EXTRAÇÃO E RENDIMENTO DO ÓLEO DA AMÊNDOA DE LARANJINHA-DE-PACU (POUTERIA GLOMERATA (MIQ.) RADLK)

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202502230202


Nayara Grassioti Almeida1; Isabela Caetano de França1; Keniel Natan Alves dos Santos1; Isabel Matos Fraga Cunha1; Admilson Costa da Cunha1.


RESUMO

O cerrado e o Pantanal são biomas que apresentam grande diversidade tanto de fauna quanto de flora. Entretanto, com relação a flora, apesar da pluralidade, ainda existem plantas pouco exploradas ou até mesmo desconhecidas. Logo, reconhecendo todo o potencial dessas vegetações e suas aplicações em diversas áreas, observa-se um movimento de estudo e pesquisa sobre as duas biotas. Dentre as espécies vegetativas desses ecossistemas, convém ressaltar a Laranjinha-de-Pacu (Pouteria Glomerata (Miq) Radlk). A Laranjinha-de-Pacu é uma árvore nativa de regiões pantaneiras que produz frutos carnosos muito utilizados como isca de pesca ou na produção de alimentos, principalmente de geléias. Dessa forma, pensando em outras aplicações da fruta, o presente artigo teve como objetivo, extrair o óleo das amêndoas de Laranjinha-de-Pacu e calcular o rendimento oleaginoso das sementes. Assim, as frutas foram coletadas no pomar do IFMT Campus Cáceres, Mato Grosso, trituradas em  liquidificador industrial, pesadas e submetidas à extração com Soxhlet e hexano durante oito horas contínuas. Por fim, cada amostra passou pelo processo de separação no evaporador rotatório e foram levadas para estufa a 60°C por 24 horas. Quanto aos resultados obtidos durante as análises, foi possível concluir que as amêndoas apresentam um baixo percentual de rendimento quando comparado a outras sementes oleaginosas.

Palavras-chave: Cerrado, Extração de óleos, cálculo de rendimento.

INTRODUÇÃO

O Cerrado e o Pantanal são biomas predominantes no território brasileiro e apresentam grande diversidade de espécies tanto na fauna, quanto na flora. É reconhecido como a área mais rica do planeta em biodiversidade com a presença de diversos ecossistemas (BATISTA, 2013, p. 28). “ O Cerrado é extremamente rico em diversidade de plantas, contando com mais de 12.000 espécies nativas catalogadas. A grande diversidade de hábitats resulta em transições marcantes entre diferentes tipologias de vegetação” (SAYER et al, 2018).

 Dessa forma, nos últimos anos, tem-se observado um grande movimento relacionado aos estudos e pesquisas de plantas na região desses biomas. Isso porque, elas apontam propriedades químicas e compostos bioativos que contribuem para a saúde de uma forma geral, como também para indústria e o consumo in natura. Assim, dentre as variedades encontradas nestes biossistemas, cabe ressaltar a Pouteria Glomerata (Miq) Radlk. O gênero Pouteria, pertencente à família Sapotaceae, agrupa cerca de 325 espécies. É encontrado em clima pantropical, sendo distribuído amplamente por regiões da Ásia e América do Sul (OLIVEIRA et al, 2023).

A Pouteria Glomerata (Miq) Radlk ou Laranjinha-de-Pacu, pertence à família Sapotaceae, árvores típicas da região pantaneira. É conhecida também como laranjinha, moranguinha ou parada (DO ESPIRITO SANTO, 2017). Essa espécie produz frutos carnosos que apresentam cor de casca amarelada quando maduros e até quatro sementes por pomo. Com relação ao sabor, a laranjinha é um fruto comestível de odor adocicado, com sabor azedo acentuado e pouca percepção de açúcar (TEIXEIRA; SUZUKI; TONIN, 2020, p.292). Durante os meses de setembro a dezembro as árvores florescem, e do mês de janeiro a agosto produzem seus frutos (POTT, A.; POTT, V.J., 1994).

A respeito da sua ocorrência, essa espécie pode ser encontrada em regiões da América do Sul e Central. Entretanto, no Brasil, apesar de serem árvores nativas, elas não são endêmicas e podem ser encontradas principalmente no Amazonas, Pará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Assim, sobre sua vegetação, a Pouteria Glomerata (Miq) Radlk caracteriza-se como florestas ciliares de regiões alagadas e solos argilosos, siltosos. Essa espécie pode apresentar arbustos ou árvores de aproximadamente 10 metros de altura com ramificação até o solo (POTT, A.; POTT, V.J., 1994).

Além da possibilidade de ser consumida in natura, a laranjinha-de-pacu também pode ser utilizada e ingerida de outras maneiras. Conforme o casal de biólogos Pott (1994), a Pouteria Glomerata (Miq) Radlk. é comumente utilizada pelos pescadores como alimento para os peixes e isca para pescar pacu. Além disso, a laranjinha-de-pacu também é muito empregada na indústria alimentícia para o desenvolvimento de produtos novos a partir de frutos nativos. Isso porque, segundo Damasceno Junior e Souza (2010), a fruta contém diversas vitaminas e minerais, como também o ácido tartárico, málico e pectina que caracterizam ela como boa formadora de gel, favorecendo assim, o preparo de subprodutos como geleias, sucos, picolé, iogurte, doces e sorvetes.

Há diversos estudos relacionados às características físico-químicas, propriedades nutricionais e atividade antioxidante da Pouteria Glomerata (Miq) Radlk. O fruto  possui teor lipídico de 0,79 g. 100 g-1 e 3,72 g. 100 g-1 quando liofilizado (DO ESPIRITO SANTO et al, 2020), enquanto outras do gênero, como a Guapeva (Pouteria cf. Guardneriana radlk) possui teor de lipídios correspondente a 2,1 g. 100 g-1 (SOARES, 2019).

No entanto, são escassos trabalhos que abordem a produção de óleo a partir  do seu fruto, tampouco de suas sementes, o que apresenta uma lacuna significativa de conhecimento científico a ser explorado. Assim, tornam-se essenciais mais pesquisas sobre o fruto, que possibilitem analisar a produção de óleo vegetal e seus derivados, como o biodiesel. Tais estudos podem representar uma oportunidade econômica, além de influenciar positivamente a valorização da biodiversidade da região Centro-Oeste, contribuindo para o desenvolvimento sustentável local.

METODOLOGIA

O experimento foi realizado no laboratório de química do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – campus Cáceres-Prof. Olegário Baldo. Utilizou-se para tal o método Soxhlet, como solvente utilizou-se o hexano. As sementes de Laranjinha de Pacuforam coletadas no campus do IFMT – Campus Cáceres, localizado no município de Cáceres – MT.

A coleta foi realizada manualmente. Foram coletados tanto os frutos que estavam nas árvores, quanto as que já estavam no chão, e não apresentavam características indesejáveis, como, podridão (Figura 1). Após coletadas, os frutos foram abertos para retirada das sementes.

Figura 1: Sementes de Laranjinha de Pacu coletadas no município de Cáceres – MT

Para a realização da extração foi utilizado o solvente orgânico hexano. Tal escolha baseou-se nos inúmeros trabalhos encontrados na literatura, onde relatam o bom desempenho deste (BRUM; ARRUDA; REGITANO-D’ARCE, 2009). Para o processo de extração, utilizou-se o método Sohxlet (Figura 2), que consistiu na pesagem de 60 gramas de sementes trituradas em liquidificador doméstico, estas foram colocadas em cartucho e encaminhadas ao extrator. Foram montados três sistemas de extração, onde se utilizou aproximadamente 600 mL de solvente (triplicata). O processo de extração ocorreu em refluxo durante o período de 8 horas.

Figura 2: Sistema de extração do óleo de Laranjinha de Pacu pelo método Soxhlet

Ao final de oito horas, as misturas hexano/óleo de cada amostra, foram conduzidas ao evaporador rotatório da marca FISATOM, para recuperação do solvente. No evaporador rotatório a separação baseia-se na diferença de ponto de ebulição entre solvente e óleo. Assim que atinge sua temperatura de ebulição, o solvente é evaporado, este condensa quando entra em contato com o condensador e é armazenado em um balão logo abaixo. Ao final do processo obtém-se o solvente recuperado e o óleo. O óleo então foi conduzido à estufa a 80ºC por onde permaneceu por 24h. Após a estufa, a massa de óleo extraída foi aferida em balança analítica.

O rendimento de cada óleo obtido foi calculado a partir da equação 1.

Equação 1

Onde:
Ms: Massa de semente utilizada na extração;
Mbcheio: Massa do bécher cheio de óleo extraído;
Mbvazio:  Massa do bécher vazio;
R: A porcentagem de óleo extraído em relação à massa de semente.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O rendimento obtido na extração foi calculado a partir da equação 1, os resultados são apresentados na tabela 1.

Tabela 1: Rendimento do processo de extração com os solventes hexano e éter de petróleo

Massa de semente extraída (g)Massa de óleo obtida (g)Rendimento em óleo (%)Rendimento médio (%)
60 g0,840 g1,4%2,36 %
60 g1,652 g2,75%
60 g1,775 g2,95%

Diferentemente de outros métodos, a extração com solventes exige uma interação entre o solvente e a fração lipídica. Não obstante, muitas vezes o solvente não extrai apenas óleo, mas também outras substâncias voláteis, e estas podem vir a inibir a ação do solvente no processo de extração resultando em baixo rendimento (SARTOR, 2009).

A velocidade de extração depende do equilíbrio no sistema óleo-miscela-solvente. As principais condições que facilitam o processo de difusão são a espessura dos flocos resultantes da trituração, à temperatura próxima ao ponto de ebulição do solvente, e a umidade apropriada do material (MANDARINO; HIRAKURI; ROESSING, 2001).

A viscosidade do solvente é um fator crucial no processo de extração, pois conforme explica Thomas, (2003), a viscosidade varia de acordo com a mudança de temperatura e a concentração do óleo. As soluções com baixa viscosidade penetram rapidamente entre os espaços da matéria-prima e nos poros dela, aumentando a taxa de extração do óleo.

Assim como a viscosidade, a solubilidade do óleo a ser extraído pode ser considerada limitante no processo de extração. Alguns podem ser infinitamente solúveis em um dado solvente, enquanto outros têm solubilidades tão baixas que não são mensuráveis por métodos diretos (THOMAS, 2003). A solubilidade depende das propriedades do soluto e do solvente, da temperatura e da pressão (RUSSEL, 1981).

CONCLUSÃO

Após as análises, é possível concluir que a extração do óleo da laranjinha-de-pacu (Pouteria glomerata (Miq.) Radlk) apresenta um rendimento baixo. Isso porque, quando comparada a outras amêndoas oleaginosas, como por exemplo o amendoim, 46% dos grãos são compostos por óleo e evidenciam um bom rendimento (SOARES, G. C.; VIEIRA, F. G. A.; CARVALHO, R. M. M., 2021), a laranjinha-de-pacu expressa apenas 2,36%. Acredita-se que um dos fatores que influenciaram no resultado final da extração seja a maturação dos frutos, uma vez que os pomos coletados e utilizados nas análises ainda estavam relativamente verdes. Portanto, consequentemente o processo de formação do triacilglicerídeo, principal composto formador de óleos, não estava completo.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso (IFMT) pelo apoio concedido através da Pró-Reitoria de Pesquisa e Inovação do IFMT (PROPES-IFMT).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES-ARAÚJO, A. et al. 2020. Sapotaceae in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB217. Acesso em: 23 ago. 2024.

BATISTA, L. C. L. Qualidade nutricional e atividade antioxidante de Laranjinha de Pacu (Pouteria glomerata (miq.) radlk) do Cerrado e do Pantanal. Tese(Mestrado em Saúde e Desenvolvimento), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, p. 69. 2013.

BRUM, A. A. S; ARRUDA, L. F. de; REGITANO-D´ARCE, M. A. B. Métodos de extração e qualidade da fração lipídica de Matérias-primas de origem vegetal e animal. Revista Química Nova, v. 32, n. 4, 2009.

DAMASCENO JUNIOR, G.A; SOUZA, P. R. Sabores do Cerrado e Pantanal: receitas e boas práticas de aproveitamento. UFMS: Campo Grande – MS; 2010.

DO ESPIRITO SANTO, B. L. S. Laranjinha de Pacu (Pouteria glomerata (Miq) Radlk): Caracterização do fruto e potencial para modelo in vivo. Tese (Mestrado em Ciências de Saúde) – Programa de Pós-Graduação em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, p. 86. 2017

DO ESPIRITO SANTO, B. L. S. et al. Dietary fiber chemical structures and physicochemical properties of edible Pouteria glomerata fruits, native from Brazilian Pantanal. Food Research International, v. 137, p. 109576, 2020.

MANDARINO, J. M. G.; HIRAKURI, M. H.; ROESSING, A. C. Tecnologia para produção do óleo de soja: descrição das etapas, equipamentos, produtos e subprodutos. 2. ed. Londrina: Embrapa Soja, 2015.

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POTT, A.; POTT, V.J. Plantas do Pantanal, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Centro de Pesquisa Agropecuária do Pantanal. – Corumbá, MS: EMBRAPA-SPI, 1994. 320 p.

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SOARES, G. C.; AGUIAR VIEIRA, F. G.; MADURO DE CARVALHO, R. M. EXTRAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS DO ÓLEO DE AMENDOIM ATRAVÉS DO PLANEJAMENTO FATORIAL. Revista Eletrônica Perspectivas da Ciência e Tecnologia – ISSN: 1984-5693, v. 13, 16 jul. 2021.


¹Instituição: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Mato Grosso – Campus Cáceres-Prof. Olegário Baldo