REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102501061532
Tais Targino de Oliveira Virginio Duarte1
Maria Cristina de Moura Ferreira2
Louise Passos Vigolvino Macedo3
Marcelo Barros de Valmoré Fernandes4
Aline Guarato da Cunha Bragato5
Renata Gomes Barreto6
Cândida Marques Barbosa de Santana7
RESUMO
O manejo de feridas complexas apresenta desafios significativos no âmbito clínico, social e econômico, exigindo estratégias integradas e baseadas em evidências. Este estudo teve como objetivo explorar os principais aspectos relacionados ao impacto das feridas na qualidade de vida dos pacientes, os avanços tecnológicos disponíveis para o tratamento e a importância da educação permanente na capacitação de profissionais de saúde. Adotando uma abordagem reflexiva, o estudo foi estruturado em três categorias temáticas: impacto das feridas na qualidade de vida, avanços tecnológicos e técnicas no manejo, e educação permanente para a qualificação profissional. Os resultados destacaram que as feridas complexas afetam profundamente a qualidade de vida dos pacientes, gerando dor crônica, restrições funcionais e impactos emocionais, como isolamento social e depressão. Avanços tecnológicos, como a terapia por pressão negativa e coberturas bioativas, têm contribuído para acelerar a cicatrização e reduzir complicações, embora enfrentem barreiras de acessibilidade. Além disso, a educação permanente foi identificada como elemento crucial para o aprimoramento do cuidado, permitindo que os profissionais de saúde estejam aptos a implementar práticas inovadoras e humanizadas no manejo dessas lesões. Conclui-se que o manejo eficaz de feridas complexas requer uma abordagem multidimensional, que integre avanços tecnológicos, capacitação profissional e suporte psicossocial. A implementação de estratégias que promovam a equidade no acesso a tratamentos e a formação continuada de equipes de saúde é indispensável para melhorar os desfechos clínicos, otimizar recursos e promover uma assistência humanizada e eficiente.
Descritores: Feridas; Cuidado; Saúde.
INTRODUÇÃO
As feridas complexas representam um desafio crescente nos cuidados de saúde, devido à sua alta incidência, gravidade clínica e impacto socioeconômico. Caracterizam-se por lesões de difícil cicatrização, frequentemente associadas a condições crônicas como diabetes mellitus, insuficiência venosa crônica e úlceras por pressão, além de doenças autoimunes e trauma. Essas feridas demandam atenção contínua e abordagem multidisciplinar, sendo responsáveis por significativa morbidade e, em muitos casos, por mortalidade evitável. Além disso, representam um alto custo para os sistemas de saúde, envolvendo internações prolongadas, múltiplos procedimentos e necessidade de tecnologias avançadas (Góis et al., 2024; Palácio et al., 2024).
Avanços na ciência e tecnologia têm ampliado as opções de manejo para essas lesões, oferecendo técnicas inovadoras que vão além dos métodos tradicionais de tratamento. Materiais bioativos, como curativos de celulose bacteriana, scaffolds tridimensionais e polímeros avançados, têm se destacado por suas propriedades de biocompatibilidade, controle antimicrobiano e estímulo à regeneração tecidual. Esses avanços contribuem para a redução do tempo de cicatrização e para a melhoria dos desfechos clínicos, especialmente em pacientes com alto risco de complicações, como infecções severas e amputações (Barros et al., 2022). Contudo, a eficácia dessas inovações depende de sua aplicabilidade e da capacitação dos profissionais de saúde envolvidos.
Outro fator crucial no manejo de feridas complexas é a adesão ao tratamento. Estudos indicam que barreiras socioeconômicas, baixa alfabetização em saúde e limitações no acesso a tecnologias comprometem a continuidade do cuidado. Além disso, a fragmentação dos serviços de saúde e a escassez de recursos em regiões menos favorecidas dificultam a implementação de abordagens baseadas em evidências, agravando o quadro clínico dos pacientes. Palácio et al. (2024) destacam que a formação de equipes multiprofissionais é fundamental para superar esses desafios, proporcionando um cuidado integral que contemple não apenas o aspecto físico, mas também o emocional e social do paciente.
Apesar dessas limitações, o manejo de feridas complexas tem avançado significativamente com a introdução de tecnologias como a terapia por pressão negativa, que auxilia na drenagem de exsudatos e no estímulo à perfusão tecidual, e os enxertos biológicos, que promovem a regeneração de pele em casos mais graves. Além disso, os protocolos de avaliação clínica contínua têm se mostrado eficazes para identificar precocemente sinais de complicações e ajustar as intervenções necessárias.
Diante desse cenário, este estudo tem como objetivo explorar as técnicas avançadas e os manejos disponíveis para o tratamento de feridas complexas. A partir de uma revisão da literatura científica, busca-se identificar as práticas mais eficazes, seus benefícios e limitações, e propor estratégias que possam ser aplicadas em diferentes contextos, com foco na melhoria da qualidade de vida dos pacientes e na redução dos impactos para os sistemas de saúde. A integração de tecnologia, capacitação profissional e políticas públicas é essencial para consolidar um modelo de cuidado efetivo e humanizado para esse grupo de pacientes.
DESENVOLVIMENTO
As feridas complexas representam um dos maiores desafios nos cuidados em saúde, exigindo abordagens integradas que vão além das práticas convencionais. Caracterizadas pela dificuldade de cicatrização e pelo alto risco de complicações, essas lesões afetam significativamente a qualidade de vida dos pacientes e demandam recursos substanciais dos sistemas de saúde. A gestão dessas feridas requer não apenas avanços tecnológicos, mas também o fortalecimento da capacitação profissional e a adoção de práticas baseadas em evidências, que integrem cuidado clínico e suporte emocional.
Este estudo reflexivo explora, por meio de três categorias temáticas, os principais aspectos relacionados ao impacto das feridas na vida dos pacientes, os avanços no manejo clínico e a importância da educação permanente para a qualificação dos profissionais de saúde. Cada uma dessas categorias busca aprofundar a discussão sobre os desafios e soluções no tratamento de feridas complexas, propondo uma visão ampla e fundamentada para melhorar os resultados clínicos e promover uma assistência mais humanizada.
Categoria 1: Impacto das Feridas Complexas na Qualidade de Vida dos Pacientes
As feridas complexas, caracterizadas por sua difícil cicatrização e pelo alto risco de complicações, representam um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes. Segundo Mello et al. (2024), essas lesões afetam não apenas a dimensão física, mas também aspectos emocionais e sociais dos indivíduos. Pacientes convivem com dor crônica, restrições na mobilidade e estigmas sociais que frequentemente resultam em isolamento social e depressão. A cicatrização prolongada dessas feridas aumenta o sentimento de frustração, especialmente em casos de recidivas, que agravam o quadro emocional e físico.
Além disso, as demandas econômicas relacionadas ao manejo dessas feridas são elevadas, envolvendo custos com materiais de curativo, medicamentos e deslocamentos para consultas frequentes. De acordo com Antunes et al. (2023), a dificuldade no acesso a tratamentos especializados em regiões periféricas agrava as desigualdades no cuidado, tornando os desfechos clínicos mais desfavoráveis para populações vulneráveis. Esse cenário ressalta a importância de políticas públicas que promovam equidade no acesso a tecnologias e tratamentos de ponta.
O impacto social também é evidente. Pacientes com feridas crônicas, como úlceras venosas ou por pressão, enfrentam limitações no desempenho de atividades laborais e domésticas, comprometendo sua autonomia. Santos et al. (2022) destacam que o apoio psicológico é essencial para ajudar esses indivíduos a lidar com as implicações emocionais e sociais das feridas, favorecendo uma abordagem integral do cuidado.
Nesse sentido, a adoção de modelos de atenção integral que combinem tratamentos clínicos eficazes com suporte psicossocial é indispensável para mitigar os impactos das feridas complexas na vida dos pacientes. Esses modelos devem priorizar a escuta ativa, o acolhimento e a humanização, valorizando as necessidades individuais de cada paciente e promovendo o engajamento no tratamento.
Categoria 2: Avanços Tecnológicos e Técnicas no Manejo de Feridas
O manejo de feridas complexas tem avançado significativamente com o desenvolvimento de novas tecnologias e técnicas que ampliam as possibilidades de tratamento. Carvalho et al. (2024) destacam que o uso de coberturas bioativas, como curativos com prata, alginato de cálcio e hidrocolóides, tem mostrado resultados positivos na aceleração da cicatrização e no controle de infecções. Esses materiais atuam diretamente no leito da ferida, promovendo um ambiente ideal para a regeneração tecidual e reduzindo os custos hospitalares associados ao prolongamento do tratamento.
Outra inovação relevante é a terapia por pressão negativa, que auxilia na drenagem do exsudato e no estímulo à perfusão local, favorecendo a cicatrização em feridas complexas. Estudos recentes, como o de Mello et al. (2024), indicam que essa técnica tem sido amplamente utilizada em casos de úlceras venosas e feridas traumáticas, apresentando eficácia na redução do tamanho da lesão e no tempo de cicatrização.
Além disso, a simulação clínica tem se destacado como uma ferramenta educacional para capacitar profissionais de saúde no manejo de feridas complexas. De acordo com Santos et al. (2022), a prática simulada permite o treinamento em ambientes controlados, melhorando a tomada de decisão e a aplicação de técnicas avançadas, como desbridamento e aplicação de coberturas bioativas. Isso contribui para a formação de profissionais mais preparados para enfrentar os desafios do cuidado em diferentes contextos.
Os avanços tecnológicos também incluem a introdução de plataformas digitais para monitoramento remoto das feridas. Essas ferramentas, associadas ao uso de inteligência artificial, permitem o acompanhamento em tempo real da evolução da cicatrização, possibilitando ajustes precisos no tratamento. Antunes et al. (2023) ressaltam que, embora essas tecnologias ainda não sejam amplamente acessíveis, elas representam um marco na personalização do cuidado e na otimização dos recursos em saúde.
Portanto, os avanços tecnológicos e as novas técnicas no manejo de feridas complexas são indispensáveis para melhorar os desfechos clínicos. No entanto, é fundamental garantir que essas inovações sejam acessíveis e integradas ao sistema público de saúde, promovendo equidade no cuidado e beneficiando populações em diferentes contextos socioeconômicos.
Categoria 3: Educação Permanente e Capacitação Profissional
A educação permanente é um pilar central para o aprimoramento do cuidado de feridas complexas, sendo indispensável para a formação de profissionais capacitados a lidar com os desafios desse tipo de tratamento. De acordo com a Revista Pró-UniverSUS (2024), a qualificação contínua permite que os profissionais atualizem seus conhecimentos e adquiram habilidades necessárias para implementar práticas baseadas em evidências, promovendo um cuidado mais eficaz e humanizado.
Uma das principais estratégias de educação permanente é o uso de metodologias ativas, como oficinas práticas e simulações clínicas. Santos et al. (2022) destacam que essas abordagens são eficazes para fortalecer o aprendizado e garantir a aplicação correta de técnicas avançadas, como a utilização de terapias por pressão negativa e desbridamento cirúrgico. Além disso, a troca de experiências em equipes multiprofissionais é um diferencial, pois permite a construção de planos de cuidado integrados e personalizados.
Carvalho et al. (2024) apontam que a falta de capacitação é uma das barreiras mais significativas no manejo de feridas complexas, especialmente em regiões onde o acesso a treinamentos e tecnologias é limitado. Nesse contexto, a implementação de programas de educação permanente se torna essencial para reduzir desigualdades no cuidado e melhorar a qualidade da assistência.
Outro aspecto relevante é a inclusão de tecnologias educacionais, como plataformas de ensino a distância e aplicativos interativos. Segundo Mello et al. (2024), essas ferramentas ampliam o alcance dos programas de capacitação, permitindo que profissionais de saúde em áreas remotas tenham acesso a conteúdos atualizados e possam desenvolver competências técnicas e clínicas de forma contínua.
Portanto, a educação permanente é um componente indispensável para o manejo de feridas complexas. Investir na formação e capacitação dos profissionais não apenas eleva a qualidade do cuidado, mas também promove a segurança dos pacientes e fortalece a atuação integrada das equipes de saúde. Estratégias que aliem inovação tecnológica e humanização devem ser priorizadas para alcançar melhores resultados no cuidado com feridas.
CONCLUSÃO
O manejo de feridas complexas continua sendo um desafio significativo para os sistemas de saúde, exigindo abordagens inovadoras e integradas que vão além dos tratamentos convencionais. Este estudo destacou três dimensões fundamentais para o avanço na assistência a esses pacientes: o impacto das feridas na qualidade de vida, os avanços tecnológicos e clínicos, e a importância da educação permanente para os profissionais de saúde.
As feridas complexas afetam não apenas a saúde física, mas também os aspectos emocionais e sociais dos pacientes, reforçando a necessidade de uma abordagem integral que inclua suporte psicológico e estratégias de humanização. Os avanços em tecnologias de cuidado, como coberturas bioativas, terapia por pressão negativa e plataformas digitais para monitoramento, têm mostrado resultados promissores na aceleração da cicatrização e na redução de complicações, embora ainda enfrentem barreiras de acessibilidade e custo.
A educação permanente emergiu como um elemento central para qualificar os profissionais de saúde e garantir a aplicação de práticas baseadas em evidências. Investir na formação continuada é essencial para reduzir as desigualdades no cuidado e ampliar a capacidade técnica das equipes de saúde, promovendo um atendimento mais seguro e eficaz.
Conclui-se que o sucesso no manejo de feridas complexas depende de uma articulação eficaz entre inovação tecnológica, qualificação profissional e humanização do cuidado. Estratégias que integrem esses elementos são indispensáveis para alcançar melhores desfechos clínicos, otimizar os recursos em saúde e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, promovendo uma assistência mais equitativa e eficiente.
REFERÊNCIAS
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1 Cirurgiã-dentista, estudante de Medicina. FAMENE.
2 Doutorado em Enfermagem Fundamental pela USP, Ribeirão Preto -SP. Pós-doutoranda do Programa de Pós-graduação em Atenção à Saúde -PPGAS- UFTM- Uberaba, MG.
3 Doutora em Enfermagem pela Universidade de Pernambuco/Universidade Estadual da Paraíba. Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Especialista em Enfermagem Dermatológica pela Faculdade Nossa Senhora de Lourdes (Centro de Ciências da Paraíba).
4 Enfermeiro, Professor, Especialista em Centro Cirúrgico, Especialista em Gestão de Saúde, Especialista em Gestão de Serviços e Unidades de Enfermagem, Mestrando em Gestão Estratégica em Saúde.
5 Enfermeira. Mestre e Doutora em atenção à saúde
6 Graduação em Terapia Ocupacional pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB. Pós graduação em Gerontologia pelo Centro Integrado de Tecnologia e Pesquisa – CINTEP e Qualidade em Saúde e Segurança do Paciente – FIOCRUZ. Mestranda pelo Programa de Mestrado Profissional em Gerontologia – UFPB.
7 Enfermeira na UBS jardim São Francisco. Especialista em feridas.