FATORES ASSOCIADOS À DESNUTRIÇÃO NA PESSOA IDOSA: DISFAGIA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7250789


Lucivania Almeida de Macedo1
Priscila Previde de Oliveira Pires1
Francisca Marta Nascimento de Oliveira Freitas2
José Carlos de Sales Ferreira3


RESUMO 

Introdução:  Disfagia é uma alteração da deglutição, no ato de engolir alimentos ou saliva. Pode ocorrer em diferentes fases da vida, especialmente em idosos, podendo trazer sérias consequências à saúde. Objetivo Geral: analisar a disfagia como fator associado à desnutrição no idoso, bem como os demais fatores de risco, e papel do nutricionista frente as medidas preventivas. Metodologia: A coleta das informações para a pesquisa bibliográfica se deu por meio da exploração da base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Biblioteca Cientifica Eletrônica Virtual (SCIELO) e Literatura Latino – Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Resultados e Discussão: A orientação nutricional deve ser um dos componentes da atenção à saúde da pessoa idosa, uma vez que a alimentação saudável contribui para promoção da saúde e para a prevenção de doenças. Conclusão: A partir desse estudo, ficou perceptível a atuação do nutricionista frente aos fatores ligados a desnutrição na pessoa idosa, dentre elas a disfagia, a qual é tida como um fator predominante entre os idosos que dificulta a ingesta alimentar e consequentemente o ganho e manutenção calórica da pessoa idosa.

Palavras-chave: desnutrição, idoso, qualidade de vida, disfagia.

ABSTRACT

Introduction: Dysphagia is an alteration in swallowing, in the act of swallowing food or saliva. It can occur at different stages of life, especially in the elderly, and can have serious health consequences. General Objective: to analyze dysphagia as a factor associated with malnutrition in the elderly, as well as other risk factors, and the nutritionist’s role in the face of preventive measures. Methodology: The collection of information for the bibliographic research took place through the exploration of the database of the Virtual Health Library (VHL), Virtual Electronic Scientific Library (SCIELO) and Latin American and Caribbean Literature on Health Sciences (LILACS). Results and Discussion: Nutritional guidance should be one of the components of health care for the elderly, since healthy eating contributes to health promotion and disease prevention. Conclusion: From this study, the nutritionist’s role in the face of factors linked to malnutrition in the elderly person was perceptible, among them dysphagia, which is seen as a predominant factor among the elderly that makes food intake difficult and consequently the gain and maintenance elderly person’s calories.

Keyword: malnutrition, elderly, quality of life, dysphagia.

1. INTRODUÇÃO 

A população brasileira manteve uma tendência de envelhecimento nos últimos anos. Segundo uma pesquisa publicada em 2021 pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômico (DIEESE), dos 210 milhões brasileiros, 37,7 milhões são pessoas idosas, ou seja, que têm 60 anos ou mais. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2019), idoso é todo indivíduo com 60 anos ou mais. 

O envelhecimento é visto como uma fase natural e progressiva da vida, submetendo o organismo a diversas alterações anatômicas e funcionais que afetam a saúde e o estado nutricional dos idosos (LIMA et al., 2022).  Alterações fisiológicas e anatômicas é um processo natural do próprio envelhecimento têm repercussão na saúde e na nutrição do idoso. São mudanças progressivas e muitas vezes irreversível que incluem, redução da capacidade funcional, alterações do paladar (pouca sensibilidade para gostos primários como sal e doce), alterações de processos metabólicos do organismo e modificação da composição corporal (FLORA; NAYAK, 2019; BELL; LEE; TAMURA, 2015). 

  As alterações advindas do envelhecimento variam de organismo para organismo e podem ser influenciadas por fatores ambientais (hábitos não saudáveis, alimentação inadequada, tabagismo, alcoolismo e sedentarismo) e fatores psicológicos relacionados ao tipo de relacionamentos, além de educação, saúde, personalidade, nível de inteligência, capacidade mental, deficiência funcional, atividades básicas que afetam a vida diária (SILVA; DAROS MASSAROLLO, 2022; GREGÓRIO et al., 2019). 

Sabe-se que além das circunstâncias específicas do próprio envelhecimento, existem outros fatores que podem afetar o estado nutricional dessa população, como situação econômica, isolamento social, alterações psicológicas e emocionais, estado de saúde, etc. Portanto, esses fatores podem estar associados ao baixo consumo alimentar, o que torna os idosos vulneráveis do ponto de vista nutricional, o que se reflete no aumento da morbimortalidade e na piora da qualidade de vida (MAHAN; ESCOTT-STUMP; RAYMOND, 2012; MENDES et al., 2016). 

Dificuldades de mastigação são questões importantes a serem investigadas, bem como a utilização e adequação de próteses dentárias. Deve se, ainda, questionar sobre a presença de disfagia, e quando houver a existência é necessário determinar os tipos de alimentos e as consistências a que são relacionadas. Além disso, uma avaliação pelo fonoaudiológico, juntamente com o nutricionista, pode determinar quais posições de ingestão, consistência e densidade dos alimentos podem ser utilizadas para corrigir ou amenizar a disfagia (CAVALCANTE et al., 2019).

Disfagia é uma alteração da deglutição, no ato de engolir alimentos ou saliva. Pode ocorrer em diferentes fases da vida, especialmente em idosos, podendo trazer sérias consequências à saúde. Além do envelhecimento natural das estruturas envolvidas na deglutição (lábios, língua, bochecha, orofaringe, etc.), outros fatores também podem causar a disfagia no idoso, como, o acidente vascular encefálico, o traumatismo craniano, as doenças neurológicas (Parkinson e Alzheimer), as distrofias musculares e o câncer de cabeça e pescoço. Na disfagia, ocorre um desvio do alimento ou da saliva, obstruindo parcial ou completamente as vias respiratórias (ROSENDO et al., 2021).

No estudo desenvolvido por Campos et al. (2022), ficou evidenciado que o comportamento do idoso frente a alimentação como uso de consistências alimentares inadequadas, dificuldade postural para alimentar-se, ou proveniente da forma como o cuidador oferece a alimentação, alterações dentais e a recusa recorrente em alimentar-se, pode vir causar a disfagia.

Sendo assim, a disfagia se caracteriza como uma alteração mecânica na região orofaríngea, o qual de acordo com Ferreira, Fernandes e Oliveira (2022), tem sua incidência aumentada na fase da velhice, podendo levar a complicações a nível respiratório, má nutrição, e até mesmo a desidratação, tendo em vista que essa dificuldade em deglutir afeta até mesmo a saliva.

Dessa forma, o estado nutricional é definido pela relação entre a ingestão calórica e as necessidades de ingestão calórica do corpo para digerir, absorver nutrientes, manter o sistema e interagir com fatores patológicos. O estado nutricional inadequado contribui, assim, para a evolução da morbimortalidade, bem como para a exacerbação de doenças crônicas não transmissíveis (CRARY et al., 2013; VANDEWOUDE; GOSSUM, 2013).

Mundialmente, a desnutrição é considerada um dos problemas mais comuns na população idosa e pode interferir seriamente no desenvolvimento saudável desses indivíduos. A desnutrição protéico-calórica pode levar ao aumento da mortalidade e suscetibilidade a infecções e redução da qualidade de vida, um problema que é exacerbado em idosos que vivem há muito tempo para idosos (RIBAS et al., 2021).

Surgindo assim a necessidade da investigação de fatores determinantes relacionados à saúde e ao estado nutricional para que se conheça acerca de tal problemática, tendo em vista a relevância do tema para a área de atuação e a incidência de idosos desnutridos. Desta forma, o desenvolvimento desse estudo se justifica devido a necessidade de se conhecer acerca dos fatores de risco para a desnutrição na pessoa idosa institucionalizada, tendo em vista que o a população vem envelhecendo cada vez mais ao decorrer dos anos (TAKIZAWA et al., 2016).

O estado nutricional do idoso se caracteriza como algo essencial para a melhor qualidade de vida deste, pois obter hábitos alimentares saudáveis, que contribuam para a composição nutricional corpórea leva a manutenção do bem estar desses indivíduos, levando assim a uma maior expectativa de vida, além de prevenir doenças crônicas não transmissíveis (JOTZ; ANGELINES, 2016).

O objetivo geral desse estudo é analisar a disfagia como fator associado à desnutrição no idoso, bem como os demais fatores de risco, e o papel do nutricionista frente as medidas preventivas.

2. METODOLOGIA 

2.1 Tipo de estudo 

Para o alcance dos objetivos deste estudo foi optado pelo método da revisão integrativa, que possibilitou uma sumarização das pesquisas com temas afins, fenômenos vinculados aos cuidados à saúde, obtendo-se conclusões a partir de um tema de interesse (SOUZA, SILVA, CARVALHO, 2010). 

A revisão integrativa exigiu minuciosa avaliação, promovendo rigor necessário aos trabalhos de caráter científico, tendo grande potencial informativo sobre pesquisas, além de recolher, definir e revisar evidências sobre a aplicação prática das ciências, sendo necessário seguir alguns passos dispostos por Souza, Silva e Carvalho (2010) para a sua realização, como a seleção da temática, seleção da amostra, busca da literatura, análise dos dados, resultados e revisão integrada dos artigos.

2.2 Coleta de dados 

A coleta das informações para a pesquisa bibliográfica se deu por meio da exploração da base de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Biblioteca Cientifica Eletrônica Virtual (SCIELO) e Literatura Latino – Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). 

A busca na base de dados foi orientada pelos descritores: “desnutrição”, “idoso”, “qualidade de vida”, buscando captar o maior número de artigos publicados no período proposto que abordem a temática em discussão.

Foram elaborados critérios de inclusão para a seleção dos estudos que comporão esse artigo: estudos publicados no idioma português e inglês, publicados no período de 2012 à 2022, disponíveis com texto completo, com acesso livre. 

Foram excluídos da amostra os artigos publicados em idiomas que não inglês e português, os que não apresentaram o texto na integra, artigos que não apresentavam relação direta com o tema, resumos, monografias, dissertações, teses e artigos repetidos.

O cruzamento dos descritores resultou em 2.733 artigos no SciELO e 30 artigos pela LILACS. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foram selecionados 50 artigos, sendo 30 da base de dados do SciELO e 20 da LILACS, sendo realizado após isso uma leitura detalhada dos resumos e selecionados 10 artigos foram considerados para este estudo. 

2.3 Análise de dados 

Na análise dos dados ocorreu uma leitura crítica e reflexiva dos estudos incluídos na revisão, foi realizada uma leitura minuciosa e criteriosa destacando os que atingirem os critérios de inclusão e que contemplarem o objetivo proposto, para viabilizar o resultado da pesquisa de forma clara e objetiva. 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

3.1 Envelhecimento

Atualmente, há um consenso de que na velhice também ocorrem processos de mudanças, aquisições e perdas (MIRANDA; MENDES; SILVA, 2016). O processo do envelhecimento é natural e inevitável em decorrência de fatores genéticos e ambientais. Envelhecer é um processo progressivo de diminuição funcional, denominado, senescência, e desenvolvimento de uma condição patológica por estresse emocional, acidente ou doenças definidas como senilidade (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). 

Alterações fisiológicas e anatômicas é um processo natural do próprio envelhecimento têm repercussão na saúde e na nutrição do idoso. São mudanças progressivas e muitas vezes irreversível que incluem, redução da capacidade funcional, alterações do paladar (pouca sensibilidade para gostos primários como sal e doce), alterações de processos metabólicos do organismo e modificação da composição corporal (KESHAVARZI et al., 2015).

Com o passar dos anos o idoso passa a ter redução do equilíbrio, da mobilidade das capacidades fisiológicas e modificações psicológicas, por estes motivos a família tem uma importância fundamental na vida e na manutenção do bem estar do idoso, sendo considerada uma fonte de suporte para o idoso que necessita de cuidados. Para os idosos que não possuem uma estrutura familiar, seja emocional, financeira, espaço físico ou cuidadores, resta a possibilidade de inserção em uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI) (SCATTOLIN et al., 2005; CRUZ; SANCHÉZ; ESTEVES, 2014).

Hoje, no Brasil existe a Política Nacional do Idoso, bem como o Estatuto do Idoso, sancionados em 1994 e em 2003, respectivamente, que garante os direitos dos idosos, como saúde, trabalho, assistência social, educação, cultura, esporte, habitação e meios de transportes. Ambos os documentos devem servir de balizamento para Políticas Públicas e iniciativas que promovam uma verdadeira melhor idade (NORONHA et al., 2015).

Atualmente no Brasil, uma das iniciativas voltadas ao envelhecimento saudável é a Política Nacional de Saúde do Idoso (PNSPI), a qual traz como diretriz a promoção do envelhecimento ativo, a atenção integral à saúde do idoso e o incentivo à autonomia e participação no controle social para garantia de direitos. Além disso, estimula a preservação da capacidade funcional em um esforço para reduzir as deficiências físicas e mentais necessárias para a realização das atividades da vida diária (ROMERO et al., 2019)

Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) (2020), a América Latina e o Caribe têm uma população de aproximadamente 654 milhões. Desse total, os idosos representam 13% da população, em Cuba a população idosa representa 21,3% da população e no Uruguai 20,2%, mais de um quinto de sua população, semelhante a países europeus como Irlanda e Luxemburgo. Adicionalmente, Chile, Argentina e Brasil apontam para uma tendência de expansão de envelhecimento, com aumento estimado nas próximas décadas. 

Destaca-se, portanto, que os países latino-americanos vivenciam um processo de envelhecimento com algumas semelhanças, inclusive a feminização da velhice, pois a expectativa de vida é maior para as mulheres que às vezes também exercem o papel de cuidadora do companheiro. Outra característica é o aumento do número de pessoas com 75 anos e mais, ou seja, o envelhecimento entre os grupos etários seniores com maior incidência de doenças crónicas e necessidades de saúde e/ou de cuidados informais (TRINTINAGLIA; BONAMIGO, AZAMBUJA, 2021).

Nota-se então, ao decorrer do tempo, que o envelhecimento populacional tem ocorrido de forma muito rápida e progressiva, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento. No Brasil, em 1950 a população idosa era de 2,6 milhões, em 2010 passou para 19,8 milhões e pode chegar a 67 milhões em 2050, correspondendo a um total de 30% do número total de habitantes do país (OLIVEIRA et al., 2014). 

3.2 Os hábitos alimentares e sua influência no estado saúde-doença do idoso 

O padrão alimentar de um indivíduo pode ser determinado por uma série de fatores, que variam desde os hábitos familiares, tabus, crenças religiosas e até condições socioculturais e financeiras. A sua alimentação deve ser adequada para manter as funções vitais e atender a condições fisiológicas específicas: crescimento, gestação, lactação, manutenção e recuperação; a fim de assegurar o bom estado nutricional, bem como prevenir agravos no estado saúde-doença (PEREIRA et al., 2015; COSTA et al., 2020).

Segundo Damo et al. (2018), o consumo excessivo de medicamentos, e os maus hábitos nutricionais podem vir a favorecer a desidratação, depleção de eletrólitos, diminuir a absorção intestinal e até mesmo destruir a flora intestinal o que contribui para casos de constipação; este quadro é auxiliado por fatores, como a ingestão insuficiente de fibras alimentares, a inatividade física, e a baixa ingestão de líquidos. 

O crescimento expressivo do número de idosos deve-se ao aumento da longevidade, bem como à melhoria das condições de saúde e qualidade de vida. Porém, a inversão da pirâmide populacional nem sempre tem um significado positivo, afinal, viver mais, não é sinônimo de viver com melhor qualidade de vida (SENIOR et al., 2015). 

Entende-se que o aumento da expectativa de vida foi acompanhado por mudanças no estilo de vida, o que incluiu hábitos alimentares pouco saudáveis, altas taxas de inatividade física e estresse, pois esses hábitos levam a taxas crescentes de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Dessa forma, uma alimentação adequada e a prática de atividade física mostram-se essenciais na prevenção de DCNT e, assim é possível promover o envelhecimento saudável e o controle de consequências metabólicas decorrentes dessas patologias (SILVA et al., 2017). 

Tabela 1: Fatores de risco para a desnutrição na pessoa idosa

Autor/ AnoFatores de risco
Delevatti et al. (2020)Disfagia.
Monteiro et al. (2019)Consumo Excessivo de medicamentos.
Dos Santos Veras et al. (2019)Inatividade física e estresse.
Hetzel e Alvarenga (2018)Disfagia.
Fechine; Trompieri (2017)Os hábitos familiares, tabus, crenças religiosas e até condições socioculturais e financeiras.
Silva et al. (2017)Alterações comportamentais e psicológicas da idade.
Santos et al. (2015)Depressão e déficit cognitivo.
Albin et al. (2013)Disfagia, falta de apetite.
Nocon; Labenz; Willich (2011)Refluxo esofágico.
Marzo; Carrillo; Mascort (2007)Alterações Gastresofágicas.

3.3 A disfagia no envelhecimento

Em decorrência do envelhecimento é natural ocorrer alterações estruturais e funcionais, idosos são mais suscetíveis ao aparecimento de doenças neurológicas, que podem levar a disfagia e gerar complicações como desidratação e desnutrição, ocasionando isolamento e depressão (AUGUSTI et al., 2017).

A deglutição é dividida em quatro partes: preparatória oral, faríngea e esofágica. As disfagias mais comuns no idoso podem ser: mecânica, decorrentes de câncer, trauma, infecções e próteses orais mal adaptadas; e neurogênicas, devido alterações do sistema nervoso central ou periférico, como por exemplo, nos acidentes vasculares encefálicos (AVE), doença de Parkinson, traumatismo cranioencefálico, paralisia cerebral e demência (JOTZ; ANGELINES, 2017).

Problemas na deglutição (com favorecimento da aspiração traqueal) é um dos principais fatores responsáveis por pneumonias em idosos, que podem contribuir para o aumento dos índices de mortalidade. Pesquisas mostram que 45% dos idosos apresentam alterações da deglutição na fase aguda do AVE (acidente vasculares encefálicos), frequentemente com aspiração persistente (BARRETO et al., 2015).

Idosos diagnosticados com a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), uma doença crônica dos pulmões que diminui a capacidade para a respiração, também podem apresentar sinais e sintomas de disfagia, sendo um fator de risco para evolução de disfagia. Alguns dos sintomas da disfagia pode ser azia, desconforto abdominal, dificuldade para engolir, mau hálito e tosse seca (NOCON, 2011; MARZO et al., 2007). 

A detecção do risco de disfagia é multidisciplinar, alguns fatores no idoso podem influem para um maior risco para desenvolver a disfagia, que são eles: doença de base, antecedentes e comorbidades, sinais clínicos de aspiração, complicações pulmonares, funcionalidade da alimentação (SOCIEDADE DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA, 2011).

Existem diversas escalas de severidade da disfagia, uma delas é Doss (Dysphagia Outcome Severity), representada por 7 níveis diferentes, sendo que o nível 1 corresponde ao mais grave da disfagia e o nível 7, à condição normal de deglutição, essa escala pode auxiliar o nutricionista na indicação de uma dieta mais adequada (NASCIMENTO; LIMA, 2016).

A disfagia pode levar o idoso à desnutrição, à desidratação e o aumentar o risco de pneumonia aspirativa, por isso a avaliação precoce de uma equipe multidisciplinar envolvendo médicos, fonoaudiólogos, nutricionistas e enfermeiros é muito importante para detectar o risco de disfagia, o diagnóstico precoce é fundamental para minimizar ou até mesmo evitar intercorrência clínica (AUNG; ZULKIFLI, 2016).

Cabe ao nutricionista fazer a prescrição dietética corretamente, ajustando a necessidade calórica e proteica, para diminuir o risco de desnutrição e melhora do estado nutricional do paciente idoso (PFRIMER; FERRIOLLI, 2008).

3.4 O nutricionista frente a prevenção da desnutrição na terceira idade

Sabe-se que o envelhecimento humano é um processo natural, dinâmico, progressivo e irreversível, no qual ocorrem alterações fisiológicas, bioquímicas, comportamentais e psicológicas, havendo vários programas educacionais para a Terceira Idade, os quais têm adquirido papel relevante nesse momento da vida dos indivíduos, ajudando-os a se estruturar para a aposentadoria, e para diversas mudanças sociais (SOUZA et al., 2014; SAKA et al., 2013).

De acordo com Serrano-Urreaa e García-Meseguerb (2014), o desenvolvimento de ferramentas como a avaliação nutricional e anamnese alimentar na terceira idade permitem diagnosticar carências e excessos alimentares, a fim de criar estratégias para atender as demandas nutricionais. Com isso, a educação nutricional é fundamental para orientação dos hábitos alimentares saudáveis durante todo o ciclo de vida. 

Contudo, Stange et al. (2013), cita que no Brasil, o envelhecimento se dá em um ritmo acelerado, sendo necessário assim, conhecer as condições gerais dos idosos, bem como as condições de saúde, a alimentação e o estado nutricional, a fim de promover a intervenção adequada, e garantir um envelhecimento saudável.

No entanto, a realização de atividades físicas regulares associadas a hábitos alimentares adequados pode diminuir o aparecimento dessas doenças, então a participação de idosos longevos em programas de atividades físicas e programas de orientação nutricional pode minimizar os efeitos deletérios do envelhecimento (DENT et al., 2019).

De acordo com as recomendações do Ministério da Saúde, a orientação nutricional deve ser um dos componentes da atenção à saúde da pessoa idosa, uma vez que a alimentação saudável contribui para promoção da saúde e para a prevenção de doenças. É importante ressaltar que, alimentação normal deve ser quantitativamente suficiente, qualitativamente completa, além de ser harmoniosa em seus componentes e adequada à sua finalidade e ao organismo a que se destina, visto que este equilíbrio é essencial para promoção da saúde e redução do risco de doenças (OLIVEIRA et al., 2018).

As ações educativas são outros exemplos de intervenção que tem forte efeito sobre a mudança dos hábitos de vida do idoso, oportunizando as pessoas em seus diferentes contextos a construir estratégias que possibilitem ampliar os benefícios que trazem uma alimentação saudável, propiciando uma participação ativa do sujeito na concepção de vida e saúde do mesmo, sendo este exercício pautado no comportamento, nas necessidades e crenças da população–alvo, mobilizando as pessoas na busca constante da autonomia, contribuindo para a prevenção de agravos (CRUZ et al., 2022; FILHO et al., 2022).

Com isso, é perceptível que o profissional de nutrição é o mais adequado para o enfrentamento deste cenário adverso, devendo as ações de nutrição/alimentação serem desenvolvidas pelo conjunto dos trabalhadores de saúde, sob a ótica do nutricionista, pois o mesmo atua frente a medidas preventivas para a desnutrição na pessoa idosa (ARRUDA; OLIVEIRA; GARCIA, 2019).

CONCLUSÃO

É perceptível a atuação do nutricionista frente aos fatores ligados a desnutrição na pessoa idosa, possibilitando através das suas competências a ingesta adequado dos alimentos, com o aporte necessário de nutrientes para a plena sustentação do organismo desse indivíduo. Sendo possibilitado assim, através da atuação desse profissional, terapias nutricionais, cuidado assistido, palestras, oficinas a fim de favorecer a ingesta alimentar da população idosa.

No que se refere aos fatores que levam a desnutrição na pessoa idosa, foi pontuado através desse trabalho acerca da disfagia, a qual se refere a uma alteração ou dificuldade no ato de deglutir os alimentos ou até mesmo a saliva, podendo essa alteração ocorrer em diferentes fases da vida, especialmente na fase idosa, o qual, quando não acompanhada pode trazer sérias consequências à saúde.

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1Graduandas do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário FAMETRO.

2Orientadora do TCC, Doutora em Biotecnologia pela Universidade Federal do Amazonas. Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário FAMETRO

3Co-orientador(a) do TCC, Mestre em Ciências do alimento pela Universidade Federal do Amazonas. Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário FAMETRO