REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8087685
Hafra Kelly Pessoas Martins1
José Victor da Costa Martins2
Conceição de Maria Costa3
Kelúria Brito Honório Torres4
Ozirina Maria da Costa5
Francisca Maria da Silva Medeiros6
Cristiana Pacifico Oliveira7
Amanda Bastos de Castro8
RESUMO
OBJETIVO: Identificar na literatura fatores associados ao traumatismo em crianças. MÉTODO: Trata-se de revisão narrativa da literatura, com abordagem qualitativa. Tendo como pergunta norteadora, quais os fatores são associados ao traumatismo em crianças, ao estabelecer a técnica de pesquisa PICO dos quais P: Crianças, I: Traumatismo, C: não tem, O: Fatores associados. Foram encontrados 30 artigos, porém 10 foram utilizados por estar relacionado diretamente com o tema em questão. A pesquisa de referencial teórico foi realizada nas bases de dados Scientific Electronic Library Online e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). RESULTADOS: Os resultados evidenciaram o comportamento de risco atribuído ao fator masculinidade, brincadeiras, mas agressivas e perigosas. Já as meninas estão associadas às violências e abusos. Quanto aos acidentes no ambiente doméstico, está associada à dupla jornada de trabalho do cuidador, a sensação de segurança que a criança tem. CONCLUSÃO: A prevenção do traumatismo em crianças e a sua reincidência, deve ser de atenção de todos, principalmente dos profissionais da saúde, gestores, família e a sociedade em geral.
Descritores: Traumatismo. Criança. Acidente.
Descriptors: Trauma. Child. Accident.
Descriptores: Trauma. Niño. Accidente.
O que se sabe?
Dados da organização Mundial da saúde mostram que os acidentes infantis são responsáveis por aproximadamente 830 mil mortes por ano e, portanto um fator de alarde dentro da saúde pública.
O que o estudo acrescenta?
Pontual os principais causadores de acidentes entre as crianças em ambos os sexos, segundo suas prevalências, decorrente da pouca literatura existente.
Introdução
Os acidentes infantis são um importante problema de saúde em todo o mundo. As lesões acidentais são as principais causas de morbidade e mortalidade infantil, representando aproximadamente 25 % das causas de morte em crianças de cinco a nove anos. Dados da organização Mundial da saúde mostram que os acidentes infantis são responsáveis por aproximadamente 830 mil mortes por ano (GONÇALVES, ET AL.,2019).
Em estudo realizado por Lima et al. 2018, em avaliação aos atendimentos em unidades de urgência e emergência em 24 capitais brasileiras e no Distrito Federal, constatou que das 67,9% das 7.224 crianças de 0 a 9 anos internadas por acidentes domiciliares.
Diante dos atendimentos às emergências pediátricas, destacam-se as causas externas, que ocasionam anualmente cerca de 950.000 mortes, o que corresponde a 40% na faixa etária infanto-juvenil. Dentre estes se incluem os acidentes e as violências que, além de representarem atualmente a principal causa de morte entre o segmento populacional de 01 a 14 anos, também causam danos físicos e psicológicos irreparáveis e proporcionam um conjunto de agravos à saúde. De acordo com Ministério da Saúde, por ano, 4,7 mil crianças morrem e 125 mil são hospitalizadas vítimas de acidentes (GROSS, ET AL., 2021).
Identifica-se dentre os fatores de risco a faixa etária, sexo masculino, próprio espaço domiciliar, sendo o principal causador de acidentes as quedas. Bem relacionadas a práticas de esporte e atividades dinâmicas, constituem uma das principais causas de morbimortalidade em crianças (GROSS, ET AL., 2021).
Desse modo, o Ministério da Saúde programou a Política Nacional de Redução da Morbimortalidade em Acidentes e Violências (PNRMAV), em 2001, por meio de ações sistematizadas e articuladas. Da mesma forma, em 2008, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou o Relatório Mundial sobre Prevenção de Lesões Infantis. Este destaca que a prevenção de lesões infantis e juvenis decorrentes de causas externas deve ser uma responsabilidade compartilhada (SOUZA, ET AL., 2021).
Diante do exposto percebe se a necessidade de novas pesquisas que busquem contemplar as causas de traumatismos em crianças, buscando identificar estes fatores. Para que sirvam como embasamento científico no desenvolvimento de estratégias, que previnam traumas, e elaboração de novos projetos para prevenção e promoção da saúde. Para tanto, este estudo tem como objetivo identificar fatores associados ao traumatismo em crianças.
Métodos
Trata-se de revisão narrativa da literatura, com abordagem qualitativa. A questão que norteou o presente estudo foi: Quais os fatores são associados aos traumas em crianças, ao estabelecer a técnica de pesquisa PICO dos quais P: Crianças, I: Traumatismo, C: não tem, O: Fatores associados.
Em relação aos critérios de inclusão dos artigos científicos, são eles: artigo completo disponível, publicados em língua portuguesa, na área da enfermagem nos últimos cinco anos. Utilizou-se dos descritores em saúde criança, acidentes, causas externas e traumatismo em associação ao descritor booleano “and”. O exemplo demostrado no quadro 1 para a base de dados Scielo e quadro 2 para base de dados BVs.
Quadro 1. Relação dos descritores em saúde associado ao descritor booleano, resultando na quantidade de estudos na base de dados Scielo.
Base de dados Scielo | |||
Termos associados | Artigos encontrados | Artigos selecionados | Motivo do descarte dos artigos |
“Criança and acidente” | 6 | 3 | Artigos duplicados, uso de álcool e luto. |
“Criança and causa externa” | 1 | 0 | Artigo sobre adulto. |
“Criança and traumatismo” | 3 | 2 | Descreviam traumas dentários. |
Quadro 2. Relação dos descritores em saúde associado ao descritor booleano, resultando na quantidade de estudos para base de dados Bvs.
Base de dados Bvs | |||
Termos associados | Artigos encontrados | Artigos selecionados | Motivo do descarte dos artigos |
“Criança and acidente” | 13 | 3 | Trata de adultos, Políticas, artigos duplicados, AVC. |
“Criança and causa externa” | 3 | 0 | Artigos duplicados, adultos. |
“Criança and traumatismo” | 9 | 2 | Artigos sobre trauma dentário. |
Foram encontrados 35 artigos, porém 10 foram utilizados por estar relacionado diretamente com o tema em questão. A pesquisa foi realizada nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (Scielo) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS).
Resultados
Dada à perspectiva dos estudos encontrados, obteve-se como resultado 10 artigos dentre as plataformas, que foram expostos em quadros resumos observando seus respectivos títulos e resultados. O que proporciona uma melhor compreensão dos fatores geradores de acidentes em crianças.
Foram analisados estudos dos anos de 2017 a 2022, que descrevessem os tipos de traumas acidentais envolvendo crianças, que relatassem onde e como ocorreram, regiões afetadas dentre outros. Que podem ser observados nos quadros resumos 3 e 4 segundo suas bases de dados.
Quadro 3. Síntese dos estudos esperados seus títulos e principais resultados na base de dados Scielo. Teresina, PI, Brasil, 2022.
TITULO | RESULTADOS |
1. Intoxicação acidental em crianças e adolescentes internados no serviço de toxicologia de referência de um hospital brasileiro de emergência | Noventa por cento das intoxicações ocorreram nos domicílios; 82,7% se deram pela via oral, especialmente por medicamentos (36,5%) e produtos de limpeza (29,4% de todas as intoxicações). Resultaram em internações 12,2% dos casos, ocorrendo um único óbito. |
2. Trauma renal de alto grau por trauma contuso em crianças: todos requerem intervenção? | Das 13 crianças (9 homens e 4 mulheres) com faixa etária de 2-12 anos (média de 8 anos), a queda auto relatada foi o modo de lesão mais comum seguido de acidente de trânsito. |
3. Acidentes na infância: casuística de um serviço terciário em uma cidade de médio porte do Brasil. | Quanto à idade, 490 (52,3%) acidentes ocorreram com crianças de zero a cinco anos, 245 (26,2%) com crianças de seis a dez anos e 201 (21,5%) com crianças com mais de dez anos de idade. |
4. Estrangulamento acidental em crianças por fechamento automático de vidro de carro | Ficaram evidentes o risco e a gravidade das complicações de pacientes vítimas de estrangulamento, devendo seu manejo ser orientado para a otimização e a preservação das funções hemodinâmica, ventilatória e neurológica. |
5. Fatores associados ao atendimento de crianças e adolescentes por causas externas no atendimento de urgência | Cerca de 9,3% dos atendimentos de urgência e emergência pediátricas foram por causas externas; destes, 57% das vítimas têm menos de 12 anos de idade e maioria do sexo masculino (67%). Os acidentes são os eventos mais frequentes (71%), porém a violência é mais frequente (61%) ao sexo feminino (p=0,002). |
Quadro 4. Síntese dos estudos esperados seus títulos e principais resultados na base de dados BVS.Teresina, PI, Brasil, 2022.
TITULO | RESULTADOS |
1. Perfil de crianças e adolescentes internados no centro de terapia de queimados. | Ressalta-se que a maioria dos acidentes ocorreu em crianças do sexo masculino (63,33%), na faixa etária menor que cinco anos de idade (62,22%). O principal fator causal foi a escaldadura (65,00 %), com lesão de segundo grau (58,88%) e com topografia múltipla (63,33%) |
2. Prevention of domestic accidents in childhood: knowledge of caregivers at a health care facility. | Participaram 256 cuidadores; 93,5% apresentaram conhecimento adequado. Nos itens individuais, destacou-se o conhecimento (100%) sobre prevenção de acidentes com brinquedos cortantes, arma de fogo, intoxicação por produtos; e menos frequente (64,5%), o conhecimento das informações contidas na Caderneta de Saúde da Criança. Não houve associação estatística significante (p = 0,237) entre escolaridade e conhecimento. |
3. Conhecimentos e atitudes de crianças escolares sobre prevenção de acidentes. | Os resultados mostraram que pouco mais da metade das crianças entrevistadas consideram o uso de equipamentos de proteção individual uma forma de prevenir lesões em casos de acidentes (58,8%; n=57), sendo menos frequente entre as que possuíam menor escolaridade (RP 0,66; IC95% 0,16-0,99). O conhecimento e/ou uso desses equipamentos foi de 60,8% (n=59) para cinto de segurança, 54,6% (n=53) para capacete, 47,4% (n=46) para joelheira e 40,2% (n=39) para cotoveleira. Em relação às atitudes, 20,6% (n=20) responderam que não há problemas em colocar a mão (sem lavar) sobre o machucado e 12,4% (n=12) em atravessar a rua sem a companhia de um adulto |
4. Percepção de cuidadores quanto aos riscos de acidentes na infância | A percepção geral dos entrevistados foi a de que a queda é o acidente não letal mais comum e o acidente automobilístico é o que causa mais mortes de crianças no país. Afirmaram ainda que os maiores riscos em casa são a queda seguida da queimadura, mas apenas uma pequena parcela acreditava que os riscos são passíveis de prevenção. |
5.Características e evolução de pacientes queimados admitidos em unidade de terapia intensiva pediátrica. | A principal causa de queimadura foi escaldamento (51,4%), seguida de acidente com fogo (38,6%) e choque elétrico (6,4%). Ventilação mecânica foi utilizada em 20,7% dos casos. Lesão inalatória associada apresentou risco relativo de 6,1 (3,5 – 10,7) para necessidade de suporte ventilatório e risco relativo para mortalidade de 14,1 (2,9 – 68,3) quando comparados aos pacientes sem esta lesão associada. |
Discussão
Dos estudos observados, em sua totalidade percebe-se a prevalência de acidentes traumáticos em meninos em relação a meninas. O que corrobora com o estudo de Vilaça et al. (2020) que descrever o perfil de crianças e adolescentes internados por intoxicação exógena não intencional em pronto-socorro e analisar fatores associados a internações hospitalares posteriores. No qual foram notificados 353 casos. As intoxicações foram mais frequentes em crianças de 0 a 4 anos (72,5%) e em meninos (55%).
O estudo de Govindaraja et al. (2019) que trata de lesões de alto grau devido lesões contusas em crianças com o objetivo de analisar a apresentação e tratamento de grande trauma renal em crianças. Das 13 crianças (9 homens e 4 mulheres) com faixa etária de 2-12 anos (média de 8 anos), a queda auto relatada foi o modo de lesão mais comum seguido de acidente de trânsito.
Com relação à idade percebeu-se uma variação de 0 aos 12 anos, no estudo 1 observou a prevalência de intoxicação acidental em menores de 4 anos; Estudo 2 a faixa etária predominante é de 2 a 12 anos decorrente de trauma contuso; Estudo 3 acidentes na infância é de 0 a 5 anos; Artigo 4 acidente por estrangulamento automotivo é de 2 anos e artigo 5 fatores associados a acidentes em crianças por causas externa é de 9,5 anos. Ao analisar percebe se que a faixa etária, mas susceptível a acidentes está entre 0 a 5 anos.
Seguindo este mesmo pensamento o estudo de acidentes na infância de Gonçalves et al. (2019), que revisou 3612 atendimentos médicos onde 490 (52,3%) acidentes ocorreram com crianças de 0 a 05 anos, 245 (26,2%) com crianças de 06 a 10 anos, e 201 (21,5%) com crianças de 10 a 15 anos de idade.
Dados a frequente idade ser compatível a escolaridade as crianças poderiam desenvolver atitudes de prevenção e tratamento de acidentes, toda via este comportamento deve ser melhor ressaltado.
Corroborando com essa ideia o estudo “Conhecimento e atitudes de crianças escolares sobre prevenção de acidentes” demostrou que a atitude das crianças é tendenciosa a esconder o ferimento e não contar nada para os pais e outras colocar a mão (sem lavar) no local do ferimento logo após o acidente (REIS et al., 2021).
Em relação aos tipos de trauma por causas externas os mais incidentes são por quedas. Como demostra de Gross et al. (2021) que objetivou analisar as características de crianças e adolescentes atendidos por causas externas em um serviço de emergência. Que constatou que as quedas (32,1%) foram os acidentes mais frequentes, seguidas pela exposição a forças mecânicas inanimadas (23,2%) e transporte (12,5%), incluindo incidentes envolvendo automóveis.
Assim como no trabalho de Caricchio et al. (2019) Sobre os maiores riscos de acidentes em casa, a queda, a queimadura e o choque elétrico foram os mais ressaltados. Além de considerar em seu estudo que os locais domésticos mais insidiosos aos acidentes serem as cozinhas.
Dentre os estudos observados a queimadura posiciona-se no segundo caso mas recorrente entre crianças, sendo responsáveis por alta morbidade e sequelas funcionais, no estudo de Barcellos et al. (2018) observando vítimas de queimados de 2013 a 2015 com 140 pacientes as causas mais comuns foram escaldamento, fogo e choque elétrico.
Observou-se que dentre os fatores associados ao trauma em crianças decorre de motivações diversas, em relação a prevalência masculina se associa ao comportamento de risco atribuído ao fator masculinidade, brincadeiras mas agressivas e perigosas. Já as meninas está associado as violências e abusos decorrente da fragilidade feminina na percepção cultural. Quanto aos acidentes no ambiente doméstico, está associado a dupla jornada de trabalho do cuidador, a sensação de segurança que a criança tem ao ter seu responsável por perto.
O presente estudo se limita pela falta de conteúdos publicados nesta temática. Ao aprofundar nos bancos de dados percebe-se uma grande quantidade de artigos voltados às contusões ortodônticas e aos Odontólogos. Pouco se sabe a respeito da assistência de enfermagem.
Conclusão
A prevenção do traumatismo em crianças e a sua reincidência, deve ser de atenção de todos, principalmente dos profissionais da saúde, gestores, família e a sociedade em geral. Diante do exposto na pesquisa, perceber se que traumas em crianças por causas externas têm uma grande variedade de situações.
A educação dos pais e responsáveis sobre os riscos envoltos no cuidar de crianças é necessário. Alerta e esclarecimento de riscos básicos evitáveis na orientação da própria criança, no ambiente doméstico é motivado pelos profissionais de saúde.
Percebe-se então a necessidade de mais estudos da temática em questão, para que facilite a inferência de conhecimento acerca dos acidentes e suas consequências, para disponibilizar mais bases de conhecimento, com intuito de fornecer novas janelas para desenvolver políticas e soluções para combater esse agravo.
Referências
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VILAÇA, LUCIANA et al. Intoxicação acidental em crianças e adolescentes internados no serviço de toxicologia de referência de um hospital brasileiro de emergência. Rev. Paulista de Pediatria, [s. l.], v. 38, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1984-0462/2020/38/2018096. Acesso em: 8 out. 2022.
¹https://orcid.org/0000-0001-6342-3367
Mestranda em Ciências e Saúde-UFPI
²Acadêmico de Medicina-UNIC
³Médica Pediátrica
Mestranda em Ciências e Saúde – UFPI
4Enfermeira-UFPI
5Enfermeira
Mestre em saúde da Mulher – UFPI
6Medica Pediátrica-UFMA
7https://orcid.org/0000-0002-7094-3333
Enfermeira Nefrologista – UFMA
8Enfermeira-UFPI