REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202409181306
Maria Fernanda de Siqueira Oliveira Nunes1
Maria Jacqueline Alves Nunes da Silva2
Viviane Maria Moraes de Oliveira3
RESUMO: Este estudo teve como objetivo pesquisar a influência do ballet clássico na autoestima das mulheres adultas e as razões que levam esse público a procurar essa modalidade como atividade. A pesquisa, com 19 mulheres praticantes de ballet clássico e idades entre 16 e 70 anos, utilizou a “Escala de Autoestima-EAR”, de Rosemberg e foi aplicado o questionário “Inventário de motivação à prática regular de atividade física e esportiva” (IMPRAFE-126). Verificou-se que a maioria das alunas pesquisadas – 57,9% – possuem autoestima normal e 42,1% foram classificadas com baixa autoestima. O fator relevante para a procura dessa modalidade se revelou na capacidade física funcional e foi revelada uma diferença significativa no âmbito da competitividade que teve média mais elevada nas praticantes abaixo de 30 anos. O estudo conclui que o fator idade teve importância apenas sobre a autoestima e a competitividade. Já a busca pelo prazer foi o motivo mais expressivo.
PALAVRAS-CHAVE: Motivação. Autoestima. Ballet.
ABSTRACT: This study aimed to investigate the influence of classical ballet on the self-esteem of adult women and the reasons that lead this public to seek this modality as an activity. The research, with 19 women who practice classical ballet and ages between 16 and 70 years old, used the Rosemberg’s “Self-Esteem Scale” and the questionnaire “Inventory of motivation for the regular practice of physical and sports activity” (IMPRAFE-126) was applied. It was found that most of the students surveyed – 57.9% – have normal self-esteem and 42.1% were classified as having low self-esteem. The relevant factor for the search for this modality was revealed in the functional physical capacity and a significant difference was revealed in terms of competitiveness, which had a higher average in practitioners under 30 years of age. The study concludes that the age factor was only important on self-esteem and competitiveness. The search for pleasure was the most expressive reason
KEYWORDS: Motivation. Self Steem. Ballet.
Introdução
O ballet clássico é uma modalidade artística que apresenta uma tradição histórica de mais de 500 anos. Sua técnica consiste em posições e movimentos elaborados e codificados baseados em uma exigência estética estabelecida especialmente durante o período Renascentista (VAGANOVA, 1969). Também se trata de uma atividade que exige de seus praticantes o desenvolvimento de muitas habilidades físicas em busca de uma perfeição para a execução dos passos e movimentos específicos (MOLLER; MASHARAWI, 2011). Embora esse estilo de dança tenha passado por algumas transformações ao longo da história, a maioria de suas características se mantém – a imposição da perfeição técnica, a manutenção da estética dos movimentos, o encanto e suavidade dos gestos, além da interpretação dos personagens (AMARAL,2009 apud LEAL et al., 2020, p. 171).
Através de suas características, o ballet mantém uma relação que beneficia o praticante em alguns aspectos (SILVA, 2018). Segundo Gonçalves e Vilarta (2004) a dança, mais precisamente o ballet clássico, envolve quesitos indispensáveis no planejamento de um exercício físico, pois consegue unir potência, força, flexibilidade, coordenação, equilíbrio e resistência. Nanni (2005) afirma ainda que a prática da dança é de fundamental relevância no sentido de fundamentar/expandir a consciência corporal, ancorando no jogo especular o autoconhecimento para o desenvolvimento da personalidade do ser e estimulando, nele, a concretização da autoestima.
Por outro lado, Schafle (1996) apud Leal et al. (2020, p. 171), destaca que o resultado das imposições que caracterizam a prática do ballet, excede o entendimento da técnica, sendo o fomento essencial que leva, muitas vezes, ao desenvolvimento de desvio da imagem corporal e baixa autoestima em bailarinas, recorrentemente pressionadas a se manterem esguias e atingirem melhores níveis de desempenho físico.
A autoestima é entendida como uma percepção avaliativa que cada pessoa tem sobre si mesma, uma maneira de ser, segundo a qual a própria pessoa tem ideias sobre si, que podem ser positivas ou negativas (MOSQUERA & STOBAUS, 2006). Ainda sobre o mesmo tema, Agostini (2010) apud Leal et al. (2020, p. 171) afirma que a relação de cada um com seu corpo apoia-se sobre duas bases de comparação imagética: uma oferecida pelos espelhos que cercam a bailarina e outra difundida pela mídia a que ela está exposta ao sair do seu espaço de prática.
Embora tradicionalmente a prática do ballet clássico tenha sido mais requisitada por crianças, especialmente meninas, ainda muito jovens (MOLLER & MASHARAWI, 2011), observa-se hoje que a aderência por mulheres que iniciam a prática no ballet clássico após atingir a idade adulta tem sido cada vez maior (OLIVEIRA & LOPES, 2020). Muitas vezes a busca dessas mulheres pela atividade dialoga com a vontade de ter uma prática corporal associada à arte, inspirando-se não somente pelo movimento, mas por valores ligados ao imaginário do ballet clássico (ALENCASTRO & PINTO, 2015). O aumento da busca desse público por esse tipo de dança parece ainda ser um fenômeno que comunga com a busca por uma atividade que proporcione à mulher integrar-se a um grupo social, além de se sentir bem consigo (OLIVEIRA & LOPES, 2020). Para Shibukawa et al. (2011), os laços sociais construídos durante a prática de dança, constitui o arcabouço motivacional do indivíduo (SHIBUKAWA, et al. 2011). Compreendendo-se a partir de Gonçalves e Alchierri (2010) que a motivação para a prática de qualquer exercício é a base determinante para conhecer a escolha da modalidade, adesão e desistência da mesma.
Essas questões nos levam a refletir se, mesmo com a cobrança pela execução técnica refinada e o histórico de exigência por um padrão corporal específico em bailarinas, seria possível às mulheres praticantes de ballet clássico, a partir da experimentação de seus corpos e suas possibilidades de movimento, e da socialização proporcionada por essa atividade, criar novas maneiras de lidar com sua autoestima, contribuindo para uma imagem positiva sobre si mesmas, de modo a cooperar para que estas se sintam motivadas a aderir e permanecer nessa prática.
A pesquisa se justifica pela lacuna existente de estudos teóricos envolvendo a prática de ballet clássico por mulheres que iniciaram ou retornam à essa atividade na idade adulta, fenômeno relativamente recente que necessita de maiores investigações. Ademais, a compreensão acerca da autoestima de mulheres praticantes de ballet bem como fatores motivacionais que envolvem a prática dessa atividade por esse público pode contribuir para oportunizar intervenções mais eficazes envolvendo o ballet clássico enquanto atividade para essa população. Diante disso, esse estudo visa verificar o nível de autoestima de mulheres praticantes de ballet clássico e identificar os fatores que as motivam a aderir a essa modalidade de dança”.
Métodos
O estudo se caracterizou como uma pesquisa de abordagem quantitativa de delineamento descritivo.
A amostra por conveniência, realizada entre os meses de abril e maio de 2022, teve por competência mulheres devidamente matriculadas em estúdios ou escolas de dança no município de Caruaru-PE, que retornaram e/ou começaram a praticar ballet clássico após completados 18 anos.
Foram incluídas mulheres que praticam ballet clássico por um período mínimo de 3 meses e que retornaram ou começaram a praticar a atividade após completados 18 anos de idade. Não fizeram parte aquelas que praticam ballet como atividade profissional ou remunerada.
Foi utilizada a “Escala de Autoestima – EAR”, desenvolvido por Rosemberg em 1965, tendo adaptação cultural no Brasil e validação da versão brasileira em 2004 (DINI et al., 2004). Esse instrumento é conceituado como uma ferramenta unidimensional capaz de qualificar o nível de autoestima e possui dez questões fechadas sobre autoaceitação e autoestima global, sendo seis referentes a uma visão positiva de si mesmo, e quatro a uma visão autodepreciativa. As opções de resposta que o instrumento traz estão em um formato de escala tipo Likert de quatro pontos, sendo eles: concordo totalmente, concordo, discordo e discordo totalmente. O próprio instrumento gerou um escore que vai de zero a 30 pontos, onde quanto mais perto de 30 menor é o nível de autoestima, e quanto mais perto de zero, maior é o nível de autoestima (DINI et al., 2004). A variável autoestima aparece no estudo dicotomizada, em alta autoestima (zero a 10 pontos) e baixa autoestima (11 a 30 pontos).
Foi aplicado ainda o questionário “Inventário de motivação à prática regular de atividade física e esportiva” (IMPRAFE-126), que tem como objetivo avaliar seis das possíveis dimensões que podem ser associadas à motivação para a prática de atividades físicas de maneira regular (BALBINOTTI & BARBOSA, 2008). Possuindo 120 itens agrupados seis a seis, podendo se observar uma seqüência: primeiro bloco de seis apresenta questões relativas à dimensão motivacional, controle de estresse (CE), o segundo se trata de Saúde (Sa) a terceira Sociabilidade (So), a quarta Competividade (Co), a quinta relata sobre Estética (Es) e por último, a sexta aborda aspectos sobre Prazer (Pr). Esse modelo foi repetido no segundo bloco, que possui seis questões, até completar vinte blocos, e o bloco 21 é composto por seis questões repetidas. Seu objetivo é verificar um grau de concordância acordada entre a primeira e a segunda resposta ao mesmo item. As respostas do inventário foram dadas conforme a escala bidirecional de tipo Likert (BALBINOTTI & BARBOSA, 2008).
As mulheres foram abordadas nas escolas de dança, após autorização concedida por esses locais. O objetivo da pesquisa foi explicado e perguntado quem desejaria participar voluntariamente. As que aceitaram participar assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e, em seguida, responderam aos questionários.
O estudo foi aprovado pelo comitê científico e de ética da Universidade Tabosa de Almeida Asces-UNITA (CAEE: 56105622.8.0000.5203). Para garantir a ética foi aplicado o Termo De Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) às participantes e todos os procedimentos que se referem em pesquisa as Resoluções nº 466 de 12 de dezembro de 2012. Destaca-se que os objetivos das análises foram explicados previamente, bem como a participação voluntária das praticantes, sendo-lhes assegurados o anonimato e a confidencialidade de suas respostas. No preenchimento do formulário poderia haver o risco de incômodo ou inconveniente de investimento do tempo da avaliada. Para minimizar esse risco foi explicado que elas têm liberdade para se esquivar de perguntas e se negar a respondê-las, a qualquer momento.
Análise de dados
Os dados foram analisados descritivamente por meio de frequências absolutas e percentuais para as variáveis categóricas e das medidas: média, desvio padrão (média ± DP) e mediana e os percentuais 25 e 75 (mediana (P25; P75) para as variáveis numéricas.
Para avaliar a associação entre duas variáveis categóricas foi utilizado o teste Exato de Fisher (desde que a condição para utilização do teste Qui-quadrado não foi verificada). Para a comparação entre duas categorias em relação às variáveis numéricas foi utilizado: teste t-Student para amostras independentes com variâncias iguais, teste t-Student para amostras independentes com variâncias desiguais ou teste de Mann-Whitney. O grau da relação entre duas variáveis numéricas foi avaliado pelo coeficiente de correlação de Pearson ou de Spearman com o uso do teste t-Student específico para a hipótese de correlação nula.
A escolha dos testes t-Student e o coeficiente de correlação de Pearson ocorreram nas situações que os dados apresentaram distribuição normal e os testes de Mann-Whitney e da correlação de Spearman foi devido à ausência de normalidade A verificação da normalidade foi realizada pelo teste de Shapiro-Wilk e a igualdade de variâncias pelo teste F de Levene.
A margem de erro utilizada na decisão dos testes estatísticos foi de 5%. Os dados foram digitados na planilha EXCEL e o programa utilizado para obtenção dos cálculos estatísticos foi o IMB SPSS na versão 25.
Resultados
A idade dos pesquisados variou de 16 a 70 anos, teve média de 33,63 anos, desvio padrão de 14,25 anos e mediana de 33,00 anos.
Na Tabela 1 estão os resultados relativos às características da amostra no grupo total. Desta tabela se ressalta que: um pouco mais da metade (52,6%) tinha 30 anos ou mais e os 47,4% restante tinha até 29 anos; a maioria (63,2%) tinha até 5 anos de prática de atividade; a maioria (84,2%) tinha até três horas de práticas semanais; mais da metade (57,9%) foi classificada com autoestima normal e os 42,1% demais com baixa autoestima.
Tabela 1 – Características da amostra no grupo total
Na Tabela 2 apresentam-se as estatísticas das dimensões do IMPARF. Desta tabela se enfatiza que: a média e mediana foram mais elevadas na dimensão prazer (média de 40,16 e mediana 44,00), foram menos elevadas na dimensão competitividade (média de 20,05 e mediana 20,00) e nas outras dimensões listadas as médias variaram 29,11 a 35,79 e as medianas de 30,00 a 36,00. Exceto na dimensão competitividade que apresentou variabilidade razoavelmente elevada, com desvio padrão superior a metade da média correspondente, nas demais variáveis a variabilidade foi baixa desde que o referido valor foi inferior a 1/3 das médias correspondentes.
Tabela 2 – Estatística das dimensões motivacionais (IMPARF) e escore de autoestima
Na Tabela 3 encontram-se os cruzamentos entre autoestima com as variáveis relativas ao perfil da amostra. Para a margem de erro ficada (5%) não foram registradas associações significativas (p > 0,05) entre autoestima e as variáveis analisadas.
Tabela 3 – Avaliação da classificação da autoestima segundo o perfil da amostra
Nas Tabelas 4 e 5 apresentam-se as estatísticas das dimensões motivacionais e de autoestima segundo cada uma das variáveis: faixa etária e tempo de prática e na Tabela 5 estatísticas das dimensões segundo a categoria da autoestima.
Na Tabela 4 a dimensão competitividade foi única variável com diferença significativa entre as faixas etárias e nesta variável se verifica que a média e mediana foram mais elevadas na faixa até 29 anos do que na faixa 30 anos ou mais (médias de 25,33 x 15,30 e medianas 29,00 x 10,50).
Tabela 4 – Estatística das dimensões motivacionais (IMPARF) e escore de autoestima segundo a faixa etária
Não foram registradas diferenças significativas (p > 0,05) entre as duas faixas de tempo de prática para nenhuma das dimensões motivacionais e autoestima.
Tabela 5 – Estatística das dimensões motivacionais (IMPARF) e escore de autoestima segundo o tempo de prática
Na Tabela 6 não foram registradas diferenças significativas (p > 0,05) entre os pesquisados classificados com baixa autoestima ou autoestima normal para nenhuma das dimensões motivacionais.
Tabela 6 – Estatística das dimensões motivacionais (IMPARF) segundo a classificação da autoestima
Na Tabela 7 estão os valores das correlações entre os escores da autoestima e das dimensões motivacionais. Nesta tabela não foram registradas associações significativas (ou estatisticamente diferentes de zero) entre os escores da autoestima e os valores das dimensões motivacionais.
Tabela 7 – Correlação de Spearman e Pearson entre o escore de autoestima e os valores das dimensões motivacionais (IMPARF)
Discussão
Este estudo buscou compreender como/se a prática de ballet clássico por mulheres que iniciaram ou retornam à essa atividade na idade adulta influencia na sua autoestima bem como os fatores motivacionais que envolvem a prática dessa atividade. Observou-se que 52,6% – mais da metade das alunas – com idades de 30 ou mais, apresentou um grau de autoestima considerada normal. Esse resultado também foi encontrado em estudo de BARRETOL et. al., 2011, com idosas, o qual concluiu que a autoestima, bem como a atenção dada à estética corporal pouco influenciaram sobre a adesão à dança a longo prazo. O estudo revelou que Pezdec et. al. 2022 concluiu que, os idosos praticantes de dança perceberam melhoras em suas condições de prazer, atratividade, saúde e emancipação, e, consideravelmente, em sua capacidade corporal e aumento da sua autoestima.
Agostini (2010) apud Leal et al. (2020, p.171) relata que bailarinas clássicas ocupam uma posição de fragilidade extrema em razão de sofrerem influências por todos os lados, como de professores, mídia e, principalmente, delas próprias. Mas, nas aulas de ballet clássico, o prazer pode ser definido como uma “massagem para a alma”, sendo uma satisfação única e individual (SILVA, 2018)
Para Teixeira et. al., (2019) ao introduzir essa modalidade como atividade física na idade adulta, a praticante tem vários ganhos físicos, mas a complexidade desse momento da vida – com as responsabilidades, incertezas e inseguranças que influenciam o cotidiano e exigem uma rápida adaptação – tornam o ballet um apoio essencial para a construção da autoimagem e elevação da autoestima. A sua prática transforma a mulher em uma pessoa mais forte e com mais coragem para enfrentar as dificuldades diárias tanto no lado profissional quanto no pessoal, tornando-a mais resiliente perante os desafios.
No que se refere às dimensões motivacionais, o prazer obteve média maior que os outros itens estudados, seguido pelo controle do stress, pela manutenção da saúde, da estética, a sociabilidade e, por último, a competitividade. Silva (2018) fala em seu estudo: os momentos que o público adulto mais sente prazer nas aulas de ballet clássico são os momentos que mais se aproximam do dançar dentro da técnica clássica e na sua pesquisa uma das entrevistadas relata “A parte do solo e do centro é bom, que é a parte mais dançada” (Entrevistada Nº 14; 2018).
Para Oliveira e Lopes (2020) a necessidade de se sentir inserido em um grupo social constitui uma questão motivacional relevante para os praticantes de ballet na idade adulta.
Maraz, et. al. (2015) concluiu, em seu estudo, que o aprimoramento do humor foi um fator motivacional importante seguido pela intimidade, socialização, transe, domínio, autoconfiança e escapismo para a prática da dança social recreativa. Tal questão também se revelou importante no atual estudo, visto que a sociabilidade apresentou valores relevantes em todas as faixas etárias pesquisadas.
O fator relevante à adesão à prática de dança se revelou na capacidade física funcional, sendo este o único fator relacionado a esta variável, seguido pelo interesse em praticar a dança, segundo Barreto et al. (2011). Fatores como controle do estresse, manutenção da saúde e aprimoramento da estética apresentaram médias consideráveis na pesquisa realizada.
No entanto, o artigo intitulado “Imagem Corporal de Adolescentes e Adultos Jovens Praticantes de Dança”, Silva, et. al., (2022) conclui que adolescentes são mais propensos à insatisfação com sua imagem corporal. Pois de acordo com a mudança de padrões corporais as pessoas tendem a buscar uma forma de se encontrar em outros modelos, podendo causar insatisfação consigo mesmos.
No questionamento acerca da estética, não houve diferença significativa em relação às idades das entrevistadas, ficando este quesito com uma média entre 31,56 e 28,40, nas idades de até 29 anos e a partir dos 30 anos, respectivamente.
Além disso, Lira (2017) destaca que o praticante do ballet na idade adulta tem a vantagem de frequentar as aulas por motivação própria, e não por imposições externas – parentes, amigos, beleza entre outros. Fux (1983) aponta que o aluno adulto normalmente inicia suas aulas de dança com desconfiança e se questionando sobre a sua capacidade de se comunicar através do movimento.
A dança é uma atividade física que dá sensação de bem-estar e de estímulos para o indivíduo que a prática. Essa prática de atividade faz com que a pessoa tenha mais motivação, autoestima e autodeterminação (CASTRO, WLHLIG e SÁ; 2019).
Nas dimensões pesquisadas dentro das faixas etárias foi identificado que apenas uma das variáveis teve diferença significativa. A competitividade teve média e mediana mais elevada na faixa de até 29 anos. No entanto, todas as outras se mantiveram entre a média e mediana no que se refere à idade.
Conclusão
Os testes foram realizados com uma amostra composta por 19 mulheres, praticantes de ballet clássico com idades entre 16 e 70 anos; sendo que um pouco mais da metade (52,6%) tinha 30 anos ou mais, e 47,4% tinham até 29 anos, com até 5 anos de prática na maioria e três horas semanais dessa atividade.
O fator idade se revelou importante nos âmbitos da autoestima e da competitividade, pois a maioria que apresentou autoestima normal tinha 30 anos ou mais. De forma inversa, se revela o item competitividade no qual quanto menor a idade mais competitivas elas se revelaram.
A faixa etária não foi relevante para a apuração das demais dimensões motivacionais – controle do estresse, saúde, sociabilidade, estética e prazer, sendo que, esse último item se sobressaiu em relação aos demais. A busca pelo prazer foi um fator importante na motivação para a prática dessa modalidade.
No que se refere às dimensões motivacionais em relação à autoestima vimos que são significantes as seguintes variáveis na respectiva ordem: prazer, controle do estresse, saúde, estética, sociabilidade e competitividade para a faixa etária até 29 anos. Já para as praticantes de 30 anos ou mais, a ordem ficou: prazer, controle do estresse, saúde, sociabilidade, estética e competitividade.
Assim, no estudo realizado não se verificou influência significativa da autoestima. Já a busca pelo prazer é o elemento mais relevante na busca por essa modalidade. É possível que o tamanho da amostra tenha sido uma limitação do presente estudo, e sugere-se sua continuidade com uma amostra de tamanho maior, a fim de melhor elucidar as questões referentes à autoestima e aos fatores motivacionais que envolvem a prática de ballet por mulheres adultas.
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1 Graduada em Direito (Associação Caruaruense de Ensino Superior – Caruaru-PE E-mail: fernandasiqueiranunes@gmail.com
2 Graduada em Licenciatura em Educação Física (FADIMAB) – Goiana- PE. E-mail: jacquelinenunesesilva@gmail.com
1,2,3(Faculdade IDE)