FACTORS ASSOCIATED WITH ANXIETY, DEPRESSION AND STRESS IN MEDICAL STUDENTS AT A COLLEGE IN THE SOUTH CENTER OF BAHIA
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202411150222
Gilson Daniel Lima Cardoso
Guilherme Godrim Pereira
Prof Me. Charles Neris Moreira
Introdução: O estudo investiga os fatores associados à depressão, ansiedade e estresse em estudantes de medicina, que enfrentam uma carga emocional intensa devido às exigências acadêmicas. Essas condições podem afetar a saúde mental, especialmente em mulheres e alunos nos primeiros períodos do curso, destacando a importância de estratégias institucionais para o bem-estar psicológico. Objetivos: O objetivo principal foi analisar a prevalência e os fatores associados aos sintomas de depressão, ansiedade e estresse entre estudantes de medicina em uma faculdade no centro sul baiano, utilizando a escala DASS-21 e questionários sociodemográficos. Métodos: A pesquisa utilizou um método quantitativo, transversal e descritivo, com uma amostra de 127 estudantes de medicina. Os dados foram coletados por meio de questionários de autopreenchimento online, abordando variáveis como gênero, idade, estado civil, prática de atividade física, qualidade do sono, uso de psicoestimulantes e pressão familiar. Resultados e Discussão: Os resultados indicaram que as mulheres apresentaram maiores níveis de depressão, ansiedade e estresse em comparação aos homens. Estudantes mais jovens, especialmente entre 18 e 22 anos, apresentam níveis elevados de estresse, possivelmente devido à adaptação ao ambiente acadêmico. A prática de atividade física regular e um sono de boa qualidade foram associados a menores índices de sofrimento emocional, enquanto a pressão familiar e o uso de psicoestimulantes aumentaram os sintomas de ansiedade e estresse. Conclusão: Os níveis de depressão, ansiedade e estresse em estudantes de medicina são influenciados por fatores sociodemográficos e hábitos de vida. As instituições de ensino devem implementar programas de apoio psicológico, incentivar a prática de atividades físicas e conscientizar as famílias para reduzir esses sintomas e promover o bem-estar dos futuros médicos.
Palavras-chave: Depressão. Ansiedade. Estresse. Estudantes de medicina. Saúde mental.
Introduction: The study investigates the factors associated with depression, anxiety, and stress in medical students, who face an intense emotional burden due to academic demands. These conditions can affect mental health, especially in women and students in the first periods of the course, highlighting the importance of institutional strategies for psychological well-being. Objectives: The main objective was to analyze the prevalence and factors associated with symptoms of depression, anxiety, and stress among medical students at a college in the center of southern Bahia, using the DASS-21 scale and sociodemographic questionnaires. Methods: The research used a quantitative, cross-sectional and descriptive method, with a sample of 127 medical students. Data were collected through online self-administered questionnaires, addressing variables such as gender, age, marital status, physical activity, sleep quality, use of psychostimulants, and family pressure. Results and Discussion: The results indicated that women had higher levels of depression, anxiety, and stress compared to men. Younger students, especially between the ages of 18 and 22, experience high levels of stress, possibly due to adaptation to the academic environment. Regular physical activity and good quality sleep were associated with lower rates of emotional distress, while family pressure and the use of psychostimulants increased symptoms of anxiety and stress. Conclusion: Levels of depression, anxiety, and stress in medical students are influenced by sociodemographic factors and lifestyle habits. Educational institutions should implement psychological support programs, encourage the practice of physical activities and raise awareness among families to reduce these symptoms and promote the well-being of future doctors.
Keywords: Depression. Anxiety. Stress. Medical students. Mental health.
1. Introdução
O ingresso na vida universitária é um marco significativo na trajetória educacional, representando não apenas uma transição acadêmica, mas também um período de adaptação a novos desafios e responsabilidades. Nesse contexto, surge uma ansiedade como uma resposta emocional comum, influenciada por uma série de fatores inerentes ao ambiente universitário (Andrews e Wilding, 2004; Beiter et al., 2015). Estudantes ingressantes, ao enfrentarem a novidade e a pressão das expectativas acadêmicas, podem experimentar níveis particulares de ansiedade. Ao mesmo tempo, estudantes veteranos, embora mais familiarizados com o ambiente acadêmico, não estão isentos de desafios, podendo enfrentar preocupações relacionadas a questões como conclusões de cursos, avanços e perspectivas futuras.
Pesquisas recentes destacam a importância de investigar as dimensões da ansiedade em estudantes universitários, reconhecendo-a como uma aparência multifacetada influenciada por variações acadêmicas, sociais e individuais que podem impactar níveis de ansiedade acadêmica, bem-estar psicológico e qualidade de vida dos estudantes (Hunt e Eisenberg, 2010; Stallman, 2010). Entender as nuances da ansiedade, especialmente em um contexto comparativo entre os estudantes, torna-se crucial para a implementação de procedimentos eficazes e personalizados.
As carreiras que seguem na área da saúde frequentemente manifestam sintomas de depressão e ansiedade ao longo de seu curso, o que pode impactar os estudantes diretamente em sua futura prática profissional. A carga acadêmica é um fator significativo na experiência de ansiedade entre ingressantes, que muitas vezes se depara com desafios relacionados à adaptação a novos métodos de aprendizagem, exigência de estudo mais rigorosa e pressão para escolher um caminho profissional (Misra e McKean, 2000 ; Pritchard, Wilson e Yamnitz, 2007). Por outro lado, os veteranos podem ter ansiedade ligada à transição para os estágios finais do curso, a expectativa de um desempenho acadêmico consistente e as incertezas sobre o futuro da pós-graduação (Hirsch e Ellis, 1996). Compreender as fontes distintas de ansiedade entre ingressantes e veteranos é fundamental para o desenvolvimento de estratégias de intervenção específicas que abordem as preocupações únicas de cada grupo.
Diante disso, este estudo tem como objetivo analisar os fatores associados aos níveis de ansiedade, depressão e estresse entre estudantes de medicina em uma em uma faculdade do centro sul baiano.
2. Referencial Teórico
A saúde mental é um estado de bem-estar psicológico que envolve a capacidade de lidar com as pressões da vida cotidiana, manter relacionamentos saudáveis e fazer escolhas significativas. Nesse contexto, as síndromes psicológicas, como ansiedade, depressão e estresse, são distúrbios que afetam negativamente o funcionamento emocional, cognitivo e comportamental dos indivíduos. Elas podem interferir nas atividades diárias, no desempenho acadêmico e nas interações sociais, diminuindo a qualidade de vida (GAINO et al. 2018).
A saúde mental é particularmente relevante no contexto acadêmico, particularmente em acadêmicos de medicina. Os estudantes de medicina enfrentam desafios únicos que podem afetar sua saúde mental, como a pressão acadêmica, a exposição a situações médicas difíceis e o treinamento clínico intenso, que podem contribuir para níveis elevados de estresse, ansiedade e depressão Schlindwein et al. (2022). A expectativa de alto desempenho acadêmico, a pressão para escolher carreiras bem-sucedidas e a necessidade de equilibrar os estudos com outras atividades podem criar um terreno fértil para o desenvolvimento de síndromes psicológicas, já que a demanda por excelência acadêmica pode causar estresse significativo (ARAR et al. 2023).
As síndromes psicológicas podem ter um impacto profundo na vida acadêmica dos estudantes de medicina. Enquanto a ansiedade pode levar a dificuldades de concentração durante as aulas e os estudos, resultando em um baixo rendimento acadêmico, a depressão pode afetar a motivação para completar tarefas e participar de atividades extracurriculares e o estresse crônico pode prejudicar a capacidade de lidar com prazos e pressões acadêmicas, levando a um ciclo negativo de desempenho abaixo do potencial (MARTINS et al. 2019).
Uma abordagem integral à saúde mental dos estudantes de medicina requer uma compreensão aprofundada dos desafios específicos que enfrentam ao longo do curso. Como destacado por Dyrbye et al. (2014), o ambiente de aprendizagem desempenha um papel crucial nesse processo. A exposição constante a situações emocionais desafiadoras e a pressão para adquirir conhecimentos complexos podem contribuir para níveis elevados de burnout e comprometer o equilíbrio emocional dos estudantes. Esses resultados ressaltam a importância de estratégias institucionais que promovem ambientes educacionais saudáveis e apoiem a saúde mental dos futuros profissionais de saúde.
Além das complexidades inerentes ao ambiente de aprendizagem, as dimensões sociodemográficas dos estudantes de medicina são reveladas como influenciadas pela saúde mental. Fares et al. (2016) destacam a importância de exploração de fatores como idade, gênero e situação socioeconômica na compreensão mais profunda dos desafios enfrentados pelos estudantes. Estudantes de diferentes faixas etárias podem lidar de maneira distinta com as pressões acadêmicas, enquanto diferenças de gênero e variáveis socioeconômicas também emergem como determinantes cruciais dos níveis de ansiedade, depressão e estresse.
Investigar as principais fontes de ansiedade entre os estudantes de medicina é essencial para desenvolver estratégias de intervenção. Compreender e abordar essas pressões específicas pode ser fundamental para promover um ambiente acadêmico mais saudável. (BEITER et al. 2015).
3. Metodologia
Trata-se de um estudo transversal com abordagem quantitativa realizado em uma clínica pública de referência do município de Guanambi, localizado no centro sul do estado da Bahia. Com uma população estimada de aproximadamente 93.000 habitantes (IBGE, 2024), Guanambi está situada a aproximadamente 796 km da capital, Salvador, e atua como um polo regional em termos geográficos e de saúde.
A população do estudo foi composta por 127 acadêmicos de medicina, maiores de 18 anos e de ambos os sexos. A coleta dos dados foi realizada por meio de um questionário adaptado de Mendes (2021) que abordou aspectos sociodemográficos, perfil acadêmico e hábitos de vida, e pela escala de depressão, ansiedade e estresse DASS-21 (MARTINS et al., 2019), que mede o nível dos transtornos de depressão, ansiedade e estresse através de questões sobre comportamentos e sensações experienciadas por um indivíduo.
O questionário DASS-21 foi composto por três fatores distintos, cada um medindo aspectos específicos do bem-estar mental: depressão, ansiedade e estresse. Cada fator é representado por um conjunto de sete itens numerados. As respostas dos participantes são registradas em uma escala de 4 pontos, onde 0 indica “não se aplicou a mim”, 1 indica “aplicou -se a mim um pouco ou durante parte do tempo”, 2 indica “aplicou-se bastante a mim ou durante uma boa parte do tempo”, e 3 indica “aplicou-se muito a mim ou a maior parte do tempo”. As pontuações para depressão, ansiedade e estresse são calculadas somando-se as pontuações dos sete itens relevantes, variando de 0 a 21. As pontuações mais altas indicam uma maior propensão a sintomas de depressão, ansiedade e estresse (BARROS et al., 2022).
Foram incluídos no estudo apenas estudantes de ambos os sexos, com idade acima de 18 anos, e que estivessem devidamente matriculados no curso de Medicina. Foram excluídos menores de 18 anos, afastados por licença-maternidade ou atestado médico, ou que se recusaram a participar.
A análise dos dados será realizada utilizando o software IBM SPSS, versão 24.0. Inicialmente, serão empregadas técnicas de análise descritiva, inferencial e multivariada. Essas comparações visam identificar possíveis correlações e diferenças significativas que possam existir entre os grupos.
Os dados foram registrados e tabulados no Microsoft Office Excel 2013. A análise estatística foi realizada utilizando o programa SPSS 20.0 (Statistical Package for the Social Sciences) versão para Windows. Os dados foram representados na forma de frequências, médias e desvio padrão. Por fim, foi aplicado o teste do Qui-quadrado que avaliou as diferenças de proporções dos dados categóricos, sendo considerado significativo quando p≤0,05.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFIPMOC sob o CAAE nº 80500524.2.0000.5109, e seguiu rigorosamente as normas éticas e diretrizes estabelecidas pela Declaração de Helsinki, pela Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) do Brasil, e outros padrões internacionais reconhecidos de ética em pesquisa envolvendo seres humanos.
4. Resultados
O presente estudo investigou uma amostra de 127 acadêmicos de medicina. A distribuição de sexo mostra que 64,6% dos participantes eram do sexo feminino (82 pessoas) e 35,4% eram do sexo masculino (45 pessoas). Em relação à faixa etária, a maioria dos participantes 54,3% tinham idade entre 18 e 22 anos, 38,6% tinham idade entre 23 e 29 anos, e 7,08% tinham idade entre 30 e 39 anos. Quanto ao estado civil, 88,97% dos participantes eram solteiros e 7,8% eram casados e/ou em união estável.
Em relação à renda familiar, 34 participantes (27,0%) declararam ter uma renda entre 1 e 3 salários-mínimos, enquanto outros 27,0% (34 pessoas) informaram possuir uma renda entre 4 e 6 salários-mínimos. Cerca de 24,6% (31 pessoas) dos participantes informaram possuir uma renda familiar de 10 ou mais salários-mínimos, seguidos por 17,5% (22 pessoas) com uma renda entre 7 e 9 salários-mínimos. Quanto à autodeclaração de cor da pele, 49,6% dos participantes se identificaram como pardo, 46,5% como brancos e 3,9% como pretos. O perfil sociodemográfico completo está descrito na Tabela 1.
Tabela 1 – Caracterização dos aspectos sociodemográficos dos estudantes de Medicina. Guanambi, Bahia, Brasil. (N = 127).
Fonte: Elaborada pelos autores.
Quanto ao perfil acadêmico dos entrevistados, a maior parte dos acadêmicos (24,4%) está cursando o 7º período, seguido por 14,2% no 3º período, 13,4% no 2º período, 12,6% no 4º período e 11% no 8º período. Os períodos iniciais e intermediários, como o 1º e o 6º, obtiveram 7,9% e 7,1% de participação, respectivamente. Os períodos mais avançados do curso, como o 10º e o 12º, obteve menor representatividade, cada um com 4,7% de participação. Em relação à carga acadêmica, a maioria dos estudantes (58,3%) considerou sua carga de estudos como moderada, 34,6% a descreveram como intensa, e 3,9% alegaram ter uma carga leve de estudos.
Quando questionados sobre a influência familiar nos estudos, 60,6% dos participantes afirmaram que não se sentem pressionados por familiares em relação ao futuro, enquanto 39,4% admitiram sentir essa pressão. Quanto ao suporte psicológico oferecido pela faculdade, 63,0% dos estudantes acreditam que o ambiente acadêmico oferece um apoio adequado para lidar com a rotina intensa de estudos, enquanto 37,0% acreditam que esse suporte não é suficiente. Os dados acadêmicos dos estudantes estão apresentados na Tabela 2.
Tabela 2 – Caracterização do perfil acadêmico dos estudantes de Medicina. Guanambi, Bahia, Brasil. (N = 127).
Fonte: Elaborada pelos autores.
No que se refere aos hábitos de vida, a maior parte dos acadêmicos (78,7%) relatou que pratica algum tipo de atividade física e dormir seis horas ou mais de sono por noite (70,6%). No entanto, apesar da quantidade de horas de sono, 50,0% dos estudantes descreveram a qualidade do sono como regular, enquanto o sono foi considerado de boa qualidade para 39,4%. Além disso, a imensa maioria dos participantes (90,6%) disse fazer uso de medicamentos para dormir.
Quando questionados sobre o uso de substâncias psicoestimulantes (como cafeína ou outros estimulantes), apenas 18,1% dos acadêmicos admitiram utilizá-las para ajudar no desempenho acadêmico. Por fim, 76,4% dos participantes relataram não usar antidepressivos ou ansiolíticos, enquanto 23,6% afirmaram fazer uso desses medicamentos. Os hábitos de vida estão apresentados na Tabela 3.
Tabela 3 – Caracterização dos hábitos de vida dos estudantes de Medicina. Guanambi, Bahia, Brasil. (N = 127).
Fonte: Elaborada pelos autores.
Com relação a escala DASS-21, a análise das médias e desvios-padrão (DP) das condições de depressão, ansiedade e estresse foi realizada em uma amostra de 127 indivíduos. Nossos resultados indicaram que as mulheres apresentam médias mais elevadas em depressão (854), ansiedade (8,9) e estresse (152), enquanto os homens apresentam valores menores nas três condições, com médias de 667, 3,9 e 77, respectivamente. Isso indica uma prevalência maior de sintomas emocionais no sexo feminino em comparação ao masculino.
Ao analisar a idade, participantes entre 18 e 22 anos apresentam médias maiores para depressão, ansiedade e estresse, com scores de 93, 84 e 143, respectivamente. Aqueles entre 23 e 29 anos exibiram escores de 62, 53 e 101, respectivamente, enquanto os participantes com mais de 30 anos apresentaram médias mais baixas de depressão (57), embora tenham mostrado valores maiores de ansiedade (73) e estresse (117). Quanto ao estado civil, as médias mais altas foram observadas em estudantes solteiros, com valores de 80, 73 e 129 para depressão, ansiedade e estresse, respectivamente.
Quando considerados os períodos acadêmicos, os estudantes do ciclo básico foram os que apresentaram as médias mais altas de depressão (934), ansiedade (96) e estresse (150), em comparação com os alunos do ciclo clínico (73, 48 e 109) e do internato (30, 48 e 70). Já em relação ao sono, quem dorme mais de seis horas por noite tem médias de depressão (70), ansiedade (64) e estresse (120) menores do que aqueles que dormem até seis horas (100, 89 e 140, respectivamente). A pressão familiar também aparece como um fator relevante, com médias mais elevadas de depressão (916), ansiedade (82) e estresse (142). Já em relação à prática de atividade física observou-se médias mais altas entre aqueles que não praticam atividade física (100, 83 e 122) em comparação aos que praticam (73, 68 e 126).
Por fim, participantes que fazem uso de psicoestimulantes e têm qualidade de sono ruim apresentaram médias mais altas nas três categorias em comparação com aqueles que não utilizam esses medicamentos e têm uma qualidade de sono melhor. Os escores de DASS-21 estão representados na Tabela 4.
Tabela 4 – Análise dos escores de DASS-21. Guanambi, Bahia, Brasil. (N = 127).
Fonte: Elaborada pelos autores.
5. Discussão
Os fatores associados aos níveis de depressão, ansiedade e estresse em estudantes de medicina são uma preocupação crescente no contexto acadêmico. No estudo, os resultados apontaram que as mulheres, em particular, apresentam maior prevalência de sintomas relacionados a essas condições em comparação aos homens. Esse padrão reflete os achados da literatura científica que apontam o sexo feminino sendo mais vulnerável a distúrbios emocionais. Além disso, a pressão por desempenho elevado e o equilíbrio de diversas demandas parecem ser mais intensos para as mulheres, levando a um aumento dos sintomas de ansiedade e estresse (BARROS et al. 2022; BEITER et al. 2015).
Além disso, a análise por faixa etária revelou que estudantes mais jovens (entre 18 e 22 anos) tendem a apresentar maiores índices de estresse em comparação com estudantes mais velhos. Isso pode estar relacionado ao período de adaptação à vida universitária e à pressão para alcançar bons resultados acadêmicos em um ambiente novo e competitivo (DYRBYE et al. 2009). Por outro lado, os alunos mais velhos, embora apresentem níveis moderados de estresse, podem estar lidando com os desafios de transição para o mercado de trabalho e as expectativas sobre o futuro profissional (HUNT e EISENBERG, 2010).
Quanto ao estado civil, os estudantes solteiros apresentaram maiores médias de depressão, ansiedade e estresse em comparação com casados e pessoas em união estável. Isso pode sugerir que o suporte emocional ao aconselhamento de relacionamentos positivos contribui para a redução dos níveis de estresse e ansiedade, o que corrobora com a literatura que aponta que o apoio social e familiar desempenha um papel protetor importante na saúde mental dos indivíduos (GAINO et al. 2018; MISRA e MCKEAN, 2000).
Nossos resultados também indicaram que estudantes nas fases iniciais do curso, como no ciclo básico, apresentaram maiores níveis de estresse em relação aos estudantes no ciclo clínico e no internato. Isso pode ser explicado pelo fato de que os alunos nos primeiros períodos estão se ajustando ao ritmo acadêmico e às exigências do curso de medicina, o que pode gerar ansiedade e insegurança sobre seu desempenho (DAHLIN et al. 2005). Por outro lado, os alunos do internato, embora lidem com responsabilidades práticas, já possuem maior familiaridade com o ambiente médico (DAHLIN et al. 2005; VOLTMER, KÖTTER e SPAHN, 2012).
Em nossa pesquisa foi observado que a prática de atividade física foi inversamente proporcional aos níveis de depressão, ansiedade e estresse. Isso reforça a ideia de que o exercício físico é uma estratégia eficaz para a gestão do estresse e para a promoção da saúde mental. A atividade física ajuda a liberar endorfinas, hormônios que têm sensações de bem-estar, além de melhorar a qualidade do sono e a disposição geral (FARIES et al. 2016; MARTINS et al. 2019).
A privação do sono é um fator de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais, pois interfere na capacidade de concentração, memória e regulação emocional (STALLMAN, 2010). Nossos resultados indicaram que estudantes com mais horas de sono apresentaram níveis mais baixos de depressão e ansiedade, o que sugere uma relação estreita entre qualidade do sono e bem-estar emocional. Dessa forma, a promoção de hábitos saudáveis de sono, como horários de estudo e descanso equilibrados, não só pode melhorar o rendimento acadêmico, mas também servir como uma intervenção eficaz para reduzir o estresse acadêmico. Além disso, o sono de qualidade contribui para a estabilidade emocional e o fortalecimento da saúde mental, tornando-se uma prática essencial para o bem-estar geral (STALLMAN, 2010; YUSOFF et al. 2013).
Quanto ao apoio familiar, estudantes que sentem pressão por parte dos familiares apresentam maiores níveis de depressão, ansiedade e estresse, o que está de acordo com a literatura. A pressão para ter sucesso acadêmico, muitas vezes vinda de expectativas familiares, pode aumentar o fardo emocional, contribuindo para o desenvolvimento de sintomas psicológicos adversos (GUTHRIE et al. 1995; SCHLINDWEIN et al. 2022). Isso ressalta a importância de abordagens que envolvam a conscientização dos familiares sobre o impacto negativo da pressão no bem-estar dos estudantes.
Por fim, o uso de psicoestimulantes e medicamentos para dormir está diretamente associado a níveis mais elevados de depressão, ansiedade e estresse, conforme observado em nossos resultados e respaldado pela literatura científica atual (ARAR et al. 2023). O uso dessas substâncias como uma forma de lidar com a carga acadêmica e a pressão psicológica pode, na verdade, agravar os sintomas de saúde mental, sendo necessário promover alternativas mais saudáveis e sustentáveis para o manejo do estresse (ANDREWS e WILDING, 2004).
6. Conclusão
O presente estudo analisou os níveis de ansiedade, depressão e estresse em estudantes de medicina. Nossos dados revelaram uma maior prevalência desses sintomas em mulheres e estudantes do ciclo básico, com uma menor parte dos estudantes relatando não fazer uso de psicoestimulantes. Além disso, estudantes que relataram adotar hábitos de vida saudáveis, como a prática regular de exercícios físicos e um sono de boa qualidade, apresentam menores índices de sofrimento emocional. A pressão familiar também se revelou um fator relevante no aumento dos sintomas de ansiedade e estresse. É essencial que os estudantes recebam apoio emocional de suas famílias, sem que isso se transforme em uma fonte adicional de estresse.
Por fim, este estudo destaca a importância de estratégias focadas na promoção da saúde mental dos estudantes e na inclusão de seus familiares. Programas de apoio psicológico, incentivo à prática de atividade física e ações educativas sobre a importância de um sono adequado e de um ambiente familiar de suporte devem ser implementados pelas instituições de ensino. Essas intervenções podem contribuir significativamente para a redução dos níveis de depressão, ansiedade e estresse, favorecendo o desenvolvimento acadêmico e profissional dos futuros médicos.
7. REFERÊNCIAS
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