FATORES RELACIONADOS AO DESLOCAMENTO DE PLACENTA: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

FACTORS RELATED TO PLACENTAL DISPLACEMENT: INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW

FACTORES RELACIONADOS CON EL DESPLAZAMIENTO PLACENTARIO: REVISIÓN INTEGRADORA DE LA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202504241338


Anderson Arrhenius de Fontes Queiroz Abrantes1; Erick Ricardo Patriota Gomes1; Virginia Maria Bezerra Cavalcanti1; Mariah Leite de Oliveira1; Francisco Davi Ângelo Lins de Oliveira1; Rogaciano de Medeiros Souto1; Orientadoras: Núbia Anuncia Silva de Fontes; Ana Silvia Suassuna Carneiro Lúcio1


RESUMO

Objetivo: Apresentar os fatores relacionados ao deslocamento prematuro da placenta. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo revisão integrativa da literatura. A busca bibliográfica foi realizada por meio da seleção de artigos científicos publicados em periódicos indexados na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e na National Library of Medicine (PubMed), totalizando 12 estudos. Os critérios de elegibilidade incluíram estudos publicados entre 2018 e 2023, nos idiomas inglês e português, disponíveis na íntegra e que respondessem diretamente à pergunta de pesquisa. Revisão bibliográfica: Os principais fatores relacionados ao deslocamento prematuro da placenta podem ser crônicos — incluindo trombose, inflamação, infecção e vasculopatia tecidual e útero-placentária — ou agudos, como consequência de forças mecânicas e de cisalhamento aplicadas ao abdômen. Recentemente, outros fatores têm sido associados a essa complicação gestacional, como estresse, idade materna e a síndrome do útero de Couvelaire. Considerações finais: A equipe de ginecologia e obstetrícia deve estar preparada para essa condição clínica, que tem se tornado mais frequente nos consultórios, a fim de possibilitar um pré-natal mais esclarecedor e um parto sem complicações para a gestante e o recém-nascido.

Palavras-chave: Ginecologia, Descolamento Prematuro da Placenta, Gravidez de Alto Risco, Trabalho de Parto Prematuro.

ABSTRACT

Objective: To present the factors related to premature placental displacement. Methods: This research is a descriptive study, of the integrative literature review type. The bibliographic search occurred through the selection of scientific articles selected and published in journals present in the Virtual Health Library (VHL) and National Library of Medicine (Pubmed), accounting for 12 studies. The selection of studies published in the period 2018-2023, in English and Portuguese, available in their entirety and that directly answered the research question, were used as eligibility criteria. Literature Review: The main factors related to premature placental displacement can be chronic, including thrombosis, inflammation, infection and tissue and uteroplacental vasculopathy. On the other hand, acute conditions, as a consequence of mechanical and shear forces applied to the abdomen. Recently, other factors related to this gestational complication, such as stress, maternal age or Couvelaire uterus syndrome. Final considerations: The gynecology and obstetrics team must be prepared for this clinical condition that tends to be observed more in clinics so that it can be identified and allow for more enlightening prenatal care and an uncomplicated birth for the pregnant woman and the child.

Keywords: Gynecology, Premature Placental Abtachment, High-Risk Pregnancy, Premature Labor.

RESUMEN

Objetivo: Apresentar os fatores relacionados ao deslocamento prematuro da placenta. Métodos: Trata-se de um estudo descritivo, do tipo revisão integrativa da literatura. A busca bibliográfica foi realizada por meio da seleção de artigos científicos publicados em periódicos indexados na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e na National Library of Medicine (PubMed), totalizando 12 estudos. Os critérios de elegibilidade incluíram estudos publicados entre 2018 e 2023, nos idiomas inglês e português, disponíveis na íntegra e que respondessem diretamente à pergunta de pesquisa. Revisão bibliográfica: Os principais fatores relacionados ao deslocamento prematuro da placenta podem ser crônicos — incluindo trombose, inflamação, infecção e vasculopatia tecidual e útero-placentária — ou agudos, como consequência de forças mecânicas e de cisalhamento aplicadas ao abdômen. Recentemente, outros fatores têm sido associados a essa complicação gestacional, como estresse, idade materna e a síndrome do útero de Couvelaire. Considerações finais: A equipe de ginecologia e obstetrícia deve estar preparada para essa condição clínica, que tem se tornado mais frequente nos consultórios, a fim de possibilitar um pré-natal mais esclarecedor e um parto sem complicações para a gestante e o recém-nascido.

Palabras clave: Ginecología, Desprendimiento Prematuro de Placenta, Embarazo de Alto Riesgo, Parto Prematuro.

INTRODUÇÃO

O descolamento prematuro da placenta é uma complicação obstétrica grave com alta morbidade e mortalidade materna e neonatal que ocorre em 0,6% a 1,2% das gestações (Brandt; Ananth, 2023). Essa condição é caracterizada pela separação prematura do feta da placenta de sua inserção uterina antes do parto (Wada et al., 2023).

As características clínicas do descolamento prematuro normalmente incluem sangramento vaginal, dor abdominal associada ou não a contração uterina e frequentemente acompanhado por padrões anormais de frequência cardíaca fetal. Os desafios clínicos surgem quando as gestantes com esta condição apresentam sangramento vaginal profundo, necessitando de parto urgente, especialmente quando há preocupação com comprometimento materno e fetal e coagulopatia (Brandt; Ananth, 2023).

Dentre os principais processos patológicos associados ao descolamento prematuro da placenta, se destacam a pré-eclâmpsia, restrição do crescimento fetal e ao trabalho de parto prematuro. A inflamação placentária é causada por remodelação vascular anormal ou falha na placentação profunda, trombose e angiogênese e pode contribuir para o desenvolvimento de uma ou mais destas complicações na gravidez (McNestry et al., 2023).

Diante dessa problemática, estudos sobre deslocamento prematuro estão sendo investigados (Maharjan et al., 2022; Tugrul Ersak et al., 2023; Tweddell et al., 2023; Wada et al., 2023; Lin et al., 2023; Jiangheng; Jingli; Wu, 2023). Uma vez que existe uma grande parte da morbidade e mortalidade perinatal que estão associados a essa questão. Gestantes que apresentam descolamento prematuro apresentam riscos aumentados de choque hemorrágico e risco aumentado de mortalidade por doenças cardiovasculares. Além disso, possuem riscos aumentados de uma série de complicações neurológicas e déficits de desenvolvimento neurológico nos filhos que se desenvolvem com descolamento abrupto (Brandt; Ananth, 2023).

Diante do exposto e com o propósito de aprofundar o conteúdo sobre deslocamento de placenta, o presente estudo tem como objetivo discutir os principais fatores relacionados ao deslocamento de placenta e as suas principais consequências para o feto e a gestante.

MÉTODOS

Essa investigação caracteriza-se como uma revisão integrativa de literatura (RIL). Tal metodologia foi escolhida com o objetivo de realizar e organizar um levantamento de dados resultantes de pesquisas a respeito de um tema chave, de maneira clara e objetiva, para proporcionar a construção de um conhecimento científico (Hermont et al., 2021).

Critérios foram estabelecidos para realizar a construção desse artigo de revisão integrativa: identificação e delimitação do tema; criação da pergunta norteadora e o objetivo da pesquisa; estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão; comparação dos principais resultados; síntese dos principais resultados encontrados.

A questão norteadora que subsidia a construção dessa pesquisa foi: Quais os fatores relacionados ao descolamento de placenta? A coleta dos dados foi realizada no mês de outubro de 2023, mediante a busca em fontes indexadas em bancos de dados da PubMed e da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS): Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE). Os descritores utilizados, a partir da busca em Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), foram Ginecologia (Gynecology); Descolamento Prematuro da Placenta (Abruptio Placentae); Gravidez de Alto Risco (Pregnancy, High-Risk); Trabalho de Parto Prematuro (Obstetric Labor, Premature), associados ao operador booleano AND.

RESULTADOS

A seleção dos artigos na base de dados BVS, foi dividida em etapas, baseado na associação de descritos, que serão detalhadas a seguir. Com os descritores (1) “Gravidez” AND “Descolamento Prematuro da Placenta”, foram encontrados 17 artigos, após aplicados os seguintes filtros: texto completo disponível, idiomas português e inglês, publicados nos últimos 5 anos, restou 1 artigo, que foi selecionado. Por outro lado, com a busca (2) “Gravidez de Alto Risco” AND “Trabalho de Parto Prematuro”, foram encontrados 34 artigos, após aplicados os filtros anteriormente descritos, ficaram 32 artigos que foram excluídos por fuga do tema proposto. Em suma, foi selecionado 1 artigo nessa base de busca.

A pesquisa na base de dados da PubMed associou-se os descritores “Gynecology” AND “Abruptio Placentae”. Neste, foram encontrados 822 artigos, após a aplicação dos filtros: texto completo dos últimos cinco anos, restaram 79 artigos, desses 1 foi excluído por duplicação e 68 por não abordarem o tema. Por fim, foram selecionados 11 artigos dessa base de dados. A estratégia de seleção dos estudos para definição da amostra está resumida no Quadro 1.

Quadro 1 – Síntese dos principais achados sobre determinado tema, João Pessoa – PB, 2023. 

NAutores (Ano)Principais achados
1Wada Y, (2023)Estudo transversal. A pesquisa investigou a associação de deslocamento de placenta com a morte fetal e o tipo de parto. Foi verificado que sangramento durante o parto foi significativamente maior no parto cesáreo do que no parto vaginal em mulheres com descolamento prematuro da placenta com morte fetal intrauterina. No entanto, complicações graves, incluindo morte materna e ruptura uterina, ocorreram em casos relacionados com parto vaginal.
2Tweddell SM, (2023)Estudo de coorte retrospectiva. Foi investigado a associação de deslocamento de placenta com anemia neonatal. A maioria dos descolamentos não causa anemia neonatal, mas aproximadamente 16% causam.
3Sugai, S et al.  (2023)Revisão sistemática com meta-análise. Dentre as principais complicações em gestantes acima de 45 anos, destaca-se o deslocamento de placenta.
4Maharjan S, (2022)Estudo transversal descritivo. Foi realizado um levantamento epidemiológico da quantidade de deslocamento de placenta de um hospital de referência no Nepal. Foi verificado uma taxa de prevalência de descolamento prematuro da placenta de 10 (0,66%) dos 1.514 partos observados.
5Kapesi, V et al. (2022)Revisão integrativa da literatura. A pesquisa associa a síndrome do útero de Couvelaire ao descolamento prematuro da placenta.
6Maharjan, S (2022)Estudos transversal descritivo. Pesquisa caracterizada pela análise de prontuários de uma clínica de referência em obstetrícia em Katmandu. Foram avaliados 1.514 partos, destes o descolamento prematuro da placenta foi observado em 10 (0,66%) casos.
7Ak M; Demır MB, (2022)Estudo de caso-controle. A pesquisa invetsigou o equilíbrio oxidante/antioxidante e o estado pró-inflamatório em líquidos amnióticos coletados durante cesariana de pacientes com diagnóstico de descolamento prematuro de placenta. Foi verificado que o aumento da capacidade oxidante do líquido amniótico e a síntese de citocinas pró-inflamatórias não podem ser neutralizados pelo sistema antioxidante, o dano celular hipóxico pode levar à separação prematura da placenta.
8Zhang YJ, (2022)Estudo transversal descritivo.  A pesquisa investigou quais os fatores relacionado ao Nascimento premature. Como principais achados foi visto que o descolamento prematuro da placenta, placenta previa e corioamnionite foram os fatores mais associados ao nascimento premature.  
9de Moreuil C, et al. (2021)Estudo de caso-controle. A pesquisa investigou os fatores associados ao mau resultado fetal em casos de deslocamento de placenta. Foi verificado que o mau resultado fetal está negativamente associado a certas lesões histológicas crônicas da placenta, mas não à pré-eclâmpsia, o que sugere vários processos fisiopatológicos entre o descolamento prematuro da placenta.
10Chahal HS, et al. (2019)Estudo multicêntrico de casos cruzados. A pesquisa investigou a relação de explosão de raiva com deslocamento prematura de placenta. Foi verificado que a taxa de descolamento abrupto foi 2,83 vezes maior nas 2 horas seguintes a uma explosão de raiva em comparação com outros momentos.
11Kawanishi Y, et al. (2019)Estudo de coorte prospective. Foi investigada a relação do estresse psicológico pré-natal com o aumento do risco de descolamento premature. A pesquisa identificou os possíveis efeitos da exposição à morte de uma criança na ocorrência de estresse associado ao deslocamento de placenta.
12Li Y, et al. (2019)Estudo transversal descritivo. A pesquisa investigou os fatores relacionados ao deslocamento de placenta. Foi observado que esses fatores incluem principalmente o pré-eclâmpsia (39%) e ruptura prematura da membrana (10%).
Fonte: Própria autoria.

DISCUSSÃO                                  

No cenário de gestação de risco, se destaca o deslocamento de placenta para o maior risco de morbidade infantil. Nesse contexto, o objetivo desse trabalho é apresentar os fatores relacionados a esse evento. A análise desse estudo se baseia na pergunta de pesquisa “Quais os fatores relacionados ao descolamento de placenta”. Com isso, investigar as possíveis possibilidades clínicas relacionadas ao deslocamento de placenta e as consequências para o feto e a gestante.

O deslocamento prematuro de placenta ocorre quando existe a separação prematura do feto da inserção uterina com a placenta antes do parto. As manifestações clínicas do descolamento prematuro geralmente incluem sangramento vaginal e dor abdominal com uma ampla variedade de padrões anormais de frequência cardíaca fetal (Brandt; Ananth, 2023). Essa complicação obstetra pode ter frequência de 0,4 a 1,0% de todas as gestações (Moreuil et al., 2021).

No que se refere aos fatores relacionados a fisiopatologia do deslocamento prematuro de placenta, os estudos de Brandt; Ananth, (2023) e Maharjan et al. (2023) discutem que são fatores crônicos e agudos. Os processos crônicos que predispõem ao descolamento prematuro incluem trombose, inflamação, infecção e vasculopatia tecidual e útero-placentária. Esses processos levam à hipoperfusão placentária e remodelamento defeituoso da artéria espiral, infarto placentário e invasão trofoblástica superficial. Por outro lado, os processos agudos se referem a consequência de forças mecânicas e de cisalhamento aplicadas ao abdômen.

Com discussão semelhante, o estudo de Chahal et al. (2019) apresenta o estresse e explosões de raivas no período gestacional, como fator etiológico de descolamento agudo de placenta. Nessa pesquisa multicêntrica, foram investigadas 655 gestantes com descolamento de placenta prematura em 7 maternidades no período de 2 anos. Dessa amostra, 103 (16%) relataram uma explosão de raiva, 75 (12%) relataram duas explosões de raiva e 38 (6%) relataram 3 ou mais explosões de raiva. O mecanismo biológico discutido no estudo descreve que os efeitos fisiológicos da raiva são semelhantes aos do esforço físico intenso, uma exposição transitória pode estar associada ao descolamento abrupto. Além disso, O estresse mental causa instabilidade hemodinâmica, mediada em parte pela liberação de catecolaminas, resultando em aumento da frequência cardíaca, pressão arterial e resistência vascular. Resultados semelhantes foram observados por Kawanishi et al. (2019).

Com o mesmo enfoque, o estudo de coorte retrospectivo de Moreuil et al. (2021) avaliou mulheres com descolamento prematuro da placenta que foram identificadas entre janeiro de 2013 e dezembro de 2018 em dois bancos de dados disponíveis no Hospital Universitário de Brest. O estudo discute que os fatores de risco para desenvolver descolamento prematuro da placenta podem estar relacionados com as características maternas de base, como o uso de tabaco ou cocaína e trombofilia ou influenciados pelo curso da gravidez, como início de pré-eclâmpsia, ruptura prematura de membranas ou corioamnionite infecciosa.

Outro fator importante discutido a respeito ao risco de deslocamento de placenta, foi a idade materna. Os estudos de Zang et al. (2022); Li et al. (2023), Li; Yan; Jiang, (2023) relatam que tanto a gravidez jovem como a gravidez em idade materna avançada têm fortes associações com resultados adversos da gravidez. No entanto, a idade materna mais avançada pode estar associada a maiores complicações como maior risco de diabetes mellitus gestacional, pré-eclâmpsia/eclâmpsia, ruptura prematura de membrana da placenta, baixo peso do feto ao nascer e parto prematuro. Em especial, a discussão sobre o deslocamento prematuro de placenta recai sobre o argumento que essas gestantes podem estar mais sujeitas à isquemia útero-placentária.

A idade materna como fator de risco para o deslocamento de placenta é importante ser discutido devido a mudança progressiva da idade gestacional das mulheres, em especial, em países desenvolvidos como os Estados Unidos e a Itália e em desenvolvimento, como a China e o Brasil, visto que as mulheres desses países estão engravidando cada vez mais tarde devido a sua inserção no mercado de trabalho. Consequentemente, essa dinâmica precisa ser analisa e prevista pela equipe de ginecologia e obstétrica para atender esse público e suas possíveis complicações na gestação (Zang et al., 2022; Li; Yan; Jiang, 2023; McNestry et al., 2023; Sugai et al., 2023; Lin et al., 2023)

No que se refere a condições clínicas que estão relacionados ao descolamento de placenta, Kepesi et al. (2023) discutem síndrome chamada de útero de Couvelaire, também conhecido anteriormente como apoplexia útero-placentária que está tipicamente associado ao descolamento prematuro da placenta. Esta é uma condição com risco de vida resultante de sangramento no miométrio que pode se estender ao paramétrio e peritônio. Além disso, esta é uma causa significativa de hemorragia pré-parto que está comumente associada à morbidade e mortalidade materna e neonatal. 

Com relação as consequências para a gestante do deslocamento de placenta prematura, o estudo de Brandt; Ananth, (2023) sugere que essas mulheres podem apresentar mortes prematuras cardiovasculares e cerebrovasculares e de morbidade mais tarde na vida. Além disso, o estudo de Tweddell et al. (2023) investiga a anemia como consequência para a gestante que teve um episódio de deslocamento de placenta.

Ainda com relação as consequências do deslocamento prematuro de placenta, gestantes que apresentem esse quadro clínico devem ser avaliadas como fato decisivo para o planejamento do parto. O estudo de Wada et al. (2023) avaliou o óbito fetal em gestante com deslocamento prematuro de placenta. Das 1.134 mulheres analisadas o número de óbito fetal intrauterino foi de 1.218/1.601.932 (0,076%). Desse modo, a principal discussão do estudo foi que o sangramento durante o parto foi significativamente maior no parto cesáreo do que no parto vaginal em mulheres com descolamento prematuro da placenta com morte fetal intrauterina. No entanto, complicações graves, incluindo morte materna e ruptura uterina, ocorreram em casos relacionados com parto vaginal. Desse modo, o manejo de mulheres com descolamento prematuro da placenta com morte fetal intrauterina deve ser cauteloso, independentemente da via de parto.

Por fim, embora os propósitos deste estudo tenham sido contemplados, é fundamental ressaltar as limitações dessa pesquisa. Por se tratar de uma revisão integrativa da literatura, que atribuiu apenas textos completos disponíveis, pesquisas relevantes não foram investigadas. Além disso, a escassez de estudos robustos realizados no Brasil, um país miscigenado, que está em processo de desenvolvimento e mudando sua construção social do papel da mulher no mercado de trabalho, revela a necessidade de investigações nesse público. Uma vez que, a tendencia do país é de ter cada vez mais mulheres nulípara em idade mais avançada. E consequentemente, mais predisposta a complicações na gestação, como o deslocamento de placenta. Dessa forma, este estudo reforça a necessidade do desenvolvimento de novas pesquisas e ensaios clínicos para esclarecer a pergunta de pesquisa. Contudo, sabe-se que diante dos resultados, que os fatores relacionados ao deslocamento de placenta podem estar inerentes a condições pregressas à gestação ou relacionado a eventos na gestação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os principais fatores relacionados ao deslocamento prematuro de placenta podem ser crônicos que incluem trombose, inflamação, infecção e vasculopatia tecidual e útero-placentária, ou agudos, em especial como consequência de forças mecânicas e de cisalhamento aplicadas ao abdômen. Outros fatores foram recentemente relacionados a essa complicação gestacional, como o estresse, idade materna ou a síndrome útero de Couvelaire. Desse modo, por ser uma condição que pode ocasionar complicações na gestação, a equipe de ginecologia e obstetras devem estar atentos aos seus sinais clínicos para oferecer a gestante um pré-natal esclarecedor e um parto mais previsíveis e sem complicações para a gestante e a criança.

REFERÊNCIAS

AK, M.; DEMIR, M. B. Disrupted redox balance in utero-placenteal junction may be the main culprit in the occurrence of abruptio placenta. Eur Rev Med Pharmacol Sci., v. 26, n. 23, p.8887-8892, 2022.

BRANDT, J. S.; ANANTH, C. V. Placental abruption at near-term and term gestations: pathophysiology, epidemiology, diagnosis, and management. Am J Obstet Gynecol., v. 225, n.5S, p.133-1329, 2023.

CHAHAL, H. S. et al.  Relation of outbursts of anger and the acute risk of placental abruption: A case-crossover study. Paediatr Perinat Epidemiol., v. 33, n. 6, p. 405-411, 2019.

DE MOREUIL, C. et al. Factors associated with poor fetal outcome in placental abruption. Pregnancy Hypertens., v. 23, p. 59-65, 2021.

HERMONTE, AP. et al. Revisões integrativas: conceitos, planejamento e execução. Arquivos em Odontologia, v. 57, e01, 2021.

JIANGHENG, L.; JINGLI, Y.; WU, J. The role of maternal age on adverse pregnancy outcomes among primiparous women with singleton birth: a retrospective cohort study in urban areas of China. The Journal of Maternal-Fetal & Neonatal Medicine, v. 36, n. 2, 2023.

JUSTIN, S. B.; CANDE, V. A. Placental abruption at near-term and term gestations: pathophysiology, epidemiology, diagnosis, and management. American Journal of Obstetrics & Gynecology, v. 228, n. 5, p. S1313-S1329, 2023.

KAPESI, V, et al.  Couvelaire uterus in a previable pregnancy: Complication in abruptio placenta, case series from Tanzanian tertiary hospital. Int J Surg Case Rep., v. 102, p. 107862, 2023.

KAWANISHI, Y. et al. Japan Environment and Children’s Study Group. The relationship between prenatal psychological stress and placental abruption in Japan, The Japan Environment and Children’s Study (JECS). PLoS One., v.14, n. 7, e0219379, 2019.

LI, Y.; TIAN, Y.; LIU, N.; CHEN, Y.; WU, F. Analysis of 62 placental abruption cases: Risk factors and clinical outcomes. Taiwan J Obstet Gynecol., v. 58, n. 2, p. 223-226, 2019.

LIN, Y. et al. Relationship between gestational weight gain during different phases and maternal complications or neonatal outcomes. Ginekol Pol., 2023. 

MAHARJAN, S.; THAPA, M.; CHAUDHARY, B.; SHAKYA, S. Abruptio placenta among pregnant women admitted to the department of obstetrics and gynaecology in a tertiary care centre: a descriptive cross-sectional study. JNMA J Nepal Med Assoc., v. 60, n. 255, p. 918-921, 2022.

MCNESTRY, C.; KILLEEN, S. L.; CROWLEY, R. K.; MCAULIFFE, F. M. Pregnancy complications and later life women’s health. Acta Obstet Gynecol Scand, v. 102, n. 5, p. 523-531, 2023.

SUGAI, S.; NISHIJIMA, K.; HAINO, K.; YOSHIHARA, K. Pregnancy outcomes at maternal age over 45 years: a systematic review and meta-analysis. Am J Obstet Gynecol MFM., v. 5, n. 4, p;100885, 2023.

TUGRUL ERSAK, D. et al. The Association between placental abruption and platelet indices. Fetal Pediatr Pathol., v. 42, n. 3, p. 367-375, 2023.

TWEDDELL, S. M.; et al. Placental abruption and neonatal anemia. J Perinatol., v. 43, n. 6, p. 782-786, 2023.

WADA, Y. et al. Maternal outcomes of placental abruption with intrauterine fetal death and delivery routes: A nationwide observational study. Acta Obstet Gynecol Scand., v. 102, n. 6, p. 708-715, 2023.

ZHANG, Y. J, et al.  Prevalence of preterm birth and risk factors associated with it at different gestational ages: A multicenter retrospective survey in China. Saudi  Med J., v. 43, n. 6, p.599-609, 2022.


1Faculdade Ciências Médicas, João Pessoa-PB.