“FATORES PREDITIVOS DO ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA”

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202408052245


Marcos Ramon Ribeiro dos Santos Mendes1; Leonel Batista de Lima Neto2; Maria Amélia Gonçalves Carreiro3; Germano Silva Moura4; Antônio Marcos de Carvalho Alencar5; Deilla Patrícia Cardoso Pereira6; Ana Selma Ferreira Ribeiro7; Alany de Sousa Monteiro Belmont8; Fábia de Sá Leal9; Maria Girlândia Gregório de Andrade10


RESUMO

Introdução: O acidente vascular cerebral (AVC) é uma das principais causas de morte e incapacidade globalmente, com um aumento preocupante de 70% na incidência, 85% na prevalência e 43% na mortalidade nas últimas três décadas. Esse crescimento é especialmente notável em países de baixa e média renda, onde as taxas de mortalidade são muito mais altas do que em países de alta renda. Objetivo: O estudo pretende analisar as causas e fatores de risco associados ao AVC por meio de uma revisão integrativa, identificando fatores preditivos e variáveis biológicas, comportamentais e ambientais que influenciam sua incidência. Metodologia: trata-se de uma revisão de literatura que analisa os principais fatores de risco para o AVC com base em artigos dos últimos 10 anos, disponíveis em inglês e português nas bases PubMed, SciELO e BVS.  Resultados e Discussão: A hipertensão arterial é o fator modificável mais significativo, pois afeta todas as artérias cerebrais e aumenta o risco de AVC. A dislipidemia, com altos níveis de colesterol LDL e triglicerídeos, contribui para a aterosclerose, elevando o risco de AVC isquêmico. O diabetes mellitus causa danos nos vasos sanguíneos. O tabagismo e o uso de anticoncepcionais hormonais também são fatores de risco importantes, pois danificam as artérias e promovem a formação de coágulos. Além disso, a migrânea, especialmente com aura, está associada a um risco aumentado de AVC isquêmico devido a vasoespasmos e hiperexcitabilidade neuronal. Conclusão: Este estudo evidenciou a hipertensão arterial, a dislipidemia e o diabetes mellitus como principais fatores de risco para acidentes vasculares cerebrais. Também foram destacados o tabagismo e o uso de anticoncepcionais hormonais como contribuintes significativos para o risco de AVC. A adoção de medidas de controle e ações educativas para gerenciar esses fatores é fundamental para reduzir a incidência de AVC e suas graves consequências.

PALAVRAS-CHAVE: Etiologia; acidente vascular cerebral isquêmico; fatores de risco.

ABSTRACT

Introduction: Stroke is one of the leading causes of death and disability globally, with a worrying increase of 70% in incidence, 85% in prevalence and 43% in mortality in the last three decades. This growth is especially notable in low- and middle-income countries, where mortality rates are much higher than in high-income countries. Objective: The study aims to analyze the causes and risk factors associated with stroke through an integrative review, identifying predictive factors and biological, behavioral and environmental variables that influence its incidence. Methodology: this is a literature review that analyzes the main risk factors for stroke based on articles from the last 10 years, available in English and Portuguese in the PubMed, SciELO and VHL databases.  Results and Discussion: High blood pressure is the most significant modifiable factor, as it affects all cerebral arteries and increases the risk of stroke. Dyslipidemia, with high levels of LDL cholesterol and triglycerides, contributes to atherosclerosis, increasing the risk of ischemic stroke. Diabetes mellitus causes damage to blood vessels. Smoking and the use of hormonal contraceptives are also important risk factors, as they damage arteries and promote the formation of clots. Furthermore, migraine, especially with aura, is associated with an increased risk of ischemic stroke due to vasospasms and neuronal hyperexcitability. Conclusion: This study highlighted high blood pressure, dyslipidemia and diabetes mellitus as the main risk factors for stroke. Smoking and the use of hormonal contraceptives were also highlighted as significant contributors to stroke risk. The adoption of control measures and educational actions to manage these factors is essential to reduce the incidence of stroke and its serious consequences.

KEYWORDS: Etiology; ischemic stroke; risk factors.

INTRODUÇÃO

O acidente vascular cerebral (AVC) é uma preocupação significativa de saúde pública, destacando-se como a segunda principal causa de morte e a terceira principal causa de incapacidade em todo o mundo. Nas últimas três décadas, observou-se um aumento alarmante de 70% na incidência de AVC, 85% na prevalência e 43% na mortalidade. Esses dados indicam que o impacto do AVC continua a crescer, afetando milhões de pessoas em todo o mundo, independentemente de sua localização geográfica (OWOLABI et al. 2022).

Esse aumento é especialmente notável em países de baixa e média renda, onde as taxas de mortalidade por AVC são significativamente mais altas em comparação com países de alta renda. Em 2019, por exemplo, a taxa de mortalidade padronizada por idade nesses países foi 3,6 vezes maior. Além disso, o crescimento na incidência e prevalência de AVC em pessoas com menos de 70 anos sugere que fatores de risco, além da idade avançada, estão se tornando cada vez mais relevantes. As mudanças ambientais em nível local, regional e global também contribuem para esse aumento, com condições desfavoráveis prevalecendo em muitos desses países, exacerbando a carga do AVC (GLOBAL BURDEN OF DISEASE STROKE COLLABORATORS, 2021).

O objetivo deste estudo é explorar e sintetizar o conhecimento existente sobre as causas e os fatores de risco associados ao AVC. Através de uma revisão integrativa, o estudo busca identificar os principais fatores preditivos que contribuem para a ocorrência de AVC, bem como analisar as variáveis biológicas, comportamentais e ambientais que podem influenciar a sua incidência. Além disso, pretende-se mapear as lacunas no conhecimento atual e destacar as áreas que requerem mais pesquisa, com o intuito de fornecer uma base científica sólida para o desenvolvimento de estratégias eficazes de prevenção e tratamento do AVC.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão de literatura sobre os principais fatores de risco para o Acidente Vascular Cerebral, utilizando artigos publicados nos últimos 10 anos e suas fontes em inglês e português, abrangendo diversos tipos de estudos. A busca foi realizada nas bases de dados PubMed, SciELO e BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), utilizando os seguintes descritores: Etiologia; acidente vascular cerebral; fatores de risco

Foram incluídos artigos com texto completo disponíveis gratuitamente, publicados nos últimos 10 anos. Excluíram-se os estudos não disponíveis em inglês ou português, os que não estavam diretamente relacionados ao tema proposto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é identificada como o principal fator de risco modificável para acidentes vasculares cerebrais (AVC), tanto hemorrágicos quanto isquêmicos. Controlar efetivamente a HAS é crucial para a prevenção de AVCs, e isso pode ser realizado através de intervenções na atenção primária à saúde. A HAS afeta todas as artérias cerebrais, incluindo aquelas de grande, médio e pequeno calibre, frequentemente resultando em aterosclerose devido ao comprometimento das camadas íntima e média das artérias. Pesquisas indicam que a incidência de AVC aumenta diretamente com a elevação das pressões arteriais sistólica e diastólica, e que pessoas hipertensas têm um risco de AVC aproximadamente quatro vezes maior do que aquelas com pressão arterial normal na mesma faixa etária. Portanto, estratégias eficazes para o controle da HAS, incluindo mudanças no estilo de vida e tratamento medicamentoso, são fundamentais para reduzir o risco de AVC e suas consequências graves (ARAUJO et al., 2017).

A dislipidemia, caracterizada por níveis anormais de lipídios no sangue, é outro importante fator de risco para doenças cardiovasculares, incluindo o AVC. A presença de altos níveis de colesterol LDL (lipoproteína de baixa densidade) e triglicerídeos, combinada com baixos níveis de colesterol HDL (lipoproteína de alta densidade), contribui para a formação de placas de ateroma nas paredes arteriais. Esse processo de aterosclerose pode levar ao estreitamento e endurecimento das artérias, comprometendo o fluxo sanguíneo cerebral e aumentando significativamente o risco de AVC isquêmico. Assim como no caso da hipertensão arterial sistêmica, a prevenção e o controle da dislipidemia são essenciais para a redução do risco de AVC. Medidas eficazes incluem mudanças no estilo de vida, como uma dieta balanceada e a prática regular de exercícios físicos, além de tratamento farmacológico quando necessário. A detecção precoce e o manejo adequado da dislipidemia podem diminuir substancialmente a probabilidade de eventos cardiovasculares adversos, incluindo o AVC (ARAUJO et al., 2017).

O diabetes mellitus também é um fator de risco significativo para diversas complicações cardiovasculares. A condição, caracterizada por níveis elevados de glicose no sangue devido à insuficiência de produção ou ação da insulina, pode levar a danos nos vasos sanguíneos ao longo do tempo. Esses danos promovem a aterosclerose, o que resulta no endurecimento e estreitamento das artérias, dificultando o fluxo sanguíneo adequado para o cérebro e aumentando o risco de AVC isquêmico. Além disso, o diabetes pode contribuir para a hipertensão arterial e dislipidemia, ambos também fatores de risco para o AVC. O manejo eficaz do diabetes envolve monitoramento regular dos níveis de glicose, adoção de uma dieta saudável, prática de atividade física e, quando necessário, uso de medicamentos. Controlar o diabetes é crucial não apenas para prevenir complicações imediatas, mas também para reduzir o risco de eventos cardiovasculares a longo prazo, incluindo o AVC (TRICHES et al., 2009).

O tabagismo é outro fator de risco significativo para o AVC e outras doenças cardiovasculares. Substâncias presentes no cigarro, como a nicotina e o monóxido de carbono, danificam as artérias, promovendo a aterosclerose e aumentando a formação de coágulos, o que compromete o fluxo sanguíneo cerebral e eleva o risco de AVC isquêmico. Além disso, o tabagismo eleva a pressão arterial e reduz os níveis de colesterol HDL, agravando o risco cardiovascular. Abandonar o tabagismo é crucial para reduzir o risco de AVC, com programas de apoio e tratamentos específicos desempenhando um papel fundamental nesse processo (FRONZA et al., 2011).

O uso de anticoncepcionais hormonais pode aumentar o risco de AVC, especialmente em mulheres que já possuem outros fatores de risco. Os anticoncepcionais, particularmente aqueles que contêm estrogênio, podem promover a formação de coágulos sanguíneos e aumentar a pressão arterial, contribuindo para o risco de AVC isquêmico. É essencial que as mulheres que optam por usar anticoncepcionais hormonais discutam com seus médicos os potenciais riscos e benefícios, considerando seu perfil de saúde individual. Alternativas de contracepção e estratégias para minimizar riscos, como parar de fumar e controlar a pressão arterial, devem ser exploradas para garantir uma abordagem segura e eficaz à prevenção da gravidez (CASTRO et al., 2024).

Migrânea e doenças vasculares cerebrais podem coexistir, tanto durante as crises quanto nos períodos sem sintomas, e a migrânea com aura é particularmente associada a um risco elevado de acidente vascular cerebral isquêmico, especialmente em mulheres com menos de 35 anos. A aura é caracterizada por um conjunto de sintomas neurológicos focais que surgem de maneira gradual, em um intervalo de 5 a 20 minutos, e desaparecem em menos de uma hora, ocorrendo antes ou no início da fase dolorosa da migrânea. Apesar do reconhecimento da condição, a compreensão completa de sua fisiopatologia ainda não é clara e muitas questões fundamentais permanecem sem resposta (BIGAL, 2011).

Os episódios de vasoespasmos associados à aura da migrânea são considerados um possível mecanismo para a ocorrência de AVC. Migrânea e AVC têm em comum sintomas como déficits neurológicos e cefaleia, e os sintomas da migrânea podem às vezes imitar ataques isquêmicos transitórios. A principal complicação da migrânea é a dismodulação central hereditária, que leva à hiperexcitabilidade neuronal. Além disso, lesões isquêmicas cerebrais, especialmente nas regiões posteriores do cérebro, são mais frequentes em indivíduos com migrânea com aura, e o risco aumenta com a frequência das crises. Vários fatores contribuem para o aumento dos eventos vasculares associados à migrânea, incluindo aterosclerose, maior tendência à trombose, alterações cardíacas e redução do calibre dos vasos durante as crises (BARON & TEPPER, 2010; MARTINS et al., 2010).

CONCLUSÃO

Este estudo abordou os principais fatores de risco associados aos acidentes vasculares cerebrais, destacando a hipertensão arterial, a dislipidemia e o diabetes mellitus como condições de grande importância. A hipertensão, em particular, se revela um fator modificável crucial para a prevenção de AVCs, devido à sua forte associação com o aumento do risco de eventos isquêmicos e hemorrágicos. Da mesma forma, a dislipidemia e o diabetes mellitus, que comprometem a integridade dos vasos sanguíneos, são fatores que contribuem significativamente para o risco de AVC. O controle eficaz desses fatores por meio de intervenções apropriadas pode reduzir substancialmente o risco de eventos vasculares.

Além disso, outros fatores como o tabagismo e o uso de anticoncepcionais hormonais também desempenham um papel relevante na incidência de AVC. O tabagismo agrava o risco cardiovascular e, portanto, seu abandono é essencial para a prevenção desta patologia. O uso de anticoncepcionais hormonais pode aumentar o risco, especialmente quando combinado com outros fatores de risco. Portanto, é fundamental promover ações educativas e estratégias de manejo eficazes para todos esses fatores modificáveis, com o objetivo de minimizar a incidência de AVC e suas consequências graves, como incapacidades neurológicas e morte.

REFERÊNCIAS

OWOLABI, M. O.; THRIFT, A. G.; MAHAL, A.; et al. Prevenção de AVC primário em todo o mundo: traduzindo evidências em ação. Lancet Saúde Pública, v. 7, n. 1, p. e74-e85, 2022.

GLOBAL BURDEN OF DISEASE STROKE COLLABORATORS. Carga global, regional e nacional de acidente vascular cerebral e seus fatores de risco, 1990-2019: uma análise sistemática para a carga global do estudo da doença em 2019. Lancet Neurology, v. 20, p. 795-820, 2021.

ARAUJO, Layse Pereira Gonçalves de; SOUZA, Glauce Soares de; DIAS, Paola de Lucas Ribeiro; NEPOMUCENO, Rodrigo Miranda; COLA, Cláudio dos Santos Dias. Principais fatores de risco para o acidente vascular encefálico e suas consequências: uma revisão de literatura. Revista Interdisciplinar do Pensamento Científico, Itaperuna, v. 1, n. 3, p. 283-296, jan./jun. 2017. Disponível em: http://dx.doi.org/10.20951/2446-6778/v3n1a20. Acesso em: 03 de jun. 2024.

TRICHES, C et al. Complicações macrovasculares do diabetes mellitos: peculiaridades clínicas, de diagnóstico e manejo. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia, v. 53, n. 6, p. 698-708, 2009.

FRONZA, A. B et al. Associação entre funções da via auditiva eferente e genotoxicidade em adultos jovens. Braz. j. otorhinolaryngol. (Impr.), São Paulo, v. 77, n. 1, p. 107-114, fev. 2011.

CASTRO, Franciane Soares Mendes de et al. Perspectivas atuais sobre a relação entre pílulas anticoncepcionais e tromboembolismo venoso: uma revisão integrativa. Ciências da Saúde, v. 28, n. 131, p. 1-15, fev. 2024. DOI: 10.5281/zenodo.10612202.

BARON, E. P; TEPPER, S. J. Revisiting the role of ergots in the treatment of migraine and headache. Headache, Ohio, EUA, v. 50, p. 1353-1361, 2010.

BIGAL, M. E. Migraine and cardiovascular disease. Arq. Neuro-Psiquiatr. vol. 69 no.1 São Paulo, Fev, 2011.

MARTINS, L. N et al. Migrânea com Aura, Qualidade de Vida e Tratamento: um relato de caso. Rev. de Saúde, Vassouras, v. 1, n. 1, p. 15-24, jan./mar., 2010.


1Acadêmico de Medicina da Faculdade Estácio Idomed de Juazeiro da Bahia. Enfermeiro, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF. https://orcid.org/0000-0001-9176-6797
2Enfermeiro, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF. https://orcid.org/0009-0002-2448-1382
3Enfermeira, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF. https://orcid.org/0009-0008-7518-9537
4Enfermeiro, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UFMA. https://orcid.org/0009-0009-2602-424X
5Enfermeiro, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF. https://orcid.org/0009-0009-7279-7622
6Enfermeira, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF. https://orcid.org/0009-0006-4719-8466
7Enfermeira, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UFMA. https://orcid.org/0000-0002-8319-2401
8Enfermeira, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF.  https://orcid.org/0009-0002-7131-9097
9Enfermeira, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF. https://orcid.org/0000-0002-3677-7511
10Enfermeira, EBSERH – Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares/HU UNIVASF. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8905-486x