FATORES DE RISCO E ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO DO SUICÍDIO EM ADOLESCENTES COM TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

RISK FACTORS AND SUICIDE PREVENTION STRATEGIES IN ADOLESCENTS WITH PSYCHIATRIC DISORDERS: AN INTEGRATIVE REVIEW

Graduação em Bacharelado em Medicina Universidade Brasil – Fernandópolis/SP

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202410292230


Autora: Carine Santiago Bordenalli1 / Co-Autora: Ana Claudia Lobo de Souza Nascimento2 / Anselmo Solano Pereira3 / Camila Bernardino Guedes Amorim4 / Ana Carolina Brito Alencar Alves5 / Daniel Henrique Antonelli Bitencourt6 / Érika Yannes Garcia7 / Francisca Ana Paula Santiago8 / Francisca Bruna Mirelle Santiago9 / Henrique Diogo Silva10 / Isabella de Freitas e Silva11 / Jamile Scarabeli Zuri12 / Juliana Bernardelli Beraldo13 / Morgana Bezerra Bispo Caldas14 / Victor Guilherme Leão.15


RESUMO

O suicídio em adolescentes com transtornos psiquiátricos é uma questão crítica de saúde pública, dada a vulnerabilidade desse grupo às influências psicológicas e sociais. Esta revisão integrativa visa identificar os principais fatores de risco e estratégias de prevenção do suicídio entre adolescentes que sofrem de transtornos mentais, como depressão, transtorno bipolar, e transtornos de ansiedade, além de comorbidades como o abuso de substância. A literatura aponta que fatores psicossociais, como o abuso, a negligência e o isolamento social, agravam a vulnerabilidade desses jovens. Entre as estratégias preventivas, destacam-se a terapia cognitivo-comportamental, o suporte familiar e escolar, o uso de tecnologias digitais para intervenções e as hospitalizações preventivas em casos de risco agudo. Este estudo reforça a importância da identificação precoce dos fatores de risco e da implementação de procedimentos multidimensionais, incluindo práticas clínicas e políticas públicas externas para a prevenção do suicídio.

Palavras-chave: Suicídio, adolescentes, transtornos psiquiátricos, fatores de risco, prevenção, terapia cognitivo-comportamental, suporte social

ABSTRACT

O suicídio entre adolescentes com transtornos psiquiátricos é um problema crítico de saúde pública, dada a vulnerabilidade desse grupo a influências psicológicas e sociais. Esta revisão integrativa tem como objetivo identificar os principais fatores de risco e estratégias preventivas para o suicídio em adolescentes que sofrem de transtornos mentais como depressão, transtorno bipolar e transtornos de ansiedade, bem como comorbidades como abuso de substâncias. A literatura mostra que fatores psicossociais como abuso, negligência e isolamento social aumentam a vulnerabilidade desses adolescentes. As estratégias preventivas destacadas incluem terapia cognitivo-comportamental, apoio familiar e escolar, uso de tecnologias digitais para intervenções e hospitalizações preventivas em casos de alto risco. Este estudo ressalta a importância da identificação precoce dos fatores de risco e da implementação de intervenções multidimensionais, incluindo práticas clínicas e políticas públicas voltadas à prevenção do suicídio.

Keywords: Suicídio, adolescentes, transtornos psiquiátricos, fatores de risco, prevenção, terapia cognitivo-comportamental, apoio social.

1 INTRODUÇÃO

O suicídio é um problema global de saúde pública, especialmente alarmante entre adolescentes, grupo vulnerável que enfrenta desafios emocionais, sociais e psicológicos intensos durante esse período de desenvolvimento. Entre esses jovens, aqueles que convivem com transtornos psiquiátricos estão particularmente expostos a maiores riscos. A presença de transtornos como depressão, transtorno bipolar, transtornos de ansiedade e abuso de substâncias pode agravar a vulnerabilidade desses adolescentes, potencializando o risco de comportamento suicida.

Estudos demonstram que a prevalência de suicídio tem aumentado consideravelmente entre os jovens. De acordo com Tarantino (2007), os casos de suicídio no Brasil têm crescido de forma preocupante, destacando-se entre as principais causas de morte evitáveis ​​no país. Esse aumento sugere a necessidade urgente de uma compreensão mais aprofundada dos fatores de risco e das estratégias de prevenção eficazes, especialmente quando associados a transtornos psiquiátricos. A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2014) , em seu relatório sobre prevenção do suicídio, também chama a atenção para o suicídio como uma prioridade de saúde pública global, reforçando que disposições adequadas podem salvar vidas.

A relevância deste estudo é fundamentada em dados alarmantes: o suicídio é uma das principais causas de morte entre adolescentes no mundo, e aqueles com transtornos psiquiátricos estão entre os mais afetados. A identificação precoce dos fatores de risco específicos para essa população é essencial para a formulação de estratégias de prevenção que possam mitigar o risco e oferecer suporte adequado. A falta de intervenções direcionadas a adolescentes com condições psiquiátricas amplia o problema e ressalta a necessidade de pesquisas focadas nessa subpopulação, como forma de contribuir para a criação de políticas públicas mais eficazes.

O objetivo desta revisão integrativa é identificar, analisar e sintetizar os principais fatores de risco associados ao suicídio em adolescentes com transtornos psiquiátricos, assim como as estratégias preventivas mais eficazes descritas na literatura. Ao reunir e avaliar os estudos existentes, este trabalho pretende fornecer uma visão abrangente do problema e orientações específicas para futuras intervenções e pesquisas, reduzindo a incidência de suicídios entre adolescentes vulneráveis.

2 FATORES DE RISCO PARA SUICÍDIO EM ADOLESCENTES COM TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS

2.1.     Transtornos Psiquiátricos Comuns

Adolescentes que convivem com transtornos psiquiátricos são significativamente mais propensos ao comportamento suicida, devido à complexidade e gravidade desses transtornos. Entre os transtornos mais comuns associados ao suicídio nessa população estão a depressão , o transtorno bipolar , os transtornos de ansiedade , e os transtornos por uso de substância .

A depressão é extremamente reconhecida como o transtorno mais prevalente e de maior risco quando se trata de suicídio em adolescentes. Borges e Werlang (2006) conduziram um estudo que analisou a ideação suicida em adolescentes de 15 a 19 anos e identificaram que a depressão maior frequentemente leva ao desenvolvimento de pensamentos suicidas. Adolescentes deprimidos muitas vezes experimentam sentimentos de desesperança, inutilidade e isolamento, elementos centrais que alimentam o risco de suicídio. A incapacidade de visualizar soluções para seus problemas, somada à tendência de ruminação e à baixa autoestima, pode levar os adolescentes a ver o suicídio como a única saída.

O transtorno bipolar , caracterizado pela alternância entre episódios de mania e depressão, também é fortemente associado ao suicídio. Em momentos de depressão severa, os jovens bipolares são especialmente vulneráveis ​​ao risco de suicídio. Gazalle et al. (2007) demonstram que a polifarmácia (uso concomitante de vários medicamentos) é frequente entre pacientes bipolares, o que pode agravar o risco de tentativa de suicídio, tanto pela gravidade do transtorno quanto pela utilização errática ou impulsiva de medicamentos durante episódios de descontrole emocional . Neves et al. (2009) acrescentam que o primeiro episódio de transtorno bipolar é especialmente crítico, pois os adolescentes enfrentam uma transição inicial para um quadro psicológico psicológico, muitas vezes sem saber como lidar com seus sintomas, o que aumenta o risco de suicídio.

Os transtornos de ansiedade , como o transtorno de ansiedade generalizada e o transtorno do pânico, também estão fortemente correlacionados com comportamentos suicidas. A presença de ansiedade intensa, fobias e ataques de pânico frequentes contribui para a exaustão mental e emocional dos adolescentes, criando uma percepção distorcida de que a morte pode ser uma solução para o sofrimento contínuo. Estudos indicam que, embora a ansiedade não esteja sempre associada diretamente ao suicídio, quando combinada com outros transtornos, como a depressão, ela pode amplificar significativamente o risco.

2.2.    Fatores Relacionados ao Transtorno

Além do diagnóstico primário, os fatores específicos de cada transtorno desempenham um papel importante no aumento do risco de suicídio. Coêlho et al. (2010) investigam a influência da comorbidade entre depressão e abuso de álcool, demonstrando que a presença simultânea de transtornos mentais e uso de substâncias aumenta significativamente o risco de suicídio. Essa combinação é especialmente perigosa em adolescentes, que já têm menos habilidades de enfrentamento emocional e mais vulnerabilidade à impulsividade. O abuso de substância, como álcool e drogas, pode agravar os sintomas de depressão e ansiedade, diminuindo as inibições e aumentando o comportamento impulsivo, fatores que frequentemente levam à tentativa de suicídio.

Outro fator chave são os sintomas graves dos transtornos mentais. Adolescentes com transtornos psicóticos, como a esquizofrenia, que apresentam alucinações e delírios, estão sob alto risco de comportamento suicida, uma vez que os sintomas podem gerar um sentimento esmagador de desorientação e perda de controle sobre a realidade. A presença de pensamentos delirantes de culpa ou autoacusação é frequentemente relacionada como um fator desencadeante para tentativa de suicídio.

As comorbidades , que incluem a coexistência de dois ou mais transtornos psiquiátricos, intensificam os fatores de risco. Pacientes com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), por exemplo, podem ter mais dificuldades em controlar impulsos, ou que, combinados com transtornos de humor, aumentam a probabilidade de tentativa de suicídio. A sobreposição de sintomas faz com que o manejo clínico se torne mais difícil e agrava o risco, principalmente quando esses transtornos são acompanhados por baixa adesão ao tratamento.

2.3.     Influências Psicossociais

Além dos fatores diretamente relacionados ao transtorno psiquiátrico, os fatores psicossociais exercem uma influência significativa no comportamento suicida de adolescentes. Esse grupo é particularmente sensível a influências externas, como dinâmicas familiares disfuncionais, pressão social, experiências de abuso e bullying.

Borges e Werlang (2006) identificaram que, além de fatores psicológicos, o ambiente social e familiar desempenha um papel fundamental na predisposição de adolescentes ao suicídio. O abuso físico

O bullying também surge como um fator importante. Adolescentes que são vítimas de bullying, tanto físicos quanto cibernéticos, enfrentam humilhação, isolamento e agressões constantes, fatores que minam sua autoestima e senso de pertencimento. O isolamento social é frequentemente observado como um acontecimento para a ideação suicida, especialmente em indivíduos que já têm um transtorno mental preexistente. O impacto cumulativo da exclusão social e da humilhação pública pode ser devastador, fazendo com que muitos adolescentes sintam que o suicídio é a única saída viável.

2.4.    Outros Fatores de Risco

Vários outros fatores de risco específicos para o comportamento suicida em adolescentes com transtornos psiquiátricos, incluindo histórico familiar de suicídio , estressores ambientais e traumas.

O histórico familiar de suicídio é um preditor crítico. Estudos demonstram que adolescentes de membros da família que planejaram ou cometeram suicídio apresentam um risco significativamente maior de comportamento suicida, indicando tanto predisposições genéticas quanto a influência do ambiente familiar. A exposição a suicídios familiares pode normalizar o ato como uma solução para problemas graves, tornando-o uma opção mais “acessível” para jovens em crise.

Estressores ambientais , como mudanças súbitas no ambiente doméstico ou escolar, dificuldades financeiras, ou desastres naturais, também podem aumentar a vulnerabilidade ao suicídio. Pires et al. (2014) revisaram os fatores de risco para tentativa de suicídio por envenenamento e destacaram que estressores ambientais, quando combinados com fatores psicossociais e transtornos mentais, frequentemente desencadeiam tentativas de suicídio.

Finalmente, traumas , como abuso físico ou sexual, violência comunitária e perda de entes queridos, estão fortemente correlacionados com a ideação suicida e comportamentos autodestrutivos. Adolescentes que passaram por traumas severos muitas vezes sofrem de transtornos de estresse pós-traumático (TEPT), depressão e outros transtornos comórbidos, que exacerbam ainda mais sua vulnerabilidade ao suicídio. A incapacidade de desenvolver essas experiências traumáticas contribui para um ciclo de dor emocional e desesperança.

3 ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO

A prevenção do suicídio em adolescentes com transtornos psiquiátricos exige uma abordagem multifacetada, que integre intervenções clínicas e psicossociais, além de iniciativas comunitárias e digitais. As estratégias precisam ser adaptadas às necessidades individuais dos adolescentes e considerar os fatores de risco específicos, como transtornos psiquiátricos preexistentes, condições psicossociais e contextos ambientais. A seguir, são discutidas as principais abordagens preventivas, embasadas pela literatura científica relevante.

3.1.     Abordagens Psicossociais

As abordagens psicossociais são fundamentais na prevenção do suicídio em adolescentes com transtornos psiquiátricos, pois ajudam a fortalecer as redes de apoio e a desenvolver habilidades emocionais e sociais que permitem aos adolescentes lidar com suas condições e estressores. Uma das intervenções mais eficazes é a terapia cognitivo-comportamental (TCC) , que tem como objetivo reestruturar padrões de pensamento negativo e fornecer estratégias de enfrentamento para os adolescentes que lutam com ideação suicida e transtornos psiquiátricos.

Abreu et al. (2010) destacam que as intervenções psicossociais, como a TCC, podem reduzir significativamente o risco de suicídio ao ajudar os adolescentes a desenvolver habilidades de resolução de problemas e a gerenciar melhor seus sentimentos de desesperança e isolamento. Além disso, a terapia focada em orientações familiares tem se mostrado uma ferramenta eficaz na construção de redes de suporte, envolvendo pais e cuidadores no processo de tratamento, o que é crucial para o bem-estar do adolescente.

Outro componente crítico nas abordagens psicossociais é o desenvolvimento de programas de apoio social em escolas e comunidades. Félix et al. (2016) sublinham a importância de campanhas de conscientização e programas de apoio em ambientes escolares que ajudam a identificar precocemente os sinais de risco de suicídio e facilitam o encaminhamento de adolescentes para tratamento. Esses programas devem incluir educação para professores, pais e colegas sobre os sinais de alerta de suicídio, a fim de criar uma rede de suporte mais abrangente e pronta para agir.

3.2.     Intervenções Clínicas

Intervenções clínicas, como o tratamento farmacológico e hospitalizações preventivas, são indispensáveis ​​em casos mais graves de ideação e tentativa de suicídio. Muitos adolescentes com transtornos psiquiátricos incomuns de uma combinação de medicamentos e psicoterapia para controlar sintomas severos e comorbidades. O uso de antidepressivos e estabilizadores de humor é comum no tratamento de transtornos como depressão e transtorno bipolar, que são altamente prevalentes entre adolescentes com risco de suicídio.

No entanto, é importante ressaltar que o uso de medicamentos em adolescentes requer acompanhamento rigoroso, especialmente no início do tratamento, já que alguns antidepressivos podem aumentar temporariamente o risco de suicídio em jovens. Vidal e Gontijo (2013) discutem a percepção dos pacientes sobre o acolhimento nos serviços de urgência após tentativa de suicídio, ressaltando que a hospitalização e a estabilização inicial em ambientes controlados são fundamentais para adolescentes que se encontram em risco agudo. Intervenções como essas garantem segurança imediata e prevêem o início do acompanhamento psiquiátrico necessário.

Além do tratamento medicamentoso, as hospitalizações preventivas são indicadas em casos de risco elevado, onde a segurança do paciente é prioridade. Para adolescentes que apresentam sinais claros de risco de suicídio iminente, como planos detalhados ou tentativas anteriores, a hospitalização pode evitar que o comportamento suicida seja consumado. A continuidade do tratamento após a alta, com suporte psicossocial e farmacológico, é essencial para prevenir recaídas.

3.3.    Abordagens Escolares e Comunitárias

Programas preventivos em escolas e comunidades são eficazes na detecção precoce e no suporte emocional de adolescentes em risco. As escolas desempenham um papel crucial, pois representam o ambiente onde os jovens passam a maior parte do tempo e onde suas mudanças comportamentais podem ser mais facilmente observadas. Félix et al. (2016) sugerem que as escolas implementem programas que promovam a educação socioemocional , onde os alunos são incentivados a desenvolver habilidades de autocuidado, comunicação emocional e resolução de conflitos, com o objetivo de reduzir o risco de suicídio.

Além disso, o estabelecimento de linhas de apoio escolar e serviços de aconselhamento psicológico pode fornecer um espaço seguro para os adolescentes falarem sobre suas dificuldades e buscarem ajuda antes que o risco de suicídio aumente. A implementação de programas de treinamento para professores sobre como identificar sinais de depressão e outros transtornos mentais, além de como proceder em casos de emergência, também é uma recomendação fundamental para garantir que adolescentes em risco recebam suporte adequado.

Nas comunidades, programas focados na inclusão social e no desenvolvimento de atividades extracurriculares podem oferecer suporte adicional para adolescentes vulneráveis. Stefanello et al. (2008) destacam que há diferenças de gênero nas tentativas de suicídio, com as meninas geralmente usando métodos menos letais que os meninos. Esse dado sugere que abordagens preventivas precisam ser adaptadas ao gênero, levando em conta as diferentes formas de expressão de sofrimento e risco suicida.

3.4.     Prevenção Digital

Nos últimos anos, o uso de tecnologias digitais tem se mostrado uma ferramenta promissora para a prevenção do suicídio entre adolescentes. A maioria dos jovens está fortemente conectada ao mundo digital, o que abre espaço para o uso de plataformas online de apoio e aplicativos de saúde mental que fornecem suporte imediato e confidencial para aqueles em risco.

A criação de linhas de apoio disponíveis via mensagens de texto ou chat online é uma estratégia eficaz, especialmente para adolescentes que podem sentir vergonha ou medo de buscar ajuda pessoalmente. Esses serviços podem oferecer aconselhamento imediato e encaminhamento para tratamento especializado. Além disso, aplicativos de saúde mental que monitoram o humor, fornecem técnicas de relaxamento e incentivam a busca por ajuda são ferramentas valiosas para os adolescentes que lutam com pensamentos suicidas. Muitos desses aplicativos também permitem a comunicação direta com profissionais de saúde, oferecendo uma intervenção precoce.

As mídias sociais também podem ser utilizadas para campanhas de conscientização, alertando os adolescentes sobre os sinais de alerta de suicídio e promovendo mensagens de apoio e encorajamento para que busquem ajuda. Porém, é crucial que essas plataformas sejam cuidadosamente monitoradas para evitar a propagação de conteúdo prejudicial, como a romantização do suicídio.

4 DISCUSSÃO

Os resultados desta revisão integrativa apontam que os fatores de risco mais indicados para o suicídio entre adolescentes com transtornos psiquiátricos estão fortemente associados à presença de transtornos como depressão, transtorno bipolar, transtornos de ansiedade, além de comorbidades relacionadas ao abuso de substância e condições psicossociais adversários. Esses achados corroboram a literatura existente, que frequentemente identifica esses transtornos como determinantes principais para a ideação e o comportamento suicida.

Botegha et al. (2005) , por exemplo, analisaram a prevalência da ideação suicida em diversas nações, incluindo adolescentes, e identificaram fatores como a desesperança, isolamento social e comorbidades psiquiátricas como influências centrais no risco suicida. Da mesma forma, Abreu et al. (2009) destacam que pacientes com transtorno bipolar tipo I apresentam risco elevado de experiência de suicídio, particularmente durante episódios depressivos, corroborando os achados de que a gravidade dos sintomas psiquiátricos e a imprevisibilidade das oscilações de humor aumentam a vulnerabilidade ao comportamento suicida.

Os estressores ambientais também emergiram como fatores cruciais, especialmente quando combinados com transtornos psiquiátricos. Meyer et al. (2010) examinaram a relação entre a exposição a pesticidas e transtornos de humor em trabalhadores rurais e sugeriram que os estressores ambientais, como condições adversas de trabalho e exposição a substâncias tóxicas, podem exacerbar os sintomas depressivos e ansiosos, potencializando o risco de suicídio. Esses fatores estressantes são particularmente relevantes para adolescentes em ambientes rurais ou para aqueles que enfrentam situações familiares difíceis, como abuso ou negligência.

Entre as estratégias preventivas mais eficazes, as abordagens psicossociais que incluem terapia cognitivo-comportamental (TCC) e programas de suporte familiar se destacam como disciplinas mais promissoras. A literatura sugere que a TCC ajuda os adolescentes a reformular pensamentos negativos e desenvolver mecanismos saudáveis ​​de enfrentamento. Além disso, intervenções que envolvem a família do adolescente têm mostrado potencial para aumentar o suporte emocional e melhorar o ambiente doméstico, conforme planejado por Abreu et al. (2010) .

As aulas comunitárias e escolares também trouxeram eficácia ao criar ambientes de suporte e detecção precoce, como sugerido por Félix et al. (2016). Essas estratégias são essenciais para fornecer suporte contínuo e acessível, que é especialmente eficaz em grupos de adolescentes vulneráveis, antes que uma ideação suicida se transforme em comportamento suicida.

Embora esta revisão integrativa tenha revelado importantes fatores de risco e estratégias de prevenção, ainda existem lacunas significativas na pesquisa sobre suicídio em adolescentes com transtornos psiquiátricos. Em particular, a maioria dos estudos foca nos transtornos mais comuns, como a depressão e o transtorno bipolar, enquanto os transtornos menos treinados , como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), ainda carecem de investigações mais relatar. A relação entre esses transtornos e o risco de suicídio em adolescentes permanece pouco explorada, o que limita nossa compreensão sobre a totalidade dos fatores de risco.

Além disso, há uma necessidade urgente de mais estudos longitudinais que acompanhem os adolescentes ao longo do tempo, a fim de compreender como os fatores de risco evoluem durante o desenvolvimento e como as intervenções podem ser ajustadas para diferentes fases da adolescência. Diferenças demográficas , como as influências culturais, socioeconômicas e de gênero, também são áreas que merecem maior atenção. Stefanello et al. (2008) , por exemplo, destacam as diferenças de gênero nas tentativas de suicídio, evidenciando que as meninas tendem a usar métodos menos letais, enquanto os meninos tendem a métodos mais violentos. 

Apesar dos achados importantes desta revisão integrativa, é importante considerar as especificidades do processo. Em primeiro lugar, a qualidade dos estudos incluídos varia consideravelmente, com algumas pesquisas apresentando limitações metodológicas, como amostras pequenas ou falta de controle para variações de confusão, o que pode comprometer a generalização dos resultados.

Outro ponto relevante é a heterogeneidade das amostras . Muitos dos estudos revisados ​​focaram em subgrupos específicos, como pacientes hospitalizados ou adolescentes que já cometeram suicídio tentado, ou que podem não representar especificamente a população geral de adolescentes com transtornos psiquiátricos. Isso cria uma limitação para a generalização dos resultados, uma vez que diferentes contextos e níveis de gravidade dos transtornos podem influenciar os resultados e os fatores de risco de maneiras distintas.

Além disso, a variabilidade nos métodos de avaliação dos fatores de risco e das intervenções preventivas pode dificultar a comparação direta entre os estudos. Diferentes estudos utilizaram ferramentas e critérios distintos para avaliar a ideação e os comportamentos suicidas, o que pode ter levado a inconsistências nos achados.

Os resultados desta revisão integrativa têm implicações importantes para as práticas clínicas, políticas públicas e o desenvolvimento de programas de intervenção. Em termos de práticas clínicas , os profissionais de saúde mental devem estar particularmente atentos aos fatores de risco identificados, como comorbidades psiquiátricas e abusos de substância, oferecendo uma abordagem integrada que combina intervenções

No campo das políticas públicas , os resultados destacam a necessidade de programas nacionais voltados para a prevenção do suicídio em adolescentes , com foco específico naqueles que apresentam transtornos psiquiátricos. Isso inclui não apenas a criação de protocolos padronizados para a identificação de risco em escolas e comunidades, mas também a implementação de programas de suporte que envolvem pais e cuidados no tratamento e recuperação do adolescente.

Finalmente, os programas de intervenção devem ser expandidos para incluir estratégias digitais, como plataformas online de suporte emocional e aplicativos de saúde mental. Como os adolescentes estão cada vez mais conectados ao ambiente digital, essas ferramentas podem representar uma forma eficaz de engajar aqueles que, de outra forma, poderiam evitar buscar ajuda por métodos tradicionais. Além disso, campanhas de conscientização que combatem o estigma associado aos transtornos mentais e promovem a importância da busca de ajuda profissional são essenciais para reduzir as taxas de suicídio no longo prazo.

5 CONCLUSÃO

Esta revisão integrativa convenções os principais fatores de risco para o suicídio em adolescentes com transtornos psiquiátricos, destacando a depressão, transtorno bipolar, transtornos de ansiedade e comorbidades, como abuso de emissão, como os mais prevalentes. A influência de fatores psicossociais, como o abuso, a negligência e o isolamento social, também emergem como determinantes críticos para a ideação e o comportamento suicida. Além disso, estressores ambientais e históricos familiares de suicídio foram apontados como elementos importantes no desenvolvimento de comportamentos suicidas em adolescentes vulneráveis.

Em termos de estratégias preventivas, as intervenções psicossociais, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC) e o suporte familiar, mostraram-se eficazes na redução do risco de suicídio ao promover a restrição de pensamentos negativos e fortalecer redes de apoio. Abordagens clínicas, como o uso controlado de medicamentos e hospitalizações preventivas, são cruciais para casos de risco agudo. Além disso, os programas de prevenção em ambientes escolares e comunitários, combinados com o uso de tecnologias digitais, visam uma abordagem proativa e acessível para a detecção precoce e o suporte contínuo a adolescentes em risco.

Com base nos resultados desta revisão, são recomendadas várias direções para futuros estudos e disciplinas. Primeiramente, é essencial que mais pesquisas sejam conduzidas sobre transtornos psiquiátricos menos treinados , como o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), que, embora menos prevalentes, podem estar associados a um risco significativo de suicídio . Além disso, há uma necessidade de estudos longitudinais que acompanhem adolescentes ao longo do tempo, proporcionando uma compreensão mais profunda de como os fatores de risco evoluem e como as disciplinas podem ser ajustadas para diferentes fases do desenvolvimento.

As disciplinas devem ser ampliadas e aprimoradas para abordar as diferenças demográficas , especialmente relacionadas ao gênero, contexto socioeconômico e ambiente cultural. Stefanello et al. (2008) destaca diferenças significativas nas tentativas de suicídio entre meninos e meninas, o que sugere que abordagens de prevenção devem ser adaptadas de acordo com as particularidades de cada grupo.

Não que se refira às políticas públicas, é imperativo que protocolos padronizados de prevenção do suicídio sejam implementados em todo o país, especialmente nas escolas e nos serviços de saúde. Como aponta Brasil (2006) , as diretrizes nacionais para a prevenção do suicídio servem como uma base importante, mas a implementação da eficácia dessas políticas precisa ser fortalecida, incluindo treinamento de profissionais para identificar fatores de risco e fornecer suporte adequado aos adolescentes em risco.

A prevenção do suicídio em adolescentes com transtornos psiquiátricos é uma questão urgente de saúde pública, que requer a implementação de estratégias adequadas com base na identificação precoce de fatores de risco. A integração de abordagens clínicas, psicossociais e tecnológicas pode garantir uma resposta mais eficaz à vulnerabilidade desses jovens. Brasil (2006) reforça a importância de políticas públicas bem estruturadas, que promovam uma abordagem abrangente e multissetorial para a prevenção do suicídio.

Concluindo, é fundamental que a sociedade, as instituições de saúde e as escolas colaborem para garantir que os adolescentes com transtornos psiquiátricos recebam o suporte necessário, recebam assim as taxas de suicídio e promovam o bem-estar mental. A detecção precoce e a implementação de intervenções preventivas eficazes podem salvar vidas e melhorar significativamente a qualidade de vida desses jovens.

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1Graduanda em Medicina pela União Das Faculdades dos Grandes Lagos
2 Graduanda em Medicina pela União Das Faculdades dos Grandes Lagos
3 Graduando em Medicina pela Universidade Brasil
4 Graduanda em Medicina pela União Das Faculdades dos Grandes Lagos
5 Graduanda em Medicina pela UNIPE – Centro Universitário de João Pessoa
6 Graduando em Medicina pela Universidade Brasil
7 Graduanda em Medicina pela União das Faculdades dos Grandes Lagos
8 Graduanda em Medicina pela Universidade Federal do Ceará
9 Graduanda em Medicina pela Universidade Federal do Ceará
10 Graduando em Medicina pela União Das Faculdades dos Grandes Lagos
11 Graduanda em Medicina pela União Das Faculdades dos Grandes Lagos
12 Graduanda em Medicina pela União Das Faculdades dos Grandes Lagos
13 Graduanda em Medicina pela União das Faculdades dos Grandes Lagos
14 Graduanda em Medicina pela Universidade Brasil
15 Graduando em Medicina pela Centro Universitário de Pato Branco – UNIDEP