FATORES INFLUENCIADORES CONCERNENTES À ESCOLHA DA VIA DE PARTO PELAS GESTANTES

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11227325


Camila Aparecida Pereira Reis1
Ana Leticia Carnevalli Motta2
Ana Luísa de Figueiredo3


RESUMO

O processo de gestar e parir é um fenômeno fisiológico na vida da mulher e de sua família, sendo o avanço científico e tecnológico nos hospitais uma influência para as mudanças nas concepções sobre o parto e o nascimento, estando a via natural sendo substituída pela cirúrgica. A escolha da via de parto torna-se de fundamental para a saúde da gestante e do bebê, e a tomada de decisão em relação a escolha desta via, sofre influência de diversos fatores. Trata-se de estudo qualitativo, descritivo e transversal, realizado em uma Unidade de Atenção Primária à Saúde do município de Varginha – MG, que objetivou verificar quais fatores influenciam as gestantes na escolha da via de parto e qual a importância do profissional enfermeiro acerca desta temática. Os dados foram coletados, por meio de entrevista individual com 22 gestantes, utilizando de questionário impresso, contendo 11 questões pertinentes ao assunto. Das gestantes entrevistadas, 54% das mulheres preferem a opção pela via cirúrgica (cesárea), 32% desejam a via normal e 14% não sabem ainda. Das que preferem a via cesárea, a maioria apontou o medo como fator principal de influência para sua escolha e as que dizem preferir o parto normal, apresenta a recuperação pós parto como fator de maior peso. O estudo também aponta que o profissional enfermeiro tem grande destaque e importância para a gestante neste momento de vida em que se encontra. Diante disso, sugere- se que ações de educação em saúde para com esta população, promovendo maior proximidade dos profissionais e disseminação de informações corretas, pode ofertar maior segurança e conhecimento, permitindo que esta escolha seja mais consciente, segura e satisfatória.

Palavras-chave: Mulher Gravida1. Parto Natural2. Assistência de enfermagem3. Centro Obstétrico4.

ABSTRACT

The process of gestation and childbirth is a physiological one in the life of women and their families, with scientific and technological advances in hospitals influencing changes in conceptions about labor and birth, with the natural route emerging through surgery. The choice of the route of delivery becomes fundamental for the health of the pregnant woman and her baby, and the decision-making regarding the choice of this route is influenced by several factors. This is a qualitative, descriptive and cross-sectional study, carried out in a Primary Health Care Unit in the city of Varginha – MG, which aimed to verify which factors influence pregnant women in choosing the route of delivery and what is the importance of professional nurses over this thematic. Data were collected through individual interviews with 22 pregnant women, using a printed questionnaire, containing 11 questions relevant to the subject. Of the pregnant women interviewed, 54% of women prefer the surgical option (cesarean section), 32% want the normal option and 14% don’t know yet. Of those who prefer the cesarean section, the majority pointed to fear as the main factor influencing their choice and, as they say they prefer natural birth, postpartum recovery is the most important factor. The study also points out that the professional nurse has great prominence and importance for the pregnant woman at this moment in life. In view of this, it is suggested that health education actions for this population, promoting greater proximity to professionals and dissemination of correct information, can offer greater security and knowledge, allowing this choice to be more conscious, safe and satisfactory.

Keywords: Pregnant Woman1. Natural Part2. Nursing care3. Obstetric Center4.

1. INTRODUÇÃO

O processo de gestar e parir é um fenômeno fisiológico na vida da mulher e de sua família desde o início dos tempos. No decorrer dos séculos, as concepções sobre parto e nascimento sofreram mudanças significativas. O parto que até o século XIX era tido como um ritual, realizado de maneira natural, nas próprias residências, apenas com o apoio de parteiras, com o avanço científico e tecnológico, e o surgimento de instalações hospitalares, começa gradativamente ser institucionalizado, tornando-o não somente um evento fisiológico e familiar, mas também uma ação médica (ARIK et al., 2019).

A institucionalização e o avanço científico e tecnológico acerca da forma de assistência prestada à parturiente, apresentou uma nova visão em que o parto deixa de ser visto apenas como um simples evento fisiológico, para um acontecimento tecnocrático, que demanda de diversas intervenções médicas e também cirúrgicas, apresentando assim a opção do parto cesariano, além do natural e normal (SANTANA; LAHM; SANTOS, 2015). Souza et al. (2022) trazem a afirmação de que a tomada de decisão pela gestante em relação ao tipo da via de parto está ligada a questões tanto particulares da mulher como aspectos socioeconômicos e culturais, situações de saúde e âmbitos profissionais, conduzindo-a a optar pela via cesárea ou natural/normal.

Ainda neste contexto, pode-se considerar a institucionalização do parto como uma perda para a mulher na tomada de decisão, uma vez que é colocada em um ambiente controlado e sistematizado. E também o desconhecimento científico e a falta de embasamento técnico por falta de uma devida orientação profissional, pode levar a esta mulher a fazer a escolha errada (SOUZA et al., 2022). Rocha e Ferreira (2020), relatam que no contexto brasileiro, nos últimos 30 anos, as práticas de parto têm sido importante pauta nas discussões em saúde pública, atentando-se à relevância acerca do uso indiscriminado de tecnologias na assistência e na taxa de mortalidade materna e neonatal. De maneira a propor reformulações a este cenário, as propostas buscam por formas de cuidado, que sejam centradas na mulher e que torne o uso das tecnologias disponíveis algo menos intervencionista e mais humanizada.

É um direito da mulher a escolha da via do parto e dever dos profissionais enfermeiros em consumar o protagonismo feminino quando se trata da escolha da via de parto, oferecendo informações e esclarecimentos às gestantes, auxiliando-as assim a uma escolha consciente que resultará em uma satisfação materna e uma vivência positiva do momento do parto (MARIN et al., 2019).

Quando trata-se da saúde da gestante e do bebê, fatores diversos podem influenciar a escolha de uma via de parto. A escolha, quando não correta, pode não ser a mais indicada ao quadro clínico da gestante, causando insatisfação, maior risco de agravamento clínico tanto para a gestante quanto para o bebê, aumento no índice de prematuridade, de quadros de depressão pós parto, e demais questões que envolva a temática. Diante deste contexto, o objetivo deste trabalho foi conhecer os fatores relacionados à escolha da via de parto pelas gestantes e discutir sobre a importância do profissional enfermeiro neste processo.

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Processo gestar e parir e evolução histórica

Desde o início da humanidade, o processo de gestar e parir é um fenômeno fisiológico na vida da mulher e de sua família e representa a garantia da perpetuação da espécie. Gestar é dar existência a outro ser, que se desenvolverá dentro do corpo de sua mãe por um período de tempo, já o ato de parir, representa a finalização do gestar, e a concretização da perpetuação da espécie. O conceito histórico deste processo, passou por diversas mudanças ao longo do tempo, contando com evoluções e também retrocessos nas formas de parto. Visto como um evento solitário da mulher na pré-história, passou na antiguidade para as mãos das chamadas comadres ou aparadeiras, na idade média as chamadas parteiras assumiram esta função, até a idade moderna onde este evento chegou às mãos dos médicos (MIRANDA et al., 2008).

No decorrer dos séculos, as concepções sobre parto e nascimento sofreram mudanças significativas. O parto que até o século XIX era tido como um ritual, realizado de maneira natural, nas próprias residências, apenas com o apoio de parteiras, com o avanço científico e tecnológico, e o surgimento de instalações hospitalares, começa gradativamente ser institucionalizado, tornando-o não somente um evento fisiológico e familiar, mas também uma ação médica (ARIK et al., 2019).

Todas estas mudanças trouxeram avanços, mas também retrocessos acerca do assunto. O conhecimento científico em relação a fisiologia do trabalho de parto, parto e nascimento trouxeram uma certa segurança tanto para a mulher quanto para o bebê, em contrapartida, o aumento de intervenções médicas e cirúrgicas neste processo, acabam tirando do binômio a autonomia e vivência plena deste momento (MIRANDA et al., 2008)

Ainda, por conseguinte devido a tantas transformações desenvolvidas com o intuito de melhor atender a equipe de saúde e a gestante, fez com que a parturiente passasse de sujeito a objeto, ou seja, alguém que pouco ou nada decide a respeito de como o seu parto será conduzido (VENDRUSCOLO; KRUEL, 2015). Com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) as práticas relacionadas ao parto no Brasil, sofreram grandes modificações nas últimas décadas, visando adotar medidas que facilitassem e melhorassem a abrangência, o acesso e a qualidade no pré-natal e em toda a assistência durante a gestação, parto e puerpério (SAAVEDRA; CESAR; LINHARES, 2019).

No contexto brasileiro, nos últimos 30 anos, as práticas de parto têm sido importante pauta nas discussões em saúde pública, atentando-se à relevância acerca do uso indiscriminado de tecnologias na assistência e na taxa de mortalidade materna e neonatal. De maneira a propor reformulações a este cenário, as propostas buscam por formas de cuidado, que sejam centradas na mulher e que torne o uso das tecnologias disponíveis algo menos intervencionista e mais humanizado (ROCHA; FERREIRA, 2020).

Fatores e suas origens que influenciam a escolha da gestante por determinada via de parto

A institucionalização e o avanço científico e tecnológico acerca da forma de assistência prestada à parturiente, apresentou uma nova visão em que o parto deixa de ser visto apenas como um simples evento fisiológico, para um acontecimento tecnocrático, que demanda de diversas intervenções médicas e também cirúrgicas, apresentando assim a opção do parto cesariano, além do natural/normal (SANTANA; LAHM; SANTOS, 2015).

Diversas transformações, sejam físicas e/ou psicológicas, agregadas a questões socioculturais, acarretam no surgimento de incertezas, inseguranças e medos por parte da mulher, o que acabam contribuindo para o desenrolar e evolução de todo o processo, desde a gravidez até o parto, e até mesmo o puerpério. Influências e orientações cedidas por pessoas da convivência familiar, social e profissional, e aspectos particulares da vida da mulher, podem contribuir favorável ou não por todo o decorrer do processo (TEDESCO, 2004). Souza et al. (2022) traz a afirmação de que a tomada de decisão pela gestante em relação ao tipo da via de parto está ligada a questões tanto particulares da mulher como aspectos socioeconômicos e culturais, situações de saúde e âmbitos profissionais, conduzindo-a a optar pela via cesárea ou natural/normal.

Há duas possibilidade existentes para a via de parto, sendo: parto natural/normal que como o nome já diz, acontece de maneira fisiológica em que a mulher é protagonista do ato, e pode contar com o auxílio tanto médico quanto da enfermagem obstétrica; e o parto cesáreo, que acontece por meio de uma intervenção cirúrgica em que somente o médico obstetra em conjunto com sua equipe realiza o procedimento; a escolha da via de parto dependerá não só dos aspectos particulares da gestante, bem como também da indicação e avaliação obstétrica (ZANATA; PEREIRA; ALVES, 2018).

O critério saúde, tanto da gestante, quanto do bebê deve ser de fundamental importância na escolha da via de parto, vendo que diversas questões relacionadas a valores socioculturais, grau de conhecimento e acesso a informações, contextos familiares e interferências médicas podem levar a escolha de uma via que pode não ser a mais indicada diante do quadro clínico (JORDÃO et al., 2018). A institucionalização do parto pode ser considerada além de um fator de influência, também como uma perda para a mulher na tomada de decisão, uma vez que é colocada em um ambiente controlado e sistematizado. E, também, o desconhecimento científico e a falta de embasamento técnico por falta de uma devida orientação profissional pode levar a esta mulher a fazer a escolha errada (SOUZA et al., 2022).

Atentando-se ao cenário atual, é perceptível que a escolha da via de parto tem influência multifatorial, tendo em vista que se trata de um processo biopsicossocial complexo, que relaciona e tem impacto não só da vida da mãe e do bebê, como também de toda a comunidade em que estão inseridos. Ou seja, não é apenas as recomendações médicas que impactam na opção por determinada via de parto, mas todo um contexto histórico, temporal, social, cultural, psíquico, geográfico, religioso, financeiro e tecnológico (RISCADO; JANNOTTI; BARBOSA, 2016).

Enfermagem e seu papel diante da escolha da gestante em relação a sua via de parto

A ocorrência de uma gravidez faz com que os sentimentos da mulher sejam afetados, todo o processo de ação fisiológica, unida às alterações funcionais, físicas e hormonais, agregados a preocupação com o novo ser que está sendo formado, causa inúmeros questionamentos, dúvidas e medos em relação a saúde do bebê e todo o processo de parto. Contudo, torna a gestante, uma pessoa que necessita de cuidados especiais, e que abranjam todos os aspectos pertinentes, não só físicos, mas também psicológicos, sociais e emocionais. Toda uma equipe multiprofissional deve ser envolvida e cabe a enfermagem, profissional que sempre estará mais diretamente em contato a esta gestante, auxiliar em todo o decorrer da gestação, em todo o sentimento psicoemocional, esclarecimento de dúvidas e auxílio durante o parto (LEAS; CIFUENTES, 2016).

Uma maior aproximação da gestante com o profissional é de extrema importância para a decisão por determinada via de parto, uma vez que esse profissional deve garantir uma atenção integral e de qualidade a esta gestante, de maneira a esclarecer suas dúvidas e anseios acerca de todos os aspectos da gestação, parto e puerpério (CAMPOS; DE ALMEIDA; DOS SANTOS, 2014). O profissional enfermeiro tem papel fundamental na consumação do protagonismo feminino quando se trata da escolha da via de parto, oferecendo informações e esclarecimentos às gestantes, auxiliando-as assim a uma escolha consciente que resultará em uma satisfação materna e uma vivência positiva do momento do parto (MARIN et al., 2019).

A atuação do enfermeiro frente a gestante se dá desde o pré-natal até o puerpério, devendo assegurar à mulher uma gestação segura, um parto humanizado, individualizado e condizente às situações de complexidade, através da disseminação de informações úteis e corretas, que diminuam os medos e anseios; da oferta de um devido apoio e da utilização de técnicas de alívio da dor e relaxamento. Também, é de responsabilidade do profissional da enfermagem, garantir a integração eficiente entre os profissionais envolvidos no processo do parto de maneira a atender as necessidades da parturiente (SOUZA; GAÍVA; MODES, 2011).

3. METODOLOGIA

Foi realizado um estudo qualitativo, descritivo e transversal, com coleta de dados por meio de entrevistas semiestruturadas, realizadas com 22 gestantes atendidas pela Unidade de Atenção Primária à Saúde, UAPS – Dr. João Eugênio do Prado, localizada na Praça Santo Agostinho, Bairro Sion em Varginha, Minas Gerais. Foram incluídas gestantes independentemente da idade gestacional que aceitaram participar voluntariamente da pesquisa em concordância com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.  Os dados foram coletados após aprovação da instituição cedente e Comitê de Ética e Pesquisa sob o número CAAE 77569824.0.0000.5111.

Foram realizadas entrevistas individuais, com questionário impresso, contendo 11 questões, relacionadas a situações, fatores, influências e conhecimento da gestante que poderiam ou não influenciar a sua escolha por determinada via de parto, e também sobre o papel e importância do profissional enfermeiro durante este momento para a gestante (Anexo 1). Os dados obtidos foram analisados por meio de estatística descritiva.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização socioeconômico

Foram analisadas gestantes com idades entre 18 e 40 anos, sendo obtidos os resultados em que 64% das mulheres possuem idades entre 18 e 25 anos, 27%  idades entre 26 e 35 anos e 9%  idades acima de 35 anos, em que 9% das mulheres possuíam formação até o ensino fundamental, 86% possuem o ensino médio e 5% possuem ensino superior, 87% trabalham fora e 13% são do lar, 55% são solteiras e 45% são casadas, 55% já tiveram uma ou mais gestações anteriores e 45% são primigestas. Neste estudo, ainda foram analisados idade, profissão, grau de instrução, meio familiar, socioeconômico e cultural, estado civil, fonte de busca por informações, interações profissionais, vivências anteriores de parto (normal e/ou cesárea), dentre outros fatores apresentados pelas entrevistadas.

A partir dos resultados, conforme apresentados no Gráfico 1, verificou-se que a via preferencial de parto entre normal e cesárea, do total das entrevistadas, 86% das mulheres pensaram sobre o momento do parto e apenas 14% relataram ainda não terem se preocupado sobre o assunto. Verificou-se que há uma preferência pelo parto cesáreo, sendo que 54% das mulheres preferem a opção pela via cirúrgica (cesárea) e 32% desejam a via normal. O exposto, ratifica a cultura cesarista existente no país e evidencia causas prováveis que embasam esta escolha.

Gráfico 1. Preferência da gestante pela via de parto Normal ou Cesárea.

Fonte: Arquivo pessoal

Melchiori et al. (2009), em oposição aos resultados demonstrados no gráfico 1,  constatou em seu estudo maior preferência pelo parto normal, tendo 75% das mulheres entrevistadas com expectativa de parto normal, e apenas 25% delas com expectativa para parto cesáreo. Porém, Siqueira et al (2021) corrobora com os resultados, ao identificar em seu estudo, que a escolha pelo parto cesáreo teve maior prevalência, onde 21 das 30 entrevistadas preferem esta via cirúrgica. 

Mediante o estudo, verifica-se que todas as mulheres que disseram ter uma preferência por determinada via de parto, apresentaram um ou mais fatores que justificam ou embasam a sua escolha. Fatores intrínsecos e extrínsecos influenciam positivamente ou não na formação de ideias e tomada de decisão pelas gestantes, fatores socioculturais, familiares, profissionais, pessoais, fontes de busca por informações e a interação profissional dos profissionais de saúde, apresentam significativa interação na hora da escolha da gestante por determinada via de parto. Durante as entrevistas, aos questionar sobre a interação profissional no momento das consultas, 14% das entrevistadas relataram não ter abertura para falarem abertamente sobre suas dúvidas, desejos e preferências, já 86% das entrevistadas, disseram ter sim receptividade para discutirem sobre os desejos, preferências e dúvidas, como observado no Gráfico 2.

Gráfico 2: Abertura para conversa com o profissional sobre dúvidas, preferências e desejos.

Fonte: Arquivo Pessoal

Da Silva et al. (2020), corroboram com o exposto, ao verificar em seu estudo, que 92,6% das gestantes participantes relataram que os profissionais escutam suas queixas e tiram suas dúvidas. Silva et al. (2020) ratifica, afirmando que os profissionais de saúde têm influência significativa no desejo materno pelo tipo de parto, e que a falta de oferta de informações corretas e suficientes as gestantes durante o acompanhamento profissional, reduz a capacidade de uma escolha assertiva e autônoma da via de parto pela mulher.

A interação profissional e a fonte de informações utilizada pelas gestantes, denotam um importante fator de influência na tomada de decisões sobre a vivência do período gestacional, bem como a escolha da via de parto. Quando indagadas sobre a busca de informações referentes a assuntos relacionados à gestação, parto e pós parto, a maioria (77%) relata se informar através da internet (sites, redes sociais, grupos, vídeos), e poucas (23%) dizem usar outros meios como fonte de busca de informações (livros, artigos, profissionais), como visto no Gráfico 3.

Gráfico 3: Fonte de busca por informações sobre assuntos relacionados a gestação.

Fonte: Arquivo Pessoal

=Pires, Melo e Leves (2023), afirma que com a facilitação do acesso às mídias sociais e o uso da internet como meio de obtenção de informações tem sido cada vez maior, sendo que o uso das mídias sociais, tem colaborado para a obtenção de conhecimento e tomada de decisão, fator que apresenta pontos positivos, uma vez que o uso das mídias permite o alcance e disseminação de informações a uma larga escala, porém apresenta também preocupação, uma vez que nem toda informação encontrada é verídica e possui embasamento científico. Gao, Larsson e Luo (2013), corroboram com o resultado obtido, ao identificarem que mais de 80% das mulheres grávidas utilizavam do acesso a internet e das mídias sociais para buscar informações de saúde.

Preferência pelo parto cesáreo

Em relação as que apresentaram preferência por cesariana, observa-se que fatores como idade, convívio social e familiar, profissão e experiências anteriores, apresentam pouca ou nenhuma relevância na decisão para esta escolha, porém o fator medo, demonstrou elevada importância na tomada de decisão pela via de parto cesárea, sendo este o fator de maior destaque apresentado, como pode ser observado no Gráfico 4.

Gráfico 4: Fatores que influenciam  na escolha pela via de parto cesáreo.

Fonte: Arquivo Pessoal

O elevado número de mulheres que apresentaram o fator medo como principal causa para a escolha pelo parto cesáreo preocupa, uma vez que este fator está relacionado a contextos socioculturais, influenciando assim a uma escolha nem sempre segura e consciente pela via de parto.

O grande número de intervenções ocorridas durante o momento do parto, pode induzir a mulheres que já tiveram experiências de parto insatisfatórios, pelo medo, a não quererem passar por esta situação novamente, e a relatarem negativamente sua experiência, gerando medo e apreensão em outras gestantes. Bonfante et al. (2009) corroboram com o fator, ao destacar que o medo ou temor do parto normal se dá por relacionar a prática a ocorrência de dor, funcionando assim como principais fatores socioculturais que levam ao parto cesáreo. 

Minuzzi e Rezende (2013) relatam que o modelo de atendimento à gestante parturiente no Brasil, utiliza de uma série de intervenções, várias vezes invasivas, como: administração de soroterapias, indução ao parto com uso de ocitocina, toque vaginal excessivo, restrição e imposição para posição da parturiente no momento do parto, pressão sobre o abdômen e episiotomia. Intervenções e fatores estes que tornam um processo que deveria ser natural em algo perigoso, desconfortável, doloroso e traumático, favorecendo a opção pela via de parto cesáreo.

Preferência pelo parto normal

Os resultados revelam que a preferência das gestantes pelo parto normal, não apresenta como justificativas, critérios de idade, ou conhecimento científico, que a profissão e experiências anteriores pouco influenciam em sua escolha, porém, interações e opiniões do convívio social e familiar e a recuperação pós parto, tem forte destaque na escolha da gestante por esta via de parto, como observado no Gráfico 5.

Gráfico 5: Fatores que influenciam na escolha pela via de parto normal.

Fonte: Arquivo Pessoal

A via de parto normal, se refere a um aspecto e capacidade fisiológica pertencente a mulher, sendo a via preferencial para o momento do parto, se tratando de uma via que permite maior autonomia da mulher, oferece menores riscos e maiores benefícios tanto para mãe quanto para o bebê. Porém, o modelo de saúde vigente, médico centrado, institucionalizado, valorizador da patologia e com primazia da tecnologia assistencial sobre as relações humanas, contribui contrariamente à indicação e a escolha desta via.

Apesar do modelo vigente de saúde não colaborar para a via normal, verifica-se no estudo, que uma parte das gestantes ainda preferem a via normal, e que os principais fatores que embasam esta preferência são relacionados a influência sociofamiliar, ou seja, relatos, convivência e apoio, e a recuperação pós parto, maior praticidade, segurança e menor tempo.

Matão et al. (2016), consolidam o exposto ao relatar que os valores e costumes familiares, conforme incutidos e aceitos, podem sim influenciar na decisão pela via de parto, e que a opinião e presença da família durante o decorrer da gestação são fatores de inegável importância. Lamb e Dal Molin (2021), afirmam o exposto que a preferência pelo parto normal, se dá devido a recuperação pós parto, por ser melhor e mais rápida e permitir maior autonomia nos cuidados para consigo mesmo e para com o bebê, sem apresentar tantas restrições.

Importância do profissional enfermeiro

A enfermagem, é uma categoria profissional, que oferece muito além de apenas cuidados, é pertinente desta classe, a oferta também de acolhimento, de orientações, de segurança, de apoio emocional, de proteção contra violência obstétrica, entre outros pontos que auxiliam a mulher na melhor escolha da via de parto e estimula a autonomia e o protagonismo desta mulher para este momento (DA SILVA MONTEIRO et al, 2020).

Ao indagar as gestantes sobre a importância e o papel do profissional enfermeiro, foi possível ratificar a importância do profissional, mediante suas respostas, o que pode ser observado na Tabela 1.

Tabela 1. Respostas obtidas mediante ao questionamento da importância e papel do profissional enfermeiro em relação a sua escolha de via de parto.

ParticipantesPergunta: Qual a importância e o papel do profissional enfermeiro em relação a sua escolha de via de parto?
Respostas
Gestante 1São Importantes, estão sempre preocupados, são mais próximos da gente.
Gestante 2Importantes, pois dão mais atenção, escutam e orientam mais do que omédico.
Gestante 3Importante, passa segurança, dá apoio e tranquiliza a gente.
Gestante 4Importante, dá mais assistência, porém acho que precisa ser mais próximo.
Gestante 5Importante, informar, auxiliar e estar mais próximo da gente.
Gestante 6Pouco importante, tive pouco contato, pra mim teve pouca proximidade.
Gestante 7Importante, dão suporte, costumam (dependendo do profissional) estar maispróximo.
Gestante 8Muito importante.
Gestante 9Muito importante, devido ao acolhimento.
Gestante 10Importante. O enfermeiro pode auxiliar o médico nas orientações da gestaçãoe acompanhar mais de perto a gestante.
Gestante 11Importante, dá apoio.
Gestante 12Muito importante.
Gestante 13Muito importante.
Gestante 14Muito importante.
Gestante 15Não sei dizer, pouco tive contato.
Gestante 16Importante, é o profissional que está sempre presente.
Gestante 17Importante, é um profissional que auxilia mais, conversa e está mais presente.
Gestante 18Importante, é um profissional que apoia, conversa e está sempre ali quandopreciso.
Gestante 19Importante.
Gestante 20Importante, profissional que está o tempo todo ao seu lado.
Gestante 21Importante, é o profissional que está mais presente e próximo da gente, queacolhe, orienta, dá dicas e cuida.
Gestante 22Importante, sempre está presente, orienta e ajuda.

Fonte: Arquivo Pessoal

Verificou-se que o profissional enfermeiro, para a população de gestantes entrevistadas é classificado pela maioria (91%) como importante para este momento de vida da mulher, tendo apenas uma pequena parcela que julga como pouco importante (4%) ou que não sabe dizer (5%).

O enfermeiro representa um profissional de contato mais próximo e disponível para a gestante, que se faz presente em todos os momentos do processo de gestar e parir, e também no pós parto. Sendo assim é o profissional que oferta mais segurança, apoio e orientação para esta gestante, tendo uma influência e papel crucial na tomada de decisão da gestante sobre os assuntos relacionados à gestação, ao parto e mesmo ao pós parto.

Da Silva Monteiro et al (2020), corrobora com a afirmação de importância do profissional enfermeiro ao expor que é o profissional que tem autonomia e proximidade para discutir com as a possibilidade de partos e suas preferências, e também dúvidas, mudanças, anseios e desejos, fornecendo orientações pertinentes, de maneira humanizada, orientações estas que são de fundamental importância para uma boa vivência e resultado satisfatório do momento do parto.

4. CONCLUSÕES

Apesar do processo de gestar e parir ser um fenômeno fisiológico da mulher, a escolha pela via de parto é algo complexo, que sofre interferência de diversos fatores. Para as gestantes, o medo e a recuperação pós parto são os fatores de maior peso no momento da tomada de decisão, e boa parte destas mulheres ainda optam pelo parto cesáreo. É de extrema importância o papel do profissional enfermeiro diante deste momento e processo vivido pela mulher, para sua tomada de decisões.

Sugere-se que ações de educação em saúde podem promover maior proximidade das gestantes aos profissionais pela disseminação de informações verídicas e a oferta de maior segurança, permitindo assim que a escolha pela via de parto seja mais consciente e satisfatória.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS – MG. E-mail: camila.reis2@alunos.unis.edu.br
2Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS – MG. E-mail: ana.motta@professor.unis.edu.br
3Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS – MG. E-mail: ana.figueiredo1@alunos.unis.edu.br