FATORES QUE AFETAM A COR DOS DENTES: UMA VISÃO GERAL DAS PIGMENTAÇÕES DENTÁRIAS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10255522


Lázaro Nóbrega Brandão;
Romilson Oliveira Paiva;
Orientador: Gabriel Catunda


RESUMO

A preocupação com a estética aumenta cada vez mais entre os indivíduos que cuidam de sua aparência. E nesse sentido, a alteração da cor dentária pode ser um fator mais ressaltante que o alinhamento dos dentes, quando o assunto é acometimento estético. Hoje em dia, deve-se considerar a mudança que a cor dos dentes pode sofrer, já que as cobranças estéticas por parte dos pacientes são cada vez maiores. É essencial que os cirurgiões-dentistas consigam avaliar clinicamente e averiguar a severidade de cada caso, determinar a etiologia da alteração de cor dental, e ter a noção da condição estética e expectativas para assim, estabelecer a melhor alternativa de tratamento. O objetivo deste artigo é avaliar através de uma revisão de literatura os fatores que afetam a cor dos dentes, a partir de uma abordagem geral das pigmentações dentárias. Realizou-se uma revisão de literatura, do tipo pesquisa bibliográfica exploratória de caráter qualitativo, fundamentada em sites de bancos virtuais como SciELO, MEDLINE, PUBMED, PSYCINFO, PEPSIC e LILACS, come estudos indexados entre 2013-2023. A presente revisão analisou cinco artigos que atenderam aos critérios de inclusão. Foi possível concluir que a mudança na cor dos dentes pode exibir várias características clínicas conforme seu tipo, extrínseco ou intrínseco, locais ou sistêmicos, endógenos ou exógenos, de origem congênita ou adquirida e acontecendo no período pré ou pós-eruptivo. Portanto, o cirurgião dentista deve estar apto para diagnosticar cada tipo de manchamento dental e, assim, recomendar o melhor tratamento estético dental para seu paciente.

Palavras-chave: Cor dentária. Estética dentária. Pigmentação dentária. Pigmentação extrínseca. Pigmentação intrínseca.

INTRODUÇÃO

A preocupação com a estética aumenta cada vez mais entre os indivíduos que cuidam de sua aparência. E neste panorama de busca incessante pela beleza, o sorriso tornou-se um parâmetro para apresentação social, laboral e particular, e parte daí a importância deste estudo, em destacar os fatores que influenciam negativamente na autoestima das pessoas quanto ao sorriso: a cor dos dentes (OLIVEIRA et al., 2020). Principalmente porque, segundo Goulart et al. (2018), a alteração da cor dentária pode ser um fator mais ressaltante que o alinhamento dos dentes, quando o assunto é acometimento estético.

Pois, os dentes são vistos como uma caraterística importante na beleza da face, compondo função decisiva nas interações e relações do indivíduo com a sociedade. Hoje em dia, deve-se considerar a mudança que a cor dos dentes pode sofrer, já que as cobranças estéticas por parte dos pacientes são cada vez maiores.

Entretanto, a pigmentação dentária está associada a fatores extrínsecos e intrínsecos. Neste sentido, destaca-se que a dieta e produtos químicos, são exemplos de fatores ambientais que podem causar essa alteração, a depender da frequência e do tempo de exposição. Isso acontece porque a cor dos dentes é estabelecida por uma combinação entre as cores intrínsecas do dente e os pigmentos extrínsecos que se podem formar na sua superfície. Em geral, estes pigmentos constituem-se em zonas de complexa higienização e são maioritariamente causados por alimentos com taninos, agentes catiônicos, hábitos dietéticos, entre outros fatores (PIRES, 2021; REIS, 2018).

Neste contexto, Furtado et al. (2018) explica que a coloração dos dentes são influenciados por pigmentos, sejam intrínsecos, aqueles que estão relacionados ao interior dos tecidos dentais como manchamentos por doenças sistêmicas ou ainda o próprio envelhecimento dental. E tem-se também os pigmentos extrínsecos, que podem ser oriundos de bebidas ou comidas que ingerimos, como o vinho, café, refrigerante ou do tabagismo que são corantes que irão entrar em contato direto com o esmalte do dente (SANTANA e SILVA, 2019).

Logo, é essencial que os cirurgiões-dentistas consigam avaliar clinicamente e averiguar a severidade de cada caso, determinar a etiologia da alteração de cor dental, e ter a noção da condição estética e expectativas para assim, estabelecer a melhor alternativa de tratamento (BARZOTTO e RIGO, 2018).

Assim, o nível de experiência clínica do profissional afetará sua capacidade diagnóstica e em decorrência, sua escolha de tratamento e os episódios menos recorrentes dessas anomalias, são os diagnosticados mais erroneamente, por isso, é imprescindível estudos que abordem esta temática, partindo daí a relevância acadêmica e social deste artigo.

De tal modo, o objetivo deste artigo é avaliar através de uma revisão de literatura os fatores que afetam a cor dos dentes, a partir de uma abordagem geral das pigmentações dentárias. Para tal, os objetivos específicos são: entender como é determinada a cor dentária e a percepção de cor dos dentes; e identificar os fatores intrínsecos e extrínsecos que alteram a cor dental.

REVISÃO DE LITERATURA

COR DENTÁRIA 

Nos últimos anos, a Odontologia tem visto o valorizar da estética, sendo a cor dentária um dos determinantes mais valorizados pelos pacientes, tanto na aceitação de uma restauração, como na satisfação com a sua aparência dentária (OLIVEIRA et al., 2020). 

A cor dos dentes é estabelecida por uma combinação entre as cores intrínsecas do dente e os pigmentos extrínsecos que se formam na sua superfície. A cor intrínseca do dente é resultado das propriedades de absorção e dispersão da luz por parte da dentina e do esmalte. Enquanto a extrínseca está relacionada à absorção de alguns materiais pela superfície do esmalte e pela película obtida, que resultam na pigmentação da superfície dentária (PIRES, 2021). 

De tal modo, uma mudança na estrutura do esmalte pode gerar uma menor ou maior reflexão de luz, fazendo com que o dente fique mais escuro ou mais claro respetivamente. A descoloração dos dentes pode ser classificada como intrínseca, extrínseca ou uma combinação das duas (RIBEIRO e GRAJEDA, 2018).

Logo, a cor deriva da percepção visual que acontece em resposta à luz refletida ou transmitida por um corpo. Porém, para facilitar, foram criados sistemas de classificação e representação da cor dentária, sendo os mais empregados o Sistema de Ordem de Cor de Munsell e o CIE L*a*b* de 1976 (CORADO, 2017).

SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DE COR DENTÁRIA

O Sistema de Ordem de Cor de Munsell representa a cor empregando como dimensões, ou coordenadas, a matiz, o valor e o croma. A matiz é a propriedade que possibilita a distinção entre famílias de cores (exemplo: amarelo, azul, vermelho). O valor representa a luminosidade relativa do objeto e muda entre preto puro (valor mínimo) e branco puro (valor máximo). O croma está relacionado ao grau de saturação ou intensidade da cor, caracterizando, por exemplo, azul claro de azul escuro (SALVADO, 2021). 

O CIE L*a*b*, segundo Borba et al. (2019) e Corado (2017), foi desenvolvido em 1976, e é vastamente usado em investigação em cor dentária e representa tridimensionalmente um espaço de cor uniforme, sendo uma cor situada no espaço pelas coordenadas L*, a* e b*. L* estabelece a luminosidade do objeto e muda em uma escala de 0 (preto perfeito) a 100 (refletor perfeito), a* mede a cor no eixo verde (a* negativo) – vermelho (a* positivo) enquanto o b* está relacionado ao eixo azul-amarelo (b* negativo é azul e b* positivo amarelo). Cores neutras como o cinzento e o branco apresentam valores de a* e b* próximos de zero.

A representação do espaço de cor CIE L*a*b* e Sistema de Ordem de Cor de Munsell pode ser vista na Figura 1.

Figura 1 – Representação do espaço de cor CIE L*a*b* e Sistema de Ordem de Cor de Munsell.

Fonte: CORADO (2017).

DETERMINAÇÃO DE COR DENTÁRIA 

O estabelecimento e a comunicação da cor dentária formam um dos maiores desafios na Odontologia atual. A complexidade do processo de determinação de cor dentária está relacionada à natureza policromática dos dentes, à influência das condições de luz e do meio envolvente e a fatores intrínsecos ao operador (DIAS et al., 2017). 

Os dentes exibem uma coloração estabelecida pelo matiz, que é a cor que o objeto reflete (como azul, vermelho ou verde), pelo seu croma, que é a intensidade do seu matiz, e pelo valor, o que recomenda o quão luminoso é um objeto, se é mais claro ou mais escuro. A percepção de um dente mais escuro é por conta de uma mudança acontecida nesses fatores, um aumento do croma e redução da luminosidade (AMORIM et al., 2021). 

Em relação a perceção de cor, a diferente composição do esmalte e da dentina, especificamente a quantidade de matéria orgânica, determina o modo como a luz interatua com os dois tecidos. Sendo a dentina mais opaca e o esmalte mais translúcido, a cor dentária procede predominantemente da cor da dentina (CORADO, 2017). 

Logo, um elemento dental pode apresentar diferentes cores dependendo do tipo de fonte luminosa incidente sobre ele, esclarecido pelo fenômeno de metamerismo, a ser determinada pelo tipo de fonte de iluminação, do horário do exame clínico e do ângulo de visão dos dentes, também exibirá coloração dependente das estruturas que o formam e da capacidade de transmissão e reflexão de luz. 

A perceção do valor muda conforme a luminosidade do meio ambiente e a perceção de matiz, podendo ser influenciada ainda pela cor dos lábios e gengivas do paciente. 

Por conta do metamerismo exibido pelo dente, a alteração das condições de luminosidade muda a luz refletida pelo dente e, por conseguinte, a cor dentária percepcionada pelo olho humano. 

Amorim et al. (2021) cita que a cor final de um dente será definida pela combinação das matizes de azul, rosa e verde do esmalte e do amarelo e marrom da dentina. O terço cervical, por exemplo, é formado de tecido pulpar, tecido dentinário e esmalte, se existir qualquer mudança em alguma dessas estruturas, suas propriedades de luz serão impactadas, o que resultará em alteração na expressão e aparência da sua cor. 

Portanto, a cor dental possui uma transição desde a margem cervical até a incisal de cada elemento. A dentina é um decisivo para o resultado final da cor dos dentes, gerando desta forma, a margem cervical com um aspecto mais escuro que a margem incisal pela maior proximidade do esmalte com a dentina nesta área. Frequentemente, os caninos são mais escuros que os incisivos centrais e laterais, pela maior quantidade de dentina presente. Enquanto a dentição decídua tem uma coloração mais clara que a permanente (REIS et al., 2018; SANTANA e SILVA, 2019). 

Amorim et al. (2021) destacam que dentes menos brancos ou descoloridos, podem ser derivados de mudanças na absorção e reflexão de luz pela dentina e esmalte, quando acontecem os manchamentos. O manchamento dental pode ser classificado conforme a localização de seu pigmento dental, que pode ser oriundo de fatores extrínsecos ou intrínsecos, como já foi dito.

Contudo, ao longo de um dente a coloração não é uniforme, notando-se a alteração desde a margem gengival até ao bordo incisal. Porém a região central é a mais representativa da cor dentária e, assim, a mais recomendada para realizar medições de cor dentária.

Fatores que influenciam ainda a nível do operador, são parâmetros como a idade, experiência na obtenção de cor dentária, estado emocional e fadiga ocular que impactam na percepção de cor dentária, colaborando para a subjetividade do procedimento (MOODLEY et al. 2015). 

Em se tratando de métodos de determinação de cor dentária, tem-se os métodos visuais e métodos instrumentais. Os métodos visuais, relativamente rápidos e econômicos, recorrem a escalas de cor que são comparadas com o dente em estudo até que se ache a guia de cor mais aproximada (GÓMEZ-POLO et al. 2014). Contudo, as escalas não consideram todo o espaço de cor dentário e são métodos muito influenciados pelo operador e condições de luz. 

O uso de métodos instrumentais de determinação de cor tem o potencial de diminuir as variáveis de subjetividade inerentes aos métodos visuais. Incluem-se os espectrofotômetros, colorímetros e os sistemas de imagem digital. Os colorímetros determinam a cor conforme um método tristimular, filtrando a luz do espectro visível nas áreas do vermelho, verde e azul. Os espectrofotômetros avaliam a intensidade de luz refletida ou transmitida pelo dente no espectro de luz visível. Os espectrofotômetros exibem a vantagem de fazerem as medições mais consistentes e precisas que os colorímetros e uma vida útil mais longa, já que não sofrem envelhecimento dos filtros, sendo, contudo, mais dispendiosos (AMORIM et al., 2021; SEMPREBOM et al., 2019).

MATERIAL E MÉTODOS 

Para alcançar os objetivos levantados, realizou-se uma revisão de literatura, do tipo pesquisa bibliográfica. Segundo Marconi e Lakatos (2011), trata-se de um levantamento de informações em toda a bibliografia já existente, por meio de livros, periódicos de revistas, dissertações, e publicações avulsas, com o objetivo de inserir o pesquisador no contexto de sua temática. Tratou-se de um estudo exploratório de caráter qualitativo.

Esta revisão foi fundamentada em publicações, na área de Odontologia, de dissertações, teses, artigos científicos de periódicos e capítulos de livros disponíveis em bibliotecas de instituições de ensino superior e virtuais como SciELO, MEDLINE, PUBMED, PSYCINFO, PEPSIC e LILACS. O levantamento bibliográfico compreendeu o período de julho a agosto de 2023. Os descritores usados foram: estética dentária, pigmentação dentária, cor dentária, pigmentação extrínseca e pigmentação intrínseca, conforme o site DECS (https://decs.bvsalud.org/); nos idiomas: português, inglês e espanhol. Esses descritores foram utilizados no intuito de avaliar os fatores que afetam a cor dos dentes, a partir de uma abordagem geral das pigmentações dentárias.

A seleção de informações foi realizada em setembro de 2023 e a partir de então, deu-se início a elaboração do presente artigo. 

Para isso, seguiu-se a seguinte premissa com a finalidade de ordenar e sumariar as informações contidas nas fontes, de forma que estas possibilitassem a obtenção de respostas ao problema da pesquisa:

a) Leitura exploratória de todo o material selecionado, que se tratou de uma leitura rápida, com o objetivo de verificar se a obra consultada era de interesse para o trabalho;

b) Leitura seletiva que consiste em uma leitura mais aprofundada das partes que realmente interessavam;

c) Registro das informações extraídas das fontes em instrumento específico, como autores, ano, método, resultados e conclusões.

Como critério de inclusão para a seleção dos referenciais, definiu-se: artigos completos, originais e que estivessem inteiramente ligados a temática deste estudo, em que busca avaliar os fatores que afetam a cor dos dentes, a partir de uma abordagem geral das pigmentações dentárias, na língua portuguesa, inglesa, com resumo disponível nas bases de dados para a apreciação, e estudos que estivessem publicados em periódicos, revista especializadas ou indexados nas referidas bases de dados entre 2013-2023.

 Os critérios de exclusão foram textos em formato de resumo, língua estrangeira diferente de português e inglês, estudos não disponíveis gratuitamente, apresentados em duplicata entre as bases, não condizentes com o tema e publicações anteriores ao ano de 2013.

O processo de busca de estudos realizado neste artigo de revisão é visto na Figura 1. 

Figura 1 – Processo de busca de estudos da presente revisão.

Fonte: Própria autora (2023).

Para a discussão dos estudos, os dados foram organizados em um instrumento, composto pelos seguintes itens: Tema do estudo; Autores/Ano de Publicação e Principais resultados. A análise crítica dos resultados que os artigos apresentam aconteceu em dois momentos: no primeiro momento, para apresentar as características dos artigos encontrados e, no segundo, para realizar a análise do conteúdo dos artigos.

RESULTADOS 

A comunidade científica chama a atenção para os fatores que afetam a cor dos dentes, a partir de uma abordagem geral das pigmentações dentárias, e neste âmbito, a presente revisão analisou cinco artigos que atenderam aos critérios de inclusão, previamente estabelecidos, em torno desta temática. As informações referentes aos estudos empíricos incluídos neste estudo podem ser identificadas na Tabela 1. 

Tabela 1 – Síntese de artigos incluídos na revisão.

TEMA DO ESTUDOREFERÊNCIAOBJETIVOCONCLUSÕES/RECOMENDAÇÕES
Diagnóstico e tratamento de manchamento dental.AMORIM et al., 2021Apresentar a etiologia, diagnóstico e tratamento para diversos tipos demanchamentos dentais.Para o manchamento dental, há diversas etiologias, como fatores extrínsecos e intrínsecos, locais ou sistêmicos, endógenos ou exógenos, de origem congênita ou adquirida e ocorrendo no período pré ou pós-eruptivo, e tendo cada tipo sua apresentação clínica e o tratamento mais indicado. 
Efeito Da Pigmentação ExtrínsecaNa Perceção Da Cor Dentária –Estudo In Vivo.CORADO, 2017Avaliar o efeito da remoção da pigmentação extrínseca na alteração da cor dentária detectada por diferentes métodos de determinação de cor.A pigmentação extrínseca pode aparecer pela deposição de pigmentos na superfície dentária e película adquirida (ou placa bacteriana), por meio da interação química entre compostos cromogénicos e a superfície dentária. Este tipo de pigmentação está localizada externamente ao dente e os pigmentos cromogéneos podem ser metálicos ou não metálicos.
Quantificação da variação da cor de materiaisrestauradores utilizados em odontopediatriaapós pigmentação.ARAÚJO, 2014Quantificar a variação da cor de dois cimentos de ionómero de vidro e de uma resina composta, utilizados na prática de odontopediatria, após serem imersos em diferentes agentes pigmentantes.A pigmentação intrínseca resulta de alterações estruturais na composição ou na espessura dos tecidos dentários duros. Esta alteração pode estar presente em apenas um dente ou na totalidade da dentição e pode ser causada durante o desenvolvimento ou após a erupção. A imersão dos materiais restauradores nos diferentes agentes pigmentantes, provocou uma variação de cor significativa das mesmas.
Manchamento dental e técnicas de ClareamentoREIS et al., 2018Acrescentar conhecimentos aos cirurgiões dentistas e acadêmicos de Odontologia a respeito de tipos de descolorações dos dentes e as técnicas de tratamentos clareadores dentais.A estética do sorriso é uma busca importante na Odontologia de hoje e a harmonia de cores dos dentes faz parte desta estética; manchamentos dentários por calcificação distrófica, hipoplasia de esmalte e fluorose dentária não respondem bem ao clareamento, assim o diagnóstico da etiologia é importante na indicação do tratamento estético.
Pigmentação dentária promovida peladieta: o que esperar?DIAS et al., 2018Avaliar o potencial de pigmentação de determinadas bebidas sobre a estabilidade da cor dos elementosdentários.As soluções testadas a coca-cola ® foi a que mais pigmentou a superfície dentária, seguida do vinho tinto, da vodka preta, do café, do chá preto, e por último do leite com chocolate.

Fonte: Autoria própria (2023).

DISCUSSÃO

Em todos os estudos incluídos nesta revisão, notou-se que os autores afirmaram que as alterações dentárias de cor, ou pigmentações, podem ser agrupadas em pigmentações intrínsecas ou extrínsecas. Em que, por via geral, as pigmentações intrínsecas são aquelas que se lançam no interior do dente ou que impactam na estrutura e tecidos dentários, já as pigmentações extrínsecas são aquelas que aparecem sobre a superfície dentária e como decorrência do depósito de substâncias corantes. 

Assim, Reis et al. (2018) afirma que o escurecimento dental acontece por cromóforos (pigmentos) penetrados na estrutura dental pelas mais diversas razões, como traumatismos, medicação intracanal, hemorragias na estrutura interna dos dentes, entre outras causas.

Neste sentido, Amorim et al. (2021) afirma que o manchamento dado por fatores extrínsecos não fazem parte da estrutura dentária, e acontece por conta da alimentação ou dos componentes cromogênicos que cursam a cavidade oral. 

Para Amorim et al. (2021), a mudança de cor dental extrínseca pode acontecer a partir dos seguintes mecanismos: (1) retenção de substâncias pigmentadas, que correm na cavidade oral, à película alcançada e/ou à placa bacteriana; (2) mudança química dos constituintes da placa bacteriana ou película adquirida derivando em componentes cromogênicos; (3) presença de bactérias cromogênicas na placa bacteriana que provocam elementos pigmentados.

Para Corado (2017), a pigmentação extrínseca pode aparecer pela deposição de pigmentos na superfície dentária e película adquirida (ou placa bacteriana), por meio da interação química entre compostos cromogênicos e a superfície dentária. Este tipo de pigmentação está localizada externamente ao dente e os pigmentos cromogêneos podem ser metálicos ou não metálicos.

Corado (2017) destaca que os compostos orgânicos ou não metálicos, incidem de alimentos da dieta ou outras substâncias, como o tabaco. Corado (2017) e Dias et al. (2018) afirmam que alimentos e bebidas como o café, vinho, chá e algumas especiarias, têm na sua composição compostos polifenólicos responsáveis pela cor dos alimentos. Estes têm ligações duplas conjugadas que interatuam e promovem adesão à superfície dentária, acarretando pigmentação com uma coloração semelhante à sua cor natural. 

Neste panorama, Dias et al. (2018) cita as soluções que seu estudo testou, e a coca-cola ® foi a que mais pigmentou a superfície dentária, seguida do vinho tinto, da vodka preta, do café, do chá preto, e por último do leite com chocolate.

Neste contexto, Araújo (2014) destaca que estes pigmentos podem ser encontrados maioritariamente em zonas de difícil higienização, por conta do maior acúmulo de materiais pigmentantes. Entre os materiais responsáveis pela pigmentação tem-se: alimentos com taninos, café, chá, vinho tinto, tabaco, sais de ferro, clorhexidina, entre outros.

Corado (2017) afirma que a generalidade da pigmentação extrínseca exibe uma coloração amarelo acastanhada, resultado da deposição dos cromogéneos da dieta e placa bacteriana, enquanto a pigmentação gerada pelo tabaco está localizada mais frequentemente no terço cervical do dente e exibe uma coloração castanho escuro.

Corado (2017) enfatiza que os compostos metálicos estão relacionados a uma exposição ocupacional ou consumo de alimentos ou fármacos que contenham sais metálicos na sua composição, junto com os antisséticos catiónicos, como a clorhexidina e o cetilpiridíneo, substâncias com capacidade de gerar pigmentação extrínseca. Esta pigmentação acontece de forma indireta, já que a coloração que se dá difere da cor intrínseca do produto. A pigmentação extrínseca pode ser retirada por meio da ação mecânica da profilaxia dentária e controlada pela escovagem diariamente com pasta dentífrica.

Quanto aos fatores intrínsecos, Araújo (2014) cita que a mudança de pigmentação dentária resulta de alterações estruturais na composição ou na espessura dos tecidos dentários duros. Esta alteração pode estar presente em somente um dente ou na totalidade da dentição e pode ser motivada durante o desenvolvimento ou após a erupção.

Amorim et al. (2021) e Reis et al. (2018) citam que eles podem ser congênitos, como nos casos de dentinogênese e amelogênse imperfeita; ou adquiridos, como a fluorose. Podem ser sistêmicos, como doenças metabólicas, ou fatores locais, como o trauma. Além disso, podem ser sucedidos de fatores endógenos, como fontes hereditárias pela Alcaptonúria ou Porfiria Eritropoiética Congênita, ou fatores exógenos, como o uso de trataciclina. O manchamento dental intrínseco pode ser oriundo de uma falha durante ou após as fases da odontogênese, como reabsorção de raiz ou produtos hemorrágicos pulpares.

Araújo (2014) e Reis et al. (2018) concordam, afirmando que a pigmentação intrínseca pode expor como causas doenças metabólicas e fatores sistêmicos que mudam o desenvolvimento dentário e por conseguinte a sua pigmentação. Entre os diversos fatores estão: amelogénese imperfeita, dentinogénese imperfeita, fluorose, hipoplasia de esmalte, tetraciclinas, envelhecimento, trauma, entre outros

CONCLUSÃO 

O objetivo deste artigo foi avaliar através de uma revisão de literatura os fatores que afetam a cor dos dentes, a partir de uma abordagem geral das pigmentações dentárias, e com base nos dados obtidos por meio da revisão realizada, foi possível concluir que a mudança na cor dos dentes pode exibir várias características clínicas conforme seu tipo, extrínseco ou intrínseco, locais ou sistêmicos, endógenos ou exógenos, de origem congênita ou adquirida e acontecendo no período pré ou pós-eruptivo. 

Neste sentido, é muito importante que os cirurgiões dentistas sejam capazes de diagnosticar os vários tipos de manchamento dental, suas etiologias e desta forma, indicar a melhor alternativa de tratamento para o seu paciente, selecionando sempre pela opção mais conservadora.

Pois cabe ao profissional dentista a elaboração de um correto diagnóstico e explicação dos fatos, assinalando soluções a curto e a longo prazo, já que, em várias situações, a idade do paciente pode limitar as alternativas terapêuticas, levando à necessidade de um tratamento definitivo somente quando o seu crescimento tiver terminado, ou seja, na idade adulta. De todo modo, devem ser colocados todos os esforços, ainda que haja limitações inerentes à idade, no sentido de promover uma melhor estética quando esta estiver comprometida.

REFERÊNCIAS

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