REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102412061320
Aline Brennecke Trova1
Karina Rodrigues de Moraes1
Noeli dos Santos1
Andréa dos Santos Albuquerque Van-dúnem2
Meline Rossetto Kron-Rodrigues3
RESUMO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é definido como transtorno do desenvolvimento neurológico, que tem como características dificuldades de interação social, comunicação e tem comportamento e/ou interesses repetitivos ou restritos. A investigação dos fatores de risco gestacionais associados ao Transtorno do Espectro Autista tem despertado interesse crescente na comunidade científica, devido à sua relevância para a saúde materna e infantil. Frente ao contexto, objetivo foi mapear os fatores de risco gestacionais associados ao Transtorno do Espectro Autista já descritos na literatura. Estudo de revisão bibliográfica. Foram utilizados os DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) e seus respectivos sinônimos de “Transtorno do Espectro Autista” e “Fatores de Risco” em português. O acesso às bases de dados virtuais ocorreu no mês de setembro do ano de 2024. As bases eletrônicas consultas Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE), IBECS – Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud e BDENF – Enfermagem no sítio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram utilizados estudos publicados e indexados na base de dados acima referidos. Os critérios de inclusão foram: artigos publicados acerca da temática e publicados até a data da busca. Não houve restrição de idioma. Os achados destacam a importância de uma compreensão abrangente dos elementos que influenciam o desenvolvimento neurológico fetal. Diversos fatores, incluindo complicações pré-natais, a idade dos pais, infecções durante a gravidez e exposição a substâncias potencialmente nocivas, têm sido associados a uma maior incidência de TEA. Esses aspectos, quando combinados com a predisposição genética, contribuem para o aumento do risco do desenvolvimento do transtorno, evidenciando a complexidade multifatorial do TEA.
Palavras–chaves: Transtorno do Espectro Autista; Fatores de Risco; Enfermagem
ABSTRACT
Autism spectrum disorder (ASD) is defined as a neurodevelopmental disorder characterized by difficulties in social interaction and communication, and repetitive or restricted behavior and/or interests. The investigation of gestational risk factors associated with autism spectrum disorder has aroused increasing interest in the scientific community due to its relevance to maternal and child health. Given the context, the objective was to map the gestational risk factors associated with autism spectrum disorder already described in the literature. This is a literature review study. The decs (health sciences descriptors) and their respective synonyms for “autism spectrum disorder” and “risk factors” in portuguese were used. Access to the virtual databases occurred in september 2024. The electronic databases consulted the international literature on health sciences (MEDLINE), Ibecs – Spanish Bibliographic Index On Health Sciences And Bdenf – Nursing On The Virtual Health Library (Vhl) website. Studies published and indexed in the aforementioned database were used. The inclusion criteria were: articles published on the subject and published up to the date of the search. There was no language restriction. The findings highlight the importance of a comprehensive understanding of the elements that influence fetal neurological development. Several factors, including prenatal complications, parental age, infections during pregnancy and exposure to potentially harmful substances, have been associated with a higher incidence of asd. These aspects, when combined with genetic predisposition, contribute to an increased risk of developing the disorder, highlighting the multifactorial complexity of ASD.
Keywords:Autism Spectrum Disorder; Risk Factors;Nursing
INTRODUÇÃO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é o termo determinado pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, desde 2013. Trata-se de um transtorno do desenvolvimento neurológico, que tem como características dificuldades de interação social, comunicação e tem comportamento e/ou interesses repetitivos ou restritos (Stravogiannis, 2021).
A investigação dos fatores de risco gestacionais associados ao Transtorno do Espectro Autista tem despertado interesse crescente na comunidade científica, devido à sua relevância para a saúde materna e infantil (Silva; Sousa, 2021; Sousa; Sousa; Bezerra, 2021).
Em 2016, um estudo feito pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC, 2020) americano mostrou uma prevalência que a cada 54 crianças de 8 anos, 1 é autista e o número de meninos diagnosticados é quatro vezes maior que o número de meninas. Em 2004 a prevalência era de 1 criança autista a cada 166 e esse número foi crescente até então, em 2014 a prevalência foi de 1 para 66 e o maior destaque do estudo foi que o aumento dos casos foi no geral, independente de etiologia, raça e questão socioeconômica. Nesse estudo a prevalência do autismo também está igual para crianças brancas e negras, mas o número de meninos com autismo é quatro vezes maior que o de meninas.
A CDC, em 2021, atualizou a prevalência do transtorno do espectro autista entre crianças de 8 anos, o que em 2016 era de a cada 54 crianças 1 tinha o diagnóstico de autista, em 2018 passou a ser a cada 44 criança 1 tem o diagnóstico (CDC, 2021). Compreender como esses fatores podem influenciar o desenvolvimento do autismo é fundamental para aprimorar estratégias de prevenção e intervenção. Nesse contexto, esta revisão de escopo visa reunir e analisar as evidências disponíveis sobre essa temática, contribuindo para o avanço do conhecimento e aprimoramento das práticas clínicas.
É necessário o acolhimento durante o pré-natal e pode-se afirmar que o papel do enfermeiro junto à família possui um papel que vai além do aspecto profissional. Justificando que apresentar o tema Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um desafio, pois pode-se encontrar enraizados na sociedade muito preconceito e falta de informação. Por outro lado, o enfermeiro terá a oportunidade de mudar esse pensamento com a ferramenta da educação em saúde, de orientação e explicação sobre como surge esse transtorno, suas características e desafios que ao longo do desenvolvimento gestacional a gestante poderá enfrentar (ARAUJO; LIMA JÚNIOR; SOUSA, 2022).
Apresentar o tema Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um desafio, pois pode-se encontrar enraizados na sociedade preconceito e falta de informação. Por outro lado, o enfermeiro terá a oportunidade de mudar esse pensamento com a ferramenta da educação em saúde, de orientação e explicação sobre como surge esse transtorno, suas características e desafios que ao longo do desenvolvimento gestacional a gestante poderá enfrentar. Um ponto importante é o desafio que o núcleo familiar enfrentará depois de receber os diagnósticos (Araújo JSA, Delgado IF, Paumgartten FJR, 2020).
A literatura nos permite afirmar que o mesmo medo, instinto e capacidade de vida da criança progredirão na sociedade. Tendo em vista todos esses pontos e com a ajuda da equipe especializada, existe hoje a possibilidade de um tratamento e acompanhamento para se ter uma melhor qualidade de vida. Portanto, a equipe multiprofissional terá um papel crucial e extremamente especializado durante a assistência à paciente. identificar lacunas de conhecimento e propor caminhos para futuras pesquisas. Frente a problemática, o objetivo é mapear os fatores de risco gestacionais associados ao Transtorno do Espectro Autista já descritos na literatura.
MATERIAL E MÉTODO
Para elaboração deste artigo foi utilizado à metodologia da revisão bibliográfica da literatura, que busca constatar e sumarizar qual a produção científica disponível acerta da temática em questão, com a finalidade conhecer o que se sabe sobre o assunto e subsidiar novos estudos.
A pergunta norteadora desta revisão foi: Quais os fatores de risco gestacionais associados ao Transtorno do Espectro Autista já descritos na literatura?
Para realizar as buscas nas bases de dados, foram utilizados os DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) e seus respectivos sinônimos de “Transtorno do Espectro Autista” e “Fatores de Risco” em português O acesso às bases de dados virtuais ocorreu no mês de setembro do ano de 2024.
A triagem dos artigos elegíveis foi realizada por dois revisores, buscando garantir rigor metodológico na seleção dos artigos nas bases dados. As bases eletrônicas consultas Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE), IBECS – Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud e BDENF – Enfermagem no sítio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram utilizados estudos publicados e indexados na base de dados acima referidos. Os critérios de inclusão foram: artigos publicados acerca da temática e publicados até a data da busca. Não houve restrição de idioma.
Os critérios de exclusão foram: revisão integrativa e de literatura, livros, capítulos e resenhas de livros, manuais, relatórios técnicos. Também serão excluídos artigos que não possuíam relação com a questão norteadora do estudo.
A triagem e seleção de artigos foram apresentadas por diagrama de fluxo de estudos e posteriormente houve extração dos conceitos abordados em cada artigo e os trabalhos de acordo com seu conteúdo. Os resultados foram apresentados em forma de tabela e discutidos com os achados da literatura.
Aspectos éticos
Por tratar-se de estudo secundário da literatura, não foi necessário a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nas buscas nas bases de dados, foram resgatados 104 artigos, sendo 81 no MEDLINE, 14 na BDENF – Enfermagem e 9 no IBECS. Inicialmente foi realizada a triagem por título e 95 artigos foram excluídos nesta etapa. Sequencialmente a triagem seguiu pela leitura dos resumos e um artigo foi excluído sendo 8 artigos foram incluídos para análise, conforme expressa o diagrama de fluxo de estudos selecionados. Posteriormente foram extraídos os conceitos abordados em cada artigo e os trabalhos foram descritos conforme seu conteúdo.
A caracterização dos estudos da amostra, onde contemplará o autor/ano, título do artigo, tipo de estudo, o periódico, o objetivo e os bem como os resultados principais estão descritos no quadro 1:
Quadro 01- Caracterização dos estudos da amostra. Guarulhos, 2024.
Autor/Ano | Título | Periódico | Tipo de Estudo | Objetivo | Resultados principais |
Chloe Love, Luba Sominsky, Martin O’Hely, Michael Berk, Peter Vuillermin and Samantha L. Dawson – 2024 | Prenatal environmental risk factors for autism spectrum disorder and their potential mechanisms | Love et al. BMC Medicine (2024) 22:393 https://doi.org/10.1186/s12916-024-03617-3 | Revisão bibliografica da Literatura | avaliar as evidências de fatores ambientais pré-natais contribuintes para TEA | Infecção, obesidade, DMG,uso de antibióticos e exposição a tóxicos durante a gravidez podem influenciar a inflamação, o equilíbrio hormonal, a função mitocondrial e o microbioma intestinal para interromper o neurodesenvolvimento subsequente. Além disso, as vias subjacentes podem interagir, levando a efeitos cumulativos no risco de TEA. |
Yin, Weiyao; Norrbäck, Mattias; Levine, Stephen Z; Rivera, Natalia; Buxbaum, Joseph D; Zhu, Hailin; Yip, Benjamin; Reichenberg, Abraham; Askling, Johan; Sandin, Sven. – 2203 | Maternal rheumatoid arthritis and risk of autism in the offspring. | Psychol Med ; 53(15): 7300-7308, 2023 Nov. | estudo de coorte prospectivo baseado na população | Identificar a associação da (artrite reumatoide) materna antes do parto com TEA | Na Suécia, a artrite reumatoide materna antes do parto foi associada a um risco aumentado de TEA. A associação comparável entre artralgia materna e risco de TEA sugere outras vias de risco além da autoimunidade/inflamação, agindo em conjunto ou independentemente da artrite reumatoide. |
Carter, Sarah A; Lin, Jane C; Chow, Ting; Yu, Xin; Rahman, Md Mostafijur; Martinez, Mayra P; Feldman, Klara; Eckel, Sandrah P; Chen, Jiu-Chiuan; Chen, Zhanghua; Levitt, Pat; Lurmann, Frederick W; McConnell, Rob; Xiang, Anny H – 2023 | Maternal obesity, diabetes, preeclampsia, and asthma during pregnancy and likelihood of autism spectrum disorder with gastrointestinal disturbances in offspring | Autism ; 27(4): 916-926, 2023 05 | estudo de coorte retrospectivo | Identificar a associação da obesidade, diabetes, pré-eclâmpsia e asma, estavam associadas ao aumento da probabilidade de autismo. | obesidade, diabetes, pré-eclâmpsia e asma materna durante a gravidez teve associação ao aumento da probabilidade de distúrbios gastrointestinais, autismo sem distúrbios gastrointestinais e autismo com distúrbios gastrointestinais. |
Nitschke, Amanda S; Karim, Jalisa L; Vallance, Bruce A; Bickford, Celeste; Ip, Angie; Lanphear, Nancy; Lanphear, Bruce; Weikum, Whitney; Oberlander, Tim F; Hanley, Gillian E. 2022 | Autism Risk and Perinatal Antibiotic Use. | Pediatrics ; 150(3)2022 09 01. | Estudo de coorte | Avaliar se a exposição a antibióticos durante o trabalho de parto e o parto aumentou o risco de TEA | As descobertas sugerem que a preocupação com o TEA não deve ser fatorada na decisão clínica sobre administrar antibióticos durante o trabalho de parto e o parto. |
Kim, Bora; Ha, Mina; Kim, Young Shin; Koh, Yun-Joo; Dong, Shan; Kwon, Ho-Jang; Kim, Young-Suk; Lim, Myung-Ho; Paik, Ki-Chung; Yoo, Seung-Jin; Kim, Hosanna; Hong, Patricia S; Sanders, Stephan J; Leventhal, Bennett L. 2021 | Prenatal exposure to paternal smoking and likelihood for autism spectrum disorder. | Autism ; 25(7): 1946-1959, 2021 10. | Tranversal retrospectivo | Investigar a associação do tabagismo paterno antes e durante a gravidez contribui significativamente para o risco de TEA | A prevenção do tabagismo, especialmente no planejamento da gravidez, pode diminuir o risco de transtorno do espectro autista nos filhos. |
Xiao, Jingyuan; Gao, Yu; Yu, Yongfu; Toft, Gunnar; Zhang, Yawei; Luo, Jiajun; Xia, Yuntian; Chawarska, Katarzyna; Olsen, Jørn; Li, Jiong; Liew, Zeyan – 2021 | Associations of parental birth characteristics with autism spectrum disorder (ASD) risk in their offspring: a population-based multigenerational cohort study in Denmark. | Int J Epidemiol ; 50(2): 485-495, 2021 05 17. | estudo de coorte multigeracional de base populacional na Dinamarca | Avaliar a características do nascimento dos pais, incluindo parto prematuro e baixo peso ao nascer, estavam associadas ao risco de TEA | Nossas descobertas apresentam alguns argumentos para múltiplos caminhos em relação às influências multigeracionais no risco de TEA. Investigações futuras com acompanhamento estendido, e que examinem mecanismos genômicos e não genômicos subjacentes à possível transmissão do risco de TEA entre gerações, são recomendadas. |
Mir, Imran N; Leon, Rachel; Chalak, Lina F. 2021 | Placental origins of neonatal diseases: toward a precision medicine approach. | Pediatr Res ; 89(2): 377-383, 2021 01. | Revisão sistemática | Analisar relação entre lesões placentárias e resultados do neurodesenvolvimento de bebês com morbidades neonatais específicas, incluindo (1) encefalopatia neonatal (EN), (2) displasia broncopulmonar (DBP), (3) doenças cardíacas congênitas (DCCs) e (4) transtornos do espectro autista (TEAs). | Apesar desses desafios, está claro que os resultados do neurodesenvolvimento perinatal, da infância e de longo prazo estão ligados à histologia placentária em todo o espectro de lesão cerebral perinatal. |
Araujo, Jessica Salvador Areias de; Delgado, Isabella Fernandes; Paumgartten, Francisco José Roma. 2020 | Antenatal exposure to antidepressant drugs and the risk of neurodevelopmental and psychiatric disorders: a systematic review. | Cad Saude Publica ; 36(2): e00026619, 2020. | Revisão sistemática | Investigar se a exposição intrauterina a antidepressivos (ADs) aumenta o risco de transtornos do espectro autista (TEA), transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), esquizofrenia e outros transtornos mentais e déficits cognitivos e de desenvolvimento em lactentes e pré-escolares. | Este estudo não encontrou evidências consistentes de associação entre exposição pré-natal a ADs e riscos aumentados de TEA, TDAH, doenças psiquiátricas e déficits cognitivos e/ou de desenvolvimento em crianças pré-escolares. |
Fonte: os autores, 2024
A literatura encontrada apontou que TEA é uma condição neurodesenvolvimental que afeta a comunicação, a interação social e o comportamento dos indivíduos. Estudos apontam que fatores de risco gestacionais podem aumentar a probabilidade de desenvolvimento do TEA. Entre esses fatores estão o uso de substâncias durante a gravidez, infecções maternas, diabetes gestacional e complicações no parto. Esses elementos podem afetar o neurodesenvolvimento fetal e, consequentemente, contribuir para o surgimento do TEA (Sandin et al., 2014). É fundamental, portanto, investigar como esses fatores influenciam o desenvolvimento do transtorno, visando ampliar a compreensão e possibilitar intervenções precoces.
Um dos fatores de risco associados ao TEA é a exposição a substâncias tóxicas, como o uso de álcool, tabaco e drogas ilícitas durante a gravidez. Essas substâncias podem interferir no desenvolvimento do cérebro fetal, impactando estruturas e funções neuronais. Estudos sugerem que mães que fazem uso dessas substâncias apresentam maior probabilidade de ter filhos com TEA (Kalkbrenner et al., 2012). Além disso, o uso de medicamentos como antidepressivos durante a gravidez tem sido objeto de estudo, pois alguns dados indicam uma possível correlação com o risco aumentado de TEA (Hviid et al., 2013).
As infecções maternas, especialmente durante o primeiro trimestre, são outro fator de risco importante. Infecções virais e bacterianas podem provocar uma resposta inflamatória no organismo materno, que, por sua vez, pode afetar o ambiente intrauterino e o desenvolvimento do cérebro do feto. A ativação imunológica materna tem sido associada a alterações no neurodesenvolvimento, aumentando as chances de condições como o TEA (Atladóttir et al., 2010). Esse fator ressalta a importância de cuidados de saúde durante a gestação e prevenção de infecções, principalmente nos primeiros meses.
Outro aspecto relevante é o diabetes gestacional e o ganho excessivo de peso durante a gravidez. Esses fatores estão associados a uma resposta inflamatória crônica e a alterações hormonais que podem influenciar o desenvolvimento do cérebro fetal (Xiang et al., 2015). Mulheres com diabetes gestacional, em particular, apresentam maior risco de ter filhos com TEA, sugerindo que a glicemia elevada pode afetar processos críticos de desenvolvimento neuronal. Este dado reforça a importância do monitoramento e controle do diabetes durante a gestação para minimizar riscos à saúde do bebê.
Por fim, complicações no parto, como a prematuridade e a hipóxia neonatal (falta de oxigênio no nascimento), também são associadas ao risco aumentado de TEA. A prematuridade está ligada a problemas de desenvolvimento e à maior vulnerabilidade a danos cerebrais, enquanto a hipóxia pode levar a lesões neurológicas (Glasson et al., 2004). Esses dados apontam para a necessidade de um cuidado pré-natal e perinatal adequado, visando prevenir complicações que possam afetar o desenvolvimento saudável do cérebro infantil. Dessa forma, conhecer e monitorar os fatores de risco gestacionais pode contribuir para a identificação precoce e a intervenção adequada, reduzindo as chances de desenvolvimento de TEA.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os achados destacam a importância de uma compreensão abrangente dos elementos que influenciam o desenvolvimento neurológico fetal. Diversos fatores, incluindo complicações pré-natais, a idade dos pais, infecções durante a gravidez e exposição a substâncias potencialmente nocivas, têm sido associados a uma maior incidência de TEA. Esses aspectos, quando combinados com a predisposição genética, contribuem para o aumento do risco do desenvolvimento do transtorno, evidenciando a complexidade multifatorial do TEA.
A literatura demonstrou que fatores, como diabetes gestacional, hipertensão, uso de medicamentos e o contato com poluentes ambientais, podem impactar o desenvolvimento do sistema nervoso do feto, aumentando a suscetibilidade ao autismo. No entanto, a relação entre esses fatores e o desenvolvimento do TEA ainda requer mais pesquisas que aprofundem essa correlação, considerando variáveis como a intensidade, duração e o momento da exposição. A compreensão dessas nuances pode ajudar a identificar com mais precisão os fatores que representam maior risco.
Dado o impacto significativo do TEA na vida dos indivíduos e de suas famílias, os achados até agora reforçam a importância de estratégias de prevenção e intervenção precoce, visando a reduzir a exposição a potenciais fatores de risco. Além disso, é fundamental promover o acompanhamento pré-natal integral, orientado pela identificação de fatores de risco específicos para gestantes. A partir desses cuidados, é possível buscar uma maior segurança no desenvolvimento infantil e fomentar políticas públicas de saúde que minimizem riscos para as próximas gerações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Apêndice 1 – ESTRATÉGIA DE BUSCA
Português (Biblioteca Virtual da Saúde)
#1 Transtorno do Espectro Autista OR Transtorno de Espectro Autista OR Transtorno do Espectro do Autismo
# Fatores de Risco OR Correlatos de Saúde OR Fator de Risco OR Fatores de Risco não Biológicos OR Fatores de Risco Sociais OR Fatores de Riscos não Biológicos OR Pontuações de Fatores de Risco OR Pontuações de Risco OR Pontuações do Fator de Risco OR Pontuações dos Fatores de Risco OR População em Risco OR Populações em Risco
1Enfermeira. Graduada pela Universidade Guarulhos, UNG, UNIVERITAS
2 Enfermeira. Mestre em Ciências pelo Programa de Mestrado e Doutorado em Enfermagem da Universidade Guarulhos, UNG, UNIVERITAS
3Enfermeira. Doutora em Ginecologia, Obstetrícia e Mastologia pela Faculdade de Medicina de Botucatu -UNESP. Professora do Programa de Mestrado e Doutorado em Enfermagem da Universidade Guarulhos, UNG, UNIVERITAS