FATORES ASSOCIADOS À INTERRUPÇÃO PRECOCE DO ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO: REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.12735671


Irlana de Oliveira Castelo Branco1
Ítalo Rafael Costa Silva2
Haylane Nunes da Conceição2
Hayla Nunes da Conceição1
Hemily Bruna Bezerra Oliveira3
Francinaldo Lima Sousa3
Joana Germana Abreu da Silva1
Nívea Carolina Tavares Araújo4
Rebeca Larissa Lopes Salazar3
Welmison Soares de Farias3
Thiago Albuquerque das Neves3
Maicon Jhones de Oliveira Marques3
Rayane Katlen dos Santos3


RESUMO

Objetivo: Analisar os fatores associados à interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo (AME). Método: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura. As buscas na literatura foram realizadas na Biblioteca Virtual de Saúde; Medline via Pubmed. Os dados foram analisados descritivamente, utilizando-se o critério de similaridade semântica para orientar a síntese dos resultados. Resultados: Foram incluídos 11 artigos. A literatura evidencia que a ansiedade, o retorno ao trabalho, as interferências familiares e as infecções/traumas mamilares são fatores que favorecem o desmame precoce e prejudicam o AME. Além disso, o mito do leite fraco, a depressão perinatal e a falta de conhecimento sobre a importância do AME também são aspectos que interferem na prática da amamentação exclusiva. A importância da educação pré-natal e do apoio pós-natal foi destacada como estratégia eficaz para aumentar as taxas de amamentação exclusiva. Conclusão: O desmame precoce do AME é influenciado por uma série de fatores complexos, que vão desde aspectos individuais e emocionais até fatores socioeconômicos e culturais. Para combater esse problema, é essencial adotar abordagens multidisciplinares que envolvam intervenções educacionais, apoio social, políticas públicas e um ambiente favorável à amamentação. A conscientização e o engajamento da sociedade como um todo são fundamentais para garantir o sucesso da amamentação exclusiva e promover a saúde e o bem-estar de mães e bebês.

Palavras-Chaves: aleitamento materno exclusivo, gestantes, desmame precoce. 

Abstract 

Objective: To analyze the factors associated with early interruption of exclusive breastfeeding (EBF). Method: This is an integrative review of the literature. Literature searches were carried out in the Virtual Health Library; Medline via Pubmed. The data were analyzed descriptively, using the semantic similarity criterion to guide the synthesis of results. Results: 11 articles were included. The literature shows that anxiety, returning to work, family interference and nipple infections/trauma are factors that favor early weaning and harm EBF. Furthermore, the myth of weak milk, perinatal depression and lack of knowledge about the importance of EBF are also aspects that interfere with the practice of exclusive breastfeeding. The importance of prenatal education and postnatal support was highlighted as an effective strategy for increasing exclusive breastfeeding rates. Conclusion: Early weaning from EBF is influenced by a series of complex factors, ranging from individual and emotional aspects to socioeconomic and cultural factors. To combat this problem, it is essential to adopt multidisciplinary approaches that involve educational interventions, social support, public policies and an environment favorable to breastfeeding. Awareness and engagement of society as a whole are fundamental to ensuring the success of exclusive breastfeeding and promoting the health and well-being of mothers and babies.

Keywords: exclusive breastfeeding, pregnant women, early weaning.

Introdução

O leite materno é um alimento primordial para os bebês, sendo incomparável, sustentável e gratuito, que não apenas sacia a fome, mas também supre suas necessidades nutricionais, hormonais e imunológicas (Peres et al., 2021). É um alimento essencial para o crescimento e desenvolvimento do bebê, especificamente nos primeiros seis meses de vida (Boccolini et al., 2017).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) desde 1991, preconiza o Aleitamento Materno Exclusivo (AME) até os seis meses de idade, sendo assim, não deve ser oferecido ao bebê nenhum outro alimento complementar ou bebida, devendo tomar apenas o leite materno (Silva et al., 2019).

Nos últimos decênios, com o aumento do número das pesquisas na área, tornou-se possível comprovar os inúmeros benefícios do aleitamento materno para a dupla mãe-bebê. Supõe-se que a ampliação da amamentação a um nível quase universal possa prevenir 20.000 mortes ao ano de mulheres vítimas de câncer de mama e evitar 823.000 mortes a cada ano em crianças menores de cinco anos em quase todo o mundo (Moraes et al., 2017).

O ato de amamentar traz inúmeras vantagens à saúde da criança, repercutindo diretamente em seu estado nutricional, protegendo contra alguns tipos de infecções e ajudando no seu desenvolvimento cognitivo e emocional. Além disso, receber o leite materno por tempo prolongado está relacionado a menores índices de morbidade infantil por diarreia, infecções      respiratórias e otite média, menores taxas de mortalidade por causas como a enterocolite necrotizante e a síndrome da morte súbita na infância, maior quociente de inteligência e melhor oclusão dentária; além de evidências já demonstrarem que essa prática pode proteger contra sobrepeso e diabetes no decorrer da vida (Victora et al., 2016).

Para a mãe também há benefícios, que envolvem o fortalecimento do vínculo afetivo com o filho, proteção contra o câncer de mama,  redução do risco de diabetes e recuperação do útero pós-parto, o que diminui o risco de hemorragias e nova gravidez e, ainda, a redução dos custos financeiros com outros alimentos (Prates et al., 2014).

Contudo, mesmo apresentando inúmeras vantagens, o índice de aleitamento materno ainda é insatisfatório, bem abaixo do que é preconizado. O sucesso do aleitamento materno depende de fatores que podem influenciar positiva ou negativamente sua prática (Parizotto; Zorzi, 2008). Entre os principais fatores que podem impactar na prática do AME estão a personalidade e sua atitude frente o ato de amamentar;,  outros se referem à criança e ao   ambiente,   como   as   suas condições de nascimento, período pós-parto e puericultura, havendo   também, fatores circunstanciais ou sociais, como o trabalho materno, às condições habituais de vida, nível socioeconômico, idade, escolaridade, cultura, inserção no mercado de trabalho e falta de conhecimento sobre os benefícios do aleitamento materno (Rodrigues, Gomes, 2014). Além disso, a percepção da própria mulher pode interferir na compreensão da importância do AME e da sua prática (Perreira de Oliveira et al., 2017).

O desmame precoce é uma realidade em nosso país, gerando morbidade para as crianças e despesa para o estado (Teixeira, 2017). Apesar das inúmeras vantagens, a manutenção exclusiva até os seis meses de vida da criança merece atenção. Pesquisas vêm demonstrando que esse índice se encontra muito aquém do recomendado pelo Ministério da Saúde (Pivetta et al, 2018).

Diversos motivos têm sido apontados como causas para cessação da AME antes do período recomendado, tais como: mitos associados à amamentação, problemas com a pega, mastites, intercorrências familiares entre outros (Oliveira et al., 2015). Esses fatores relacionados às interrupções da amamentação de forma precoce variam de acordo com a região e crenças populares.  Deste modo, verifica-se a importância deste estudo para conhecer os fatores associados ao abandono precoce do AME, tendo em vista que existem  poucos estudos que abordam o assunto. As informações adquiridas poderão auxiliar os profissionais de saúde a proporcionar orientações adequadas, deixando as mães mais confiantes e seguras para a prática do AME, estando cientes dos benefícios à saúde.

Nessa perspectiva o presente estudo tem por objetivo analisar os fatores associados à interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo. 

Método

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, de abordagem qualitativa, exploratória. Para a elaboração desta revisão integrativa da literatura foi utilizado o referencial que apresenta a construção desse tipo de estudo por meio de 6 etapas: 1- Formulação da questão de pesquisa; 2 – Amostragem; 3 – Extração dos dados; 4 – Avaliação crítica; 5 – Análise e síntese dos resultados e 6 – Síntese do conhecimento (Reichenheim et al., 2011).

Para elaborar a  pergunta norteadora, utilizou-se a estratégia PICo, acrônimo para P: problema ou população-alvo; I: intervenção ou fenômeno de interesse e Co: contexto) (Lockwood et al., 2017), com base nessa definição foi estabelecido a seguinte pergunta norteadora: “Quais os  fatores associados à interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo?” (Quadro 1). 

Quadro 1. Estratégia PICo para o desenvolvimento da pergunta norteadora. 

Para incluir uma maior variedade de estudos e amplitude de resultados, o acesso as bases e bancos de dados foi realizado por meio do portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), sendo as buscas realizadas no banco de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) e MEDLINE (National Library of Medicine, Estados Unidos) via PUBMED (Quadro 2). 

A busca foi realizada através das combinações entre os descritores encontrados nos Descritores de Ciências da Saúde (DECs) ou Mersh combinados entre si com os operadores booleanos OR e AND (Quadro 2). 

Quadro 2. Estratégia utilizada de busca nos bancos, bases e bibliotecas de dados. Coroatá, Maranhão, Brasil, 2023.

Foram incluídos os artigos indexados nas bases de dados e bibliotecas supramencionadas publicados nos idiomas português, inglês e espanhol, no período de 2012 a 2023 e com textos disponíveis na íntegra. Foram excluídos trabalhos para os quais o texto completo não foi fornecido; o tema central do estudo não estava relacionado ao tema, publicações referentes a manuais técnicos, panfletos, editoriais, monografias, teses e dissertações. 

Para auxiliar na identificação dos artigos duplicados, os resultados de cada base ou biblioteca de dados para o EndNote Web que detectou 7 duplicatas. Após a remoção das duplicatas, para auxiliar na triagem e seleção dos estudos foi utilizado o aplicativo Rayyan QCRI.

Os dados foram coletados por meio de ferramentas descritivas sobre os seguintes elementos: autor, ano de publicação, título, periódico, país de realização do estudo, métodos e resultados. Para essa etapa foi utilizado um formulário já validado da literatura (Ursi, Galvão, 2006). 

Os estudos foram analisados por meio da leitura prévia dos resumos para identificar a ideia central proposta. Para a classificação da qualidade metodológica foi utilizada a ferramenta AXIS para avaliação de estudos observacionais. Esta ferramenta foi desenvolvida por Downes et al. (2016), uma ferramenta de avaliação de 20 itens que permite aos revisores avaliarem o rigor metodológico dos estudos.

Após a avaliação crítica, os estudos foram analisados e classificados por nível de evidência,  realizada  por meio da classificação das evidências nos seguintes níveis: Nível 1- evidências de revisões sistemáticas ou metanálises relacionadas a ensaios clínicos; Nível 2 – evidências de pelo menos um ensaio clínico randomizado controlado bem delineado; Nível 3 – ensaio clínico bem delineado sem randomização; Nível IV – estudo de coorte bem delineada e estudos de caso-controle; Nível V – Revisões sistemáticas de estudos descritivos e qualitativos; Nível VI – Evidências de um único estudo descritivo ou qualitativo; Nível VII – Parecer de um órgão ou comitê de autoridade ou relatório (Melnyk; Fineout-Overholt, 2011).

A síntese dos resultados foi organizada por meio de quadros e fluxograma com as informações de caracterização dos artigos e a classificação do nível de evidência científica.

Os dados foram analisados de forma descritiva, empregando-se o critério de similaridade semântica para guiar a síntese dos resultados. 

 Foi utilizado o fluxograma PRISMA para nortear os artigos incluídos e excluídos diante das etapas, sendo os resultados dos artigos escolhidos para revisão integrativa  apresentados em uma tabela com autor, ano de publicação, título, periódico, país de realização do estudo, métodos e resultados.

Resultados 

Foram identificados 1.900 artigos e, após a análise de título, resumo e aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram pré-selecionados 14 artigos para a leitura na íntegra. Após leitura de títulos e resumos, exclui-se 1.879, sendo analisados na íntegra 14 artigos, sendo incluídos somente 11 estudos, conforme explicita o fluxograma PRISMA abaixo (Figura 1).

Figura 1 – Fluxograma do processo de seleção dos artigos da revisão integrativa. Coroatá, MA, Brasil, 2023.

O quadro 3 apresenta a síntese dos artigos incluídos. Notou-se um predomínio de publicações no ano de 2018 (n = 3; 27,27%), em sua totalidade estão no idioma inglês (n=11; 100%), com a maior parte das publicações realizadas no Brasil (n = 5; 45,45%). No que tange ao tipo de estudo, foi observado que a maior parte das publicações eram estudos controlados randomizados (n = 3; 27,27%), mas também foi observado a presença de estudos de coorte, ensaio clínico randomizado, estudo transversal e estudo descritivo qualitativo. Sobre o nível de evidência, concentrou-se nos estudos em nível II, (n= 6; 54,54%).

Quadro 3 – Síntese dos artigos incluídos de acordo com título, autores, ano, metodologia, país e periódico, Coroatá, Maranhão, 2023.

Legenda: NE*- Nível de evidência

Os objetivos dos estudos permearam em explorar, comparar e examinar os fatores desencadeantes da interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo, fatores socioeconômicos, culturais, fisiológicos, ambientais, bem como a importância da amamentação para a saúde do binômio mãe-bebê, a eficácia de métodos de aconselhamento em amamentação, técnicas de suporte para aumentar o tempo de amamentação, investigar os fatores associados à cessação do AME em mães adolescentes ou de bebês gêmeos e com depressão perinatal. Os resultados encontrados nos estudos foram, a ansiedade, o retorno ao trabalho, as interferências familiares e as infecções/traumas mamilares, o mito do leite fraco, a depressão perinatal e a falta de conhecimento sobre a importância do AME são fatores que favorecem o desmame precoce e prejudicam o AME. (Quadro 4).

Quadro 4. Artigos utilizados de acordo com objetivo e resultados. Coroatá, Maranhão, 2023.

Legenda: NE*- Nível de evidência

Discussão

A amamentação é considerada uma prática importante pelas nutrizes, sendo vista como fonte de saúde e expressão de amor. Contudo, estudos demonstram que o desmame precoce do aleitamento materno exclusivo (AME) é influenciado por diversos fatores, conforme apontado em estudos científicos (Hamade et al., 2013; Oliveira et al., 2020; Rahman, 2016; Baerug et al., 2017; Lesorogol, 2018; Lima et al., 2018; Mikami et al.,2018; Huang et al., 2019; Nascimento et al., 2019; Nóbrega et al., 2019; Peixoto et al., 2019; Vieira et al., 2020; Nabulsi, 2022).

Um estudo transversal realizado em Fortaleza, entre 2014 e 2016, foi observado que idade materna, estado civil, escolaridade, trabalho fora de casa e orientações recebidas no pré-natal, puerpério ou puericultura influência na duração do AME.  As nutrizes que apresentaram maior prevalência do AME tinham idade mediana de 26 anos, a maioria tinha companheiro, ensino médio completo e não trabalhava fora. Mais da metade das mães receberam orientações sobre AM, sendo a maioria no pré-natal (Peixoto et al., 2019). Resultado semelhante a esse foi observado em outros estudos (Hamade et al., 2013; Lesorogol, 2018; Silva; Galdino, 2019)

Deste modo, o construto da autoeficácia na amamentação é formado por quatro fontes de informação: pela experiência pessoal da mulher; pela experiência vicária, que é adquirida na convivência com outras mulheres que amamentaram; pelas informações recebidas pelas redes de apoio social e de saúde que a acompanham; e pela sua condição emocional e física (Monteiro et al., 2020). Essas fontes de informação interferem diretamente na decisão da mulher para iniciar e manter a amamentação.

Além disso, a percepção sobre a amamentação é um constituinte de conhecimentos que variam conforme a origem das informações, condições socioeconômicas, culturais, crenças, emoções, habilidades, necessidades e objetivos, além de sentimentos e memória (Wagner et al., 2020). Nesse contexto, alguns fatores intrínsecos ao aleitamento materno exclusivo são a presença do companheiro como rede de apoio, a disponibilidade de tempo e o nível de instrução da mulher. Estudos demonstram que mulheres que têm um companheiro presente e engajado tendem a amamentar por mais tempo. Além disso, mulheres com maior nível de escolaridade e que não trabalham fora de casa também tendem a amamentar por períodos mais prolongados. Esses fatores podem estar associados a um maior suporte social, maior acesso a informações sobre amamentação e maior disponibilidade de tempo para dedicar-se ao aleitamento materno (Monteiro et al., 2020; Wagner et al., 2020).

Um estudo prospectivo realizado com mulheres deprimidas e não deprimidas durante a gravidez e pós-parto identificou diferentes fatores relacionados à prevalência do AME (Hamade et al., 2013). Esse estudo destacou que mães com renda familiar mensal superior a 2 milhões de libras libanesas amamentaram exclusivamente em menor proporção do que aquelas com renda mensal inferior a 1 milhão de libras libanesas. Além disso, mães de bebês prematuros e aquelas que se submeteram à cesárea amamentaram exclusivamente em menor proporção. Por outro lado, mães que não trabalhavam e que tinham a intenção de amamentar exclusivamente no momento do parto apresentaram maior probabilidade de fazê-lo (Hamade et al., 2013).

Além disso, Lima et al. (2018), Nascimento et al. (2019), Nóbrega et al. (2019) e Muelbert e Giugliani (2018) destacam que o retorno ao trabalho, as interferências familiares, o mito do leite fraco e a falta de conhecimento sobre a amamentação são fatores que interferem no AME. Além disso, muitas mães enfrentam complicações relacionadas à amamentação, como mamilo invertido, mastite, dor mamária, sangramento ou ingurgitamento em pelo menos uma mama. Esses problemas podem dificultar a amamentação e contribuir para o desmame precoce (Nabulsi, 2022).

Resultado semelhante foi observado na pesquisa conduzida por Silva e Galdino (2019), que apontou que a ansiedade, o retorno ao trabalho, as interferências familiares e as infecções/traumas mamilares são alguns desses fatores. Embora a amamentação seja um ato natural, a tomada de decisão individual muitas vezes é afetada por problemas sociais, culturais e psicológicos.

A associação entre baixa renda e AME foi investigada em um estudo com mães haitianas (Lesorogol, 2018). Os resultados revelaram uma associação negativa entre o emprego materno e as taxas de AME, indicando que o retorno ao trabalho pode influenciar negativamente a amamentação exclusiva. Por outro lado, a insegurança alimentar extrema levou algumas mães haitianas a adotarem o AME como último recurso, quando  não havia alternativas de alimentação para o bebê.

A ansiedade e as preocupações com a produção de leite foram identificadas como fatores intrínsecos que influenciam a duração do AME, conforme destacado por Flaherman et al. (2016). Mães com início tardio da produção de leite maduro apresentaram maior preocupação e ansiedade com a produção de leite. Níveis mais altos de ansiedade foram associados a uma menor prevalência de amamentação aos 2 meses e ao aumento do uso de fórmula. Além disso, mães que tiveram preocupação com o suprimento de leite em 2 semanas apresentaram menor probabilidade de amamentar dos 2 aos 6 meses (Flaherman et al., 2016). 

Um estudo realizado na área rural do Paquistão revelou que a depressão perinatal está associada à interrupção precoce do aleitamento materno exclusivo. Essa associação está relacionada à percepção das mães de insuficiência de leite materno, mas não à redução da produção de leite (Rahman, 2016). Mães deprimidas são significativamente mais propensas a relatar leite insuficiente, o que pode levar ao desmame precoce (Rahman, 2016).

Nessa mesma linha de pensamento, Nascimento et al. (2019) corroboram que fatores como ansiedade, retorno ao trabalho e o mito do leite fraco contribuem para a diminuição do aleitamento materno exclusivo. Muitas vezes, as mães possuem conhecimentos limitados sobre as transformações que ocorrem em seus corpos durante a amamentação, além de enfrentarem problemas emocionais e condições socioeconômicas que levam ao retorno precoce ao trabalho. Dúvidas frequentes não respondidas também podem levar ao desmame. Além disso, o choro frequente do bebê após a amamentação pode levar à crença de que o leite não é suficiente, levando à introdução precoce de alimentos complementares (Nascimento et al., 2019).

Outros fatores têm sido identificados como influenciadores do AME. Vieira et al. (2020) e Sousa et al. (2019) concordam que o mito do leite fraco, a depressão perinatal e a falta de conhecimento sobre a importância do AME são aspectos que interferem na prática da amamentação exclusiva. Além disso, a duração da amamentação anterior, o peso ao nascer dos bebês, a falta de apoio durante o período de lactação, as dificuldades na amamentação e o modo de amamentação não exclusiva no desmame precoce de gêmeos  tem inflenciado no tempo de AME (Mikami et al., 2022).

Além do mais, a introdução de alimentos sólidos foi apontada como um dos principais motivos para a diminuição do AME a partir dos 3 meses, conforme constatado em um estudo realizado por Baerug et al. (2017). Esse estudo também mostrou que mães com maior escolaridade apresentaram maior prevalência do AME em comparação com aquelas com menor escolaridade. Aos cinco meses completos, a diferença na prevalência do AME entre as mães mais instruídas e menos instruídas foi ainda mais acentuada (Baerug et al., 2017).

A importância da educação pré-natal e do apoio pós-natal para a promoção do AME tem sido destacada em estudos. Huang et al. (2019) realizaram um estudo randomizado que demonstrou a eficácia de uma educação pré-natal sobre aleitamento materno e um apoio à lactação pós-natal. As mulheres que receberam a intervenção apresentaram maiores taxas de amamentação exclusiva aos 4 meses em comparação com as que não receberam a orientação. O apoio emocional da mãe também foi associado a uma maior probabilidade de amamentação exclusiva

De acordo com Muelbert e Giugliani (2018), o apoio da avó materna e do parceiro à amamentação, nunca ter usado chupeta e ter companheiro são fatores associados à manutenção da amamentação por 6, 12 e 24 meses em mães adolescentes com idade materna média de 18 anos. Essas influências positivas são importantes para garantir a continuidade do aleitamento materno exclusivo.

Essas informações destacam os fatores que influenciam o desmame precoce do aleitamento materno exclusivo, abordando tanto os aspectos positivos, como o apoio da família e do parceiro, quanto os desafios enfrentados pelas mães, como complicações físicas, depressão perinatal e falta de informações adequadas. Compreender esses fatores é essencial para desenvolver estratégias eficazes de apoio à amamentação e promover a saúde infantil.

Algumas limitações desta revisão precisam ser consideradas. Primeiro, mesmo levando em consideração que houve seleção de artigos em diferentes bases de dados, ocorreu a restrição de idiomas e exclusão daqueles com menor qualidade metodológica e publicados antes de 2012, o que pode ter diminuído a amplitude de análise.  Entretanto, espera-se que o estudo contribua para a compreensão dos fatores associados ao desmame precoce do AME para sinalizar os profissionais que realizam o atendimento à saúde materno infantil sobre a importância de  abordar os benefícios da prática para os grupos mais vulneráveis à interrupção precoce. 

Considerações finais

O desmame precoce do aleitamento materno exclusivo (AME) é uma preocupação global de saúde pública, pois está associado a diversos impactos negativos na saúde da criança e da mãe. Neste estudo, discutimos os principais fatores que influenciam o desmame precoce do AME, com base em estudos científicos.

Foi observado que a ansiedade, o retorno ao trabalho, as interferências familiares e as infecções/traumas mamilares são fatores que favorecem o desmame precoce e prejudicam o AME. Além disso, o mito do leite fraco, a depressão perinatal e a falta de conhecimento sobre a importância do AME também são aspectos que interferem na prática da amamentação exclusiva.

A importância da educação pré-natal e do apoio pós-natal foi destacada como estratégia eficaz para aumentar as taxas de amamentação exclusiva. Estudos mostraram que intervenções educacionais e de suporte resultaram em maiores índices de AME, evidenciando a necessidade de investimentos nesses programas.

Outros fatores socioeconômicos também desempenham um papel importante. Mães de baixa renda podem enfrentar dificuldades adicionais para manter o AME, devido ao retorno ao trabalho e à insegurança alimentar. O contexto familiar e as interferências sociais podem reforçar o mito do leite fraco, afetando negativamente a prática da amamentação exclusiva.

É fundamental que os profissionais de saúde, incluindo médicos, enfermeiros e especialistas em lactação, estejam capacitados para fornecer informações precisas e apoio adequado às mães durante a fase pré-natal e pós-natal. Além disso, políticas públicas devem ser implementadas para promover a licença maternidade adequada, ambientes de trabalho amigáveis à amamentação e programas de educação em saúde.

 Conclui-se que, o desmame precoce do AME é influenciado por uma série de fatores complexos, que vão desde aspectos individuais e emocionais até fatores socioeconômicos e culturais. Para combater esse problema, é essencial adotar abordagens multidisciplinares que envolvam intervenções educacionais, apoio social, políticas públicas e um ambiente favorável à amamentação. A conscientização e o engajamento da sociedade como um todo são fundamentais para garantir o sucesso da amamentação exclusiva e promover a saúde e o bem-estar de mães e bebês. 

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1Enfermeira, Universidade Estadual do Maranhão, Campus Coroatá, Coroatá, Maranhão
2Fisoterapeuta, docente da Faculdade de Ciências da Saúde Pitágoras de Codó, Codó, Maranhão
3Acadêmico de Enfermagem, Universidade Estadual do Maranhão, Campus Coroatá, Coroatá, Maranhão
4Academica de Medicina, Faculdade de Ciências da Saúde Pitágoras de Codó, Codó, Maranhão.