FERRAMENTAS DE COMBATE AO ALCOOLISMO PARA USUÁRIOS DA ATENÇÃO BÁSICA

TOOLS TO COMBAT ALCOHOLISM FOR PRIMARY CARE USERS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7987709


José Walter Lima Prado1*;
Darlane Silva Martins1;
Phabola Souza de Carvalho1;
Rafaella Aguiar Costa Botelho1;
Vitor Souza Carvalho1


RESUMO

Objetivo: Identificar nas publicações quais ações são desenvolvidas pela Atenção Primária à Saúde (APS) como meio de enfrentar e combater o alcoolismo. Métodos: Revisão Integrativa nas bases Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF), National Library of Medicine (PubMed) por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO), utilizando-se como descritores: Alcoolismo, APS e estratégias, com recorte temporal de 2017 a 2022. Resultados: Ao realizar a busca pelos artigos que retratassem a temática foram encontrados 26 artigos na base de dados SciELO, onde passaram por exclusão os estudos que não fossem relacionados ao tema, duplicados ou incompletos, sendo selecionados 2 artigos. Na base de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) foram encontrados 358 estudos, sendo selecionados 10 artigos: 03 na PUBMED, 6 na LILACS e 1 na BDENF, cujos resultados se mostraram significativos. Considerações Finais: Ressalta-se que, além do treinamento especializado, é essencial promover uma abordagem colaborativa entre os profissionais de saúde e comunidade. A integração de recursos e ações, tais como políticas públicas de prevenção e tratamento, educação em saúde e ações de apoio social, podem contribuir significativamente para reduzir a prevalência do alcoolismo.

Palavras-chave: Alcoolismo, Atenção Básica, estratégias.

INTRODUÇÃO

O alcoolismo é uma doença crônica caracterizada pelo consumo excessivo e prolongado de álcool, que pode levar a diversas consequências negativas para a saúde física e mental da pessoa. A longo prazo, o alcoolismo pode aumentar o risco de desenvolver doenças como cirrose hepática, pancreatite, doenças cardiovasculares, câncer, entre outras. Além disso, o alcoolismo pode ter impactos significativos na vida social e profissional da pessoa, causando problemas de relacionamento, dificuldades financeiras, perda de emprego e problemas legais, entre outros (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de álcool é responsável por 3 milhões de mortes por ano em todo o mundo, o que representa 5,3% de todas as mortes. Cerca de 3,3 milhões de pessoas morreram em decorrência do consumo nocivo de álcool, o que representa 5,9% de todas as mortes registradas no mundo. O consumo de álcool é mais comum entre os homens do que entre as mulheres, sendo que cerca de 25% dos homens consomem álcool em excesso, em comparação com 10% das mulheres. Outro fator preocupante é o aumento do consumo de álcool entre os jovens, o que pode ter consequências ainda mais graves devido ao fato de que o cérebro ainda está em desenvolvimento nesta fase da vida (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2018).

Estudos têm demonstrado que períodos de recessão econômica e políticas de austeridade podem estar associados a um aumento geral do consumo de álcool e eventos negativos relacionados à dependência do álcool. Por exemplo, um estudo realizado no Brasil encontrou um aumento no número de internações hospitalares relacionadas ao consumo de álcool durante a crise econômica de 2015-2016 (ANDRADE LH, et al., 2014). Da mesma forma, um estudo realizado na Itália mostrou que as políticas de austeridade adotadas durante a crise econômica de 2008-2009 estavam associadas a um aumento no consumo de álcool e episódios mensais de embriaguez (CATALANO M, et al., 2016).

Diante desses números alarmantes e dessa realidade que se faz presente na vida de muitas famílias, combater o alcoolismo vem se tornando cada vez mais uma necessidade emergencial, haja vista que essa doença é considerada como um problema de saúde pública que precisa ser abordada em toda sua amplitude, uma vez que ela atinge o usuário, sua família e seu entorno social. Nesse sentido, percebe-se que se faz necessária a busca pelo Atendimento Primário à Saúde (APS), no intuito de se poder procurar conseguir a ajuda necessária para enfrentar e combater o alcoolismo dentro da sociedade. As atividades desenvolvidas na atenção primária contam com o mais alto grau de descentralização e capilaridade, ocorrendo no local mais próximo da vida das pessoas (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2018).

Desse modo, pode-se enfatizar que no país existem diversas estratégias governamentais relacionadas à APS, dentre as quais, pode-se enfatizar, por exemplo, que estão alinhados aos preceitos do Sistema Único de Saúde (SUS), a Estratégia de Saúde da Família (ESF) que, por sua vez, direciona a outros serviços multidisciplinares que atendem às comunidades por meio das Unidades de Saúde da Família (USF). Nessas unidades são ofertados às pessoas que procuram ajuda no combate ao alcoolismo: consultas, exames e outros procedimentos que servem para ajudar aos usuários. Vale lembrar que todas essas equipes têm como responsabilidade intervir na questão do alcoolismo através de uma perspectiva mais ampla, ou seja, devem reconhecer os fatores que desencadearam tal doença e saber lidar com as possibilidades de enfretamento e combate a ela, através, sobretudo, de ações preventivas (LIMA JÚNIOR AL, 2019). A partir de toda essa contextualização é que surgiu a ideia de abordagem do tema, uma vez que para muitos essa realidade, ou melhor, essa luta contra o alcoolismo se faz presente no dia-a-dia.

A atenção primária à saúde (APS) é considerada uma importante ferramenta no combate ao alcoolismo, pois é a porta de entrada do sistema de saúde para a população em geral, incluindo aqueles que sofrem com o consumo excessivo de álcool. Além disso, a APS é responsável por oferecer cuidados integrais e continuados às pessoas, o que é fundamental para o tratamento do alcoolismo (LIMA JÚNIOR AL, 2019). Parte superior do formulárioParte inferior do formulário

Ainda no âmbito das políticas públicas existe a Atenção Primária à Saúde (APS) que tem como ações prioritárias desenvolver um atendimento focado diretamente aos usuários excessivos de álcool, tendo, para isso, fatores que procuram detectar precocemente o problema, utilizando-se, para isso, questionários de rastreamento (Audit e Cage), e na intervenção breve, técnica de tratamento baseada em conceitos cognitivo-comportamentais voltada para a motivação do usuário e seus familiares para a mudança de hábitos e atitudes. Através de todo esse processo de mapeamento é que desenvolvem ações que ajudam na identificação do padrão de consumo e na sensibilização para a percepção dos danos à sua saúde (LIMA JÚNIOR AL, 2019). Com base nessas premissas, tem-se como problemática o seguinte questionamento: Será que os problemas que estão relacionados ao alcoolismo podem ser enfrentados e combatidos através de estratégias desenvolvidas pela Atenção Primária à Saúde (APS)?

Desse modo, é importante analisar as publicações que tratam deste assunto, visto que o uso o álcool tem sido utilizado de forma edemaciada em todos os sentidos, que o número de usuários considerados dependentes é cada vez maior, portanto, conhecer o que e como os trabalhos científicos abordam esse tema se torna relevante.

Assim, a pesquisa teve como objetivo geral: Identificar os problemas que estão relacionados ao alcoolismo e quais ações são desenvolvidas pela Atenção Primária à Saúde (APS) como meio de enfrentar e combater essa doença dentro da sociedade. A partir desse, enumerou os seguintes objetivos específicos: Demonstrar os conceitos relacionados ao alcoolismo e a Atenção Primária à Saúde (APS); evidenciar o trabalho realizado pelos profissionais de saúde dentro da Atenção Primária à Saúde (APS) no combate ao alcoolismo e; apresentar quais estratégias são desenvolvidas em relação ao combate do alcoolismo.

MÉTODOS

Trata-se de uma revisão integrativa, no qual se refere a um dos métodos que são utilizados na Prática Baseado em Evidências, que tem como objetivo a síntese de resultados delimitados a partir do tema ou questão de pesquisa, de forma sistemática e organizada. Este tipo de revisão realiza uma análise de pesquisas importantes no que tange à tomada de decisão na prática clínica, além de sintetizar inúmeros estudos, possibilitando conclusões gerais a respeitos de uma determinada área de estudo (GIL AC, 2017). Desse modo, para a construção da revisão integrativa é preciso seguir seis etapas distintas: 1) estabelecimento da hipótese ou questão norteadora; 2) amostragem ou busca na literatura; 3) categorização dos estudos; 4) avaliação dos estudos incluídos na revisão; 5) interpretação dos resultados; 6) síntese do conhecimento. Esta construção encontra-se bem elaborada na literatura; em contrapartida, autores distintos utilizam formas diferentes na construção, realizando algumas modificações (DANTAS RAG et al., 2021).

Ercole FF et al. (2014) relatam que esse método tem como objetivo final sintetizar de maneira sistemática e abrangente os resultados encontrados em pesquisas, de modo que também estejam ordenados. Por constituir um corpo de conhecimento ao fornecer informações amplas sobre determinados assuntos e/ou problemas, esse tipo de revisão é chamado de integrativa. Assim, o pesquisador pode selecionar a maneira de elaboração e desenvolvimento do estudo, podendo direcioná-lo para definição de conceitos, revisão de teorias ou análise metodológica dos estudos que estão inseridos em determinado tópico. Neste tipo de pesquisa é feita a seleção de como irá elaborar e desenvolver o estudo, podendo direcioná-lo para definição de conceitos, revisão de teorias ou análise metodológica dos estudos que estão inseridos em determinado tópico.

A busca dos estudos foi realizada em 2023, por acesso online das bases de dados indexados na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS): Publisher Medline (MEDLINE/PUBMED), Literatura Latino-Americano e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e Scielo. Os descritores foram utilizados de acordo com os Descritores em Ciências da Saúde (DeCs): Alcoolismo, Atenção Primária à Saúde e estratégias.

Foi realizada uma busca criteriosa dos estudos selecionados nesta revisão. A seleção, análise e discussões foram feitas de forma rigorosa, conservando o pensamento original dos autores citados. Desse modo, a questão norteadora deste estudo foi: Quais as estratégias presentes na atenção básica a saúde para o combate ao alcoolismo?

A investigação seguiu as seguintes etapas: Formulação dos problemas; busca na literatura, seguindo a seguinte ordem: título, resumo e o artigo na íntegra. A busca dos artigos foi realizada no período de janeiro a março de 2023 nas bases de dados indexados na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS): Publisher Medline (MEDLINE/PUBMED), Literatura Latino-Americano e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e Scielo, nos idiomas português e inglês, por meio dos descritores supracitados.

Foram encontrados 384 artigos, e selecionados 12 artigos que atendiam aos critérios estabelecidos. Foram incluídos artigos científicos de revisão integrativa e sistemática, estudos experimentais, relato de experiência, ensaio clínico randomizado, pesquisa etnográfica, publicados no período de 5 anos (2017-2022) em revistas, jornais e periódicos. Foram excluídos da pesquisa: artigos duplicados, teses, dissertações e artigos que não respondam à questão norteadora apresentada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa de revisão integrativa foi realizada em quatro bases de dados: SciELO, PubMed, BDENF e LILACS. Após a busca nessas bases de dados e a aplicação dos critérios estabelecidos, foram selecionados um total de 12 estudos. Ao realizar a busca pelos artigos que retratassem a temática foram encontrados 26 artigos na base de dados SciELO, onde passaram por exclusão os estudos que não fossem relacionados ao tema, duplicados ou incompletos, sendo selecionados 2 artigos. Na base de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) foram encontrados 358 estudos, sendo selecionados 10 artigos: 03 na PUBMED, 6 na LILACS e 1 na BDENF, cujos resultados se mostraram significativos.

Foram revisados todos os títulos e resumos, seguindo critérios de inclusão e exclusão, para selecionar os estudos a serem analisados em detalhes. A expressão “Atenção primária” foi a mais utilizada pelos autores e estava presente em 60% dos estudos, seguido de “estratégias de combate ao alcoolismo”. Como o objetivo deste estudo era analisar a produção científica sobre as estratégias utilizadas na atenção primária para o combate ao alcoolismo de forma abrangente, foram utilizadas as palavras mais prováveis de aparecerem nos artigos. Assim, verificou-se que 95% dos artigos apresentavam os objetivos do estudo de forma clara, ou seja, permitiam ao leitor compreendê-los facilmente.

De acordo com o estudo Carvalho (2019), a abordagem integral no atendimento ao paciente torna a consulta mais efetiva, pois dessa forma o paciente não é apenas um sistema biológico, mas um ser completo com necessidades físicas, emocionais, psíquicas e biológicas. Assim, não se avalia apenas a condição em que o alcoolista se encontra no momento, mas como um todo, buscando ouvir suas necessidades de saúde não verbalizadas ou explícitas. Essa abordagem possibilita um diagnóstico diferencial a partir de uma anamnese correta, ajudando o paciente a sentir-se valorizado e acolhido.

Malvezzi e Nascimento (2018) destacam as problemáticas do moralismo e da criminalização associadas a abordagens que enfatizam a abstinência como única forma de tratamento. Traz um questionamento sobre as abordagens tradicionais que estigmatizam os usuários de álcool e os tratam como pessoas moralmente falhas ou criminosas. Ao invés disso, o autor propõe uma reflexão sobre a importância de uma abordagem mais humanizada e centrada no cuidado do paciente, levando em consideração fatores sociais, psicológicos e de saúde pública. Ao reconhecer que a dependência do álcool é uma questão complexa, o estudo sugere que é necessário adotar estratégias de redução de danos, além de promover ações de prevenção e tratamento baseadas em evidências científicas. Isso inclui a inclusão de intervenções que visem a redução do consumo, o gerenciamento de riscos e o apoio psicossocial, em vez de focar exclusivamente na abstinência.

Outro ponto bastante abordado nos estudos é a formação dos profissionais de saúde, visando melhorar a prevenção e o gerenciamento do uso não saudável de álcool na atenção primária. Os resultados obtidos apontam que podem ter implicações significativas na prática clínica e na saúde pública, promovendo melhores resultados de saúde para os pacientes afetados por esse problema (RODRÍGUEZ-ROMERO et al., 2019; BRANCO et al., 2020; ZERBETTO; FURINO; FURINO, 2017).

Vale ressaltar que a educação continuada para profissionais da atenção básica desempenha um papel crucial no combate ao alcoolismo, fornecendo conhecimentos, habilidades e atualizações necessárias para identificar, prevenir, tratar e apoiar os pacientes afetados por essa condição. É por meio dessa educação que os profissionais podem melhorar a qualidade dos serviços prestados e contribuir para a redução do impacto negativo do alcoolismo na saúde e na sociedade como um todo. Além disso, a educação continuada permite que os profissionais estejam atualizados sobre as políticas, diretrizes e programas de saúde relacionados ao alcoolismo, bem como sobre as melhores práticas baseadas em evidências. Isso contribui para que os profissionais atuem de forma efetiva no combate ao alcoolismo e na promoção de uma abordagem integral de cuidado aos pacientes.

O uso prejudicial de álcool e outras drogas é um desafio significativo em várias sociedades, e as estratégias de redução de danos oferecem uma abordagem inovadora para lidar com essa questão. Gomes e Vecchia (2018) & Souza e Ronzani (2018) exploram as estratégias de redução de danos, que se baseiam na premissa de que é necessário aceitar a realidade do uso de substâncias e buscar minimizar os danos associados, em vez de adotar uma abordagem puramente moralista ou proibicionista. Essas estratégias reconhecem que algumas pessoas continuarão a fazer uso dessas substâncias, independentemente das políticas de proibição, e buscam, portanto, mitigar os riscos e danos relacionados.

Ainda segundo Souza e Ronzani (2018) expõem que o processo de estigmatização atribuído ao indivíduo sobre as causas e a responsabilidade que ele tem por sua condição é um fator preponderante que dificulta a possibilidade de cuidados. Isso porque muitas pessoas não iniciam o seu tratamento ou até mesmo o abandonam prematuramente porque são estigmatizados e, consequentemente, percebidos de forma negativa pela população e pelos profissionais de saúde. Deve-se perceber o quanto é importante que paciente e família reconheçam a instauração da doença no indivíduo. Somente após todo um diagnóstico é que será possível lhe ofertar um tratamento digno, que não o faça se sentir culpado, que não venha a sofrer nenhum tipo de preconceito.

A redução de danos não incentiva o uso de substâncias, mas busca minimizar os impactos negativos na saúde e na sociedade. Essa abordagem mais pragmática e compassiva pode facilitar o acesso aos serviços de saúde e reduzir o estigma associado ao uso de substâncias. No entanto, é importante destacar que as estratégias de redução de danos não são uma solução isolada, mas devem ser complementadas por medidas de prevenção, tratamento e recuperação. Essas estratégias devem ser implementadas em conjunto, levando em consideração as particularidades de cada contexto e os recursos disponíveis.

Em se tratando de combate ao alcoolismo, um tema relevante e atual no campo da saúde, é a intervenção precoce no uso de álcool por pacientes na atenção primária. Estudos destacam a importância das intervenções breves como uma abordagem eficaz para identificar e intervir no uso de risco e nocivo de álcool por parte dos pacientes na atenção primária. As intervenções breves referem-se a estratégias de curta duração, geralmente realizadas durante consultas de rotina, que visam aumentar a conscientização do paciente sobre seu consumo de álcool, oferecer informações sobre os riscos associados e motivar mudanças de comportamento. Destacam ainda, a relevância da atenção primária como um local estratégico para a identificação precoce e a intervenção no uso de álcool, uma vez que muitos indivíduos com problemas relacionados ao álcool têm contato frequente com profissionais de saúde nesse nível de cuidado. Além disso, os estudos ressaltam que as intervenções breves têm se mostrado eficazes na redução do consumo de álcool e no risco associado, bem como no aumento da motivação do paciente para buscar tratamento adicional, quando necessário. Essas intervenções podem ser realizadas por médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde que atuam na atenção primária. Um aspecto importante desta estratégia é a ênfase na sensibilização dos profissionais de saúde para a importância da abordagem do uso de álcool em suas práticas diárias. Os autores destacam a necessidade de capacitação e treinamento adequados para que os profissionais se sintam confortáveis em abordar essa questão com seus pacientes (YUN-LU et al., 2021; SOARES; VARGAS, 2019; ZERBETTO; FURINO; FURINO, 2017; BRANCO; FERREIRA; BARROSO, 2020).

Observa-se que o processo de reabilitação para alcoólatras pode envolver várias medidas que tem como objetivo central ajudar o doente a evitar que volte a beber. Dentre tais procedimentos, verifica-se que algumas estratégias podem ser usadas, tais como: tratamentos médicos, ajuda psicológica para melhorar o bem-estar mental e questões sociais, sessões com um terapeuta são indicadas durante várias semanas ou meses, uma ou duas vezes por semana. A partir desses procedimentos é possível criar um ambiente mais acolhedor, que permita ao dependente revelar mais sobre suas angústias que o levam ao consumo de álcool de maneira contínua. Além disso, almeja-se com esse tipo de tratamento estimular a autoconfiança, a formação de amizades e relacionamentos positivos que não girem em torno da bebida (PRATES et al., 2021).

A Atenção Primária à Saúde (APS) desempenha um papel crucial como ferramenta no combate ao alcoolismo. A APS é o primeiro ponto de contato dos indivíduos com o sistema de saúde e é caracterizada por oferecer cuidados abrangentes, acessíveis e contínuos. Existem diversas maneiras pelas quais a APS pode contribuir para abordar o alcoolismo de forma eficaz: Detecção precoce por meio de triagens regulares e questionários padronizados, os profissionais de saúde podem identificar indivíduos em risco ou com problemas relacionados ao consumo de álcool. Isso permite o início de intervenções oportunas antes que os problemas se agravem (BRANCO; FERREIRA; BARROSO, 2020). Educação e aconselhamento, onde os profissionais podem orientar os pacientes sobre padrões de consumo saudáveis, os riscos associados ao alcoolismo e as estratégias de redução de danos. O aconselhamento individualizado também pode ser fornecido para ajudar os pacientes a tomar decisões mais saudáveis relacionadas ao consumo de álcool (GOMES; VECCHIA, 2018; SOUZA; RONZANI, 2018); Intervenções breves em que os profissionais de saúde podem realizar sessões curtas e direcionadas com os pacientes para discutir seu consumo de álcool, fornecer feedback sobre os riscos associados e motivar mudanças comportamentais. Essas intervenções podem ser incorporadas às consultas de rotina e têm se mostrado efetivas na redução do consumo de álcool e na prevenção de problemas mais graves (YUN-LU et al., 2021; SOARES; VARGAS, 2019; BRANCO; FERREIRA; BARROSO, 2020); Encaminhamento e suporte por meio do encaminhamento dos pacientes para serviços especializados, como centros de reabilitação, grupos de apoio e terapia psicológica. podem acompanhar o progresso dos pacientes e fornecer apoio contínuo para manter a motivação e prevenir recaídas e; Trabalho em equipe e integração de cuidados em que profissionais de diferentes especialidades, como médicos, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais, podem colaborar para oferecer uma abordagem holística e abrangente ao tratamento do alcoolismo. Isso permite uma visão mais completa das necessidades dos pacientes e uma abordagem mais efetiva em termos de tratamento e apoio.Parte inferior do formulário

Dessa forma, pode-se observar um grande avanço nas pesquisas que abordam a problemática do alcoolismo, evidenciando os esforços dos pesquisadores da área da saúde, em especial da saúde coletiva, em compreender as ferramentas e estratégias utilizadas pela APS para os pacientes alcoolistas. Acreditamos que essa nova temática, de relevância para a saúde pública, será desenvolvida por meio de artigos mais específicos e abrangentes, que abordem os protocolos de atuação e que façam pesquisas de campo com dados mais realistas. Isso permitirá que os profissionais de saúde, incluindo o médico, tenham uma melhor compreensão da promoção, prevenção e recuperação da saúde de pacientes alcoolistas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O alcoolismo ainda é um dos principais problemas de saúde pública no mundo. Diante disto, a Atenção Primária à Saúde desempenha um papel crucial no combate ao alcoolismo, proporcionando detecção precoce, educação, aconselhamento, intervenções breves, encaminhamento adequado e suporte contínuo. Com sua abordagem abrangente e acessível, a APS pode contribuir significativamente para a prevenção, tratamento e recuperação de indivíduos com problemas relacionados ao consumo de álcool. Este estudo nos permitiu obter algumas conclusões que podem ser relevantes para pesquisas futuras que também buscam identificar as ferramentas e estratégias utilizadas na Atenção Primária a Saúde para o combate ao alcoolismo, além de evidenciar as barreiras envolvidas no processo de educação de profissionais de saúde em relação ao álcool e outras drogas.

ABSTRACT

Objective: To identify in publications which actions are developed by Primary Health Care (PHC) as a means to confront and combat alcoholism. Methods: Integrative Review in Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences (LILACS), Nursing Database (BDENF), National Library of Medicine (PubMed) through the Virtual Health Library (VHL) and Scientific Electronic Library Online (SciELO), using as descriptors: Alcoholism, PHC and strategies, with a time frame of 2017 to 2022. Results: When searching for articles that portrayed the theme, 26 articles were found in the SciELO database, where studies that were not related to the theme, duplicated or incomplete were excluded, and 2 articles were selected. In the Virtual Health Library (VHL) database 358 studies were found, and 10 articles were selected: 03 in PUBMED, 6 in LILACS and 1 in BDENF, whose results were significant. Final Considerations: It is emphasized that, in addition to specialized training, it is essential to promote a collaborative approach between health professionals and the community. The integration of resources and actions, such as public policies for prevention and treatment, health education, and social support actions, can significantly contribute to reduce the prevalence of alcoholism.

Keywords: Alcoholism, Primary Health Care, strategies.

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1 Faculdade de Ciências Médicas do Pará, Marabá-Pará. *E-mail: josewalter1523@outlook.com