EXPLORING THE DIVERSITY OF AFRICAN AND AFRO-BRAZILIAN CHILDREN’S AND YOUNG ADULT LITERATURE
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10520186
Vicente Alberto Lima Bessa1
Resumo
No contexto da educação básica, a literatura desempenha um papel vital ao desmantelar paradigmas e enfrentar a discriminação racial. Durante a infância, um período propício para a formação, a literatura infantojuvenil se apresenta como uma potente ferramenta de emancipação, contribuindo para a valorização da humanidade e a conscientização social. Ao direcionar o foco para a literatura afro-brasileira nesse público, abre-se uma oportunidade para apreciar as tradições africanas e reconhecer sua influência na formação cultural brasileira, fomentando a diversidade e a inclusão desde o início da vida na escola. O estudo investigou a literatura afro-brasileira infanto juvenil como instrumento educacional para a cidadania. Durante longo período, a literatura infantojuvenil foi cúmplice na perpetuação de estereótipos, marginalizando a comunidade negra. No entanto, as obras contemporâneas emergem como agentes de resgate da identidade negra, enaltecendo a religiosidade, tradições e a riqueza cultural associada. Apesar da legislação voltada para a inclusão, há uma imperativa necessidade de aprimoramento na formação dos educadores, visando garantir que tais obras atinjam os alunos de maneira efetiva. A predominância da literatura eurocêntrica nas instituições educacionais contribui para a perpetuação de uma visão de mundo restrita, consolidando a discriminação racial. No entanto, quando empregada de maneira consciente e inclusiva, a literatura assume uma função crucial na construção de uma educação antirracista e pluricultural. Esse engajamento propicia uma compreensão profunda e respeitosa das nuances culturais, constituindo, assim, um contributo fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.
Palavras-chave: literatura afro-brasileira, educação infantil, gênero, relações étnico-raciais, literatura infantil afro-brasileira, personagens negros.
Summary
In the context of basic education, literature plays a vital role in dismantling paradigms and confronting racial discrimination. During childhood, a period conducive to education, children’s literature presents itself as a powerful tool for emancipation, contributing to the appreciation of humanity and social awareness. By focusing on Afro-Brazilian literature in this audience, an opportunity is opened to appreciate African traditions and recognize their influence on Brazilian cultural formation, encouraging diversity and inclusion from the beginning of school life. The study investigated Afro-Brazilian literature for children and young people as an educational instrument for citizenship. For a long period, children’s literature was complicit in perpetuating stereotypes, marginalizing the black community. However, contemporary works emerge as agents of rescuing black identity, praising religiosity, traditions and the associated cultural richness. Despite legislation aimed at inclusion, there is an imperative need to improve the training of educators, aiming to ensure that such works reach students effectively. The predominance of Eurocentric literature in educational institutions contributes to the perpetuation of a restricted worldview, consolidating racial discrimination. However, when used in a conscious and inclusive way, literature plays a crucial role in building anti-racist and multicultural education. This engagement provides a deep and respectful understanding of cultural nuances, thus constituting a fundamental contribution to the construction of a more fair and equitable society.
Keywords: Afro-Brazilian literature, early childhood education, gender, ethnic-racial relations, Afro-Brazilian children’s literature, black characters.
Introdução
A origem etimológica da palavra “literatura” remonta ao latim “littera”, cujo significado é “letra”. No entanto, a complexidade intrínseca desse termo transcende sua simples raiz linguística. A literatura não se limita apenas às expressões artísticas ou às narrativas fictícias forjadas pela criatividade humana. Ela representa um instrumento de educação, ideologia, expressão histórica e sociocultural, além de ser um meio de libertação. Considerando que a literatura conquistou um espaço como componente curricular na educação básica, ela pode ser uma grande aliada na quebra de paradigmas que desvalorizam a cultura afro-brasileira e no combate à discriminação racial.
A infância representa o período ideal para a educação, uma fase em que conceitos como supremacia racial, religiosa ou social ainda não se encontram enraizados. Nesse contexto, a literatura infantojuvenil emerge como um poderoso instrumento de libertação, contribuindo para a construção da valorização do ser humano e fomentando a conscientização social. Por meio da literatura afro-brasileira voltada ao público infantil e juvenil, é possível abrir uma janela para a apreciação das ricas tradições do continente africano e reconhecer sua significativa influência na cultura brasileira. Este enfoque não apenas enriquece o repertório cultural das crianças, mas também incentiva a diversidade e a inclusão desde o início do processo educativo.
Este estudo teve como objetivo investigar a literatura afro-brasileira infanto juvenil como um instrumento de educação para a cidadania. Nesse sentido, foram pesquisados artigos e livros que tratassem da literatura afro-brasileira infantojuvenil, gênero, relações étnico-raciais e personagens negros. A coleta de dados foi realizada por meio da ferramenta de busca do Google Acadêmico, além de livros físicos e virtuais. Os critérios de inclusão definidos abrangiam livros escritos em língua portuguesa que tratassem da literatura afro-brasileira e da literatura africana destinada ao público infantil e/ou juvenil, bem como artigos que discutem a influência dessa literatura na sociedade brasileira.
Desenvolvimento
A literatura é uma forma fundamental das artes, desempenhando um papel vital no processo educacional, especialmente no desenvolvimento da leitura e da escrita. Sua importância, contudo, transcende essas habilidades básicas (GOMES; SOUZA, 2023). Através da literatura, a pessoa é introduzida a um mosaico extenso e rico de culturas e etnias, permitindo-nos explorar e compreender a diversidade humana de uma maneira profunda e enriquecedora.
Dentro deste cenário, a literatura infantojuvenil voltada para as narrativas africanas e afro-brasileiras surge como um elemento chave na consolidação da identidade racial das crianças e jovens negros. Essas obras literárias não só celebram a riqueza cultural e histórica dessas comunidades, mas também fornecem aos jovens leitores negros espelhos onde podem se ver refletidos de forma positiva e empoderadora. Ao se depararem com personagens, histórias e contextos que ressoam com suas próprias experiências e heranças, as crianças e os jovens negros têm a oportunidade de desenvolver um senso de orgulho e pertencimento, fundamental para a construção de sua autoestima e identidade racial.
Embora a literatura possa ser libertadora, ela também pode acentuar a marginalização do negro, uma vez que expressa a ideologia de uma época ou de um grupo social. A literatura infantil e juvenil no Brasil do século passado retratou o menino negro de forma discriminatória, menosprezando sua cultura e corporeidade, o que reflete o racismo.
Na literatura do século passado, os jovens negros frequentemente são apresentados de uma forma que não só espelha um racismo com raízes científicas, mas também revela um desdém particular pelo corpo masculino negro. Ao longo da história, tem sido vinculado a imagens de perigo e criminalidade, reforçando estereótipos e uma estratificação baseada em raça e classe social. Comumente, essas representações literárias tendem a despojar os garotos negros de atributos que lhes confeririam uma humanidade integral (ARAUJO; DAMASCENO; ALCÂNTARA, 2020).
A própria escola, mesmo nos dias atuais, legitima a desigualdade racial ao utilizar material pedagógico que não valoriza as diversas culturas e etnias. Apesar da obrigatoriedade do ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nos currículos escolares, conforme estabelecido pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, a história, a arte e a literatura de raízes africanas ainda não ganharam força significativa, sendo abordadas de maneira superficial.
É mister destacar que no cenário da formação de professores, as pesquisas conduzidas neste intervalo destacaram que, apesar do reconhecimento da relevância das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008, a abordagem destas normativas no contexto legislativo, referente à sua efetiva implementação, ainda se depara com obstáculos. Tal cenário se configura devido à presença destas leis manifestar-se de forma incipiente, isolada e desarticulada (PERRUDE, 2022).
Estudos indicam que, em sua maioria, as crianças são expostas predominantemente a literaturas eurocêntricas. Observa-se que a literatura afro-brasileira é abordada de maneira superficial na Educação Infantil, e entre os livros adotados nas escolas, há vestígios de uma perspectiva eurocêntrica. Essa constatação ressalta a importância da discussão dessa temática nos espaços formativos (SILVA, 2023), além de instigar a reflexão sobre a responsabilidade da escola e dos professores na promoção de uma educação multicultural e antirracista. Isso implica, portanto, em uma abordagem educacional que leve em consideração e valorize as relações étnico-raciais, conforme preconizado pela Lei 10.639/03 (MATOS; SOUSA; ARAÚJO, 2022).
Para mudar essa cultura de segregação, é fundamental que a educação antirracista seja adotada como um compromisso coletivo, e a literatura voltada ao público infantojuvenil pode atuar como um meio singular na promoção e valorização da identidade negra e compreensão da diversidade étnico-racial do povo brasileiro.
Compete ao educador desempenhar a relevante responsabilidade social de fomentar uma educação multicultural e antirracista. Para tanto, é fundamental que ele planeje suas aulas levando em conta a representatividade e a diversidade étnica, buscando atender a todas as pessoas envolvidas no processo educativo (MATOS; SOUSA; ARAÚJO, 2022).
Portanto, o uso da literatura com temas africanos e afro-brasileiros representa um meio eficaz para impulsionar uma educação voltada para o entendimento e respeito às diferenças étnico-raciais, iniciando desde a educação infantil. Essa estratégia pode promover interações mais positivas e valorizar as histórias e identidades dos alunos negros, desempenhando um papel crucial no avanço de uma educação livre de racismo. Isso, por sua vez, contribui para garantir o acesso de todas as crianças a uma educação de alta qualidade (GOMES; SOUZA, 2023).
A sociedade, embora de forma gradual, está começando a amadurecer e, felizmente, a literatura de origem africana está conquistando espaço e relevância, sobretudo no segmento infantojuvenil. Editoras especializadas em temas afro-brasileiros, como Pallas Mini, Selo Negro, Malê, Nandyala e Mazza, estão colaborando significativamente para essa tendência crescente (DE GODOY, 2023).
A discussão sobre a representação de personagens negras na literatura afro-brasileira destaca a transformação de personagens anteriormente ausentes ou estereotipados. Desta forma, a literatura torna-se uma ferramenta para conscientização sobre a igualdade racial no Brasil, contribuindo para a valorização estética da identidade negra. No ambiente escolar, a prática docente desempenha um papel crucial ao promover uma leitura plural das diferentes dimensões do mundo (KLEM; SILVA, 2022).
Cada obra literária que aborda a cultura de matriz africana oferece uma visão única, refletindo a diversidade de culturas, línguas e tradições presentes no continente. A literatura infantojuvenil africana, ao dedicar-se frequentemente à exploração da identidade e do senso de pertencimento, proporciona aos jovens leitores uma compreensão mais aprofundada de suas raízes culturais. Para investigar como esses temas são abordados, conduziu-se uma análise temática das obras selecionadas, identificando padrões comuns e examinando a representação da busca pela identidade em contextos variados pelos autores.
As histórias em quadrinhos exercem um papel formidável na educação do leitor, e é possível destacar a importância de mediar, especialmente, a obra examinada neste estudo, “Lúcio e os livros”, nas bibliotecas escolares e salas de aula. Isso se deve ao fato de que a representação desse personagem tem o potencial de fortalecer a autoestima de crianças negras, contribuindo para o desenvolvimento de uma mentalidade antirracista (FERNANDES; BORTOLIN, 2022).
A seguir, é exibido um quadro elaborado por Matos; Sousa; Araújo (2022) que oferece sugestões de obras adequadas para integrar as bibliotecas escolares e/ou serem utilizadas em salas de aula.
Quadro 1: Literaturas infanto-juvenil afro-brasileira
TÍTULO | ANO | AUTOR/A | RESUMO DA OBRA |
Meu crespo é de rainha | 1999 | Bell Hooks | Poema rimado que retrata a beleza e as infinitas possibilidades de penteados do cabelo crespo. |
O menino Nito | 1995 | Sonia Rosa | Falar de machismo e masculinidade tóxica, inteligência e educação emocional. |
Meninas negras | 2010 | Madu Costa | Trabalha a identidade afrodescendente na imaginação infantil, a partir de uma composição sensível, de textos curtos epoéticos, associados a belas ilustrações. |
Um menino coração de tambor | 2013 | Nilma Lino Gomes | Conta a história de um menino que tem ritmo, música, movimento e arte correndo nas veias e pulsando em sua vida. |
Amoras | 2016 | Emicida | Retrata a beleza da pele preta, linda como uma amora, de forma poética, com simplicidade e nos mínimos detalhes. |
Bucala: a pequena princesa do quilombo do cabula | 2016 | Davi Nunes | Retrata o cabelo crespo como a coroa de uma rainha, pois assim era Bucala, uma rainha que tinha poderes, magias e protegia o quilombo. |
As tranças de minha mãe | 2018 | Ana Fátima e QuéziaSilveira | Uma história que abre caminhos para o leitor viajar para um universo inserido em significações e afirmação identitária. |
Calu: uma menina cheia de histórias | 2018 | Cássia Valle e Luciana Palmeira | Conta a história de uma menina negras que procura uma forma de transformar o bairro em que mora em um museu a céu aberto. |
Sulwe | 2019 | Lupita Nyong’o | Conta a história de sofrimento de Sulwe por não ser aceita por conta da cor da sua pele, sofria bullying dos colegas e tudo isso afetava o psicológico dela. |
Sinto o que sinto: e a incrível história de Asta e Jaser | 2019 | Lázaro Ramos | Mostra a importância de se valorizar a nossa ancestralidade e conhecer nossos sentimentos. |
O pequeno príncipe preto | 2020 | Rodrigo França | Narrativa que fala de carinho e afeto e da importância de valorizarmos quem somos, de onde viemos. |
Fonte: MATOS; SOUSA; ARAÚJO, 2022, p. 103-104.
É importante reconhecer que a arte literária infanto juvenil africana pode ser produzida por pessoas de diversas origens étnicas, seja afrodescendentes, indígenas, asiáticos ou caucasianos. Um exemplo notável é o trabalho de Ziraldo Alves Pinto, que escreve sobre o personagem Lúcio. É evidente a relevância de incorporar diferentes vozes na literatura, enriquecendo a compreensão e promovendo a valorização de diferentes perspectivas culturais e étnicas.
Ziraldo é o autor de “O Menino Maluquinho”, uma obra marcante para a literatura infantil brasileira, assim como para os quadrinhos e o cinema. O sucesso desse livro deu origem à Turma do Menino Maluquinho e a obra Lúcio e os livros. Um dos personagens dessa turma é Lúcio, um menino de pele marrom-escura, cabelo crespo e camisa xadrez, descrito como o intelectual do grupo. Ele adora ler e frequentemente oferece informações valiosas para os outros membros do grupo (ZIRALDO, 2017). Ao caracterizar Lúcio como um menino marrom-escuro, muito bonito e inteligente, que contribui para o entendimento da origem das palavras, da história e da literatura, há um fomento às representações positivas de um menino negro.
Outro exemplo de obra literária é “O cabelo de Lelê”, escrito por Valéria Belém, que narra a jornada de uma menina em busca da compreensão da origem de seus cabelos e de sua identidade. O livro conta a história de Lelê, que, inicialmente, não gostava de seus cabelos cacheados, pois não sabia lidar com eles. Ao pesquisar sobre seus cabelos cheios de cachinhos, descobre a história de seus antepassados na África e o “amor no enrolado cabelo”, compreendendo o simbolismo de seu cabelo. A narrativa possibilita uma reflexão acerca da identidade, concebendo-a não como algo intrínseco, mas sim como um processo de construção contínua, sujeito às influências das relações de poder (SILVA, 2023).
Outra extraordinária escritora de literatura infantil que destaca o protagonismo de crianças negras em suas obras é a brilhante educadora Dra. Kiusam de Oliveira. Ela é autora de obras significativas como “Omo-Oba: histórias de princesas”, “O Black Power de Akin”, “Com Qual Penteado Eu Vou?” e “Tayó em Quadrinhos”.
O seu trabalho é uma valiosa contribuição para a literatura infantil, pois introduz questionamentos que estimulam o diálogo e a discussão, enriquecendo a qualidade discursiva em torno da diversidade. Em sua obra “Omo-Oba: histórias de princesas”, Kiusam não apenas proporciona entretenimento, mas também estimula reflexões singulares sobre inclusão e representatividade, promovendo uma abordagem enriquecedora e inclusiva no universo da literatura infantil. O livro é composto por sete contos que narram a jornada de princesas negras que ascendem como rainhas. O destaque notável na obra é o empoderamento da mulher, uma peça fundamental na quebra de paradigmas do machismo, além da inclusão nas narrativas da representação dos arquétipos dos Orixás.
A obra aborda as tradições africanas (iourubanas) e afro-brasileiras, evidenciando o empoderamento feminino por meio das personagens princesas Oiá, Oxum, Yemanjá, Olocum, Ajê Xalungá e Oduduá. As princesas se destacam na capacidade de resolução de problemas sem a necessidade de ficarem aguardando a chegada da figura masculina. Elas possuem conhecimento dos segredos míticos e místicos, além de poderes descritos como tipicamente associados aos homens (QUADROS, 2020). A sua obra é tão completa que abrange relações inclusivas, destacando-se Ajê Xalugámé, a princesa cega. Portanto, nela há a oportunidade de promover debates com os alunos sobre ancestralidade, machismo, empoderamento feminino, inclusão social, religiosidade, entre outros temas.
Assim sendo, a escola é um ambiente propício para a utilização de literaturas negras desde a educação infantil, visando aumentar a visibilidade de alunos negros e contribuir para a eliminação de atos preconceituosos e discriminatórios (SOUSA; SILVA, 2023).
Estes foram alguns exemplos de como a literatura pode contribuir para o respeito à cultura de origem africana, consolidação da identidade e promoção de ações antirracistas. É papel do educador incluir nas escolas autores de diferentes etnias, brinquedos e brincadeiras de origem indígena, africana e afro-brasileira. Essa abordagem contribui expressivamente para a construção de uma educação mais inclusiva, promovendo o entendimento e o respeito à diversidade cultural, além de fortalecer a formação cidadã dos educandos.
A literatura desempenha um papel crucial no desenvolvimento educacional, indo além das habilidades básicas de leitura e escrita. Ao proporcionar uma exploração profunda e enriquecedora das culturas e etnias, a literatura se destaca como uma ferramenta essencial para promover a compreensão da diversidade humana. No contexto da literatura infantojuvenil, particularmente voltada para narrativas africanas e afro-brasileiras, ela emerge como um elemento-chave na consolidação da identidade racial de crianças e jovens negros. Estas obras não apenas celebram a riqueza cultural e histórica dessas comunidades, mas também oferecem representações positivas e empoderadoras para os leitores mais jovens.
Considerações finais
É mister ressaltar que, durante muito tempo, a literatura infantojuvenil, de forma direta ou indireta, colaborou para perpetuar estereótipos e marginalizar o negro por meio de representações de inferioridade, subalternidade, intelectualidade inferior e estética depreciativa em suas personagens. No entanto, nos dias atuais, as obras literárias têm resgatado a identidade negra, promovendo e divulgando a religiosidade, as tradições, as contribuições e a beleza da cultura negra.
Porém, é preciso que essas obras possam chegar ao educando, e a escola se apresenta como o espaço pedagógico ideal para a promoção da diversidade cultural por meio de materiais pedagógicos apropriados.
Embora já existam leis que garantam a inclusão de história e cultura africanas e afro-brasileiras nos currículos escolares, sua implementação parece ser limitada e superficial. Há a necessidade de uma melhor formação de educadores e a atualização de muitos que já estão no mercado de trabalho, para que possam conhecer os autores, suas obras e aprender a selecionar aquelas adequadas à faixa etária e às necessidades de seus alunos.
Infelizmente, a prevalência ou exclusividade da literatura eurocêntrica nas escolas tem reforçado a perspectiva de um único mundo e discriminado o negro. Porém, quando utilizada de maneira consciente e inclusiva, a literatura desempenha um papel fundamental na construção de uma educação antirracista e pluricultural. Ao representar e enaltecer a diversidade étnico-racial, ela fomenta uma compreensão mais profunda e respeitosa das nuances culturais, concorrendo, desse modo, para a edificação de uma sociedade mais justa e equitativa.
Referências
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ZIRALDO. Lúcio e os livros. 2.ed. São Paulo: Globinho, 2017.
1Licenciado em Letras (Português e Literaturas) e pós-graduado em Língua Portuguesa.