“FACTORS RELATED TO THE INDICATION OF CESAREAN SECTION: AN INTEGRATIVE REVIEW”
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411302015
Taciana Freitas Milomes¹
Iane Brito Leal²
RESUMO
Introdução: O parto cesariano é amplamente utilizado em todo o mundo, sendo um procedimento seguro, mas não isento de riscos para mãe e bebê. Nas últimas décadas, houve um aumento significativo nas taxas de cesárea, o que gera questionamentos sobre as justificativas para sua indicação. Objetivo: identificar os principais fatores que influenciam a indicação de cesárea. Metodologia: trata-se de uma revisão integrativa em que foram extraídos artigos nas bases de dados: Pubmed, BVS, LILACS e Google Acadêmico publicados no período entre 2014 e 2023. Resultados e discussão: Os resultados apontaram que a indicação de cesárea é multifatorial, abrangendo necessidades clínicas, preferências pessoais, fatores culturais e influências institucionais. Observou-se que as taxas de cesárea frequentemente ultrapassam o limite recomendado pela OMS de 10% a 15% em diversas regiões. Conclusão: é essencial implementar políticas de saúde que promovam práticas obstétricas baseadas em evidências, incentivem o parto normal sempre que seguro e fortaleçam a educação das gestantes sobre as opções de parto. Além disso, destaca-se a importância de capacitar profissionais de saúde para evitar cesáreas desnecessárias.
Palavras-chaves: indicação de cesárea, decisão do tipo de parto e segurança materna e neonatal.
ABSTRACT
Introduction: Cesarean delivery is widely used worldwide, being a safe procedure but not free from risks for both mother and baby. In recent decades, there has been a significant increase in cesarean rates, raising questions about the justifications for its indication. Objective: To identify the main factors influencing the indication for cesarean delivery. Methodology: This study is an integrative review, with articles published between 2014 and 2023 extracted from the PubMed, BVS, LILACS, and Google Scholar databases. Results and Discussion: The findings revealed that the indication for cesarean delivery is multifactorial, involving clinical needs, personal preferences, cultural factors, and institutional influences. It was observed that cesarean rates frequently exceed the WHO’s recommended limit of 10% to 15% in various regions. Conclusion: It is essential to implement health policies that promote evidence-based obstetric practices, encourage vaginal delivery whenever safe, and strengthen pregnant women’s education regarding childbirth options. Furthermore, the importance of training healthcare professionals to avoid unnecessary cesareans is emphasized.
Keywords: cesarean indication, childbirth decision-making, maternal and neonatal safety.
INTRODUÇÃO
A indicação de cesárea é um tópico de grande importância na obstetrícia contemporânea, pois envolve uma série de fatores que podem influenciar a escolha entre o parto. A decisão de optar por uma cesárea ou um parto vaginal é complexa e multifacetada, e envolve considerações tanto da gestante quanto dos profissionais de saúde, com o objetivo de garantir a segurança da mãe e do bebê durante o processo de nascimento (Andrade et al., 2022)
A cesariana é uma das cirurgias mais comuns realizadas em todo o mundo e, ao longo das últimas décadas, o número de partos cesáreos tem crescido significativamente, tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento (Lustosa et al., 2022).
Os fatores relacionados à indicação de cesárea são complexos e envolvem aspectos que vão desde condições clínicas, como distócia, pré-eclâmpsia e anomalias fetais, até fatores não clínicos, como o desejo materno, intervenções médicas e políticas institucionais que incentivam o parto cirúrgico (Pellosoet al., 2022). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2015), o índice ideal de cesarianas deve ficar entre 10% e 15% dos partos; no entanto, diversos países ultrapassam essa recomendação, o que indica um aumento potencial de cesarianas desnecessárias.
Esse cenário suscita a necessidade de uma análise aprofundada dos fatores que contribuem para a escolha da cesárea, considerando não apenas as indicações clínicas, mas também os fatores institucionais e pessoais que podem influenciar essa decisão. Dessa forma, uma revisão integrativa da literatura se torna pertinente para compilar e analisar criticamente as evidências disponíveis sobre os principais fatores que levam à indicação de cesárea, oferecendo uma visão abrangente sobre as tendências e justificativas atuais para essa prática (Soares et al., 2022).
Nos últimos anos, a alta prevalência de cesáreas tem gerado debates entre profissionais da saúde e pesquisadores, que buscam compreender melhor os motivos que levam à escolha desse tipo de parto em detrimento do parto normal (Pfützenreuteret al., 2019). Estudos indicam que, além das indicações médicas, fatores sociais e culturais, como o medo da dor, a conveniência de agendar o nascimento e até pressões institucionais, podem influenciar essa decisão (Vargens et al., 2019). Dessa forma, o contexto de escolha pela cesárea não se limita ao campo clínico, refletindo também os valores e as expectativas da sociedade contemporânea sobre o processo de nascimento (Velho et al., 2014).
A cesariana, embora seja uma técnica relativamente segura e amplamente difundida, está associada a uma série de riscos e complicações, tanto para a mãe quanto para o bebê. Complicações como infecções, hemorragias e dificuldades na recuperação pós-operatória são mais frequentes em partos cesáreos do que em partos vaginais, aumentando o tempo de internação e o risco de futuras gestações com complicações (Antunes et al., 2020).
Assim, este trabalho busca identificar os principais fatores que influenciam a indicação de cesárea.
METODOLOGIA
Este estudo se estruturou a partir de uma revisão bibliográfica da literatura do tipo integrativa. A finalidade da revisão narrativa é reunir o conhecimento disponível sobre um determinado tema de forma ampla, não sistemática, descritiva e teórica, favorecendo a aproximação com o objeto de estudo (Rotheret al., 2007).
A pesquisa foi organizada em cinco etapas que foram ordinariamente seguidas. A primeira etapa consistiu na escolha e delimitação do tema, onde os pesquisadores elegeram o assunto “metodologia da revisão integrativa” para iniciar a investigação. Logo em seguida, a segunda fase corresponde à organização lógica do trabalho, onde foram traçados os objetivos, plano de atividades e cronograma (Rotheretetal., 2007).
A terceira etapa se deu com a identificação e localização das fontes capazes de fornecer informações pertinentes sobre o tema abordado. Assim, foram incluídas referências extraídas de bibliotecas virtuais nas seguintes bases de dados: Pubmed, BVS, LILACS e Google Acadêmico.
Para acessar os artigos que melhor refletiam o fulcro da pesquisa elegeram-se descritores a partir dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) com equivalência para os MeshTerms(Medical SubjectHeadings) em uma estratégia de busca avançada com auxílio do operador booleano “AND” para combinar os descritores entre si: (“CesareanSection”) AND (“Pregnancy, High-Risk “) AND (“Delivery, Obstetric”) OR (“PrenatalCare”).
Foi adotado como critério de inclusão artigos publicados nos últimos 10 anos em inglês, português ou espanhol e que na íntegra atendiam ao objetivo desta pesquisa. As buscas foram realizadas durante o mês de abril de 2024 e junho de 2024.
Na quarta etapa sucedeu compilação e leitura do material, que consistem na leitura atentiva com a finalidade de respaldar o embasamento teórico-prático sobre o tema. A última etapa consistiu na sistematização dos dados apresentados neste trabalho.
Inicialmente, foram encontrados 789 artigos nas bases de dados pesquisadas: 75 artigos na PubMed, 569 artigos na BVS e 145 artigos na LILACS, sem aplicação dos critérios de elegibilidade. Após a aplicação de filtros, restringindo os resultados nos últimos 10 anos e idiomas português, inglês e espanhol, restaram 246 artigos na PubMed, resultando na exclusão de 543 artigos que não atendiam aos critérios estabelecidos.
Os resultados filtrados foram exportados para a plataforma Rayyan, totalizando 55 artigos. Desses, 30 artigos foram excluídos após análise e 21 foram incluídos. Com base nos critérios de inclusão, foram lidos 55 textos completos, dos quais 10 foram revisados de forma abrangente, seguindo os critérios pré-estabelecidos para esta revisão. Artigos pagos ou com dados de países fora do Brasil foram excluídos. Assim, a amostra final deste estudo foi composta conforme o fluxograma PRISMA apresentado na Figura 1.
Figura1: fluxograma da revisão integrativa.
Fonte: adaptado do PRISMA-2020
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os estudos incluídos na revisão, apresentados na Tabela 1, exploram diferentes aspectos relacionados à escolha pela cesárea, incluindo fatores culturais, clínicos e institucionais que influenciam essa decisão. As pesquisas abordam desde as percepções e experiências das mulheres até as implicações obstétricas e neonatais, com destaque para o contexto brasileiro. Os resultados auxiliam na compreensão das dinâmicas que impactam a saúde materno-infantil, propondo estratégias para melhorar a prática obstétrica e reduzir cesáreas desnecessárias.
Título: Estudos incluídos na revisão bibliográfica e principais características.
Fonte: próprio autor, 2024.
O aumento significativo das taxas de cesáreas nas últimas décadas revela uma complexidade de fatores que influenciam o tipo de parto escolhido, nem sempre relacionado a necessidades médicas. Dados do Ministério da Saúde mostram que, embora quase 80% das mulheres desejem o parto vaginal, apenas 20% efetivamente têm seus filhos por essa via (OMS).
A cesariana pode salvar a mãe e o feto quando clinicamente indicada. No entanto, taxas de cesariana superiores a 10% não estão associadas a uma redução nas taxas de morbimortalidade materna e neonatal. Pelo contrário: evidências científicas mostram que altas taxas de cesariana estão associadas a piores desfechos neonatais e maternos maiores chances de nascimentos pré-termos, termos precoces e cesarianas recorrentes (Dias, et al., 2022).
Alguns fatores podem influenciar na realização indiscriminada de cesarianas, dentre eles estão o medo das mulheres em relação à dor do parto vaginal, a falta de autonomia da mulher em todo o processo de parto, a disseminação das violências obstétricas e o desconhecimento dos riscos e benefícios dos tipos de parto, fatores estes que indicam a necessidade de mudanças no modelo de atenção ao parto. (Lustosa, et al. 2022)
A pesquisa de (Pfützenreuter et AL 2019) revela que características como idade materna elevada e obesidade são fatores de risco associados à cesárea em partos induzidos. Essa relação é corroborada por (Antunes et al. 2020), que investiga partos em gestações de alto risco e mostra que certas condições clínicas, como diabetes gestacional e hipertensão, levam à preferência pela cesárea para evitar complicações. Em ambos os estudos, os riscos maternos e neonatais são fatores determinantes que acabam orientando as decisões dos profissionais para a cesárea, buscando reduzir o risco de complicações graves.
O resultado revela que a escolha pela cesárea é influenciada por uma complexa rede de fatores que incluem aspectos culturais, sociais, psicológicos e clínicos. Em países como o Brasil, onde as taxas de cesárea são altas, o cenário obstétrico envolve tanto percepções culturais e sociais como práticas médicas. Essa análise sugere que intervenções para reduzir o número de cesáreas devem focar em empoderar as mulheres na tomada de decisão, abordar medos e mitos associados ao parto normal, e melhorar o manejo de gestações de alto risco, com vistas a promover práticas mais seguras e centradas no bem-estar materno-infantil.
Dessa forma, considera-se que o/a obstetra, com seu conhecimento científico validado, ocupa uma posição de destaque nas relações de poder e saber que envolve a escolha pela cesariana. Esse papel difere do da mulher, pois, mesmo que ela tenha buscado informações e se preparado sobre o parto vaginal, ainda está sujeita à orientação do/a obstetra, que influencia sua decisão sobre o tipo de parto.
CONCLUSÃO
A análise dos fatores que influenciam a escolha pela cesárea revela a complexidade dessa decisão, que vai além das indicações médicas e abrange também aspectos sociais, culturais e institucionais. O aumento das taxas de cesariana ao redor do mundo, muitas vezes além dos índices recomendados pela OMS, aponta para a existência de cesáreas que poderiam ser evitadas, sugerindo a necessidade de uma revisão das práticas obstétricas.
Além das condições clínicas, fatores como o desejo materno, o medo da dor e a conveniência de agendar o nascimento contribuem para a alta prevalência de cesáreas. esses fatores refletem as expectativas e valores da sociedade atual em relação ao parto e à maternidade, indicando uma mudança na forma como o processo de nascimento é percebido. no entanto, é importante considerar que a cesárea, embora segura e necessária em algumas situações, apresenta riscos adicionais para mãe e bebê, como infecções e complicações pós-operatórias.
Diante desse cenário, torna-se essencial a formulação de políticas de saúde que promovam o parto normal como a primeira opção, sempre que seguro, e reservem a cesárea para casos com indicações bem justificadas. a promoção de práticas obstétricas baseadas em evidências e a educação das gestantes sobre as opções de parto podem contribuir para uma escolha mais informada e alinhada com o bem-estar materno e neonatal.
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1Discente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto Superior de Brasília. ( IESB) e-mail: taciana.milomes@iesb.edu.br
2Docente do Curso Superior de Enfermagem do Instituto de Educação Superior de Brasília Campus Edson Machado e Campus Oeste. Mestre em Biologia Parasitária (PROBP/UFS). e-mail: ianebl@hotmail.com