EXPLORANDO AS COMPLEXIDADES DA OBESIDADE: UMA INVESTIGAÇÃO MULTIFATORIAL PARA ALCANÇAR MELHORES ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10899661


Jorge Nunes Aragão1


Resumo

A obesidade é uma patologia caracterizada pelo excesso de acumulação de tecido adiposo, resultando em efeitos prejudiciais à condição de saúde. Existe consenso na literatura acerca de sua etiologia multifatorial, abrangendo aspectos biológicos, históricos, ecológicos, políticos, socioeconômicos, psicossociais e culturais. Este escrito tem como escopo abordar a natureza multifatorial da adiposidade, contemplando a extensa gama de fatores ambientais e genéticos envolvidos em sua etiologia, mediante análise de estudos secundários derivados de revisões bibliográficas nas principais bases de dados e bibliotecas especializadas.Presentemente, a adiposidade é reconhecida como a principal disfunção nutricional em nações desenvolvidas e em desenvolvimento, em virtude do incremento em sua incidência. A abordagem dos elementos genéticos, metabólicos, psicossociais, simbólicos, culturais e do modo de vida possibilitou a fundamentação da adiposidade como uma afecção plural, ressaltando a necessidade de instituir políticas públicas com intervenções multidisciplinares e intersetoriais. Tais políticas devem enfatizar a colaboração entre o poder público e a sociedade civil, visando a prevenção e o enfrentamento da adiposidade, além de promover a saúde, facilitando a participação da comunidade nesse processo por meio do estabelecimento de responsabilidades e do fomento ao autocuidado.

Palavraschave: Adiposidade; nutricional; Estratégias.

ABSTRACT

Obesity is a medical condition characterized by the excessive accumulation of body fat, resulting in adverse health effects. Literature widely acknowledges its multifactorial etiology, encompassing biological, historical, ecological, political, socio-economic, psychosocial, and cultural dimensions. Accordingly, this article aims to elucidate the multifaceted nature of obesity, exploring the diverse array of environmental and genetic factors implicated in its etiology through secondary studies derived from literature reviews in major databases and specialized libraries.

In contemporary times, obesity stands as the foremost nutritional disorder in both developed and developing countries, attributed to the escalating incidence of this condition. The comprehensive examination of genetic, metabolic, psychosocial, symbolic, and cultural aspects, coupled with lifestyle considerations, has substantiated obesity as a complex health condition. This underscores the imperative to formulate public policies that incorporate multidisciplinary and intersectoral approaches, emphasizing collaboration between government entities and civil society. Such initiatives are crucial for preventing and addressing obesity, promoting health, and fostering community engagement in the process through shared responsibility and self-care.

Keywords: Obesity, Nutritional transition, Risk factors, Public policies.

Introdução

A obesidade constitui uma condição patológica caracterizada pelo excesso de acumulação de gordura corporal, atingindo níveis prejudiciais à saúde e resultando em complicações como alterações metabólicas, dificuldades respiratórias e comprometimento do sistema locomotor. Além disso, configura-se como um fator de risco para diversas enfermidades, incluindo dislipidemias, doenças cardiovasculares, diabetes mellitus tipo II e certos tipos de câncer.

O diagnóstico da obesidade é estabelecido com base no índice de massa corporal (IMC), um parâmetro definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O IMC é calculado pela relação entre o peso corporal (em kg) e a estatura (em m), sendo considerados obesos os indivíduos cujo IMC iguala ou ultrapassa 30 kg/m².

Na literatura especializada, há consenso sobre a complexidade da etiologia da obesidade, revelando um caráter multifatorial. Essa complexidade abrange uma variedade de fatores, como históricos, ecológicos, políticos, socioeconômicos, psicossociais, biológicos e culturais. Embora diversos aspectos sejam estudados, destaca-se a ênfase nos fatores biológicos associados ao estilo de vida, notadamente no que diz respeito à relação entre dieta, atividade física e obesidade.

Este artigo tem como propósito abordar a natureza multifatorial da obesidade, explorando a ampla gama de fatores ambientais e genéticos envolvidos em sua etiologia por meio de estudos secundários provenientes de revisões bibliográficas em bases de dados e bibliotecas especializadas. Dada a abrangência do tema, busca-se atualizar os principais elementos relacionados à etiologia da obesidade, reconhecendo a importância de abordar essa condição de forma abrangente. Acreditamos que restringir as investigações apenas aos aspectos biológicos ou sociais limita a compreensão e a explicação dessa problemática.

Desenvolvimento

A Ascensão da Obesidade

Atualmente, a obesidade é reconhecida como a principal anomalia nutricional em países desenvolvidos e em desenvolvimento, devido ao crescimento de sua incidência. Conforme dados da Organização Mundial de Saúde, estima-se que esse problema afete aproximadamente 10% da população desses países. Nas Américas, a obesidade está em ascensão em ambas as categorias de gênero, tanto em nações desenvolvidas quanto em sociedades em desenvolvimento. Na Europa, observou-se um aumento de 10% a 40% na obesidade na maioria dos países ao longo de uma década. Na região do Oeste do Pacífico, que inclui Austrália, Japão, Samoa e China, também é perceptível um aumento na prevalência da obesidade. No entanto, China e Japão, apesar do aumento em comparação com outros países desenvolvidos, possuem as menores taxas de prevalência globalmente. Nos continentes africano e asiático, a obesidade ainda é relativamente incomum, sendo mais prevalente na população urbana em comparação com a população rural. Contudo, nas regiões economicamente avançadas desses continentes, a prevalência pode ser tão elevada quanto nos países desenvolvidos.

No contexto brasileiro, a análise de quatro estudos de base populacional – Estudo Nacional sobre Despesas Familiares (ENDEF) realizado entre 1974-1975, Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN) de 1989, Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV) desenvolvida em 1996-1997, e Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2002-2003 – permitiu avaliar a magnitude dos problemas nutricionais mais significativos, incluindo o surgimento da obesidade, bem como examinar seus principais determinantes e tendências no comportamento desses problemas no país. Segundo esses estudos, a desnutrição teve uma redução acentuada nas últimas décadas, enquanto o sobrepeso e a obesidade aumentaram, especialmente entre adultos.

Resultados do ENDEF de 1974/75 mostraram que a obesidade superou a desnutrição apenas entre adultos de alta renda. Na PNSN de 1989, observou-se que a obesidade ultrapassou a desnutrição entre homens de renda alta e média, bem como entre mulheres de todos os níveis de renda. De acordo com Batista Filho e Rissin, diferenças geográficas no Brasil refletem desigualdades sociais na distribuição da obesidade. Inicialmente, a prevalência de excesso de peso era maior nas regiões mais desenvolvidas (Sul, Sudeste e Centro-Oeste) e em estratos de renda mais elevados. No entanto, já se observa uma tendência de aumento da obesidade nas regiões Norte e Nordeste e em estratos de renda mais baixos. A comparação dos resultados entre as regiões Norte e Nordeste com as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste indicou maior prevalência da obesidade nessas últimas.

Dados recentes da POF 2002/03 revelaram que cerca de 40% dos adultos brasileiros estão com excesso de peso, sendo que 8,9% dos homens e 13,1% das mulheres são considerados obesos. Nas mulheres, a ocorrência mais elevada de excesso de peso é encontrada nos estratos de menor renda. Observa-se estabilidade e uma tendência de declínio nos segmentos de renda mais elevada, com exceção da região Nordeste, onde a obesidade continua a emergir. A maior concentração de mulheres com excesso de peso é observada nas áreas rurais em todo o país, com uma exceção na região Nordeste, onde a maior concentração ocorre nas áreas urbanas. Nos homens, as maiores prevalências são observadas nas áreas urbanas das regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, bem como nos estratos de maior renda.

Compreender o comportamento da obesidade no Brasil é crucial para definir prioridades e estratégias de ações em saúde pública. Portanto, é essencial incorporar ações voltadas para a prevenção e controle desse problema, destacando medidas de educação em saúde e nutrição em nível nacional e em todos os setores da sociedade. A garantia dos principais mecanismos de prevenção e intervenção da obesidade deve ser assegurada a todos os indivíduos, incluindo a promoção de uma dieta adequada em termos qualitativos e quantitativos, a prática orientada de atividade física de lazer e a assistência multiprofissional para todos os indivíduos.

Influências Históricas e Ecológicas na Ascensão da Obesidade

A propagação da obesidade globalmente pode ser interpretada como uma consequência da transição nutricional, um fenômeno que se caracteriza pela transformação nos padrões de distribuição dos problemas nutricionais em uma população ao longo do tempo. Essa mudança implica na diminuição da prevalência de doenças associadas ao subdesenvolvimento e, inversamente, no aumento de enfermidades relacionadas à modernidade, geralmente representando uma transição da desnutrição para a obesidade. Esse processo é impulsionado por alterações nos padrões de alimentação e atividade física da população, correlacionadas a mudanças econômicas, sociais, demográficas e de saúde decorrentes da globalização, conforme indicado por Popkin et al.

Para Fischler, a modernização das sociedades resultou na reorganização do estilo de vida contemporâneo, dando origem a uma nova forma de vida em que a oferta e o consumo de alimentos aumentaram significativamente, tornando-se acessíveis diversos tipos de produtos alimentares, principalmente devido ao desenvolvimento da tecnologia alimentar.

As transformações na alimentação estão relacionadas à adoção crescente da chamada “dieta ocidental” ou “dieta moderna”, caracterizada por uma alta ingestão de gorduras (principalmente de origem animal), açúcares e alimentos refinados, em contrapartida a uma redução na ingestão de fibras e outros carboidratos complexos. Por outro lado, a diminuição da atividade física e a adoção de um estilo de vida sedentário são resultado de mudanças nas esferas do trabalho, lazer e estilo de vida moderno, associadas ao processo de desenvolvimento e modernização das sociedades contemporâneas.

No contexto brasileiro, também foram observadas mudanças nos padrões alimentares e de atividade física da população. Um estudo realizado por Mondini e Monteiro identificou modificações nos hábitos alimentares dos brasileiros entre os anos de 1961/63, 1975/76 e 1987/88. Essas alterações incluíram uma redução no consumo de carboidratos como parte da ingestão calórica total, substituição de gorduras, especialmente de origem vegetal em detrimento das gorduras animais, além do consumo excessivo de açúcares e deficiência de carboidratos complexos e fibras.

No que diz respeito à atividade física, houve mudanças na estrutura das ocupações profissionais, com uma crescente mecanização do trabalho e uma maior participação da população no setor terciário da economia, caracterizado por ocupações com menor demanda energética em comparação com os setores secundário e primário. Essa mudança está relacionada ao fenômeno da transição demográfica, com a concentração da população em áreas urbanas e ao desenvolvimento tecnológico.

Embora a obesidade tenha emergido como um problema crescente no Brasil, é importante destacar que a carência alimentar, incluindo desnutrição e anemias carenciais, ainda persiste, especialmente em estratos de menor renda e regiões menos desenvolvidas, como o Nordeste. Essa dualidade reflete uma característica marcante da transição nutricional no país.

Portanto, dados recentes da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003, conduzida pelo IBGE em colaboração com o Ministério da Saúde, confirmam a tendência de aumento no consumo de açúcares e gorduras na população brasileira. Abordaremos mais detalhadamente os resultados desta pesquisa posteriormente.

Fatores Genéticos e Metabólicos da Obesidade

Os elementos biológicos associados à obesidade, que incluem a genética e o metabolismo, têm sido objeto de discussão em diversas pesquisas. Nesse contexto, a teoria da economia energética tem sido indicada como uma possível contribuição para o desenvolvimento da obesidade. Conforme essa teoria, em situações de adversidades biológicas e sociais, caracterizadas por déficit de energia, o organismo ativa uma série de mecanismos metabólicos adaptativos.

Esses mecanismos buscam promover a redução no gasto energético como estratégia de sobrevivência. No entanto, essa adaptação conduz o organismo a um novo ponto de equilíbrio, no qual o gasto e a ingestão energética são inferiores ao normal. Esse novo equilíbrio, entretanto, revela-se frágil, e um aumento na ingestão de alimentos pode resultar em ganho de peso, consequência do aumento da eficiência metabólica adquirida.

Estudos revisados por Francischi et al. destacam a significativa influência genética no desenvolvimento da obesidade, embora os mecanismos subjacentes ainda não estejam totalmente esclarecidos. Há evidências de que o apetite e o comportamento alimentar são influenciados geneticamente, e há indícios de que o componente genético atua sobre o gasto energético, especialmente sobre a taxa metabólica basal (TMB). Distúrbios endócrinos, como hipotireoidismo, problemas no hipotálamo, alterações no metabolismo de corticosteroides, hipogonadismo em homens e ovariectomia em mulheres, síndrome de Cushing e síndrome dos ovários policísticos, também podem levar à obesidade.

A regulação do peso corporal envolve uma interação complexa entre hormônios e neuropeptídeos, controlados principalmente por núcleos hipotalâmicos. Mutações nos genes relacionados a hormônios e neuropeptídeos, seus receptores ou elementos regulatórios, foram associadas à obesidade. A leptina, por exemplo, é um hormônio crucial secretado pelo tecido adiposo em resposta ao armazenamento de gordura ou excesso de ingestão alimentar. Ela desempenha um papel importante na regulação do apetite, inibindo a formação de neuropeptídeos relacionados ao apetite e promovendo a expressão de neuropeptídeos anorexígenos. Deficiências congênitas de leptina são responsáveis por uma parcela significativa dos casos de obesidade mórbida precoce.

Outros fatores metabólicos envolvidos na gênese da obesidade incluem a colecistocinina (CCK), ghrelina, neuropeptídeo Y (NPY) e peptídeo YY. Essas substâncias desempenham papéis na regulação da ingestão alimentar, sendo que CCK e peptídeo YY inibem a ingestão alimentar, promovendo a saciedade, enquanto NPY e ghrelina estimulam o apetite. Distúrbios no controle da liberação dessas substâncias e outras envolvidas na regulação do balanço energético podem levar a disfunções nos sistemas de regulação do peso corporal, contribuindo para a obesidade.

É essencial reconhecer que os aspectos genéticos e metabólicos abordados representam apenas uma fração da complexidade desses fatores que influenciam na etiologia da obesidade. Portanto, é necessário que os pesquisadores direcionem maior atenção para a elucidação dos diversos mecanismos pelos quais esses fatores impactam o desenvolvimento dessa condição.

Aspectos Socioculturais e Simbólicos da Obesidade

A percepção, interpretação e influência da obesidade enquanto atributo físico são intrinsecamente ligadas ao contexto social. Os valores socioculturais associados à obesidade podem variar entre diferentes sociedades e ao longo de diferentes períodos históricos. A concepção de saúde, que anteriormente poderia estar vinculada à corpulência, hoje é modificada pelas novas crenças culturais e concepções sobre o corpo magro.

O corpo desempenha um papel existencial fundamental, sendo através dele que os indivíduos se manifestam no mundo. Cuidados corporais relacionados à beleza, estética e saúde são regidos por um sistema de regras sociais derivado da interação entre indivíduos, seus corpos e a sociedade. Existem códigos internalizados para vivenciar um corpo, sendo manifestados por grupos sociais específicos. Na contemporaneidade, observam-se padrões corporais associados ao corpo magro, delineado, estético e eternamente jovem. O corpo desejado atualmente é funcional, vinculado a símbolos de beleza, realização pessoal e erotismo. Para Baudrillard, as estruturas de produção e consumo atuais transformam o corpo em capital, um objeto de troca. Dessa forma, práticas como higiene, moda, cosméticos, estética, tratamentos corporais e atividade física tornam-se recursos rentáveis para atingir o padrão corporal em vigor.

Carvalho e Martins propõem que a obesidade é percebida como um estado desviante dos padrões de normalidade na cultura. O corpo gordo é considerado anormal, pois difere do ideal de beleza associado ao corpo magro e/ou musculoso aceito socialmente. Além disso, a obesidade pode ser compreendida como um estado patológico devido aos sinais e sintomas da enfermidade, sua alta relação com comorbidades e o impacto negativo na qualidade de vida do indivíduo em seu ambiente.

Em sociedades modernas, observa-se uma crescente rejeição às pessoas obesas. No entanto, em determinadas sociedades e grupos, como algumas tribos africanas, uma corpulência moderada ainda é associada ao sucesso econômico, poder político, status social, beleza e maternidade. Padrões corporais relacionados à obesidade variam, portanto, entre diferentes sociedades e contextos sociais.

Em resumo, a obesidade recebe duas definições na esfera social: como um estado desviante dos padrões de normalidade, sendo o corpo gordo considerado fora da norma social vigente; e como um estado patológico, uma doença, devido aos sina

Fatores Psíquicos da Obesidade

Segal destaca que, dentre todos os fatores envolvidos na obesidade, os aspectos psicológicos e psiquiátricos assumem uma relevância maior, não tanto pelo seu papel na etiologia e prognóstico, mas principalmente por seu papel histórico. Nas primeiras seis décadas do século XX, a obesidade era interpretada como resultante de déficits morais e/ou problemas psíquicos.

Indivíduos com excesso de peso eram encarados como os únicos responsáveis por sua condição, sendo considerados incapazes de se controlar. Além disso, eram estigmatizados por terem baixa autoestima, limitações intelectuais e funcionamento mental prejudicado, incluindo níveis elevados de ansiedade e covardia (por utilizarem a gordura como escudo), sendo rotulados ainda como egoístas por consumirem mais alimentos que os demais indivíduos.

Almeida indica que, entre os diversos prejuízos à saúde associados à obesidade, os aspectos psicológicos se destacam, especialmente aqueles relacionados à imagem corporal. Esses aspectos envolvem uma inter-relação de fatores emocionais, atitudinais e perceptuais. Um ambiente competitivo, com altas expectativas em relação à conformidade com um corpo perfeito, pode resultar em vários problemas de realização pessoal para os indivíduos.

As sociedades contemporâneas são cada vez mais moldadas pela mídia, que impõe ideais de saúde, juventude e difunde conselhos relacionados à dieta, estética, esportes, erotismo e psicologia. Apesar das diferenças raciais e étnicas, a mídia persiste em impor um padrão idealizado e homogêneo de beleza. No entanto, o que é apresentado pela mídia como imposição de valores pode gerar equívocos, já que fornece imagens e padrões difíceis de serem alcançados, desconsiderando as necessidades individuais e distanciando as pessoas de seus corpos singulares, capazes e saudáveis, cada um à sua maneira.

A postura atual destaca que a população geral de obesos não apresenta maiores níveis de psicopatologia quando comparada à população geral não obesa.

No entanto, obesos em tratamento demonstram maiores níveis de sintomas depressivos, ansiedade, transtornos alimentares, de personalidade e distúrbios da imagem corporal. Essa abordagem pode ser justificada pelo fato de que a presença de psicopatologia não é necessária para o desenvolvimento da obesidade, sendo restrita a grupos específicos. Além disso, a obesidade é vista como causadora de psicopatologia, não como uma consequência desta última.

A obesidade está relacionada a fatores psicológicos como controle, percepção de si, ansiedade e desenvolvimento emocional.

 No entanto, é importante destacar que ser obeso não implica necessariamente ter problemas psicológicos, e é crucial desmistificar essa crença frequentemente utilizada para explicar o excesso de peso. Nesse contexto, a inclusão de profissionais da área de psicologia e psiquiatria no tratamento da obesidade torna-se fundamental, permitindo um diagnóstico mais preciso desses aspectos na formação da obesidade e contribuindo para a definição do tratamento mais adequado.

Conclusão

Diante do exposto, consideramos essencial estabelecer novas agendas de pesquisa em saúde e nutrição que adotem abordagens metodológicas centradas na perspectiva da obesidade como uma condição multifatorial e não fragmentada, rompendo com a abordagem tradicionalmente presente na literatura sobre o tema. Alguns autores têm timidamente conduzido estudos com essa abordagem mais abrangente e plural. A nosso ver, é por meio da realização de estudos dessa natureza que se poderá proporcionar uma instrumentalização mais eficaz dos profissionais de saúde para o tratamento da obesidade no nível individual e familiar, destacando a importância de abordagens multidisciplinares e intersetoriais.

No âmbito coletivo, a implementação de ações deve envolver políticas públicas voltadas para a promoção da saúde, bem-estar e qualidade de vida das populações. Nesse contexto, a parceria entre o governo e a sociedade civil surge como um caminho promissor na prevenção e tratamento da obesidade, incentivando a responsabilização e o autocuidado. Essa abordagem permite que a comunidade participe ativamente do processo de promoção da saúde.

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1Bacharel em Medicina pela Universidad Autônoma San Sebastian – UASS, revalidado pela Universidade de Gurupi – UNIRG, Pós-graduado, Lato sensu em Saúde Coletiva e ESF pela Faculdade de Administração, Ciências e Educação.