressaltando sobre a tempestividade de início da fisioterapia, ela deve ser iniciada imediatamente após a cirurgia.
As abordagens fisioterapêuticas podem ser divididas em terrestre e aquática, cada uma com suas particularidades. A fisioterapia terrestre é mais tradicional e foca em exercícios de fortalecimento e mobilidade em solo. Em contrapartida, a fisioterapia aquática oferece um ambiente com menor impacto nas articulações, o que pode ser benéfico em estágios iniciais de recuperação, facilitando a realização de exercícios e promovendo alívio da dor. No que tange às modalidades fisioterápicas, a modalidade aquática, segundo Khruakhorn e Chiwarakranon (2021), é uma das mais utilizadas, especialmente em idosos.
Entretanto, estudos têm evidenciado que os maiores ganhos de força muscular ocorrem de 24 semanas a um ano de pós operatório (SILVA, 2023). Ademais, a hidroterapia, conforme explana Song (2022), é capaz de aliviar as dores, melhorando a marcha e o equilíbrio. Isso se deve, segundo ele, às propriedades fisiológicas da água. Na mesma linha, Sekome e Maddocks (2019) ressaltam que a hidroterapia interfere na autopercepção do estado funcional dos participantes. Por isso é considerada uma intervenção rápida e eficiente.
Ainda segundo Sekome e Maddocks (2019), a fisioterapia aquática possibilita a diminuição estatisticamente na dor, da rigidez. Além da melhora na condição de vida desses indivíduos. Eles também apresentaram melhora na capacidade de realizar suas atividades diárias. Outra contribuição da eficácia da hidroterapia em relação à fisioterapia terrestre foi de Khruakhorn e Chiwarakron (2021). Eles utilizaram ambas as intervenções, e a hidroterapia resultou em melhorias neuromusculares, equilíbrio dinâmico e força muscular nas pernas, em comparação aos exercícios terrestres.
No que se refere ao trabalho do fisioterapeuta, sua atuação pode ocorrer desde o pré-operatório, acompanhando o quadro do paciente antes do procedimento, até o período fisioterápico. Nesse contexto, tanto a fisioterapia aquática quanto a terrestre podem se mostrar ideal, caso a caso, demonstrando-se a vantagem e desvantagem conforme o caso concreto (FIORENTIN; PIAZZA, 2016). Na mesma linha, Bossini et al. (2021) afirma que compete ao fisioterapeuta, no pós operatório, restabelecer a funcionalidade do corpo ou fazer com que o paciente melhore a qualidade de vida.
Ainda segundo Piazza e Fiorentin (2016), a fisioterapia no pós-operatório de artroscopia proporciona benefícios em vários aspectos, como na mobilidade, transferência e qualidade de vida. Além disso, permite ao paciente alcançar um nível adequado de funções motoras, o que permite a realização de atividades rotineiras. Para Barbosa e Ferrar (2017), quanto mais cedo o paciente iniciar a fisioterapia, mais rápido ele recupera a funcionalidade do corpo.
Em contrapartida à fisioterapia aquática, que tem apresentado grandes resultados, segundo Khruakhorn e Chiwarakron (2021), Krastanova (2016) assevera que a cinesioterapia e terapia ocupacional proporcionam resultados rapidamente. Ele explica que essa terapia utiliza exercícios terapêuticos, que consistem em fortalecer e alongar os músculos, como prevenção de alterações motoras. Além disso, a utilização da fisioterapia terrestre, hidrocinesioterapia, laserterapia e eletroterapia permitem amplitude de movimento em flexão e abdução, E não apenas isso, mas também melhora na recuperação motora e funcional (MASIERO et al., 2018).
Portanto, nota-se que ambos os tratamentos, aquático e terrestre, permitem uma melhora expressiva dos pacientes que são tratados nos primeiros dias após o procedimento de Artroscopia Total de Quadril (ATQ). Segundo Soares et al. (2023), um tratamento específico, logo após a ATQ, tem potencial de restabelecer a capacidade funcional dos pacientes em um curto período de reabilitação. Logo, tanto a fisioterapia aquática quanto a terrestre, comprovadamente, contribuíram para resultados satisfatórios no pós-operatório da (ATQ). Essa melhoria apresentou-se por meio de exercícios de mobilização articular, tanto de forma passiva quanto ativa. Uma revisão sistemática é necessária para sintetizar as evidências sobre a eficácia comparativa dessas duas abordagens na reabilitação pós-ATQ, para compreender qual abordagem oferece melhores resultados e ajudar fisioterapeutas a selecionar intervenções mais eficazes, melhorando a recuperação e reabilitação dos pacientes. Apesar do crescente interesse nas duas modalidades, há uma escassez de estudos que comparem diretamente seus efeitos, o que justifica a realização desta revisão.
Diante da relevância crescente da artroplastia total de quadril como tratamento para patologias degenerativas e da importância da fisioterapia no processo de reabilitação, torna-se fundamental investigar quais abordagens fisioterapêuticas oferecem melhores resultados clínicos e funcionais. Apesar do reconhecimento dos benefícios tanto da fisioterapia aquática quanto da terrestre, observa-se uma lacuna significativa na literatura científica no que diz respeito à comparação direta entre os efeitos dessas duas modalidades terapêuticas em pacientes no pós-operatório de ATQ.
Embora diversos estudos descrevam os efeitos isolados de cada intervenção, poucos apresentam análises comparativas com rigor metodológico suficiente para orientar a escolha clínica mais eficaz. Além disso, fatores como a dor, a limitação funcional, a adesão ao tratamento e os aspectos psicossociais ainda carecem de investigações mais aprofundadas quando analisados sob a perspectiva comparativa entre os dois tipos de fisioterapia. Nesse contexto, é evidente a necessidade de reunir e analisar criticamente os dados disponíveis, a fim de oferecer subsídios confiáveis para a prática clínica baseada em evidências.
Dessa forma, justifica-se a realização desta revisão sistemática, que tem por finalidade preencher essa lacuna, promovendo um mapeamento das evidências existentes e oferecendo parâmetros que orientem a conduta fisioterapêutica mais adequada para essa população específica.
O objetivo deste estudo é comparar, por meio de uma revisão sistemática da literatura, os efeitos da fisioterapia aquática e da fisioterapia terrestre na reabilitação de pacientes submetidos à artroplastia total de quadril, com ênfase nos desfechos funcionais, como alívio da dor, recuperação da amplitude de movimento, melhora da marcha e qualidade de vida. Pretende-se, assim, identificar qual das intervenções se mostra mais eficaz e segura, contribuindo para o aprimoramento das práticas fisioterapêuticas e para a tomada de decisões clínicas mais embasadas.
2. OBJETIVO
2.1 OBJETIVO GERAL
Abordar sobre a eficácia da fisioterapia convencional e aquática na reabilitação de pacientes no pós-operatório de Artroplastia Total de Quadril, comparando os resultados de ambas as abordagens.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Expor estudos que abordem a fisioterapia convencional e aquática em pacientes pós-ATQ, considerando suas metodologias, populações e resultados;
- Comparar os efeitos das duas modalidades de fisioterapia em termos de dor, funcionalidade, amplitude de movimento e qualidade de vida dos pacientes;
- Examinar as evidências sobre a segurança de cada abordagem, incluindo a incidência de lesões e complicações associadas; e
- Contribuir para o avanço do conhecimento na área de fisioterapia, fornecendo subsídios para futuras pesquisas e práticas clínicas
3. JUSTIFICATIVA
A fisioterapia é um tratamento que permite a reabilitação e também o aumento e a melhora da mobilidade do corpo, sobretudo após sofrer traumas. Nesse sentido, a reabilitação da artroplastia de quadril deve ser adaptada de acordo com as necessidades e realidade do paciente. Além disso, a ausência da realização do procedimento acarretará a persistência da dor e dificuldade de movimentação do quadril.
A cirurgia, na maioria dos casos, é indicada quando o paciente não consegue mais andar sem utilizar apoio mecânico, como muletas, bengalas e cadeiras de roda. Outro fator que contribui para a adesão de cirurgia é a fratura do quadril, causando dor aguda incapacitante. Nesse caso, algum tipo de tratamento cirúrgico é imperativo para permitir que o paciente volte a sentar e deambular. Por meio desse procedimento, é inserida a prótese de quadril no paciente, que retorna a quase todas as funções anteriores, respeitando os limites e os esforços que pode ser dado a cada tipo de material.
De um modo geral, os pacientes voltam a andar, sentar, deitar (com algumas limitações), entre outras. No entanto, atividades de médio a alto impacto como correr, pular e praticar esportes de alto e médio impacto, deverão ser evitadas pelos pacientes. Afinal, a prótese é feita de material inerte que também sofre desgaste, e o cuidado com esses movimentos está relacionado com a duração da prótese. Por isso, a fisioterapia pós ATQ tem grande importância na recuperação da funcionalidade e melhora da qualidade de vida do indivíduo.
Por fim, o presente estudo demonstra-se relevante, pois visa apresentar a notabilidade do tratamento fisioterapêutico e suas variações de tratamento (convencional e aquática). Além de fomentar outras pesquisas sobre a eficácia e indispensabilidade da fisioterapia para a qualidade de vida dos pacientes. Ademais, estudos mostram que a fisioterapia promove melhor e mais rápido retorno do paciente às suas atividades.
4. METODOLOGIA DA PESQUISA
O presente estudo trata-se de uma pesquisa de abordagem descritiva. Onde as informações coletadas serão analisadas, para apurarmos a importância da fisioterapia terrestre e aquática no pós-operatório de ATQ (Artroplastia Total de Quadril).
Este estudo é uma revisão sistemática baseada nos critérios estabelecidos pelo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta- Analyses (PRISMA), utilizando a estratégia do acrônimo PICO. População: Pessoas com artroplastia total de quadril; Intervenção: fisioterapia aquática; Comparação: fisioterapia terrestre; Outcomes (desfecho): ganho de força muscular, amplitude de movimento, melhora na marcha, promover melhora na dor no pós- cirúrgico.
A busca foi realizada em bases de dados do PUBMED, RevisAJES (Revista Saúde Viva Multidisciplinar da AJES) e FASIPE (Faculdade de Sinop) , utilizando as combinações: Total Hip Arthroplasty, Aquatic Physiotherapy,Terrestrial Physiotherapy. Os estudos de casos e ensaios clínicos foram escolhidos seguindo os seguintes critérios: Artigos escritos em inglês e português; Paciente com artroplastia total de quadril; e Comparação dos resultados de fisioterapia aquática e terrestre.
Os critérios para a inclusão utilizados foram pacientes que já fizeram a Artroplastia Total de Quadril (AQT), na qual foram submetidos a fisioterapia pós-operatória iniciada seguidamente a alta hospitalar, realizando a intervenção de exercício terrestre e aquático. Medidas pré e pós intervenção para os grupos de estudos tiveram no mínimo um desfecho medido (ex: ganho de força, Amplitude de movimento, melhora na marcha). A intervenção de interesse foi definida como treinamento físico terrestre e aquático, estabelecido como qualquer programa de exercícios (ex: resistência, atividade que requer esforço físico, exercícios aquáticos) prescrito usando séries e repetições. Incluímos Ensaios Clínicos Randomizados (ECRs).
Avaliação de Risco de viés Utilizamos o Sistema GRADE para analisar a qualidade e a certeza de evidências, as classificações tiveram um alto nível de certezas para diretrizes de metanálises, incluindo ECRs. A busca foi realizada entre outubro de 2024 a fevereiro de 2025, contemplando publicações indexadas entre os anos de 2000 a 2023.
As bases de dados utilizadas foram PubMed, RevisAJES e FASIPE.
Critérios de exclusão
O critério para exclusão foi o de materiais que não apresentaram grande influência sobre o tema ou que apresentaram materiais incompletos sobre o assunto, como estudos que realizaram artroplastia parcial do quadril. Também foram desconsiderados os artigos publicados antes do ano 2000, os que envolviam intervenções fora do escopo da revisão (como terapia manual, estimulação elétrica e osteopatia), os que estavam redigidos em idiomas diferentes do português, inglês ou espanhol, e os estudos publicados nos anos de 2024 e 2025. A busca foi realizada entre outubro de 2024 a fevereiro de 2025.
5. RESULTADOS DA FISIOTERAPIA AQUÁTICA
Os dados utilizados nesta revisão foram extraídos e selecionadas por sua relevância e disponibilidade de estudos na área da reabilitação pós-artroplastia total de quadril.
Na base PEDro, foram inicialmente encontrados 17 artigos relacionados ao tema. Após uma triagem baseada em critérios de elegibilidade, 6 artigos foram selecionados para uma leitura mais profunda. Dentre esses artigos 1 atendeu aos critérios metodológicos.
Já na base PubMed, a busca inicial identificou 750 artigos, depois de aplicar os critérios de exclusão baseadas nos critérios de elegibilidade estabelecidos, 35 estudos foramconsiderados relevantes. No entanto três deles apresentaram qualidade metodológica adequada para serem incluídos para essa meta-analise. A Figura 1 ilustra o processo de seleção dos estudos incluídos nesta meta-análise
Este estudo multicaso teve como objetivo avaliar a influência da fisioterapia aquática na funcionalidade da articulação do quadril e na qualidade de vida de pacientes submetidos à artroplastia total de quadril (ATQ). 353 pacientes participaram do estudo, com idades entre 50 e 80 anos, sendo dois do sexo feminino e um do sexo masculino.
No estudo NUNES, G. S.; KOERICH, M. H. A. L.; MENEZES, F. S. pacientes foram submetidos a 10 sessões de fisioterapia aquática (duas por semana, com duração de 60 minutos), realizadas em piscina aquecida (33ºC), com técnicas como BAD RAGAZ, treino de marcha, equilíbrio e fortalecimento muscular, além de alongamentos e exercícios de ambientação ao meio aquático. Giaquinto et al., aproximadamente 70 pacientes foram randomizados para comparar a eficácia da hidroterapia realizada numa piscina específica com a fisioterapia terrestre tradicional. Por sua vez, Liebs et al. estudaram 280 pacientes de vários centros, focando-se na introdução precoce versus tardia da fisioterapia aquática após a cirurgia, com o objetivo de analisar o impacto na propriocepção, coordenação e fortalecimento muscular.
As avaliações foram feitas com o Harris Hip Score (HHS), o questionário SF-36 (qualidade de vida) e goniometria da ADM do quadril, antes e após o tratamento.
Giaquinto et al. encontraram vantagens significativas para o grupo aquático na dor, rigidez e função, houve uma diferença significativa basal na rigidez articular entre os grupos, apesar da randomização. O estudo de Nunes, Koerich e Menezes avaliou três participantes submetidos à artroplastia total de quadril (ATQ). O primeiro caso era um paciente do sexo masculino, com 50 anos de idade, que passou por uma ATQ não cimentada, unilateral à esquerda, e iniciou o tratamento fisioterapêutico após seis meses do procedimento. O segundo caso era uma paciente do sexo feminino, com 63 anos, também submetida a uma ATQ não cimentada, unilateral esquerda, com início do tratamento quatro meses após a cirurgia. O terceiro caso tratava-se de uma mulher de 80 anos, submetida a uma ATQ híbrida e bilateral. O início do tratamento ocorreu seis meses após a cirurgia no quadril direito e 45 dias após a cirurgia no quadril esquerdo.
No acompanhamento dos três casos, observou-se melhora nos escores da escala Harris Hip Score (HHS) do início ao final do tratamento. O primeiro paciente apresentou um HHS inicial de 61 pontos, evoluindo para 78, com melhora significativa na dor e na capacidade de subir escadas. O segundo caso iniciou com um HHS de 45 e atingiu 75 pontos ao final, apresentando avanços importantes em dor, redução da claudicação e amplitude de movimento (ADM). Já o terceiro paciente começou com um HHS de 36 e progrediu para 62 pontos, demonstrando melhora na dor, na distância percorrida ao caminhar e na amplitude de movimento. Esses resultados corroboram com estudos prévios que apontam a eficácia das intervenções fisioterapêuticas na reabilitação de pacientes com disfunções do quadril, com ganhos significativos em dor e função (Nilsdotter et al., 2003; Paulsen et al., 2014). A escala Harris Hip Score tem sido amplamente utilizada como parâmetro confiável para avaliação da função do quadril, permitindo monitorar a evolução clínica durante o tratamento (Harris, 1969; Byrd & Jones, 2000).
Em relação à evolução clínica dos participantes, observou-se melhora progressiva nos escores da escala Harris Hip Score (HHS) ao longo do tratamento fisioterapêutico. O paciente do Caso 1 apresentou um escore inicial de 61, atingindo 78 ao final da intervenção, com melhora perceptível na dor e na capacidade de subir escadas. No Caso 2, o HHS aumentou de 45 para 75, sendo observada redução da dor, melhora da claudicação e ganho na amplitude de movimento (ADM). Já o Caso 3 apresentou o menor escore inicial, com 36 pontos, evoluindo para 62 ao término do tratamento, com melhorias significativas na dor, na distância percorrida durante a marcha e também na ADM (Nunes; Koerich; Menezes, 2020).
A avaliação da qualidade de vida dos participantes, por meio do instrumento SF-36, revelou melhoras em diferentes domínios entre os casos analisados. No domínio da capacidade funcional, o Caso 1 apresentou uma leve melhora, com pontuação passando de 60 para 65. O Caso 2 demonstrou progresso mais expressivo, saindo de 15 para 40 pontos. Já o Caso 3, que partiu de uma condição funcional bastante limitada (0 pontos), apresentou um pequeno avanço, alcançando 10 pontos. No domínio da dor, os resultados foram variados: o Caso 1 teve uma discreta piora (62 para 61), enquanto o Caso 2 apresentou melhora significativa, com a pontuação aumentando de 42 para 84. O Caso 3 manteve-se estável nesse aspecto, com 31 pontos tanto no início quanto ao final do acompanhamento (Nunes; Koerich; Menezes, 2020).
O estudo de Giaquinto et al. (2005) incluiu cerca de 70 pacientes submetidos à artroplastia total de quadril (ATQ) unilateral em um único centro, apesar do número exato de participantes apresentar algumas inconsistências. Os critérios de exclusão abrangeram doenças agudas concomitantes, comprometimento cognitivo, incapacidade para completar questionários, não cumprimento do protocolo e não falar italiano. A idade média dos participantes foi de 70,6 ± 8,4 anos no grupo intervenção e 70,1 ± 8,5 anos no grupo controle. A randomização em dois grupos foi realizada sem ocultação da alocação até o 10º dia pós-operatório. Ambos os grupos receberam tratamento seis vezes por semana durante três semanas, com sessões de 40 minutos, sendo 20 minutos dedicados ao aquecimento. O grupo intervenção realizou hidroterapia em piscina especial, enquanto o grupo controle foi submetido à fisioterapia terrestre (GIAQUINTO et al., 2005).
Já o estudo conduzido por Liebs et al. (2010) avaliou 280 pacientes com ATQ unilateral de quatro centros distintos. Foram excluídos pacientes com artrite séptica, fraturas, complicações intraoperatórias, cirurgia de revisão, amputações, malignidades e incapacidade para completar questionários. As idades médias foram 66,7 ± 10,3 e 69,1 ± 9,8 anos, respectivamente, para os grupos estudados. A randomização ocorreu com alocação oculta em dois grupos que receberam fisioterapia aquática de 30 minutos, três vezes por semana, até a quinta semana pós-operatória. Os exercícios focaram o treino de propriocepção, coordenação e fortalecimento muscular. O grupo “precoce” iniciou a fisioterapia aquática no 6º dia pós-operatório, enquanto o grupo “tardio” começou no 14º dia (LIEBS et al., 2010).
A Tabela de Estudos apresentada por Di Monaco e Castiglioni detalha os parâmetros de avaliação de diferentes intervenções em pacientes, ressaltando o tempo de avaliação, cegamento, desfechos e a pontuação de qualidade dos estudos. No acompanhamento realizado aos 14 dias, com avaliadores cegados, os desfechos primários foram a escala WOMAC, força de abdução e velocidade, enquanto os desfechos secundários incluíram força isométrica, tempo de marcha, escalas de autoeficácia e tempo hospitalar. Destaca-se que não houve desistências neste período, e a pontuação de qualidade atribuída ao estudo foi de 7/10. Já na avaliação realizada aos 6 meses, também com avaliadores cegados, foram utilizados subescores do WOMAC, contemplando função, rigidez e dor, porém a avaliação foi considerada inconsistente, com uma pontuação de qualidade de 4/10 (DI MONACO; CASTIGLIONI, 2024).
6. RESULTADOS DA FISIOTERAPIA CONVENCIONAL
A partir de uma análise sistemática da literatura, foram inicialmente identificados 335 estudos por meio de busca manual na base de dados PubMed, relacionados à aplicação da fisioterapia convencional no pós- operatório de artroplastia total de quadril (ATQ). Após a triagem inicial baseada em títulos e resumos, 219 artigos foram excluídos. Os 116 estudos restantes passaram por uma leitura na íntegra, resultando na exclusão de mais 81 artigos. Assim, 35 estudos foram selecionados para avaliação da qualidade metodológica, culminando na inclusão de 3 estudos na presente análise. A amostra total destes estudos compreendeu 144 participantes, com tamanho amostral variando entre 20 e 68 indivíduos por estudo.
A média de idade dos participantes variou entre 59 e 66 anos, com predominância do sexo feminino na maioria dos estudos incluídos. Todos os participantes foram submetidos à artroplastia total de quadril e realizaram reabilitação por meio de fisioterapia convencional, conduzida em ambiente domiciliar ou institucionalizado, sob supervisão de profissional habilitado.
Os resultados desses estudos – Morishima et al. (2014), Okoro et al. (2016) e Heiberg et al. (2012) – demonstraram melhorias e ganhos importantes, desde aumento de força muscular, capacidade cardiorrespiratória e qualidade de movimento para os pacientes submetidos a (ATQ), com uma estratégia acessível e eficaz. Diversos estudos recentes têm investigado intervenções fisioterapêuticas para pacientes submetidos à artroplastia total do quadril (ATQ), focando em diferentes tipos de treinamento e seus impactos na recuperação funcional.
Morishima et al. (2014) conduziram um estudo piloto randomizado e controlado com pacientes do sexo feminino, com idade média de 60 anos, submetidas à ATQ. A intervenção consistiu em treinamento domiciliar de caminhada intervalada, que resultou em aumentos significativos de 23% na força de flexão do joelho do lado operado, 8% no pico de consumo de oxigênio (VO peak) e 13% no limiar anaeróbico (MORISHIMA et al.,₂ 2014).
Okoro et al. (2016) realizaram um estudo similar, envolvendo pacientes femininos e masculinos com idade média de 66 anos. O protocolo aplicado foi treinamento progressivo de resistência em casa. Os resultados mostraram melhorias expressivas, incluindo aumento de 26,5 N na força do quadríceps, incremento de 1,37 repetições no teste de sentar e levantar (ST), redução de 1,44 segundos no teste Timed Up and Go (TUG), diminuição de 3,41 segundos no teste de subir escadas e aumento de 45,61 metros na caminhada de seis minutos (6MWT) (OKORO et al., 2016).
Já o estudo de Heiberg et al. (2012) avaliou treinamento de habilidades de caminhada em pacientes com ATQ, com idade média de 66 anos e distribuição quase igual entre os sexos. Os resultados indicaram aumento de 52 metros no teste de caminhada de seis minutos, redução de 1 segundo no teste de sentar e levantar, melhora na escala Harris Hip Score (HHS), aumento da força muscular funcional (IMF), elevação da autoeficácia e melhora da amplitude de movimento (ADM) do quadril (HEIBERG et al., 2012).
Esses estudos demonstram que intervenções domiciliares, tanto de caminhada intervalada quanto de resistência progressiva e treino específico de habilidades, promovem benefícios relevantes na reabilitação pós-ATQ, melhorando força muscular, capacidade funcional e qualidade de vida dos pacientes.
7. DISCUSSÃO DE RESULTADOS
A artroplastia total do quadril (ATQ) é uma das cirurgias ortopédicas mais realizadas no mundo, especialmente entre indivíduos idosos com osteoartrite avançada ou outras patologias degenerativas. No pós-operatório, a reabilitação fisioterapêutica é fundamental para restaurar a funcionalidade articular, reduzir a dor e melhorar a qualidade de vida. Dentre as abordagens existentes, destacam-se a fisioterapia convencional (terrestre) e a fisioterapia aquática, ambas amplamente estudadas em literatura científica recente (Silva, Costa & Lopes, 2020).
A fisioterapia convencional, tradicionalmente realizada em ambiente domiciliar ou institucional, inclui exercícios de fortalecimento, treino de marcha e mobilização articular. Já a fisioterapia aquática se aproveita das propriedades físicas da água, como a flutuação, a resistência e o aquecimento, para promover ganhos funcionais com menor sobrecarga articular. Com base nos estudos analisados, observa-se que ambas as modalidades apresentam resultados positivos, porém com ênfases distintas quanto aos desfechos clínicos e funcionais.(Song & Oh, 2022; Rewald et al., 2020).
A comparação entre os dois métodos possibilita compreender qual abordagem apresenta maior efetividade em aspectos específicos como dor, amplitude de movimento (ADM), marcha, equilíbrio e qualidade de vida, sendo essencial para o direcionamento terapêutico individualizado.(Musumeci, Pranovi & Masiero, 2018).
Ao analisar os desfechos funcionais da reabilitação após artroplastia total de quadril, o Harris Hip Score (HHS) se destaca como instrumento clínico amplamente utilizado para mensurar dor, função, mobilidade e deformidade articular. Tanto na fisioterapia convencional quanto na aquática, os estudos indicam melhora significativa nos escores do HHS, com variações entre os grupos quanto à magnitude e à velocidade dos ganhos (Heiberg et al., 2012; Morishima et al., 2014).
Na fisioterapia aquática, os pacientes demonstraram progressos notáveis, especialmente na fase inicial da reabilitação. No estudo multicaso de Nunes et al. (2023), três pacientes apresentaram aumentos consistentes nos escores de HHS, com melhorias relevantes em quesitos como dor, marcha, subida de escadas e amplitude de movimento. Um dos casos evidenciou aumento de 17 pontos no HHS (de 61 para 78), enquanto outro teve progressão de 30 pontos (de 45 para 75). Esses dados reforçam a eficácia da hidroterapia em promover ganhos funcionais com menor impacto articular, devido à redução da carga corporal proporcionada pela flutuação.
Por outro lado, a fisioterapia convencional também se mostrou eficaz, especialmente em protocolos que incluíam treinamento de caminhada, resistência progressiva e carga precoce. Os estudos analisados, com população total de 164 pacientes, apontaram melhorias médias no HHS que variaram de forma mais discreta entre os subgrupos. Embora as intervenções terrestres mostrem eficácia na recuperação funcional, os resultados tendem a ser mais lentos, sobretudo nos casos com maior limitação inicial de ADM e dor intensa (Barbosa & Ferrar, 2017; Soares & Casarotto, 2023).
Além disso, o ambiente aquático parece exercer influência positiva na redução da dor articular, fator crítico para o engajamento e desempenho dos pacientes nos exercícios. No estudo de Giaquinto et al. (2019), a hidroterapia mostrou-se superior à fisioterapia terrestre na redução da dor e rigidez, mesmo considerando limitações metodológicas como ausência de cegamento de alocação. Tais achados indicam que, para pacientes que relatam altos níveis de dor no pós-operatório imediato, a fisioterapia aquática pode representar uma estratégia mais tolerável e eficaz.
A avaliação da qualidade de vida no contexto pós-operatório de artroplastia total de quadril representa um componente essencial da reabilitação, pois abrange não apenas os aspectos físicos, mas também emocionais, sociais e mentais do paciente. O questionário SF-36, utilizado em diversos estudos incluídos na presente análise (Khruakhorn & Chiwarakranon, 2021), permitiu uma visão ampliada dos benefícios da fisioterapia, indo além da recuperação biomecânica.
No grupo submetido à fisioterapia aquática, os domínios do SF-36 que mais apresentaram melhora foram capacidade funcional, aspectos sociais, emocionais e saúde mental, refletindo um impacto significativo nas atividades de vida diária e no bem-estar geral. O Caso 1, por exemplo, demonstrou melhora expressiva nos aspectos sociais (de 62,5 para 100) e emocionais (de 66,7 para 100), indicando um aumento na autoestima, no engajamento social e na percepção de autonomia. Tais ganhos podem estar associados à experiência de alívio da dor em meio aquático e ao caráter terapêutico e acolhedor do ambiente da piscina, que proporciona segurança e confiança ao paciente (Koerich, Nunes & Menezes, 2023).
Em contrapartida, os estudos envolvendo fisioterapia convencional também relataram melhora nos domínios de qualidade de vida, especialmente em capacidade funcional e estado geral de saúde. Contudo, os avanços em aspectos como interação social e saúde mental foram menos pronunciados, possivelmente devido ao contexto menos lúdico e à sobrecarga articular mais evidente, o que pode gerar maior receio e desconforto durante a execução dos exercícios (Morishima et al., 2014; Dias, Silva & Piazza, 2016).
Adicionalmente, vale destacar o papel do ambiente aquático como um facilitador psicossocial. A leveza proporcionada pela água, o calor terapêutico das piscinas aquecidas, o ritmo mais suave dos movimentos e a sensação de bem-estar físico contribuem para a redução da ansiedade, da tensão muscular e da percepção negativa sobre o processo de reabilitação (Sekome & Maddocks, 2019).
Essa abordagem favorece, inclusive, a adesão ao tratamento — um fator determinante para o sucesso da fisioterapia a longo prazo.
Apesar dos resultados promissores apresentados por ambas as abordagens fisioterapêuticas, é essencial reconhecer as limitações metodológicas dos estudos incluídos, as quais influenciam diretamente na confiabilidade e generalização dos achados. Muitos dos ensaios analisados, especialmente no grupo de fisioterapia aquática, apresentaram amostras reduzidas, falta de cegamento dos avaliadores e curta duração de acompanhamento, o que pode gerar viés de medição e superestimar os efeitos positivos da intervenção (Giaquinto et al., 2019; Liebs et al., 2020).
Um exemplo claro é o estudo de Giaquinto et al., que, embora tenha revelado superioridade da hidroterapia na dor e rigidez, não utilizou alocação ocultada e tampouco apresentou um grupo controle bem delineado. Já no estudo de Liebs et al. (2020), embora o número de participantes tenha sido maior (n = 280), a avaliação dos desfechos secundários apresentou inconsistência, limitando a interpretação sobre os efeitos prolongados da fisioterapia aquática.
Quanto à fisioterapia convencional, embora os estudos apresentem delineamento mais sólido em alguns casos, como o de Heiberg et al. (2012) e Morishima et al. (2014), ainda assim há fragilidades no controle de variáveis como nível funcional pré-operatório, adesão ao protocolo domiciliar e supervisão terapêutica constante. A heterogeneidade dos protocolos também dificulta comparações diretas entre os estudos.
Do ponto de vista clínico, os resultados apontam para a importância de uma abordagem personalizada, considerando fatores como idade, condição clínica, suporte emocional e preferências do paciente. A fisioterapia aquática pode ser especialmente indicada em fases iniciais, quando a dor e o medo de movimento são barreiras significativas. Já a fisioterapia convencional tende a ser mais acessível, especialmente em contextos com limitação de recursos estruturais (Dauty & Ribinik, 2007; Lima & Barone, 2017), podendo ser utilizada em associação com a hidroterapia em fases subsequentes da reabilitação.
A análise comparativa entre a fisioterapia aquática e a fisioterapia convencional no pós-operatório de artroplastia total de quadril demonstrou que ambas as modalidades oferecem benefícios funcionais significativos, contribuindo para a recuperação da mobilidade, redução da dor e melhora da qualidade de vida dos pacientes. No entanto, observou-se que a fisioterapia aquática proporciona vantagens adicionais em aspectos psicossociais, além de favorecer maior conforto e adesão nos estágios iniciais da reabilitação (Song & Oh, 2022).
Os dados demonstraram que os pacientes submetidos à hidroterapia apresentaram melhorias superiores nos domínios de aspectos sociais, emocionais e saúde mental, conforme avaliado pelo questionário SF-36. Do ponto de vista funcional, também se destacaram os ganhos em HHS e amplitude de movimento, com destaque para a menor sobrecarga articular durante os exercícios realizados na água. Por outro lado, a fisioterapia convencional demonstrou eficácia consolidada, especialmente quando aplicada com protocolos bem delineados e progressivos (Soares & Casarotto, 2023), sendo fundamental em contextos onde hidroterapia não está disponível.
Diante disso, conclui-se que a fisioterapia aquática deve ser considerada uma abordagem complementar e estratégica, especialmente no início do processo de reabilitação, proporcionando um ambiente terapêutico seguro e motivador. Já a fisioterapia convencional mantém seu papel essencial na consolidação dos ganhos funcionais, podendo atuar de forma sequencial ou integrada à abordagem aquática.
Como recomendação clínica, reforça-se a necessidade de uma avaliação individualizada para a definição do melhor plano terapêutico, levando em consideração não apenas o quadro clínico do paciente, mas também suas condições emocionais, preferências e recursos disponíveis. Ademais, salienta-se a urgência de mais estudos com qualidade metodológica robusta que permitam o desenvolvimento de diretrizes mais específicas e baseadas em evidências para a reabilitação pós-ATQ.
Por fim, este estudo contribui para ampliar a compreensão sobre os benefícios da fisioterapia aquática, ao mesmo tempo em que valoriza a atuação complementar da fisioterapia convencional, destacando a importância da interdisciplinaridade e da humanização no cuidado fisioterapêutico voltado à população ortopédica.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa teve como objetivo analisar comparativamente os efeitos da fisioterapia aquática e da fisioterapia convencional na reabilitação pós-operatória de pacientes submetidos à artroplastia total de quadril (ATQ). Ao longo da análise dos estudos selecionados, foi possível verificar que ambas as abordagens promovem ganhos significativos na recuperação funcional, alívio da dor e melhoria da qualidade de vida dos pacientes, ainda que com diferenças relevantes quanto ao ritmo de progressão e aos aspectos psicossociais envolvidos.
A fisioterapia aquática demonstrou vantagens principalmente nas fases iniciais do processo de reabilitação, favorecendo maior adesão dos pacientes devido à redução da dor, ao ambiente terapêutico mais acolhedor e à menor sobrecarga articular. Por outro lado, a fisioterapia convencional se mostrou eficaz na recuperação funcional a médio e longo prazo, especialmente quando aplicada com protocolos bem estruturados e progressivos.
Com base nos resultados encontrados, pode-se concluir que a escolha entre as duas modalidades deve considerar fatores individuais como o estágio de recuperação, o nível de dor, as condições clínicas, as preferências pessoais e os recursos disponíveis. A integração entre ambas as terapias surge como uma estratégia promissora, permitindo uma reabilitação mais ampla e personalizada.
Em síntese, o estudo contribuiu para ampliar a compreensão sobre os benefícios específicos de cada abordagem fisioterapêutica, reforçando a importância de um planejamento terapêutico individualizado e baseado em evidências. Além disso, destacou-se a necessidade de mais pesquisas com qualidade metodológica robusta, que possam subsidiar diretrizes clínicas consistentes para a reabilitação de pacientes pós-ATQ.
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