FÁRMACOS E A INDÚSTRIA DA BELEZA: O USO EXCESSIVO DE ÁCIDO HIALURÔNICO E SUA RELAÇÃO COM A BUSCA PELO PADRÃO DE BELEZA

DRUGS AND THE BEAUTY INDUSTRY: THE OVERUSE OF HYALURONIC ACID AND ITS RELATION TO THE SEARCH FOR BEAUTY STANDARDS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8010067


Jaqueline Oliveira do Nascimento¹;
Paloma Jesus dos Santos²;
Ana Oclenidia Dantas Mesquita¹;


RESUMO: os padrões de beleza na sociedade atual estão ligados a uma incessante procura pela aparência ideal, o que gera uma elevada quantidade e procura de procedimentos estéticos. Para quem busca corrigir sulcos, contornos e volumes dos lábios, há diversas opções de preenchedores e técnicas não invasivas disponíveis como o ácido hialurônico. Com baixos riscos de complicação e segurança, os profissionais incluem o ácido hialurônico como um dos principais princípios ativos nas técnicas de preenchedores dérmicos. O objetivo deste estudo é apresentar as possíveis complicações que podem ocorrer com o uso excessivo de ácido hialurônico, bem como suas propriedades, efeitos colaterais e as consequências do excesso em procedimentos estéticos, demonstrando a importância do preparo dos profissionais farmacêuticos capacitados e habilitados para a execução desses procedimentos minimamente invasivos. Trata-se de uma revisão de literatura baseada em artigos científicos publicados no SciELO, PubMed e Google Acadêmico.

Palavras-chaves: Ácido Hialurônico, Procedimentos Estéticos e Beleza.

ABSTRACT: The standards of beauty in today’s society are linked to an incessant search for the ideal appearance, which generates a high quantity and demand for aesthetic procedures. For those who seek to correct furrows, contours and volumes of the lips, there are several options of fillers and non-invasive techniques available, such as hyaluronic acid. With low complication risks and safety, professionals include hyaluronic acid as one of the main active ingredients in dermal filler techniques. The aim of this study is to present the possible complications that may occur with the excessive use of hyaluronic acid, as well as its properties, side effects, and the consequences of excess in aesthetic procedures, demonstrating the importance of the preparation of qualified and skilled pharmaceutical professionals to perform these minimally invasive procedures. This is a literature review based on scientific articles published in SciELO, PubMed, and Google Scholar. Keywords: Hyaluronic Acid, Aesthetic and Beauty Procedures.

INTRODUÇÃO

A busca pela aparência perfeita tem se intensificado no mundo. Dados relevantes nas pesquisas da Sociedade Internacional da Cirurgia Plástica (ISAPS) mostram que o Brasil ocupa o primeiro lugar da classificação mundial de cirurgias plásticas.

A harmonização facial é um conjunto de técnicas e procedimentos estéticos considerados menos invasivos, em relação a uma cirurgia plástica. Assim, torna-se uma eficiente medida para buscar o padrão estético, repondo o volume perdido e suavizando as linhas de expressão da pele, sendo um excelente preenchimento facial essencial no tratamento de rejuvenescimento cutâneo. A escolha do implante varia conforme a necessidade do paciente e a avaliação adequada dos músculos faciais, contribuindo para resultados imediatos e satisfatórios (AGOSTINI MM E JALIL SMA, 2018).

As mídias sociais têm influenciado as pessoas a terem um rosto mais fotogênico e harmonioso, principalmente os jovens que recorrem cada vez mais a uma versão aprimorada de si mesmos, vivem em uma busca interminável da perfeição inatingível. As ferramentas de embelezamento são amplamente utilizadas por jovens e adultos para atingir o padrão de beleza desejado, essas ferramentas, possibilitam que as pessoas clareiam a pele, afinam o nariz e até simulam um preenchimento facial (OLIVEIRA E CARVALHO E MELO, 2016).

Essas modificações e distorção de imagem, gerada pelos filtros artificiais, podem acarretar consequências negativas, levando as pessoas a buscar procedimentos estéticos para alcançar esse padrão que muitas vezes não é baseado na realidade. A procura por esse modelo inalcançável, combinando a sua efetividade e segurança do ácido hialurônico, tais procedimentos, apesar de reversíveis, podem resultar em complicações como necrose tecidual, técnicas incorretas ou inerente decorrentes de experiências do aplicador e dependências emocionais (SANTOS E ROSA, 2022).

Em vista do exposto, o objetivo deste estudo é realizar uma revisão da literatura sobre os problemas que podem surgir com o uso excessivo de ácido hialurônico, bem como suas propriedades, efeitos colaterais e as possíveis consequências do excesso na busca por procedimentos estéticos.

O presente estudo possui o objetivo de entender quais os problemas relacionados ao uso excessivo de ácido hialurônico e sua relação com a busca pelo padrão de beleza.

METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão de literatura pautando-se na busca de estudos pesquisados em fontes credíveis de informação científica. Para a execução deste trabalho, foram aplicadas as etapas de delimitação do tema e formulação da pergunta norteadora da pesquisa. Utilizando-se bases de dados: Pubmed, Lilacs, Scielo e Google Acadêmico. Dos 187 artigos, foram descartados 156 e utilizamos 31 para essa pesquisa.

Os idiomas dos artigos foram inglês e português. As palavras-chaves utilizadas para a pesquisa foram, “Ácido Hialurônico na estética”, “Beleza”, “Harmonização” e “Autoestima”.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisando a história, podemos facilmente considerar o ser humano como um ser visual, que prima pela estética, desde os tempos mais remotos da história e da pré-história, o ser humano faz do seu corpo um objeto cultural. Existem muitos relatos, por exemplo, dos os povos primitivos, que usavam substâncias para maquiagem e embelezamento, demonstrando a preocupação com a aparência. Rostos e corpos eram pintados e tatuados para agradar aos deuses e afugentar os maus espíritos (KURY; HANGREAVES E VALENÇA, 2000).

No século 21, o padrão de beleza se recria, atrelado a um novo veículo de informações em massa que vem se tornando o principal método de propagação da busca pela beleza e perfeição, as redes sociais digitais. A divulgação de novos procedimentos e cirurgias estéticas, novas dietas mirabolantes e remédios que prometem fazer milagres para que se possa alcançar o padrão estabelecido por essa mesma rede, são comuns e cada vez mais frequentes (LIMA et al. 2021).

Através da padronização dos corpos e da venda de um ideal de beleza inalcançável, estabelecido através de um ambiente virtual facilmente manipulado, é possível ver a influência que o Instagram, assim como as demais redes sociais têm sobre os jovens (HOHMANN, et al. 2020).

Segundo Martins e Ferreira (2020) pessoas com a autoestima elevada, confiam mais em suas possibilidades, evitando o estresse gerado pela insegurança. Isso os ajuda a desenvolver melhor suas habilidades pessoais, estabelecer objetivos de vida e alcançá-los mais facilmente, tornando assim o acesso a uma estética aceitável dentro do padrão de beleza, quase uma necessidade para o sucesso não só pessoal, mas também profissional.

Dados da Sociedade Internacional de Cirurgias Plásticas (ISAPS) apontam que o Brasil é o país com maior número de cirurgias plásticas realizadas, ultrapassando a marca de 1,5 milhões de procedimentos por ano, seguido pelos Estados Unidos e México. Os dados foram divulgados em uma pesquisa publicada em 2019, que considerou o ano de 2018 para análise.

Segundo as pesquisas do (ISAPS) o aumento de cirurgias plásticas no Brasil está associado ao progresso das técnicas que permitem cada vez mais alternativas para agradar os pacientes, que buscam uma oportunidade de melhorar sua autoestima. Conforme Martins e Ferreira (2020), as pessoas com a autoestima elevada, confiam mais em suas capacidades evitando o estresse gerado pela insegurança, isso os ajudam a melhorar suas habilidades pessoais, definir objetivos de vida e alcançá-los de forma mais fácil.

Embora os preenchimentos faciais tenham um perfil de segurança muito favorável, não há existência de preenchedor totalmente desprovido de riscos e mesmo profissionais experientes podem se deparar com reações imediatas, como eritema, sangramentos, nodulação e necroses. Sendo assim, é de grande importância o conhecimento das possíveis complicações que podem ocorrer nesse procedimento, o profissional deve estar apto a identificar, classificar e saber tratá-la (GUTMANN E DUTRA, 2018)

Conforme o Conselho Federal de Farmácia (CFF), as resoluções de nº 645/2017 e nº 616 /15 permitem a atuação legal no exercício da saúde estética em procedimentos não cirúrgicos, desde que, tenham uma capacitação de pós-graduação e especialização para esse profissional. O farmacêutico especializado em farmácia estética é um dos profissionais da saúde autorizados a realizar harmonização facial, devido ao seu conhecimento em medicamentos, é capaz de prever possíveis reações adversas e promover alternativas terapêuticas para o paciente, proporcionando bem-estar e segurança nos procedimentos.

De acordo com Talarico (2010), para quem busca corrigir rugas, sulcos, contornos e volumes dos lábios, há diversas opções de preenchedores e técnicas não invasivas disponíveis no mercado, mas o ácido hialurônico (AH) se destaca como uma escolha confiável, proporcionando um resultado cosmético satisfatório, seguro e duradouro. Diversos estudos comprovaram a eficácia do AH, tornando-o um dos preenchedores mais utilizados (TALARICO et al., 2010).

De acordo com Santoni (2018), os primeiros estudos a respeito do ácido hialurônico iniciaram em 1934, dita como uma molécula versátil, o estudo teve início no laboratório de Columbia, onde Karl Meyer e John Palmer descreveram a forma de isolar essa substância do humor vítreo bovino. Na década seguinte, Mayer e seu assistente decidiram isolar o AH presente na pele, articulações, cordão umbilical e crista de galo. Também pode ser obtido a partir da fermentação de bactérias, que causam menos alergias em pessoas hipersensíveis do que a extraída dos animais (HOARE et al., 2014).

“O ácido hialurônico é um polissacarídeo composto de unidades de ácido D-glicurônico (GlcUA) e N-acetiglicosamina (GlcNAc) unidas alternadamente por ligações glicosídicas β-1,3 e β-1,4” (LEHNINGER, 1988, p. 219).

Segundo Ferreira e Capobianco (2016), atualmente o ácido hialurônico na forma de gel injetável é o mais usado em abordagens estéticas com melhores resultados nos tratamentos de rugas/ rítides, correção do contorno facial e reposição de volume facial, com o preenchimento sulcos nasogenianos (conhecido como “bigode chinês), sulcos nasojugais (conhecido como olheiras), na região periocular (conhecidos como “pés de galinha”), aumento do volume labial, pescoço e mãos, região mandibular, molar, cicatriz, sendo também usado na rinomodelação. A quantidade de AH a ser injetado para uma boa correção, depende da profundidade dos sulcos, das rugas e também da viscosidade do ácido utilizado.

O AH não causa reação inflamatória, por estar presente nas camadas basais para suporte e hidratação da pele, sua aplicação é praticamente indolor, uma vez que para o preenchimento depende de anestesia local, auxilia na reparação de tecidos, no estímulo e reparação do colágeno, além de proteger a pele contra fatores intrínsecos (aquele que resulta do nosso organismo) e extrínsecos (aquele que resulta da influência da exposição a fatores externo ambientais), ajudando a garantir a umidade, diminuir rugas e restaurar a hidratação profunda da pele (MORAES et al., 2017).

O ácido hialurônico (AH) é usado amplamente para tratamentos estéticos devido a sua eficácia, segurança, baixo potencial alergênico e versatilidade. Além de repor volume, o ácido hialurônico atua como remodelador cutâneo graças à observação da persistência do efeito de preenchimento por tempo muito maior do que a biodisponibilidade do preenchedor (ANTONIO E ESTEVES, 2018).

Assim como recomendado para os diferentes produtos cosméticos, o AH não deve ser utilizado em indivíduos com hipersensibilidade conhecida, em mulheres grávidas ou no período de amamentação, não deve ser injetado em uma área onde um implante permanente tem sido colocado, nem ser aplicado dentro ou próximas de áreas em que haja doença ativa de pele, inflamações ou feridas (MORAES et al., 2017).

Complicações relatadas decorrentes de seu uso, geralmente são infrequentes, mas podem ocorrer devido a reações alérgicas de pacientes em relação às substâncias químicas presentes no material utilizado nas aplicações e também aos componentes proteicos presentes nas preparações do ácido hialurônico (FERREIRA E CAPOBIANCO, 2016)

Nos casos mais graves, as reações adversas se manifestam de forma imediata e observadas, sendo decorrentes da inflamação local e da propriedade hidrofílica do produto. O problema, pode ser agravado por múltiplas injeções, material espesso e massagem realizada após o procedimento e técnica incorreta de aplicação. Reações incomuns podem ocorrer em 0,1% dos casos, com início entre três e sete dias após a aplicação do produto. A aplicação do ácido hialurônico pode levar a uma reação imunológica, que pode se manifestar por meio de vermelhidão ou até mesmo anafilaxia. O tratamento é realizado com corticoide oral ou infiltração intralesional de corticoide. (CROCCO, 2012; FERREIRA, 2022).

As mudanças estéticas faciais e a insatisfação da aparência própria têm efeito negativo sobre a vida das pessoas, com possível agravante da extensão psicossocial, comprometendo, assim, a autoestima do indivíduo, principalmente, pelo sentimento de inferioridade. Os influenciadores têm o poder de construir a imagem perfeita, e novos procedimentos e tendências surgem, constantemente, tornando o padrão anteriormente considerado ideal ultrapassado e gerando, por vezes, um descontentamento (GALDINO, LAVOISIER et al., 2022; SATOSHI, EMÍLIA et al., 2021).

O farmacêutico é um profissional que pode atuar em mais de 70 diferentes áreas, de acordo com o CFF e Lima (2017) a Resolução de n° 616/15 estabelece condições técnicas para o funcionamento de atividades estéticas, devendo cumprir os regulamentos e garantir a segurança dos pacientes que utilizam os recursos terapêuticos que são aplicados no estabelecimento.

A Resolução n° 573/13 reconhece a atuação do farmacêutico na área da saúde estética, atribuindo a ele a responsabilidade pelo gerenciamento e aplicação de ácidos e procedimentos em conformidade com as normas de biossegurança vigente, no entanto, o farmacêutico não pode realizar intervenções cirúrgicas.

Lima (2017) e Santos (2022) ressaltam a importância do farmacêutico na área da estética, o que representa uma grande conquista para esses profissionais que estão se destacando nesse ramo. Entretanto, é necessário que os profissionais exerçam pós-graduação e curso teórico-prático reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Ministério da Saúde (MS) com a finalidade de ser habilitado para a realização desses procedimentos, assim, garantido a segurança e confiança dos pacientes.

Contudo, toda atividade farmacêutica deve ser fundamentada no cumprimento das normas regulamentares que regem essa profissão, garantindo segurança aos usuários quanto aos procedimentos cabíveis e eficácia dos recursos terapêuticos utilizados (BECKER, 2015).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A crescente demanda por técnicas de harmonização facial tem se mostrado uma das maneiras de alcançar resultados satisfatórios com menor risco de complicações e efeitos colaterais permanentes para o paciente. O ácido hialurônico é um dos principais princípios ativos mais utilizados pelos profissionais da área da estética, devido às suas propriedades de biocompatibilidade, hidratação da pele e atividade anti-inflamatória. No âmbito da saúde estética, é necessário que o farmacêutico possua conhecimentos técnicos e científicos e seja habilitado para realizar esses procedimentos com segurança, a fim de não prejudicar o bem-estar e a qualidade da vida dos pacientes que realizam o procedimento. Desse modo, conclui-se que o aumento de técnicas de harmonização facial tem se mostrado uma das maneiras de alcançar resultados satisfatórios atendendo às necessidades individuais do paciente proporcionando resultados mais sofisticados. Os padrões de beleza divulgados pela mídia podem ter um impacto na autoestima e aumenta a procura por procedimentos estéticos, sejam eles invasivos ou não. É relevante destacar que não estamos nos opondo a esses procedimentos, mas sim, a busca desenfreada por estes. Portanto, é de suma importância avaliar os riscos e benefícios dessa aplicação e informar ao paciente todas as possibilidades de efeitos adversos, para que juntos tomem uma decisão consciente.

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Farmacêutica formada pela universidade Tiradentes