FATORES CONTRIBUINTES E INTERVENÇÕES FISIOTERAPÊUTICAS NO TRATAMENTO DO ZUMBIDO SOMATOSSENSORIAL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411262113


Maria Vitória Silva Machado
Ravena Sousa Oliveira
Orientadora: Ana Vannise de Melo Gomes


RESUMO

Introdução: A presença do zumbido vem se tornando cada dia mais frequente na rotina dos fisioterapeutas. O zumbido é o som percebido sem que haja estímulo sonoro externo, podendo resultar tanto de fatores otológicos, como também patologias neurológicas ou fatores externos como ansiedade, depressão e estresse. A partir de uma avaliação detalhada, o Fisioterapeuta especializado em zumbido poderá utilizar inúmeros recursos terapêuticos para a melhora do quadro. Objetivo: Esse artigo tem como objetivo realizar uma revisão integrativa sobre os Fatores Contribuintes e Intervenções Fisioterapêuticas no Tratamento do Zumbido Somatossensorial. Métodos: A busca na literatura foi realizada no mês de agosto de 2024, a partir das seguintes bases de dados on-line: Lilacs, Google Acadêmico, SciELO, Pubmed e também envolveu a consulta a livros na área do estudo. Foram utilizados os descritores: somatosensory tinnitus (zumbido somatossensorial) e physiotherapy (fisioterapia). Resultado: Para avaliar e diagnosticar o zumbido, o paciente acometido por este sintoma deve ser submetido a uma bateria de testes. Dentre as principais intervenções estão a farmacoterapia e a estimulação elétrica, terapia cognitivo comportamental, terapia sonora, fisioterapia, aparelhos auditivos, entre outros. Conclusão: Conclui-se que A intervenção fisioterapêutica demonstra eficácia na melhora do quadro de zumbido somatossensorial. A partir de uma avaliação detalhada, o Fisioterapeuta especializado em zumbido poderá indicar o tratamento mais adequado.

Palavras-chave: Zumbido somatossensorial, fisioterapia, tratamento.

ABSTRACT

Introduction: The presence of tinnitus is becoming more frequent in the routine of physiotherapists. Tinnitus is the sound perceived without external sound stimulus, and can result from otological factors, as well as neurological pathologies or external factors such as anxiety, depression and stress. Based on a detailed assessment, the Physiotherapist specializing in tinnitus will be able to use numerous therapeutic resources to improve the condition. Objective: This article aims to carry out an integrative review on the Contributing Factors and Physiotherapeutic Interventions in the Treatment of Somatosensory Tinnitus. Methods: The literature search was carried out in August 2024, using the following online databases: Lilacs, Google Scholar, SciELO, Pubmed and also involved consulting books in the study area. The following descriptors were used: somatosensory tinnitus and physiotherapy. Result: To evaluate and diagnose tinnitus, the patient affected by this symptom must undergo a battery of tests. Among the main interventions are pharmacotherapy and electrical stimulation, cognitive behavioral therapy, sound therapy, physiotherapy, hearing aids, among others. Conclusion: It is concluded that physiotherapeutic intervention demonstrates effectiveness in improving somatosensory tinnitus. Based on a detailed assessment, a Physiotherapist specializing in tinnitus will be able to recommend the most appropriate treatment.

Keywords: Somatosensory tinnitus, physiotherapy, treatment.

INTRODUÇÃO

O zumbido é caracterizado como a percepção e reação consciente a um som na ausência de um estímulo acústico externo correspondente, frequentemente descrito como uma percepção fantasma. Esse quadro não é considerado uma patologia independente, mas classifica-se como um sintoma. Trata-se de uma alteração estrutural e funcional do cérebro. Existem algumas variantes sendo classificados em zumbido subjetivo, quando há percepção do som, na ausência de um estímulo acústico e é ouvido apenas pelo paciente. E zumbido objetivo, quando resulta de ruído gerado por estruturas próximas à orelha.

O zumbido somatossensorial classifica-se como um subtipo que tem influência de músculos e articulações da região da cabeça, pescoço e cintura escapular. Sua principal característica é alteração na sua percepção psicoacústica. Podendo haver modulação desse zumbido diante algumas manipulações. Segundo estudos recentes, de 36% a 60% pessoas com zumbido somatossensorial tem sinais e sintomas de DTM aflorados.

Dentre os estudos sobre zumbido, temos a necessidade de um tratamento multidisciplinar, para abordar questões psicológicas, musculares e da vida cotidiana. A demanda por atendimento fisioterapêutico de pacientes com sintomas associados ao zumbido tem aumentado substancialmente. A fisioterapia desempenha um papel significativo, principalmente com relação ao controle dos sintomas (GIL-MARTINEZ et al., 2018).

Os fatores contribuintes para o surgimento do zumbido somatossensorial nem sempre são otológicas, podem variar profusamente podendo estar ligada a patologias mais graves como doenças neurológicas ou a fatores externos como ansiedade, depressão e estresse. Na maioria dos casos, os pacientes acometidos queixam-se de insônia e falta de concentração, tais manifestações interferem na qualidade de vida desses indivíduos.

Uma pesquisa publicada na Frontiers in Public Health mostra que aproximadamente 15% dos adultos experimentam zumbido persistente. Este estudo também destacou uma relação significativa entre a exposição a ruídos e o aumento da prevalência de zumbido (Rosenhall et al., 2021).

A intervenção fisioterapêutica demonstra eficácia na melhora do quadro de zumbido somatossensorial. A partir de uma avaliação detalhada, o Fisioterapeuta especializado em zumbido poderá indicar o tratamento mais adequado. Dentre os inúmeros recursos terapêuticos, a terapia manual, agulhamento a seco, fotobiomodulação e neuromodulação são os mais utilizados no tratamento do zumbido somatossensorial. Associados a diversas adaptações em toda rotina do paciente para melhor evolução do quadro.

OBJETIVOS

O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa, tendo como objetivo revisar de forma satisfatória a literatura a respeito dos principais fatores contribuintes e as intervenções fisioterapêuticas mais eficazes nos casos de zumbido somatossensorial.

METODOLOGIA

A busca na literatura foi realizada no mês de Agosto de 2024, a partir das seguintes bases de dados on-line: Lilacs, Google Acadêmico, SciELO, Pubmed e também envolveu a consulta a livros na área do estudo. Foram utilizados os descritores: somatosensory tinnitus (zumbido somatossensorial) e physiotherapy (fisioterapia). Os artigos pesquisados foram na língua portuguesa e inglesa, sendo selecionados os artigos de maior relevância e atuais sobre os temas.

Teve-se como critérios de elegibilidade artigos publicados no período de 2014 a 2024, que abordassem o zumbido somatossensorial como tema principal ou secundário, sua definição, como também os principais fatores contribuintes para o quadro e tratamentos fisioterapêuticos.

Os critérios de ilegibilidade foram artigos que não abordavam zumbido como tema principal, sem foco específico no tinnitus somatossensorial, que não citavam intervenções fisioterapêuticas ou que associavam a outras patologias que fugiam da temática abordada no estudo.

Para a leitura completa, foram considerados apenas os artigos que exploravam o zumbido somatossensorial, com ênfase no papel do fisioterapeuta. Estudos que enfocavam exclusivamente na intervenção médica ou que tratassem de outros tipos de disfunção além de cabeça e pescoço, foram excluídos.

Os artigos selecionados foram analisados criticamente para a construção deste estudo, considerando suas metodologias, resultados e contribuições para o campo da fisioterapia musculoesqueléticas, especialmente na região da cabeça e pescoço.

RESULTADOS

A busca nos bancos de dados identificou 23 registros potencialmente elegíveis pelos descritores utilizados: somatosensory tinnitus (zumbido somatossensorial) e physiotherapy (fisioterapia). Após o processo de seleção dos estudos, 15 registros foram excluídos através dos critérios de ilegibilidade, sendo 8 registros incluídos para análise completa, esse processo está detalhado no fluxograma (figura 1).

Figura 1 – Fluxograma do processo de seleção dos estudos.

Dentre os registros selecionados: dois registros abordavam crtérios de diagnóstico (validade discrimitnativa), um registro abordava a associação do zumbido somatossensorial e DTM, dois registros sendo revisões sistemáticas, dois registros abordando as possibilidades terapêuticas e um regsitro abordava as evidências atuais e pespectivas futuras do Zumbido Somatossensorial. As características descritivas dos artigos selecionados estão detalhadas na tabela (tabela 1).

Tabela 1 – Características descritivas dos artigos selecionados.

Autores / AnoObjetivosTipo de estudoIntervenção terapêuticaResultados
Wildna Sharon Martins da Costa (2023)Propor um checklist de exame físico adaptado do Diagnostic Criteria for Somatosensory Tinnitus para diagnóstico do ZSS e determinar a validade discriminativa de itens do critério diagnóstico entre pacientes com e sem ZSS.Estudo de campoUma equipe Multiprofissional realizou uma avaliação fisioterapêutica por meio de um exame físico estruturado, adaptado dos critérios diagnósticos do zumbido somatossensorial. Os itens verificados no exame físico foram: a modulação do zumbido às manobras somáticas (MS), à movimentação ocular, à palpação da articulação temporomandibular (ATM) e dos músculos mastigatórios e cervicais; a presença de dor e de pontos gatilho miofasciais (PGs) nas referidas musculaturas.Indivíduos que apresentam zumbido somatossensorial relataram maior incômodo e maior repercussão na qualidade de vida. O checklist foi capaz de discriminar diferenças entre os grupos com e sem influência somatossensorial. Desse modo, espera-se, que o checklist possa auxiliar na identificação padronizada de pacientes com provável zumbido somatossensorial.
Maria das Graças de Araújo Lira (2022)Realizar a adaptação transcultural das subescalas Vestibular Activities and Participation measure (VAP) e avaliar suas propriedades de medida (validade, consistência interna, confiabilidade e medida de erro).Estudo metodológicoA validade estrutural foi avaliada utilizando análises fatoriais exploratórias (AFE) e confirmatória (AFC), para análise das confiabilidades intra- e interavaliador foi utilizado o Coeficiente de Correlação Intraclasse (CCI) e a medida de erro foi avaliada pelos Erro Padrão de Medida (EPM).As subescalas brasileiras VAP (VAP-BR) receberam algumas informações adicionais, a fim de melhorar a compreensão dos voluntários no pré-teste.
Juan Simoni Cordeiro (2022)Apresentar conceitos, critérios de diagnóstico e tratamentos para o zumbido somatossensorial.Revisão BibliográficaAs intervenções abordadas na revisão foram: modulação do zumbido,orientação e aconselhamento, relaxamento e alongamento dos músculos da mandíbula e Pescoço, desativação de pontos gatilhos miofasciais, exercícios repetitivos, acupuntura, mindfulness.Os estudos selecionados mostraram comprovação científica dos recursos estudados. Após uma avaliação detalhada e específica para melhor escolha do recurso terapêutico apropriado. Houve o alívio no quadro de sintoma após o tratamento terapêutico em todos os registros
Marianne Trajano da Silva (2021)Determinar os efeitos das modalidades fisioterapêuticas em indivíduos com diagnóstico de DTM associada à zumbidoRevisão SistemáticaAs intervenções abordadas na revisão foram: educação associada a exercícios de mobilidade, postura, controle motor do pescoço e terapia manual. Os participantes foram submetidos a um tratamento orofacial que consistia em aconselhamento, e outras modalidades fisioterapêuticas como alongamento, massagem e terapia de relaxamento. E o uso do laser de baixa intensidade no meato acústico ao comparar a aplicação diária do laser.Os resultados dessa revisão demonstram que a fisioterapia promove redução na intensidade ou gravidade do zumbido associado à DTM. A investigação de outros parâmetros clínicos comumente prejudicados nesses pacientes como, por exemplo, dor orofacial e cervical, incapacidade e qualidade de vida também carecem de mais pesquisas.
Sandra Bastos (2021)identificar aspectos da fisiopatologia do zumbido; reconhecer a participação da via somatossensorial sobre a via auditiva; estabelecer o diagnóstico e o tratamento do zumbido somatossensorial.Estudo ConceitualAs intervenções abordadas no capítulo foram: tratamento orofacial, acupuntura, terapia manual, terapia estomatognática, quiropraxia.O estudo traz informações de que através do uso do recurso adequado após avaliação específica, haverá uma redução clinicamente e estatisticamente significativa no sintoma dezumbido somatossensorial.
Luciana Mendes Vinagre, et al., (2018)Levantar quais os tratamentos clínicos mais utilizados na prática clínica no tratamento do zumbido primário em adultos e idosos.Revisão SistemáticaAs intervenções abordadas na revisão foram: acupuntura, estimulação auditiva, neuromodulação acústica, laser de baixa e média frequência.Não foi possível afirmar, no presente estudo que algum tipo de tratamento se mostre realmente eficaz na cura dos sintomas de zumbido em adultos e idosos, mas sim que existem algumas terapêuticas de baixo custo como a acupuntura, a neuromodulação acústica que apresentam resposta relativamente satisfatória, quanto à intensidade do desconforto gerado pelo zumbido. Essa pesquisa aponta para a necessidade de se desenvolve- rem novas investigações, que abordem propostas de tratamentos clínicos, incluindo-se a acupuntura, já que essa técnica de tratamento foi a que apresentou um maior número de resultados positivos.
Ralli    M, et       al., (2017)Abordar as principais evidências atuais e perspectivas futuras do zumbido somatossensorial.Revisão BibliográficaO estudo aborda sobre as principais características clínicas da modulação somatossensorial do zumbido.Traz evidências atuais que corroboram uma ligação, dos distúrbios da ATM, distúrbio somático e maior modulação do zumbido, especialmente em pacientes com limiar auditivo normal. A presença de tal correlação ainda é debatida. A triagem precisa de pacientes para modulação somatossensorial do zumbido é imperativa para selecionar corretamente os pacientes que se beneficiariam de uma abordagem somática multidisciplinar.
Haúla F. Haider, et         al., (2017)Apresentar uma revisão de escopo sobre a fisiopatologia, diagnóstico e tratamento do zumbido somatossensorial, e identificar direções prioritárias para novas pesquisas.Revisão BibliográficaO estudo aborda sobre a fisiopatologia, diagnóstico e tratamento do zumbido Somatossensorial.A maioria das evidências sobre a fisiopatologia do zumbido somatosensorial sugere que as modulações somáticas são o resultado de atividade sináptica alterada ou multimodal dentro do núcleo dorsal colear ou entre o sistema nervoso auditivo e outros subsistemas sensoriais do sistema nervoso central. Apresentações de zumbido somatossensorial são variadas e evidências para as várias abordagens para o tratamento promissor, mas limitadas.

Todos os estudos trouxeram como desfecho primário a avaliação do sintoma zumbido para mensurar os efeitos das intervenções fisioterapêuticas propostas. A escala EVA foi a mais utilizada como medida de avaliação desse sintoma nos estudos, o que corrobora com a literatura vigente (NASCIMENTO et al., 2019), por ser um instrumento de fácil aplicabilidade e mostrar boa validade e reprodutibilidade para o zumbido.

DISCUSSÃO

O zumbido é um sintoma que pode estar associado a outras disfunções, por isso é importante que o diagnóstico correto seja estabelecido por meio de uma ampla avaliação do paciente, o que permitirá personalizar a conduta e proporcionará o melhor tratamento para cada indivíduo. Assim, o fisioterapeuta deve verificar o diagnóstico médico e os exames audiológicos, colher informações sobre as características do zumbido, averiguar sintomas associados, assim como os fatores de melhora e piora do zumbido, investigar a dieta e hábitos de vida do paciente e realizar o exame físico. Após toda essa avaliação detalhada, o fisioterapeuta pode então definir sua possível etiologia e iniciar o tratamento mais adequado.

Não se tem comprovação da prevalência em sexo. A maior prevalência no sexo feminino pode ser explicada em decorrência das mulheres buscarem mais os serviços de saúde quando comparado aos homens. O estresse foi autorrelatado como fator de piora do zumbido, e o prejuízo no sono como consequência desse sintoma. Ainda não há relatos quanto a maior prevalência de ansiedade e estresse nos grupos com zumbido somático.

Como os pacientes muitas vezes apresentam tensão muscular tanto na mandíbula quanto no pescoço, o primeiro objetivo do tratamento para o zumbido somatossensorial é a redução de tal tensão muscular. Esse tratamento da tensão muscular na mandíbula e no pescoço pode reduzir os sintomas relacionados à tensão, como zumbido, vertigem, plenitude auditiva e dor na mandíbula, pescoço ou dor de cabeça.

ASSOCIAÇÃO ENTRE O ZUMBIDO SOMATOSSENSORIAL E DTM

Dois estudos (Ralli M, et al., 2017; Haúla F. Haider, et al., 2017) abordaram a associação do Zumbido Somatossensorial em pacientes com DTM. Para o autor Ralli M, et al. (2017) os transtornos da articulação temporomandibular (ATM) são considerados um fator relevante para o surgimento do zumbido somatossensorial. O estudo demonstrou que a prevalência de zumbido seria oito vezes maior em indivíduos com distúrbios da ATM comparado àqueles sem essa condição (36,6% contra 4,4%, respectivamente). As abordagens fisioterapêuticas usadas no estudo, incluem alongamento muscular passivo, liberação miofascial nos músculos mastigatórios afetados e exercícios de coordenação, mostraram eficácia, proporcionando melhorias nos sintomas de zumbido em 11 dos 25 participantes do estudo. Enfatizando que é fundamental realizar a avaliação detalhada em relação à modulação somatossensorial do zumbido para identificar adequadamente a intervenção fisioterapêutica mais eficaz.

Para Haúla F. Haider, et al. (2017) estudaram zumbido em pacientes com DTM e relataram que 56% dos participantes obtiveram cura e 30% apresentaram uma melhoria considerável utilizando terapia cognitiva e técnicas de modulação. As intervenções abordadas nesse estudo foram: a terapia estomatognática

envolvendo o uso de talas, atividades terapêuticas para a mandíbula inferior e a correção da oclusão, juntamente com orientações.

Ainda no mesmo estudo, Haúla F. Haider (2017) aborda a eficácia da Terapia de Modulação Somática, sendo um tratamento afim de modular a intensidade de um sintoma por movimento, raramente foi estudada além dos estudos de caso. Sanchez et al., foram os primeiros a investigar o efeito de manobras repetitivas de treinamento com contrações musculares de cabeça e pescoço, com foco em seu valor como terapia de reciclagem de zumbido. Os autores descobriram que ele tem um efeito significativo sobre os padrões de modulação, mas não na percepção diária do zumbido.

ORIENTAÇÃO E ACONSELHAMENTO

Uma ferramenta terapêutica que vem ganhando destaque nos últimos estudos é o aconselhamento, sobretudo no manejo das condições crônicas (DE RESENDE et al., 2019; PASCOAL et al., 2019). Em relação ao zumbido somatossensorial, o aconselhamento é uma modalidade terapêutica essencial ao manejo do sintoma, em virtude da sua ação contribuir na habituação do ruído fantasma. Ademais, essa modalidade terapêutica favorece a autonomia/autoeficácia dos pacientes quanto ao manejo e enfrentamento dos sintomas.

Esta intervenção promove a educação do indivíduo quanto a esse sintoma. Para isso, o terapeuta deve proporcionar a habituação, a desmistificação de nocebos e orientar o paciente quanto às medidas que ajudem no manejo do zumbido, como o autogerenciamento dos sintomas, práticas de higiene do sono, hábitos alimentares e prática de exercício físico, logo, o indivíduo é estimulado a participar ativamente da reabilitação (TAVARES, L.F., et al, 2022).

As informações fornecidas ao paciente devem estar adaptadas às suas necessidades. O paciente deve estar ciente sobre o que é zumbido e o que causa, como ele pode ser gerenciado e orientado sobre outros serviços de apoio, como o psicológico. As evidências indicam que a aplicação de intervenções educativas e de automanejo reduzem os sintomas em indivíduos com desordens musculoesqueléticas crônica (LOUW et al., 2016).

TERAPIA MANUAL

A Terapia Manual é embasada no raciocínio clínico, que lida com o manejo das condições neuromusculoesqueléticas ao utilizar abordagens de tratamento altamente específicas incluindo técnicas manuais e exercícios terapêuticos. Os mecanismos de ação da terapia manual sobre a experiência da dor são, provavelmente, pela combinação de efeitos biomecânicos e neurofisiológicos. As evidências atuais apontam que o modelo neurofisiológico é o mais aceito para explicar esses mecanismos, já que após a aplicação, observa-se a redução de marcadores inflamatórios, diminuição da excitabilidade espinal e sensibilidade à dor, além de modificações nas áreas corticais envolvidas no processamento da dor.

Em razão da aplicabilidade da terapia manual no sistema musculoesquelético e das relações do Zumbido com o sistema somatossensorial, alguns estudos demonstraram a eficácia de técnicas articulares e musculares na região cervical e orofacial na redução da intensidade do zumbido. As técnicas musculares têm como objetivo gerar alívio da dor por meio da desativação de pontos gatilhos miofasciais. Há distintas formas de executar essas técnicas, desde formas manuais com deslizamento, digitopressão na musculatura e liberação posicional ou até mesmo com auxílio de instrumentos.

O primeiro passo para fornecer a opção de tratamento de terapia manual é a compreensão dos mecanismos somatossensoriais subjacentes às estruturas proprioceptivas e nociceptivas inervadas na região da cabeça e do pescoço e de processamento nociceptivo desregulado no sistema nervoso central em relação à hipersensibilidade do núcleo coclear dorsal.

Van der Wal et al. (2020) propuseram um tratamento conservador para indivíduos com zumbido somatossensorial. Essa intervenção integrou as modalidades fisioterapêuticas de terapia manual, alongamento, massagem na musculatura mastigatória e terapia de relaxamento e em casos específicos, a placa oclusal foi indicada. Esse estudo (VAN DER WAL et al., 2020) detectou a redução do zumbido imediatamente após o tratamento. As técnicas da terapia manual são amplamente empregadas e recomendadas dentro da terapia multimodal para o manejo das disfunções craniocervicais, (ARMIJO-OLIVO et al., 2016; CALIXTRE et al., 2015; LA TOUCHE et al., 2020).

ELETROTERAPIA

A Eletroestimulação Nervosa Transcutânea (TENS) é um método não invasivo que entrega uma corrente elétrica para um nervo através da pele. Evidências recentes relataram melhora significativa no zumbido somatossensorial por meio de estimulação elétrica nervosa. A estimulação do nervo transelétrico (TENS) de áreas da pele próximas à orelha aumenta a ativação do núcleo coclear dorsal através da via somatossensorial e pode aumentar o papel inibitório desse núcleo no Sistema Nervoso Central e, assim, melhorar o zumbido. A estimulação elétrica por meio de pulsos elétricos restaura a atividade espontânea do nervo auditivo, suprimindo assim o zumbido.

Estudos que avaliem a efetividade da TENS no sintoma zumbido tem surgido ao longo dos anos, e os autores concluíram que a TENS tem efeito terapêutico positivo no tratamento do zumbido somatossensorial, bem como efeito placebo, além de ressaltarem que essa terapia é de fácil aplicação e de baixo custo, com efeitos adversos quase inexistentes, tornando seguro o uso dessa técnica.

LASERTERAPIA

A terapia a laser de baixa intensidade é uma técnica a qual utiliza luz e ondas eletromagnéticas que podem ser visíveis ou invisíveis. Sugere-se que diferentes mecanismos de ação da laserterapia podem ajudar no tratamento do zumbido somatossensorial, como por exemplo o estímulo na proliferação de células e a melhora no fluxo sanguíneo no ouvido interno, aumento da produção de trifosfato

de adenosina (ATP), aumento na produção de colágeno e a ativação de mitocôndrias de células ciliadas.

Demirkol et al. (2017) aplicaram duas modalidades de laserterapia de baixa intensidade, o Nd:YAG 1064 nm e o diodo 810 nm, em indivíduos com zumbido subjetivo crônico associado a DTM (DEMIRKOL et al., 2017). A redução do zumbido foi verificada apenas após 4 semanas, para ambos os grupos de laserterapia. No entanto, os pacientes submetidos ao laser Nd:YAG 1064 nm demonstraram menores índices na intensidade do zumbido.

Os autores concluíram que mais estudos são necessários, devido à grande variedade nos parâmetros utilizados. Outra revisão sistemática mais recente comparou a laserterapia com outras terapias e concluiu que não há evidência suficiente favorável ou desfavorável aos efeitos da laserterapia na severidade do zumbido.

QUIROPRAXIA

A quiropraxia é um tratamento terapêutico de correção de um padrão de movimento anormal por meio da manipulação da coluna vertebral e das extremidades. Os poucos estudos (relatos de caso) relacionados ao tratamento do zumbido somatossensorial pela abordagem da quiropraxia mostraram melhora nos pacientes desde parcial a total. Os autores concluíram que o sucesso da terapia quiroprática foi devido à melhora na função da coluna cervical.

ACUNPUTURA

A acupuntura é uma técnica comprovada e muito usada no tratamento de DTM e de zumbido somatossensorial. A acupuntura tem como objetivo o rebalanceio do sistema neurofisiológico por meio da inserção de agulhas, levando a uma melhora das condições de desconforto do paciente.

Em um dos estudos, os autores compararam a eficácia da acupuntura e da eletroacupuntura no tratamento de zumbido, incluindo zumbido somatossensorial, e relataram não haver diferença significativa de eficácia entre as duas intervenções. O estudo relatou que a eletroacupuntura pareceu gerar resultados mais promissores, mas que ainda falta estudos que comprovem o fato.

A acupuntura pode melhorar o zumbido, estimulando os pontos meridianos ao redor da orelha, e na prática clínica, muitos médicos a indica como um método terapêutico para essa condição. No entanto, o tratamento do zumbido somatossensorial com acupuntura foi revisado sistematicamente e evidências convincentes não foram fornecidas, o que limita sua aplicação.

TERAPIA SONORA

A terapia sonora utiliza sons naturais (chuva, vento, cachoeira) para diminuir a intensidade da atividade neuronal relacionada ao zumbido somatossensorial. Um dos objetivos dessa técnica seria fazer o enriquecimento sonoro para via

auditiva, fazendo com que o cérebro preste atenção em outros sons e receba mais informações além do zumbido. Entretanto, é importante ressaltar que a terapia sonora por si só não irá promover a melhora da percepção do zumbido. Ela deve sempre estar associada a outras intervenções terapêuticas.

Em um estudo piloto recente, uma combinação de sons com estimulação elétrica transcutânea no pescoço ou na área temporomandibular produziu resultados impressionantes. Os estímulos somatossensoriais e auditivos foram apresentados em intervalos específicos derivados de estudos neurofisiológicos básicos que descrevem a plasticidade dependente do tempo do estímulo no núcleo coclear dorsal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que o zumbido somatossensorial classifica-se como um subtipo que tem influência de músculos e articulações da região da cabeça, pescoço e cintura escapular. Sua principal característica é alteração na sua percepção psicoacústica e a principal causa seria a lesão de células sensoriais auditivas da cóclea, associada ou não à lesão de estruturas do sistema auditivo central. Podendo haver modulação desse zumbido diante algumas manipulações. A demanda por atendimento fisioterapêutico de pacientes com sintomas associados ao zumbido tem aumentado substancialmente. Os fatores contribuintes para o surgimento do zumbido somatossensorial nem sempre são otológicas, podem variar, podendo estar ligada a patologias mais graves como doenças neurológicas ou a fatores externos como ansiedade, depressão e estresse.

A intervenção fisioterapêutica demonstra eficácia na melhora do quadro de zumbido somatossensorial. A partir de uma avaliação detalhada, o Fisioterapeuta especializado em zumbido poderá indicar o tratamento mais adequado. Dentre os inúmeros recursos terapêuticos, estudos comprovam como mais eficazes: a terapia manual (liberação miofascial e por pressão), técnicas de mobilização articular, relaxamento muscular com alongamentos e aconselhamento, Eletroestimulação, Laserterapia, Terapia sonora, aromaterapia, agulhamento a seco, fotobiomodulação, neuromodulação são os mais utilizados no tratamento do zumbido somatossensorial. Associados a diversas adaptações em toda rotina do paciente para melhor evolução do quadro.

Apesar dos recentes avanços na literatura específica, estudos sobre a fisiopatologia do zumbido somatossensorial ainda é bastante deficitária, não se tem muitos estudos na área. No entanto, é de suma importância compreender melhor as causas e consequências, com o intuito de investigar e avançar cada vez mais no controle e tratamento dessa condição.

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