REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7982430
Ryan Nogueira Lopes1
Larissy da Silva Maciel2
Franklim Barboza da Silva3
Bianca Teixeira Souza4
Larah Carvalho Barbosa5
Karollyn Fabiano Brandão6
Ingryd Sardi Dorigo7
Jenniffer Mileny Jacob8
Davi Rosalino Leoni9
Igor Scardine Passos10
Sarah da Silva Assad11
Ramon Azarias Zacarias12
Nathallia Curti da Silva13
RESUMO:
Introdução: A Entamoeba histolytica é o um protozoário com alta infectividade intestinal e o abscesso hepático amebiano (AHA) é a sua complicação extra-intestinal mais comum. Nesse contexto, o AHA apresenta diversos fatores que influenciam no desfecho da doença nos indivíduos acometidos e é de suma importância conhecê-los para garantir o melhor prognóstico aos pacientes. Objetivo: Investigar a evidência científica acerca dos fatores que influenciam no desfecho benéfico ou fatal do abscesso hepático amebiano. Método: Estudo de revisão de literatura, entre abril e maio de 2023, através das bases de dados PubMed e Scielo, sendo selecionados o total de 10 artigos após aplicação de critérios. Resultados: O AHA tem o prognóstico relacionado principalmente aos hábitos de vida, à saúde da microbiota intestinal, à competência imunológica do indivíduo, à competência do diagnóstico e aos tratamentos adequados para a prevenção de complicações. Considerações finais: O AHA apresenta potencial de melhora do risco de complicações em pacientes não alcoólatras, imunocompetentes e não negligentes aos sintomas e ao tratamento farmacológico adequado.
PALAVRAS-CHAVE: Abscesso; Amebíase; Fígado; Extra-intestinal; Entamoeba.
1. INTRODUÇÃO
A amebíase é a segunda causa mais comum de mortalidade por um protozoário, após a malária (MARCHAT L. et al., 2020). A Entamoeba Histolytica, agente etiológico da doença, é distribuída mundialmente com prevalência de infecção em países de renda média baixa, sendo a transmissão fecal-oral, associada às más condições de vida e contaminação de água e alimentos. (KHIM G. et al., 2019).
A doença entérica ocorre quando cistos amebianos são ingeridos e se transformam em trofozoítos virulentos, que destroem a camada de muco do epitélio intestinal (MARCHAT L. et al., 2020). Primariamente, essa infecção gera a colite amebiana, com manifestações de diarréia leve a disenteria grave, com diarreia sanguinolenta ou aquosa. Apenas 10% dos casos rompem a barreira epitelial e alcançam a corrente sanguínea, podendo alcançar o fígado e provocar o abscesso hepático amebiano (AHA) (LI J. et al., 2021).
Um abscesso hepático amebiano (AHA) pode ser dito como uma coleção de pus envolta por tecido inflamatório, onde a Entamoeba histolytica provoca lise de leucócitos, acompanhada de necrose hepática. Alguns estudos revelaram uma estreita relação entre alcoolismo e predisposição para o AHA e a maior incidência em homens, pois o álcool induz a insuficiência hepática e pode suprimir o sistema imune. (ROEDIGER R. et al., 2020).
Além dos hábitos de vida, vários fatores como tratamento, diagnóstico e manifestações clínicas podem influenciar no desfecho fatal ou benigno do AHA. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo compreende investigar a evidência científica acerca dos fatores associados à melhora ou piora do prognóstico de pacientes com abscesso hepático amebiana (AHA).
METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de uma Revisão Bibliográfica realizada no período de abril a maio de 2023. As buscas da literatura foram feitas nas bases de dados PubMed e Scientific Electronic Library Online (SciELO) por meio dos seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): (Amebíase) AND (Abscesso) AND (Fígado) AND (Prognóstico) AND (Entamoeba). Os critérios de inclusão foram estudos publicados nos últimos 15 anos, seleção pelo título e resumos para alinhar com o objetivo do artigo, preferência por artigos de revisões sistemáticas, estudos clínicos e epidemiológicos. Enquanto aos critérios de exclusão se deram pela leitura íntegra dos artigos selecionados e exclusão dos artigos duplicados e não coerentes com o objetivo da pesquisa. Após a associação de todos os descritores nas bases pesquisadas foram encontrados no total de 203 estudos científicos, sendo que 183 artigos pertenciam ao PubMed e 20 artigos na base de dados Scielo. Com a análise de títulos e resumo, foram selecionados 9 artigos do PubMed e 2 artigos do Scielo, sendo selecionados ao final 11 artigos para compor a coletânea.
DISCUSSÃO
A transmissão da Entamoeba histolytica acontece principalmente por ingestão de água e alimentos contaminados por cistos amebianos. O aumento da possibilidade de diagnóstico está relacionado em países em desenvolvimento, subtropicais e tropicais (LI J. et al., 2021). A amebíase extraintestinal ocorre quando os trofozoítos desencistados agridem o epitélio intestinal e o destroem para acessar a corrente sanguínea (MARCHAT L. et al., 2020) Esse processo ocorre devido à capacidade da ameba em fagocitar e provocar apoptose e morte celular do epitélio luminal. Estudos apontam que uma microbiota intestinal saudável coopera imunologicamente para uma proteção desses mecanismos, o que pode impedir indiretamente os mecanismos do parasito de invadir aos vasos sanguíneos intestinais, alcançar a veia porta e se disseminar a outros órgãos, como o fígado. (UDDIN J. et al., 2021)
O posto de maior complicação extraintestinal da amebíase é ocupado pelo abscesso hepático amebiano (AHA). No entanto, apenas 2% a 5% dos infectados pela Entamoeba histolytica o desenvolvem, sendo a incidência maior entre os homens de 18 a 50 anos, apesar de o maior número de infecções intestinais ocorrer entre mulheres e crianças (ROEDIGER R. et al., 2020).
Fatores de risco para a AHA incluem alcoolismo, desnutrição (baixo IMC e hipoalbuminemia) e imunocomprometimento (ZEEVAERT J. et al., 2020). Em um estudo de casos indianos, 72% dos pacientes com AHA eram alcoólatras, sendo que, nesse espectro, eles foram mais propensos a complicações, cura tardia e tamanho de abscessos maiores. É importante entender que o álcool em si induz a disfunção hepática e poder agredir o sistema imune do indivíduo, seja por efeito direto ou como fonte de desnutrição, deixando uma lacuna de oportunidade para o desenvolvimento do AHA (ROEDIGER R. et al., 2020).
Outro fator a ser considerado é a negligência do paciente ou a falha médica em diagnosticar a doença, as quais podem influenciar negativamente no prognóstico do paciente de acordo com o tempo do quadro. O AHA, quando não tratado, tem potencial de complicações fatais, como ruptura da cavidade peritoneal. Sendo que, além do tratamento farmacológico, outra forma de tratamento é o manejo do conteúdo purulento dentro do abscesso (KALE S. et al., 2017)
As manifestações clínicas mais comuns da AHA são febre, perda de peso, dor intensa no hipocôndrio direito e em alguns casos pode apresentar hepatomegalia e icterícia. A clínica, somada às predisposições, hábitos e condições socioeconômicas do paciente resultam na piora do prognóstico (MARIN-LEICA J. et al., 2019). Os exames que podem auxiliar no diagnóstico e melhora do prognóstico são ELISA (sorológico) e ultrassonografia, o primeiro permitindo identificar os anticorpos presentes contra o protozoário e o segundo delimita local, número e volume do abscesso. (GRAILLET R. et al., 2008). No entanto, os testes sorológicos podem ser negativos nos primeiros 7 dias, e em áreas endêmicas pode ser limitado por não distinguir entre caso recente ou passado. (MARQUES F. et al., 2014).
O tratamento farmacológico é fundamentalmente médico, por meio da administração de metronidazol, seguido de um agente luminal como paromomicina. No entanto, essas terapias podem falhar e ser necessária a punção do abscesso em casos de abscesso grandes, com risco de ruptura. Nesse sentido, a mortalidade de pacientes com AHA pode variar de 1 a 34%, ainda que seja inferior a 1% em casos não complicados (SANJUÁN F. et al., 2007).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O abscesso hepático amebiano é a principal complicação de amebíase intestinal e os pacientes têm nos hábitos de vida, como alcoolismo, o principal fator de piora do prognóstico e aparecimento de casos graves. Outros fatores associados são bons hábitos antissépticos, saúde da microbiota intestinal, diagnóstico preciso da doença e acompanhamento farmacológico seguro do paciente. Nesse sentido, para a diminuição dos casos de AHA, é importante uma atenção básica solidificada em relação à educação em saúde dos pacientes, a fim de evitar infecção e complicações dos casos de AHA.
5. REFERÊNCIAS
1. MARIN-LEICA, J. et al. Biliary Peritonitis due to a Ruptured Amebic Live Abscess Mimicking a Periampullary Tumor and Liver Metastases with the Elevation of CA 19-9 and CA 125: A Case Report. Portuguese Journal of Gastroenterology, v. 26, p. 12-124, 2019.
2. LI, J. et al. Review of zoonotic amebiasis: Epidemiology, clinical signs, diagnosis, treatment, prevention and control. Research in Veterinary Science, v. 136, p. 174-181, 2021.
3. ROEDIGER, R.; LISKER-MELMAN, M. Pyogenic and Amebic Infections of the Liver. Gastroenterology Clinics of North America, v. 49, n. 2, p. 361-377, 2020.
4. KHIM, G. et al. Liver Abscess: diagnostic and management issues found in the low resource setting. Br Med Bull, v. 132, n. 1, p. 45-52, 2019
5. MARCHAT, L. et al.Proteomics approaches to understand cell biology and virulence of Entamoeba histolytica protozoan parasite. Journal of Proteomics, v. 226, 2020.
6. ZEEVAERT, J. et al. Liver abscess: case report and literature review. Revuer Médicale de Liège, v. 75, n. 11, p. 731-737, 2020.
7. KALE, S. et al. Outcomes of a conservative approach to management in amoebic liver abscess. Journal of Postgraduate Medicine, v. 63, n. 1, p. 16-20, 2017.
8. UDDIN, J. et al. Host Protective Mechanisms to Intestinal Amebiasis. Trend in Parasitology, v. 37, n. 2, p. 165-175, 2021.
9. GRAILLET, R. et al. Análisis de factores asociados al fracaso del tratamiento médico del absceso hepático amebiano. Cirugía Española, v. 84, n. 2, p. 83-86, 2008.
10. MARQUES, F. et al. Abcesso hepático amebiano em idade pediátrica – um caminho do intestino ao fígado. Portuguese Journal of Gastroenterology, v. 21, n. 5, p. 208-211, 2014.
11. SANJUÁN, F. et al. Absceso Hepático Amebiano: Tratamiento Farmacológico o Punción-aspiración?. Gastroenterología y Hepatología, v. 30, n. 7, p. 399-401, 2007.
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