REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202504301919
Bianca Rosa Santos
Camila Neithielly Teixeira Andrade Vasconcelos
Dirceu José Alves Junior
Mayanna Helysa De Paula Freitas Borges
Thaís Altiére Oliveira Araújo
Orientadora: Profa. Natália de Lima Melo.
RESUMO
A adesão ao tratamento psiquiátrico é um desafio crítico, impactando diretamente os desfechos clínicos. Este estudo descreve um caso de um paciente diagnosticado com esquizofrenia que apresenta dificuldades na adesão ao tratamento. O objetivo é analisar os fatores que influenciam essa adesão e discutir possíveis intervenções. A metodologia utilizada foi um estudo descritivo baseado na análise de prontuários e revisão da literatura. O relato de caso evidencia que fatores como polifarmácia, efeitos colaterais, ausência de apoio familiar, influência religiosa e barreiras sociais dificultam a continuidade do tratamento. A falta de insight sobre a doença e crenças religiosas podem levar o paciente a rejeitar a medicação, agravando o quadro clínico. Além disso, o suporte familiar e o acesso a um sistema de saúde estruturado são fundamentais para garantir o seguimento adequado do tratamento. Desse modo, estratégias multidisciplinares, como psicoeducação e uso de medicações de longa duração, são essenciais para melhorar a adesão terapêutica. A criação de um vínculo de confiança entre paciente e equipe de saúde também se mostra eficaz na redução da resistência ao tratamento. Assim, compreender os fatores que influenciam a adesão permite intervenções mais personalizadas, contribuindo para melhores prognósticos e qualidade de vida.
Palavras-chave: Adesão ao tratamento; Esquizofrenia; Fatores sociais; Polifarmácia; Crenças religiosas.
1 INTRODUÇÃO
A adesão ao tratamento é um dos principais desafios no manejo dos transtornos psiquiátricos, influenciando diretamente os desfechos clínicos e a qualidade de vida dos pacientes. A falta de adesão ao tratamento pode resultar em recorrências sintomáticas, internações frequentes, comprometimento funcional e aumento do ônus social e econômico da doença (Oliveira et al., 2020).
O conceito de má adesão (ou não adesão) se refere à situação em que uma pessoa não segue corretamente as orientações prescritas por profissionais de saúde, especialmente em relação a tratamentos médicos, uso de medicamentos, mudanças de estilo de vida ou comparecimento a consultas (Rezende Neto, 2023).
De forma mais técnica, má adesão ocorre quando o comportamento do paciente não coincide com as recomendações acordadas, seja tomando doses erradas de medicamentos, interrompendo o tratamento antes do tempo, pulando consultas ou não fazendo mudanças necessárias, como na dieta ou exercícios (Rezende Neto, 2023).
Estudos demonstram que a adesão insatisfatória ao tratamento em psiquiatria é um problema global, afetando diversas condições, como transtorno depressivo maior, transtorno bipolar e esquizofrenia. Portanto, compreender os fatores que contribuem para a má adesão é essencial para desenvolver estratégias eficazes de intervenção e suporte (Bandeira; Treichel; Onocko-Campos, 2020).
Diversos fatores podem influenciar a adesão ao tratamento em pacientes psiquiátricos, incluindo aspectos relacionados ao próprio paciente, ao tratamento prescrito e ao ambiente socioeconômico. Entre os fatores individuais, destacam-se a falta de insight sobre a doença, o medo dos efeitos colaterais dos medicamentos, a crença na ineficácia do tratamento e a presença de comorbidades clínicas ou psicossociais (Cardoso; Byrne; Xavier, 2016).
No que se refere ao tratamento, a complexidade do regime terapêutico, os efeitos adversos e a necessidade de uso prolongado de medicações podem dificultar o seguimento adequado. Além disso, barreiras estruturais, como o acesso limitado aos serviços de saúde, a falta de suporte familiar e o estigma social, também desempenham um papel significativo (Oliveira et al., 2020).
A compreensão de tais fatores é fundamental para a formulação de intervenções que possam melhorar a adesão ao tratamento psiquiátrico. Abordagens multidisciplinares, que envolvam médicos, psicólogos, assistentes sociais e familiares, podem contribuir para a construção de um plano terapêutico mais individualizado e eficaz (Bandeira; Treichel; Onocko-Campos, 2020).
Estratégias como a psicoeducação, o uso de lembretes tecnológicos e a simplificação dos esquemas terapêuticos têm demonstrado impacto positivo na adesão. Além disso, a criação de um ambiente de suporte e confiança entre paciente e equipe de saúde pode favorecer um maior engajamento no tratamento (Bandeira; Treichel; Onocko-Campos, 2020).
Este trabalho surgiu a partir do interesse dos alunos do curso de medicina despertado durante o rodízio em saúde mental, momento em que foi possível observar de perto os desafios enfrentados por pacientes e equipes no que diz respeito à adesão ao tratamento psiquiátrico. Desse modo, o presente estudo tem como objetivo descrever o relato de caso de um paciente psiquiátrico com dificuldades na adesão ao tratamento da esquizofrenia, analisando os fatores que contribuíram para essa condição e discutindo possíveis intervenções para melhora dos desfechos em saúde mental.
2 METODOLOGIA
Este estudo trata-se de um relato de caso descritivo e exploratório, conduzido com a devida concordância do participante, formalizada por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), com a disponibilização de duas vias do documento, ficando uma com o participante e a outra sob posse dos pesquisadores.
As informações apresentadas foram obtidas por meio da análise de prontuário, entrevista com o paciente, registro de exames diagnósticos e revisão da literatura existente. A confidencialidade dos dados coletados foi rigorosamente garantida durante toda a realização do estudo, em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), Lei nº 13.709/2018.
3 RELATO DE CASO
Paciente, 35 anos, sexo masculino, ensino fundamental completo, pardo, solteiro, aposentado, evangélico, natural e residente em Teofilândia – BA, deu entrada, no dia 28/02/2011, no Centro de Atenção Psicossocial – CAPS, devido ao quadro de impaciência, dificuldade para alimentar-se, insônia e fuga recente despido, relata: “ouvi vozes que mandaram tirar a roupa e andar, junto comigo estavam dois lobos que me acompanhavam durante todo o percurso”, além dos discursos desconexos e incoerentes, sem saber a sua idade e o dia da semana. Paciente nega o uso de álcool e fumo. Nega comorbidades e relata não saber possíveis patologias de seus familiares.
O paciente tem condição socioeconômica baixa, estudou em escola pública e ganhou uma bolsa de estudos no ensino médio para escola privada. Passou no vestibular para o curso de matemática em uma universidade pública no interior da Bahia, recebia suporte com gastos físicos da direção da escola que havia estudado e morava em uma residência estudantil. O surto foi durante o período universitário, o que o impossibilitou de continuar com os estudos.
Após consulta com o psiquiatra em 11/03/2011, o tratamento prescrito foi Risperidona 3mg (0-0-1), Fenergan 25mg (0-0-1), Neozine 25mg (0-0-1) e Clomipramina 25mg (0-0-1). Entretanto, retornou após 3 meses, relatando abandono da medicação, pois não tinha mais necessidade.
Sempre que agendado atendimento, o paciente somente retornava ao serviço quando percebia que, por não estar em uso da medicação, passava a ter surtos psicóticos piores. No entanto, continuava resistente ao tratamento e com crenças religiosas que “Deus ia lhe curar” e, além disso, dizia que “no CAPS, às vezes, faltavam medicamentos, que ele não tinha condições de comprá-los e que nunca teve o apoio familiar”.
Em consulta psiquiátrica, o paciente relatou ter delírios persecutórios, alucinações visuais e comando de voz. No entanto, em 2011, já diagnosticado com esquizofrenia, nunca aceitou o diagnóstico e se perguntassem qual doença psiquiátrica ele tinha, referia que era Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). Também, deixava de fazer uso da medicação se o médico dissesse que era para esquizofrenia, pois relatava que “os médicos não sabiam o que ele tinha”.
Embora sempre apresentasse má adesão ao tratamento psiquiátrico, chegou um momento que ele passou a seguir às orientações médicas por analisar que, quando parava, ficava bem pior. No entanto, relatou que desde o início da medicação, sente tremores nas mãos e dificuldade para dormir.
Atualmente, segue não aceitando o diagnóstico de esquizofrenia, mas está frequentando o CAPS de forma regular, com consulta psiquiátrica uma vez por semana e fazendo uso das medicações Amplictil 100mg (1-0-1), Carbolitium 300mg (1-1-1), Haldol 5mg (1-0-1), Fluoxetina 20mg (1-1-1) e Rivotril 2mg (0-0-1).
4 DISCUSSÃO
A adesão ao tratamento psiquiátrico é influenciada por múltiplos fatores, que vão desde aspectos individuais até questões sociais e estruturais. A resistência dos pacientes em aceitar o diagnóstico, os efeitos colaterais das medicações, a falta de suporte familiar e a influência de crenças religiosas podem dificultar significativamente o seguimento terapêutico. Além disso, a polifarmácia e a complexidade dos esquemas terapêuticos frequentemente contribuem para a descontinuação do uso dos medicamentos. Então, vamos analisar o que a literatura diz sobre como cada um desses fatores impacta a adesão ao tratamento e quais estratégias podem ser adotadas para minimizar esses desafios (Costa et al., 2023).
Má adesão ao tratamento é a falha parcial ou total do paciente em seguir o regime terapêutico prescrito, incluindo medicamentos, terapias, recomendações de estilo de vida ou seguimento de consultas médicas. Essa falta de adesão pode comprometer a eficácia do tratamento, prejudicar a evolução clínica e aumentar os custos com a saúde (Oliveira et al., 2020).
4.1 Fatores sociais
Os fatores sociais desempenham um papel fundamental na adesão ao tratamento do paciente psiquiátrico, influenciando diretamente na sua capacidade de manter a continuidade da terapia. O estigma social associado às doenças mentais é uma das principais barreiras, levando muitos pacientes a evitarem ou abandonarem o tratamento por medo de discriminação e preconceito, tanto no ambiente familiar quanto na sociedade em geral (Rezende Neto, 2023).
A falta de apoio da família e da comunidade também contribui para a má adesão, uma vez que o suporte social é essencial para incentivar o paciente a seguir corretamente as orientações médicas e enfrentar os desafios do tratamento. Em muitos casos, a ausência de uma rede de apoio resulta no isolamento social, agravando, ainda mais, o quadro clínico e dificultando o acompanhamento médico adequado. No caso em apreço, o paciente relata que nunca teve o apoio familiar, o que pode ter contribuído para a má adesão ao tratamento do mesmo (Oliveira et al., 2020).
A dificuldade de acesso aos serviços de saúde, principalmente, em populações de baixa renda ou que vivem em regiões com infraestrutura limitada. A falta de recursos financeiros para arcar com os custos de transporte, consultas médicas e medicamentos pode levar à interrupção do tratamento, comprometendo sua eficácia (Costa et al., 2023).
A desinformação sobre os transtornos mentais e os aspectos relacionados à espiritualidade, inúmeras vezes, influenciadas pelo meio social e cultural do paciente, podem resultar em uma adesão inadequada às terapias convencionais. Dessa forma, a abordagem da má adesão ao tratamento psiquiátrico deve considerar não apenas os aspectos clínicos, mas também, as condições sociais que impactam diretamente a continuidade e o sucesso da terapia (Rezende Neto, 2023).
4.2 Polifarmácia
A polifarmácia, caracterizada pelo uso concomitante de múltiplos medicamentos, é uma prática comum no tratamento de transtornos psiquiátricos, devido à necessidade de controlar sintomas complexos e comorbidades associadas. No entanto, esse fator pode contribuir, significativamente, para a má adesão ao tratamento, pois o paciente pode ter dificuldades em seguir corretamente os diversos esquemas posológicos, levando a esquecimentos, erros na administração e, até mesmo, ao abandono do tratamento (Cliquet; Stenghel, 2022).
A complexidade do regime medicamentoso pode gerar confusão e sobrecarga, especialmente, em pacientes com comprometimento cognitivo ou dificuldades na compreensão das orientações médicas. Quanto maior o número de medicamentos prescritos, maior a probabilidade de o paciente se sentir desmotivado ou incapaz de manter a regularidade do uso (Rabêlo, 2022).
Outro aspecto crítico da polifarmácia é o aumento da incidência de efeitos colaterais, que podem comprometer a qualidade de vida e desencorajar o paciente a continuar o tratamento. O uso combinado de diferentes classes de psicofármacos, como antipsicóticos, antidepressivos, estabilizadores de humor e ansiolíticos, pode causar efeitos adversos, como sedação excessiva, ganho de peso, alterações metabólicas e disfunções cognitivas. Esses efeitos indesejáveis podem levar à percepção negativa do tratamento e à sensação de que os benefícios não compensam os desconfortos vivenciados (Rabêlo, 2022).
Interações medicamentosas podem resultar em efeitos inesperados, aumentando a insegurança do paciente em relação ao uso contínuo da medicação. Assim, a racionalização da prescrição e o acompanhamento cuidadoso por parte da equipe de saúde, são essenciais para minimizar os impactos da polifarmácia e promover uma melhor adesão terapêutica (Bandeira; Treichel; Onocko-Campos, 2020).
4.3 Efeitos colaterais dos medicamentos psiquiátricos
Os efeitos colaterais dos medicamentos psiquiátricos representam um dos principais fatores que contribuem para a má adesão ao tratamento, uma vez que podem comprometer, significativamente, o bem-estar do paciente. Muitos psicofármacos, como antipsicóticos, antidepressivos e estabilizadores de humor, estão associados a efeitos adversos que afetam tanto a esfera física quanto a emocional, tornando o tratamento difícil de ser seguido a longo prazo (Cardoso; Byrne; Xavier, 2016).
Sintomas, como ganho de peso, sedação excessiva, disfunções sexuais, alterações gastrointestinais e sintomas extrapiramidais, podem gerar desconforto e insatisfação, levando o paciente a interromper ou reduzir por conta própria a dosagem do medicamento. A falta de informação sobre a natureza transitória de alguns desses efeitos ou a inexistência de suporte adequado para lidar com eles pode aumentar a resistência ao tratamento e agravar a evolução do quadro psiquiátrico (Güths; Sausen, 2024).
Além dos impactos físicos, os efeitos colaterais também podem afetar a autoestima e a funcionalidade do paciente, interferindo em suas atividades diárias e em suas relações interpessoais. Alterações cognitivas, como dificuldade de concentração e sonolência diurna, podem prejudicar o desempenho acadêmico e profissional, gerando frustração e levando o paciente a considerar o tratamento mais prejudicial do que benéfico (Costa et al., 2023).
O medo de dependência ou de “perda de controle” sobre si mesmo, frequentemente, associado ao uso prolongado de medicações psiquiátricas, o que pode intensificar a falta de adesão aos tratamentos. Assim, é essencial que os profissionais de saúde realizem um acompanhamento contínuo, oferecendo informações claras sobre os benefícios e riscos da medicação, além de ajustar o tratamento conforme necessário para minimizar os efeitos adversos e garantir maior engajamento do paciente (Oliveira et al., 2020).
4.4 Apoio familiar
O apoio familiar é um fator fundamental para a adesão ao tratamento do paciente psiquiátrico e sua ausência ou insuficiência pode contribuir, significativamente, para a interrupção ou negligência das orientações médicas. Famílias que não compreendem a natureza da doença mental ou que enfrentam dificuldades em lidar com o comportamento do paciente, podem, involuntariamente, desencorajá-lo a seguir o tratamento de forma adequada. Apesar desse apoio ser essencial para o tratamento, o paciente em questão relatou que enfrentava tudo sozinho (Costa et al., 2023).
A falta de envolvimento e suporte emocional pode levar o paciente a se sentir isolado, desmotivado e incapaz de enfrentar os desafios impostos pelo tratamento. Além disso, a sobrecarga emocional e financeira que a família pode experimentar no cuidado do paciente pode resultar em falhas na supervisão da adesão medicamentosa e nas consultas de acompanhamento, agravando a evolução da doença (Rabêlo, 2022).
A presença de dinâmicas familiares disfuncionais, como conflitos, falta de comunicação e atitudes de negação em relação à doença, podem gerar resistência ao tratamento e dificultar a aceitação da necessidade de cuidados contínuos. Em alguns casos, familiares podem minimizar a gravidade do transtorno psiquiátrico ou rejeitar o uso de medicamentos, influenciando negativamente, a percepção do paciente sobre a importância do tratamento (Güths; Sausen, 2024).
A dependência do paciente em relação aos familiares para a administração da medicação e a organização das consultas pode ser prejudicada em ambientes com baixa estruturação e suporte. Portanto, a conscientização e a educação da família sobre a doença mental, aliadas ao envolvimento ativo no processo terapêutico, são essenciais para promover uma melhor adesão e garantir um suporte adequado ao paciente (Bandeira; Treichel; Onocko-Campos, 2020).
4.5 Fator religioso
Os fatores religiosos podem exercer uma influência significativa na adesão ao tratamento do paciente psiquiátrico, tanto de forma positiva quanto negativa. Em alguns casos, crenças religiosas podem levar o paciente a minimizar ou negar a necessidade de tratamento médico, atribuindo sua condição a causas espirituais, como punições divinas ou possessões espirituais. Essa percepção pode resultar na busca por alternativas, exclusivamente religiosas, como orações, rituais e aconselhamento espiritual, em detrimento do tratamento médico adequado. Além disso, algumas doutrinas religiosas podem desencorajar o uso de medicamentos psiquiátricos, considerando-os desnecessários ou incompatíveis com a fé, o que pode comprometer a adesão ao tratamento e agravar a evolução da doença (Cardoso; Byrne; Xavier, 2016).
A influência das lideranças religiosas e da comunidade de fé, podem desempenhar um papel decisivo na percepção do paciente sobre o tratamento. Em alguns contextos, líderes religiosos podem desestimular o uso de medicamentos, sugerindo que a fé e a espiritualidade são suficientes para a cura, levando o paciente a abandonar ou reduzir por conta própria a medicação prescrita (Oliveira et al., 2020).
O sentimento de culpa ou a crença de que a doença mental é uma falta de fé podem gerar resistência ao tratamento e dificultar o engajamento do paciente nas terapias propostas. Para minimizar esses impactos, é essencial que os profissionais de saúde adotem uma abordagem culturalmente sensível, promovendo um diálogo aberto com o paciente e sua rede de apoio religioso, buscando conciliar a prática da fé com a adesão ao tratamento psiquiátrico (Rezende Neto, 2023).
4.6 Dificuldade de adesão aos tratamentos
A esquizofrenia é um transtorno mental grave que afeta a forma como a pessoa pensa, sente e se comporta. Caracteriza-se por episódios de psicose, nos quais o indivíduo pode ter alucinações (como ouvir vozes), delírios (crenças falsas e inabaláveis) e pensamento desorganizado. Além disso, há sintomas negativos, como isolamento social, falta de motivação e expressão emocional reduzida. A condição, geralmente, se manifesta no final da adolescência ou início da vida adulta e pode ter um impacto significativo na vida do paciente. O paciente foi diagnosticado com esquizofrenia com 22 anos de idade, ou seja, neste período elencado acima (Costa et al., 2023).
A adesão ao tratamento da esquizofrenia é um grande desafio, pois muitos pacientes apresentam dificuldades em aceitar a doença e compreender a importância da medicação contínua. Um dos principais fatores que contribuem para a não adesão é a falta de insight, ou seja, a incapacidade de reconhecer que possuem um transtorno mental. Isso pode levar o paciente a interromper o uso dos medicamentos, aumentando o risco de recaídas e agravamento dos sintomas psicóticos (Güths; Sausen, 2024).
Para melhorar a adesão, é essencial um acompanhamento próximo por parte da equipe médica e da família, além do uso de estratégias, como medicações de longa duração (injeções mensais ou trimestrais), que reduzem o risco de interrupção do tratamento. A psicoeducação, que ajuda o paciente e seus familiares a compreenderem a doença e a importância do tratamento, também é fundamental. Abordagens individualizadas e o fortalecimento da rede de apoio podem contribuir para um melhor prognóstico e qualidade de vida do paciente com esquizofrenia (Güths; Sausen, 2024).
5 CONCLUSÃO
A má adesão ao tratamento de pacientes psiquiátricos é um problema complexo e multifatorial, influenciado por uma série de fatores interligados que dificultam a continuidade e a eficácia das intervenções terapêuticas. Os fatores sociais, como o estigma, a falta de suporte comunitário e as dificuldades de acesso aos serviços de saúde, desempenham um papel fundamental na adesão inadequada, contribuindo para o isolamento e a desinformação do paciente.
A polifarmácia, por sua vez, representa um desafio adicional, pois a complexidade dos regimes terapêuticos e a sobrecarga de medicações podem gerar confusão, erros na administração e desmotivação para seguir o tratamento. Além disso, os efeitos colaterais dos medicamentos psiquiátricos, muitas vezes, intensos e debilitantes, impactam, negativamente, na qualidade de vida do paciente, levando-o a interromper ou modificar a medicação sem a devida orientação médica.
O apoio familiar também é um fator determinante na adesão ao tratamento, pois a falta de compreensão e envolvimento dos familiares pode resultar em supervisão inadequada e desmotivação do paciente para seguir as recomendações médicas. Conflitos familiares e a negação da gravidade do transtorno podem agravar ainda mais essa situação. Paralelamente, os fatores religiosos podem influenciar significativamente a percepção do paciente em relação ao tratamento psiquiátrico, levando à substituição de terapias médicas por práticas espirituais ou à crença de que a doença resulta de causas sobrenaturais.
O tratamento da esquizofrenia envolve o uso de antipsicóticos, que ajudam a controlar os sintomas psicóticos, e terapias psicossociais, que auxiliam na reabilitação e na reintegração social do paciente. O suporte da família e de profissionais de saúde mental é essencial para garantir a adesão ao tratamento e melhorar a qualidade de vida do indivíduo. Embora não haja cura, muitas pessoas conseguem levar uma vida funcional com acompanhamento adequado e tratamento contínuo.
Desse modo, para garantir uma abordagem eficaz e humanizada, é essencial que os profissionais de saúde reconheçam e abordem esses fatores de maneira integrada, promovendo uma assistência personalizada que considere as necessidades individuais de cada paciente, com o objetivo de melhorar a adesão terapêutica e, consequentemente, os desfechos clínicos. Assim como, foi realizado no presente estudo, onde o paciente teve uma assistência integral quanto a sua patologia e aos fatores que influenciavam na má adesão ao seu tratamento, promovendo autonomia e corresponsabilização pelo seu processo terapêutico.
REFERÊNCIAS
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