OROPOUCHE FEVER: A LITERATURE REVIEW IN THE AMAZON REGION
REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th1024810141236
Angélica Amorim de Sá1
Ana Sara da Silva Rocha1
Daniele Carvalho Assis1
Douglas José Angel2
RESUMO
Introdução: O vírus Oropouche (OROV), um arbovírus da família Peribunyaviridae, é o único do seu grupo capaz de infectar humanos e é predominante em regiões da América Central e do Sul, especialmente no Brasil, onde foi isolado pela primeira vez em 1960. Objetivo: Este artigo tem como objetivo revisar a literatura sobre a febre Oropouche, enfatizando sua epidemiologia, diagnóstico e tratamento, em resposta ao aumento de casos registrado em 2023. Materiais e Método: Trata-se de uma revisão sistemática da literatura, utilizando dados coletados de bases como Pubmed e Biblioteca Virtual de Saúde, focando em artigos publicados nos últimos cinco anos que relacionam OROV a outras arboviroses. Resultados: A análise identificou mais de 30 surtos documentados entre 1961 e 2000 e destacou o desafio do diagnóstico clínico devido à semelhança dos sintomas com outras arboviroses, como dengue e zika. O aumento de casos foi associado a fatores ambientais, como desmatamento e urbanização, que facilitam a transmissão do vírus. Conclusões: A febre Oropouche representa um crescente desafio à saúde pública, exigindo monitoramento constante e estratégias de controle efetivas, especialmente em áreas urbanas. A falta de vacinas e a similaridade dos sintomas com outras doenças reforçam a necessidade de diagnósticos mais precisos e campanhas de prevenção.
Palavras-chave: Arbovírus; epidemiologia; febre Oropouche; oropouche; transmissão.
ABSTRACT
Introduction: The Oropouche virus (OROV), an arbovirus from the Peribunyaviridae family, is the only one in its group capable of infecting humans and is predominant in Central and South America, especially in Brazil, where it was first isolated in 1960. Objective: This article aims to review the literature on Oropouche fever, emphasizing its epidemiology, diagnosis, and treatment, in response to the increase in cases recorded in 2023. Materials and Methods: This is a systematic review of the literature, utilizing data collected from databases such as Pubmed and the Virtual Health Library, focusing on articles published in the last five years that relate OROV to other arboviruses. Results: The analysis identified more than 30 documented outbreaks between 1961 and 2000 and highlighted the challenge of clinical diagnosis due to the similarity of symptoms with other arboviruses, such as dengue and zika. The increase in cases was associated with environmental factors such as deforestation and urbanization, which facilitate the transmission of the virus. Conclusions: Oropouche fever represents a growing challenge to public health, requiring constant monitoring and effective control strategies, especially in urban areas. The lack of vaccines and the similarity of symptoms to other diseases reinforce the need for more accurate diagnostics and prevention campaigns.
Keywords: arbovirus; epidemiology; Oropouche fever; Oropouche; transmission.
1 INTRODUÇÃO
O vírus Oropouche (OROV) é um RNA vírus da ordem bunyavirales, família Peribunyaviridae, espécie oropoucheense do Orthobunyavirus, sendo o único deste grupo capaz de infectar os seres humanos ((Anderson et al., 1961)).Sendo detectado pela primeira vez em Trinidad e Tobago, é um vírus de prevalência predominante em regiões da América Central e América do Sul, principalmente nos países Brasil, Panamá e Peru. Clinicamente este arbovírus se assemelha à Dengue (DENV), Zika (ZIKAV), Chikungunya (CHIKV), Guama, Febre Amarela e vírus do Nilo Ocidental (Zhang et al, 2024). A febre OROV tem característica sazonal, com predomínio em meses chuvosos. É transmitido principalmente por meio de vetores, sendo o principal vetor o mosquito Culicoides paraensis (Pinheiro et al, 1982), mas a transmissão por ar já foi demonstrada em laboratório (Pinheiro et al, 1981).
No Brasil, OROV foi isolado pela primeira vez em 1960 em Belém do Pará, a partir de um animal silvestre, a preguiça de garganta pálida (Bradypus Tridactylus). Nos anos seguintes, foram registradas infecções humanas em zonas urbanas da zona norte do país e casos esporádicos nas regiões centro-oeste e sudeste do país (Fonseca, et al 2020).
Durante o intervalo de tempo de 1961 a 2000, mais de 30 surtos de febre Oropouche foram documentados em várias partes do Brasil, incluindo estados como Acre, Amapá, Amazonas, Goiás, Maranhão, Pará, Rondônia e Tocantins. (Alvarez, et al 2017).
A partir de 2023, no estado do Acre, no Brasil houve um aumento de mais de 60 casos de OROV em áreas urbanas, depois de muitos anos (SESACRE: https://saude.ac.gov.br/). A notificação compulsória foi documentada nos municípios de fronteira como, Cruzeiro do Sul e Mâncio Lima. Além disso, em Manaus (capital do estado do Amazonas) também notificou mais de 300 casos de OROV (https://semsa.manaus.am.gov.br/).Uma explicação possível para o aumento de número de casos está o crescente desflorestamento na região amazônica, transformando florestas primárias em áreas de pastagem e a urbanização atual das cidades. Outra explicação envolve a alteração nos ciclos de vida do mosquito vetores, influenciada pelo aumento das temperaturas ou por alteração de pastagem local (Lorenz et al, 2024).
A febre OROV se manifesta como uma febre aguda muito semelhante à dengue e tem uma duração de 2 a 7 dias associada a sintomas como febre, calafrios, dor de cabeça, mialgia, mal estar, tontura, náuseas, fotofobia, dor retro ocular, e em algumas ocasiões erupções cutâneas, sinais hemorrágicos e sangramento de gengival. Em pacientes imunocomprometidos pode ocorrer manifestações neurológicas como meningite ou meningismo (Sakkas et al, 2018). O período de incubação da doença é de 3 a 8 dias, sendo que após esse período, na fase aguda, que pode durar de 2 a 7 dias, ocorre o aumento da viremia, predispondo à transmissão pela picada do mosquito C. paraensis. A maioria dos pacientes sintomáticos se recupera espontaneamente após aproximadamente em 7 dias (Pinheiro, Travassos da Rosa et al. 1976, Travassos da Rosa, de Souza et al. 2017, Sakkas, Bozidis et al. 2018).
O diagnóstico clínico da febre Oropouche é um desafio significativo (Manock et al, 2009). A semelhança dos sintomas clínicos com os vírus já existentes DENV, ZIKV, CHIKV não fornecem conclusões definitivas, o que implica em uma revisão sistemática na investigação de manifestações clínicas dinâmica de transmissão e manejo clínico.
MATERIAIS E MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa de revisão sistemática da literatura que aborda (Febre Oropouche: Revisão da Literatura Sobre Arbovírus na Região Amazônica), com método dedutivo, de abordagem qualitativa, natureza básica e de objetivo explicativo.
Os dados foram coletados nas bases de dados indexadas Pubmed, Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), e Google Scholar. A estratégia de busca foi a busca de artigos, com descritores projetados para uma busca ampla mais focada em combinações de palavras pelo booleano utilizando o AND entre a palavra Oropouche e Vírus entre todas as plataformas.
Além disso, após a triagem com base nesses descritores iniciais por meio da utilização dos filtros, foram encontrados 92 artigos na pubmed, 401 na BVS.
Os critérios específicos utilizados nessas pesquisas de estudos foram: estudos publicados nos últimos cinco anos, respectivos ao dado lógico vírus oropouche. Diante ao exposto, foram selecionados os artigos que relacionam o vírus OROV a outros vírus como dengue, zika e chikungunya, além disso foram excluídos aqueles artigos duplicados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os critérios para as análises e produção dos resultados e discussão foram: etiologia do oropouche, forma de contágio ( epidemiologia, diagnóstico, tratamento arboviroses na região amazônica)…
O Brasil é um país tropical, o quinto mais populoso do mundo, com habitantes que vivem principalmente em grandes cidades densamente povoadas, infestadas por várias espécies de mosquitos. (Pinheiro, Travassos da rosa et al., 2017). Humanos e animais infectados pelo OROV, vindos de regiões endêmicas para grandes cidades, estão aumentando o risco de surtos maiores e mais frequentes (Vasconcelos et al, 2011). Grande parte do território brasileiro é coberta por florestas tropicais e ecossistemas, contendo uma fauna e flora excepcionalmente diversificadas que podem manter arbovírus zoonóticos( Nunes et al, 2005). Em particular, a região amazônica brasileira fornece condições perfeitas para a manutenção do OROV( Hoch et al., 1986). O clima tropical é ideal para a propagação e conservação dos vetores artrópodes, e as mudanças antropogênicas no uso do solo (desmatamento, mudanças no uso da terra/plantações, construção de rodovias e barragens) têm um enorme impacto nos habitats dos hospedeiros reservatórios, forçando-os a se aproximar das regiões urbanas e periurbanas, onde os vetores estão proliferando (Tesh, Robert et al.,2005).
O vírus Oropouche (OROV) é transmitido aos humanos em áreas urbanas pelo mosquito picador Culicoides paraensis e causa doença febril aguda epidêmica (Pinheiro, Francisco P et al.,2004).
Uma característica marcante desse vírus é sua habilidade de se ajustar a um ciclo urbano, utilizando-o o ser humano como seu principal hospedeiro (de Mendonça, Silvana F., et al., 2021). Existem três sorotipos distintos do OROV, designados como I, II e III, os quais apresentam uma variação geográfica significativa (Sakkas et al., 2018). O vírus causador da Febre Oropouche é constituído por três fitas simples de segmentos de RNA de sentido negativo, nomeadas de acordo com suas dimensões (Nascimento et al., 2020).
O genoma tripartido do OROV compreende RNAs de fita simples, sentido negativo, grande (L), médio (M) e pequeno (S) que codificam RNA polimerase, glicoproteínas e nucleocapsídeo, respectivamente (Saeed et al., 2020). Estudos indicaram a existência de 3 genótipos de OROV circulando no Brasil: genótipos I e II na Bacia Amazônica e genótipo III na Região Sudeste (DA SILVA Azevedo et al., 2007).
O diagnóstico da Febre do Oropouche é feito com base em observações clínicas, informações epidemiológicas e testes laboratoriais. (Romero Alvarez., et al 2018) Em função da semelhança dos sintomas com outras arboviroses, o diagnóstico clínico pode apresentar desafios(Sakkas H et al., 2018). É fundamental considerar o diagnóstico de febre Oropouche em pacientes que apresentam sintomas suspeitos e resultados negativos para outras arboviroses. (Dos Santos Pereira et al., 2021) .O diagnóstico precoce e a notificação dos casos são cruciais para o controle da Febre do Oropouche, sendo a vigilância fundamental para prevenir sua disseminação e impacto na saúde pública. (Gerais, Minas 2006), ( Brasil et al., 2024).
O diagnóstico laboratorial do OROV é feito pela detecção do segmento de RNA S, utilizando PCR em amostras de plasma ou soro de pacientes agudamente infectados (Nascimento et al., 2020). Métodos indiretos, como testes sorológicos e detecção de anticorpos IgM e IgG, também são utilizados (Lopes et al., 2024). Um estudo avaliou a possibilidade de detecção do vírus na saliva e na urina de um paciente cinco dias após o início dos sintomas, mas mais pesquisas são realizadas para avaliar a carga viral nessas amostras. Uma abordagem combinada de métodos é essencial para um diagnóstico diferencial eficaz, devido à possibilidade de antígeno cruzados com outros vírus, como Dengue, Zika e Chikungunya(Licínio et al., 2021).
Tratamento: Atualmente, o tratamento disponível para a infecção por OROV é sintomático, o que significa que a medicação fornecida apenas alivia os sintomas, mas não afeta o agente causador (matando o vírus ou inibindo sua replicação). (Livonesi et al., 2006 -Livonesi et al., 2007).
Em relação às opções de prevenção, até agora, não há vacina para a profilaxia da febre OROV em humanos. Portanto, as estratégias de prevenção são baseadas em medidas de controle ou erradicação dos vetores artrópodes e em medidas de proteção pessoal. As medidas de controle de vetores dependem da redução das populações de mosquitos através da erradicação dos locais de reprodução, aplicando boas práticas agrícolas (Carpenter et al., 2013).
CONCLUSÕES
A febre Oropouche, causada pelo vírus Oropouche (OROV), representa um desafio crescente à saúde pública nas regiões tropicais, particularmente na Amazônia brasileira. A interação entre fatores ambientais, como desmatamento e mudanças climáticas, e a urbanização acelerada, tem contribuído para a disseminação do vírus, evidenciando a necessidade de um monitoramento constante e estratégias de controle mais eficazes.
A semelhança dos sintomas do OROV com outras arboviroses, como dengue e zika, dificulta o diagnóstico preciso e reforça a urgência de protocolos que incluam testes diferenciados. Além disso, a falta de vacinas disponíveis torna a prevenção uma prioridade, destacando a importância de ações focadas na erradicação de locais de reprodução dos vetores e na educação da população sobre medidas de proteção.
Diante dos desafios apresentados, é fundamental que futuras pesquisas explorem mais a fundo os mecanismos de transmissão do OROV e a ecologia dos vetores, permitindo o desenvolvimento de intervenções mais eficazes e sustentáveis.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados discutidos neste trabalho evidenciam que a febre Oropouche não deve ser subestimada, considerando seu potencial de impacto na saúde pública. A colaboração entre instituições de saúde, pesquisadores e comunidades locais é essencial para mitigar os riscos associados a esta arbovirose.
RECOMENDAÇÕES
Sugere-se que estudos futuros se concentrem na avaliação da eficácia de métodos de controle de vetores em ambientes urbanos, bem como na investigação de vacinas potenciais contra o OROV. Além disso, a implementação de campanhas educativas voltadas à população sobre os riscos do OROV e medidas preventivas deve ser uma prioridade nas políticas de saúde pública.
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[1]Acadêmico (a) do Curso de Graduação Bacharelado em Enfermagem do Centro Universitário UNINORTE, Rio Branco – Acre
2Docente do Curso de Graduação Bacharelado em Enfermagem do Centro Universitário UNINORTE, Rio Branco – Acre..