RHEUMATIC FEVER IN CHILDREN AND ADOLESCENTS: CONTRIBUTIONS FROM NURSING
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202409141530
Glória Maria de Abreu Melo1,
Maria Gabriella Pereira Melo2,
Ramon Santos Carvalho3,
Manoel Holanda Soares4
RESUMO
A febre reumática é uma doença inflamatória sistêmica que afeta milhões de pessoas em todo mundo, predominantemente em países subdesenvolvidos e requer cuidados e tratamentos específicos, ocorre devido a uma resposta autoimune iniciada pela faringite associada ao estreptococo β-hemolítico do grupo A. O presente trabalho teve como objetivo demonstrar, por meio da literatura, aspectos inerentes à febre reumática em crianças e adolescentes, bem como as contribuições da enfermagem no cuidado e tratamento. A literatura científica referente a febre reumática em crianças e adolescentes é robusta e comporta artigos que abordam aspectos referentes à caracterização da febre reumática, seu mecanismo, diagnóstico, consequências, tratamento, cuidado e qualidade de vida dos pacientes. Sendo as palavras-chaves usadas com maior frequência: “Febre reumática”, seguida das palavras “Cardite”, “Doenças das Valvas Cardíacas” e “Cardiopatia reumática”, termos relacionados às consequências do agravamento da febre reumática. O enfermeiro é o primeiro ponto de contato para pacientes que buscam serviços de saúde e realizam avaliações, incluindo exames físicos que avaliam sinais e sintomas, culturas de garganta e testes rápidos de antígeno. São, portanto, importantes atores para o sucesso no cuidado e prevenção da febre reumática em crianças e adolescentes.
Palavras-chave: faringite, estreptococo do grupo A, enfermagem pediátrica.
1 INTRODUÇÃO
A febre reumática é uma doença inflamatória sistêmica que afeta milhões de pessoas em todo mundo, predominantemente em países subdesenvolvidos e requer cuidados e tratamentos específicos. Se desenvolve em crianças geneticamente predispostas (de 5 a 15 anos) após estas sofrerem de amigdalite ou faringite estreptocócica associada ao estreptococo β-hemolítico do grupo A (GAS) não tratada ou tratada inadequadamente, comumente conhecida como “faringite estreptocócica” (Santos, 2024; Lobo et al., 2024).
A febre reumática ocorre devido a uma resposta autoimune iniciada pela faringite por GAS. Os antígenos estreptocócicos, como a proteína M e o antígeno de carboidrato (N-acetilbeta-D-glucosamina), produzem anticorpos que reagem de forma cruzada com proteínas cardíacas humanas, como miosina e laminina, e resultam em lesão mediada humoral (Azevedo et al., 2012).
O diagnóstico da febre reumática é baseado nos critérios desenvolvidos por KisselJones, que datam de 1944 e que passaram por revisões ao longo do tempo visando melhorar a sensibilidade dos critérios em populações de risco moderado/alto. As principais mudanças na última atualização de 2015 incluem a estratificação de risco populacional com base na endemicidade da doença e inclusão de cardite subclínica como um critério principal (Gewitz et al., 2015).
Os critérios de Jones incluem sinais clínicos maiores e menores, juntamente com evidência de infecção estreptocócica recente. As principais manifestações são cardite, poliartrite, coreia, eritema anular e nódulos, enquanto os critérios menores incluem febre, artralgia e evidências laboratoriais de velocidade de hemossedimentação elevada, proteína Creativa e prolongamento do intervalo PQ no eletrocardiograma (Santos, 2024; Lobo et al., 2024; Pereira, 2024).
A adesão rigorosa aos critérios modificados de Jones pode comprometer a sensibilidade, em cenários com recursos limitados. Os motivos são dificuldades em buscar um diagnóstico bacteriológico e dificuldades com documentação de febre. Circunstâncias, nas quais uma abordagem simplificada pode ser adotada, onde todas as crianças e adolescentes que apresentam qualquer manifestação articular importante e marcadores inflamatórios elevados são submetidos à avaliação ecocardiográfica, independentemente do histórico de febre (Karthikeyan; Guilherme, 2018).
O tratamento da febre reumática concentra-se em: tratamento da faringite por GAS; tratamento das manifestações da febre reumática; prevenção de recorrências; e educação do paciente e da família. O tratamento adequado da infecção estreptocócica da garganta, a prevenção primária e secundária da febre reumática reduz sua frequência, contudo, o baixo status socioeconômico, a desnutrição e a superlotação são os fatores de risco mais comuns para casos de febre reumática (Pereira, 2024; Carapetis et al., 2016). Portanto, os esforços para melhorar a prevenção são necessários para reduzir a febre reumática.
Os enfermeiros desempenham um papel crucial na prevenção de febre reumática por meio de seu envolvimento em medidas de prevenção primária e secundária, visto que trabalham em várias funções e cenários que contribuem para o cuidado de pacientes com febre reumática. Esses profissionais geralmente são o primeiro ponto de contato para pacientes que buscam serviços de saúde e são responsáveis por fornecer educação, conduzir avaliações, implementar medidas preventivas e coordenar o atendimento a indivíduos em risco ou diagnosticados com febre reumática (Sanyahumbi et al., 2019).
Adicionalmente, são os enfermeiros que realizam avaliações, incluindo exames físicos que avaliam sinais e sintomas de faringite por GAS e febre reumática, além de culturas de garganta e testes rápidos de antígeno para testar faringite por GAS e encaminhar pacientes para testes sorológicos (Carapetis et al., 2016).
Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo demonstrar, por meio da literatura, aspectos inerentes à febre reumática em crianças e adolescentes, bem como as contribuições da enfermagem no cuidado e tratamento.
2 METODOLOGIA
O presente trabalho consiste em uma revisão integrativa da literatura com caráter qualitativo. Para a construção da pesquisa foram prospectados artigos indexados nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e do Google Acadêmico.
Para prospecção, foram adotados como descritores: Febre reumática, Crianças; Adolescentes. Esses termos foram combinados e utilizados no idioma inglês: rheumatic fever AND children AND adolescents.
Na base SciELO (https://www.scielo.br/), a prospecção dos artigos ocorreu adotando os termos conforme listado acima buscando-os em todos os campos, publicados a partir do ano de 2000 e adotou-se como filtros: Coleções: Brasil; Idioma: Português; e Tipo de literatura: Artigo. Para a prospecção na base LILACS (https://lilacs.bvsalud.org/) foram adotados os critérios anteriores. Na base de dados Google Acadêmico (https://scholar.google.com.br/?hl=pt), foram inseridos como filtros o idioma e período de publicação, sendo considerado na pesquisa apenas artigos publicados a partir de 2023 e redigidos na língua portuguesa.
Após a prospecção foram considerado artigos de acesso aberto, os quais foram baixados e analisados para exclusão de duplicatas e a seleção de artigos utilizados para a construção do trabalho, que teve como base os critérios de inclusão e exclusão, descritos abaixo:
i) Critério de inclusão: artigos em língua portuguesa, disponíveis na íntegra na base de dados, publicados no período a partir de 2000 nas bases SciELO e LILAC e 2023 no Google Acadêmico e que respondam à pergunta norteadora; ii) Critério de exclusão: artigos de linguagem estrangeira, publicados antes de 2012, que não respondem à pergunta norteadora; iii) Trabalhos de Conclusão de Curso, Dissertação, Tese e trabalhos provenientes de Anais de Congressos.
Os artigos foram inicialmente selecionados pelo título e resumo considerando os critérios de inclusão e exclusão. Esta análise foi conduzida por dois revisores independentes para garantir a objetividade e reduzir o viés, em caso de discordância entre os revisores, um terceiro revisor foi consultado para alcançar um consenso. Posteriormente, foram removidos os artigos duplicados, ou seja, quando o artigo estava presente em duas bases, e, após esta etapa os foi realizada a leitura na íntegra e extração das informações para a construção da revisão integrativa. Na Figura 1 é possível visualizar um resumo do fluxo de trabalho.
Figura 1. Fluxograma das etapas percorridas para a seleção dos artigos.
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir da busca realizada em três bases de dados científicos (SciELO, LILACS e Google Acadêmico) e considerando os critérios de inclusão e exclusão, foram considerados para a construção do presente trabalho 10 artigos que tratam de aspectos referente à febre reumática em crianças e adolescentes. Os artigos considerados no presente trabalho foram publicados no período de 2006 a 2024 (Figura 2).
Figura 2. Ano de publicação dos artigos indexados nas bases SciELO, LILACS e Google Acadêmico considerados para a revisão após seleção pelos critérios de inclusão e exclusão.
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).
Para os artigos analisados, verificou-se um total de 29 palavras-chave, na Figura 3 é possível observar aquelas mais frequentes. Tais palavras são os termos que os autores acreditam representar bem o conteúdo do artigo e permitem capturar o conteúdo de um artigo bem como investigar a estrutura de conhecimento de campos científicos (Aria, Curccurullo, 2017). Sendo as palavras-chaves usadas com maior frequência: “Febre reumática”, seguida das palavras “Cardite”, “Doenças das Valvas Cardíacas” e “Cardiopatia reumática”.
Figura 3. Nuvem de palavras com as palavras-chave mais proeminentes nos artigos indexados nas bases SciELO, LILACS e Google Acadêmico considerados para a revisão após seleção pelos critérios de inclusão e exclusão.
Fonte: Elaborado pelos autores (2024).
Os artigos incluídos na presente revisão abordam aspectos referentes à caracterização da Febre Reumática (FR), seu mecanismo, diagnóstico, consequências, tratamento, cuidado e qualidade de vida dos pacientes. Na tabela 1 foram reunidos os artigos que tratam sobre a caracterização da doença, fatores de risco, fisiopatologia, mecanismos e diagnóstico.
Tabela 1. Artigos indexados nas bases SciELO, LILACS e Google Acadêmico considerados para a revisão após seleção pelos critérios de inclusão e exclusão que tratam sobre caracterização da febre reumática.
Título | Resumo | Revista/ Base | Referência |
Febre reumática; fatores de risco, fisiopatologia e diagnóstico | Demonstrar como a faringite estreptocócica é uma das principais enfermidades que levam à febre reumática. A causadora do problema e que possui direta relação entre a faringite e a febre reumática se trata da Streptococcus pyogenes, uma bactéria beta-hemolítica do grupo A. O estudo também buscou observar os principais sintomas, consequências e manifestações, bem como a apresentação de uma síntese da atuação da bactéria no organismo do paciente com febre reumática. Por fim, a autora procura debruçar-se sobre os principais critérios a serem considerados para um diagnóstico preciso e eficaz. Evidentemente por se tratar de um tema de alta complexidade, nuances e abordagens, o artigo não visa esgotar a abrangência literária do tópico | Revista Foco/ Acadêmico | Santos, 2024 |
Considerações epidemiológicas e clínicas relacionadas à Febre Reumática aguda e à doença cardíaca reumática | Ao longo das últimas duas décadas, tem havido um ressurgimento do interesse em febre reumática (FR) e doença cardíaca reumática (DCR). Esses avanços incluem a compreensão da predisposição genética para DCR, o desenvolvimento de vacinas contra Streptococcus do grupo A (GAS) e melhores estratégias de diagnóstico para faringite por GAS. Embora a compreensão da patogênese da doença tenha avançado nos últimos anos, não levou a melhorias dramáticas nas abordagens diagnósticas, que ainda dependem de características clínicas utilizando os critérios de Jones ou nas práticas de tratamento, que precisam de aprimoramento, apesar das descobertas mais recentes. | Editora Epitaya / Acadêmico | Lobo et al., 2024 |
Febre reumática e suas repercussões hemodinâmicas | As repercussões hemodinâmicas mais notáveis da febre reumática são aquelas que afetam o coração. A cardite reumática pode levar a estenose ou insuficiência das válvulas cardíacas, particularmente as válvulas mitral e aórtica. A estenose mitral é uma complicação comum, onde a válvula mitral se torna estreitada, dificultando o fluxo sanguíneo do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo. A pesquisa contínua para melhor compreender os mecanismos imunopatológicos subjacentes e o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas são essenciais para melhorar os resultados para os pacientes afetados por esta doença devastadora. | Periódicos Brasil / Acadêmico | Pereira et al., 2024 |
Fonte: Elaborada pelos autores (2024).
Os artigos listados acima buscam fornecer uma visão detalhada sobre a febre reumática, abordando suas principais características e os fatores de risco associados. A faringite é um dos principais mecanismos iniciais para o desenvolvimento da febre reumática. A febre reumática é uma doença sistêmica que pode surgir a partir de uma infecção por faringite estreptocócica e é caracterizada por sintomas dolorosos como cardite, artrite e febre (Santos, 2024; Lobo et al., 2024; Pereira, 2024).
Conhecer todos os aspetos inerentes à doença é de extrema relevância, dentre eles, é importante discutir as consequências e condições clínicas decorrentes da febre reumática, nesse sentido, foram reunidos na Tabela 2 artigos que tratam desta temática.
Tabela 2. Artigos indexados nas bases SciELO, LILACS e Google Acadêmico considerados para a revisão após seleção pelos critérios de inclusão e exclusão que tratam sobre consequências da febre reumática.
Título | Resumo | Revista/ Base | Referência |
Uma análise da cardiopatia reumática | A cardiopatia reumática (CR) é uma grave consequência da febre reumática aguda (FRA) representando a principal causa de doença cardíaca entre crianças em países de baixa e média renda. A FRA causa pancardite e, mais comumente, problemas valvares. O diagnóstico da CR é feito através do ecocardiograma e deve-se suspeitar de cardiopatia reumática em todos os pacientes com FRA. Em pacientes com FRA recomenda-se a profilaxia com injeção de 4 semanas de penicilina G benzatina (PGB) pra prevenir a progressão da CR. O manejo da CR é feito através do diagnóstico precoce e tratamento da insuficiência cardíaca. | REAS / Google Acadêmico | Ferreira et al., 2024 |
Manifestações articulares atípicas em pacientes com febre reumática | O artigo propôs descrever as características clínicas e a ocorrência de artrite atípica em crianças com diagnóstico de febre reumática (FR) acompanhadas em ambulatórios terciários em Salvador, Bahia. 61% dos pacientes estudados eram do sexo masculino; com média de idade de 9,2 anos e idade no momento do diagnóstico entre 5 e 16 anos. Artrite esteve presente em 75,6% dos pacientes; cardite em 75,6%; coreia em 31,7%; eritema marginado em 14,6% e nódulos subcutâneos em 4,9%. Um padrão atípico foi observado em 22 dos 31 casos com artrite (70,9%): envolvimento de pequenas articulações e/ou esqueleto axial em 12 casos (38,7%); duração maior que três semanas em nove (29%); resposta inadequada ao AINH em dois (6,5%); oligoartrite em 22/31 (71%), sendo monoartrite 6/31. A febre esteve presente em 78% dos casos e 82,9% dos pacientes utilizavam a profilaxia secundária de forma regular. Artrite atípica esteve presente na maioria dos pacientes que cursaram com acometimento articular, constituindo um fator de confundimento diagnóstico e atraso terapêutico adequado. | Revista Brasileira de Reumatologia/ LILACS | Robazzi et al., 2014 |
Avaliação da função pulmonar em crianças e adolescentes no pré e pós-operatório de correção cirúrgica de valvulopatia reumática | Dezoito crianças, portadoras de febre reumática, submetidas a troca ou reconstrução de válvula mitral, foram avaliadas quanto à função pulmonar, antes e do primeiro ao quinto dia após a cirurgia. Todos os pacientes tinham entre 8 e 17 anos, apresentavam um índice de massa corpórea médio 16,1–2,2 e foram desmamados da ventilação mecânica invasiva nas primeiras 10 horas de pós-operatório. Todos os parâmetros encontraram-se expressivamente deteriorados no primeiro dia de pós-operatório, apresentando gradativas melhoras até o último dia de avaliação, embora sem retornar aos valores basais, exceto o volume minuto, que, a partir do quarto dia de pós-operatório, retornou aos valores pró-operatórios em termos estatísticos. A disfunção pulmonar, proveniente dessa cirurgia cardíaca, se mantém até o quinto dia de pós-operatório e parece ser influenciada pela dor e alteração mecânica provenientes da esternotomia e pela diminuição da complacência pulmonar, cirurgia cardíaca, se mantém até o quinto dia de pós-operatório e parece ser influenciada pela dor e alteração mecânica provenientes da esternotomia e pela diminuição da complacência pulmonar, ocorridas no pós-operatório. | Jornal de Pediatria / SciELO | Caséca; Andrade; Britto, 2006 |
Estudo comparativo das avaliações clínica e ecocardiográfica doppler na evolução das lesões valvares em crianças e adolescentes portadores de febre reumática | Comparar os exames clínico e ecocardiográfico Doppler na avaliação das lesões valvares em crianças e adolescentes com febre reumática, bem como investigar a evolução da doença segundo essas avaliações. Dos 109 pacientes submetidos à avaliação ecocardiográfica Doppler na fase aguda, 31 não apresentavam clínica de cardite, mas dezessete (54,8%) deles mostravam lesão valvar ao ecocardiograma Doppler (valvite subclínica). Na fase crônica, 153 dos 258 pacientes tinham exame cardiovascular normal, 85 desses mostravam lesão valvar ao ecocardiograma Doppler (valvopatia crônica subclínica). A involução das lesões valvares segundo a avaliação ecocardiográfica Doppler foi menos frequente, ocorrendo em dez dos pacientes com valvite leve e em apenas um daqueles com valvite moderada, e em nenhum com valvite grave. A identificação de lesões valvares na febre reumática é maior se a avaliação clínica for acrescida do exame ecocardiográfico Doppler, que também mostra menor índice de regressão das lesões valvares. O diagnóstico de valvite e valvopatia subclínicas tem implicação quanto às profilaxias secundária da febre reumática e da endocardite. | Arquivos Brasileiros de Cardiologia / LILACS | Meira et al., 2006 |
Elaboração pelos autores (2024).
Pacientes portadores de febre reumática frequentemente tem acometidos os sistemas cardiovascular, o musculoesquelético e o nervoso. A cardiopatia reumática é uma consequência grave e de longo prazo da febre reumática, estima-se que 1% a 3% dos pacientes com infecção por estreptococo do grupo A (GAS) não tratada, desenvolveram cardiopatia reumática e, até 60% dos casos resultarão em cardiopatia reumática crônica. O diagnóstico da cardiopatia reumática é feito através do ecocardiograma e deve-se suspeitar de cardiopatia reumática e todos os pacientes com febre reumática, o seu manejo é feito através do diagnóstico precoce e tratamento da insuficiência cardíaca (Ferreira et al., 2024).
Tratando-se das lesões valvares em crianças e adolescentes portadores de febre reumática, Meira et al., (2006) realizaram um estudo no qual verificou-se que ecocardiográfico Doppler é importante exame complementar na identificação e na classificação das lesões valvares, tanto na fase aguda quanto na fase crônica da febre reumática. E que a identificação de lesões valvares subclínicas tem implicação no tratamento na fase aguda com relação ao repouso e acompanhamento mais próximo do paciente. Na fase crônica, por sua vez, é importante na definição da época de suspensão da profilaxia secundária e indicação de profilaxia de endocardite.
Robazz et al., (2014) desenvolveram um estudo no qual buscaram descrever as características clínicas e a ocorrência de artrite atípica em crianças com diagnóstico de febre reumática (FR), os autores ressaltam que é importante o reconhecimento de apresentações articulares atípicas no quadro clínico dessa doença evitando atrasos diagnósticos, atraso terapêutico e o risco de sequelas cardíacas irreversíveis. Para tanto, tal suspeição diagnóstica deve aventada diante de pacientes com evidência de infecção pelo estreptococo β-hemolítico do grupo A, que não preenchem os critérios de Jones modificados para o diagnóstico de febre reumática e desenvolvem quadro clínico de artrite usualmente não migratória, podendo acometer qualquer articulação e com má resposta ao ácido acetilsalicílico (Robazz et al., 2014).
O comprometimento do sistema respiratório também é uma característica bastante, ocasionando anormalidades pulmonares, as mais frequentes são fibroses intersticiais, distúrbios pulmonares restritivos ou obstrutivos. Adicionalmente, a cirurgia cardíaca também é um fator para o prejuízo na função da estrutura pulmonar, que é afetada durante e após as cirurgias (Caséca; Andrade; Britto, 2006).
Os demais artigos tratam sobre aspectos relacionados ao tratamento, cuidados por profissionais da enfermagem e qualidade de vida dos pacientes portadores de febre reumática (Tabela 3).
Tabela 3. Artigos indexados nas bases SciELO, LILACS e Google Acadêmico considerados para a revisão após seleção pelos critérios de inclusão e exclusão que tratam sobre o tratamento, cuidado e qualidade de vida de pacientes portadores de febre reumática.
Título | Resumo | Revista/ Base | Referência |
Fatores intervenientes na gerência do cuidado de enfermagem à criança hospitalizada com cardiopatia reumática | Analisar os fatores intervenientes na gerência do cuidado de enfermagem à criança hospitalizada com cardiopatia reumática. A coleta de dados foi realizada em uma instituição especializada em atendimento cardiológico, no munícipio do Rio de Janeiro. Foram entrevistados 19 profissionais de enfermagem através de um roteiro semiestruturado. Os resultados apontam para a necessidade de proposição de estratégias de ação e interação que facilitem a prática gerencial de cuidado à criança com cardiopatia reumática e sua família face aos fatores intervenientes identificados. | Revista de Enfermagem UFRJ / Google Acadêmico | Queiroz et al., 2024 |
Efeito da Penicilina G a cada Três Semanas sobre o Surgimento de Streptococcus Viridans Resistentes à Penicilina na Microflora Oral | Avaliar o efeito da penicilina G benzatina em Streptococcus sanguinis e Streptococcus oralis sobre os pacientes com doença valvular cardíaca, devido à febre reumática com recebimento de profilaxia secundária. Não foram encontradas diferenças estatísticas da presença de S. sanguinis comparando-se o momento basal e o 7º dia. No entanto, o número existente de culturas positivas de S. oralis no 7º dia após a Penicilina G benzatina apresentou um aumento significativo em relação ao valor basal. Não houve diferença estatística existente entre o momento basal e o 7º dia sobre o número de S. sanguinis ou S. oralis UFC/mL e concentrações inibitórias medianas. O presente estudo mostrou que a Penicilina G benzatina a cada 3 semanas não alterou a colonização por S. sanguinis, mas aumentou a colonização de S. oralis no 7º dia de administração. Entretanto, a susceptibilidade do Streptococcus sanguinis e Streptococcus oralis à penicilina G não foi modificada durante a rotina de profilaxia secundária da febre reumática utilizando a penicilina G. | Arquivo Brasileiro de Cardiologia / LILACS | Aguiar et al., 2011 |
Qualidade de vida de crianças e adolescentes portadores de febre reumática | Avaliar a qualidade de vida de portadores de febre reumática em acompanhamento ambulatorial em dois hospitais. Estudo seccional utilizando o Questionário de Saúde da Criança aplicado aos pais de 133 pacientes com febre reumática, com idade entre 5 e 18 anos. A idade dos pacientes variou de 5 a 18 anos, com média de 12 e desvio padrão de 2,8. A forma de apresentação mais comum da doença foi a articular associada à cardíaca, presente em 74 casos (56,1%). A maioria das famílias pertencia à classe média baixa/pobre. Os seguintes parâmetros do questionário tiveram melhor performance: função física; atividade física social; aspectos sociais, emocionais e comportamentais na vida diária; dor corporal; e atividades familiares. Os itens com pior performance foram: coesão familiar; saúde geral; comportamento global; e impacto emocional nos pais. As meninas apresentaram melhor desempenho para: autoestima; aspectos sociais, emocionais e comportamentais; e saúde geral. A classe social B apresentou melhor performance para: saúde mental; função física; atividade física social; e atividades familiares. A classe social D/E, para dor corporal e aspectos socioemocionais. A qualidade de vida observada foi semelhante à de outras doenças crônicas estudadas, com resultado da performance nos diferentes parâmetros com valores intermediários, tanto no domínio físico como no domínio psicossocial. A classe social foi a variável que se associou a um maior número de componentes do questionário. | Journal de Pediatria | Carvalho; Bloch; Oliveira, 2009 |
Elaborado pelos autores (2024).
Com relação ao tratamento, Aguiar et al., (2011) avaliaram se existe uma associação entre a profilaxia com PGB e a colonização da cavidade oral com Streptococcus viridans resistente à penicilina. A época os autores constataram que a administração de PGB a cada 3 semanas não alterou a colonização por S. sanguinis; mas a PGB aumentou a colonização de S. oralis no 7º dia seguinte ao da sua administração e, finalmente, a susceptibilidade do Streptococcus sanguinis e Streptococcus oralis à penicilina G não foi alterada durante o ciclo da penicilina G.
A respeito da qualidade de vida dos pacientes portadores de febre reumática foi semelhante à observada em crianças com outras doenças crônicas, tanto no domínio físico como no domínio psicossocial, e que fatores socioeconômicos estão associados a diferenças na qualidade de vida. Foi recomendado a utilização do Questionário de Saúde da Criança no início do acompanhamento dos pacientes com febre reumática para auxiliar na definição do perfil da qualidade de vida (Carvalho, Bloch, Oliveira, 2009).
Por fim, a análise dos fatores intervenientes na gerência do cuidado de enfermagem à criança hospitalizada com cardiopatia reumática, possibilitou identificar a existência de fatores de ordem pessoal, familiar, social, relacional e do próprio contexto de trabalho. Adicionalmente, face aos fatores intervenientes identificados, os resultados do estudo apontam para a necessidade de proposição de estratégias de ação e interação que facilitem a prática gerencial de cuidado à criança e sua família.
4 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
A literatura científica referente a febre reumática em crianças e adolescentes é robusta e comporta artigos que abordam aspectos referentes à caracterização da Febre Reumática, seu mecanismo, diagnóstico, consequências, tratamento, cuidado e qualidade de vida dos pacientes.
A atuação do enfermeiro é essencial visto que este profissional se trata do primeiro ponto de contato para pacientes que buscam serviços de saúde e são responsáveis por fornecer educação, são eles também que realizam avaliações, incluindo exames físicos que avaliam sinais e sintomas, culturas de garganta e testes rápidos de antígeno.
Para o sucesso no cuidado e prevenção da febre reumática é necessário investir no desenvolvimento de processos educativos; considerar a necessidade de esforços para superar desafios operacionais no controle e cuidado; e considerar também a existência de fatores de ordem pessoal, familiar, social, relacional e do próprio contexto de trabalho.
REFERÊNCIAS
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1Discente do Curso Superior de Enfermagem da Faculdade São Vicente de Pão de Açúcar. E-mail: gloriaabreumelo@gmail.com
2Professor Mestre do Curso Superior de Enfermagem da Faculdade São Vicente de Pão de Açúcar. E-mail: prfo.manoelholanda@fasvipa.com.br
3Discente do Curso Superior de Enfermagem da Faculdade São Vicente de Pão de Açúcar. E-mail: gabriellamelo2011@gmail.com
4Professor Doutor do Curso Superior de Enfermagem da Faculdade São Vicente de Pão de Açúcar. Email:ramoncarvalho.pi@gmail.com