EXPECTATIVAS E EXPERIÊNCIAS DO PACIENTE ADULTO EM USO DE OXIGENOTERAPIA DOMICILIAR PROLONGADA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10480868


Roberto Oliveira Guimarães 1; Samara Karine Carvalho Sena 2; Adriele Lins Silva 3; Ana Letícia Santos do Nascimento 4; Aretusa Lopes Cavalheiro 5; Carine Laura de Andrade 6; Juliana Araújo Brandão 7; Keyse Rafaela Nascimento dos Santos 8; Lilian Cristina Silva Santos Magri 9; Matheus Oliveira Nery de Freitas 10; Reisla Délis Silva de Almeida 11


RESUMO

A hipoxemia é uma manifestação clínica comum em pacientes com doença respiratória crônica, sendo o principal fator para a prescrição da oxigenoterapia domiciliar prolongada. Para aqueles que progridem com hipoxemia, a prescrição da oxigenoterapia domiciliar prolongada (ODP) poderá trazer benefícios, como redução da sensação de dispneia, maior tolerância aos esforços e melhora na expectativa de vida. Objetivo: Descrever sobre as expectativas e experiências do paciente adulto em uso de oxigenoterapia domiciliar prolongada. Métodos: Revisão bibliográfica, foram selecionados artigos que abordem assuntos relacionados ao tema, publicados no período de 2013 a 2023. Conclusão: observou-se que a Oxigenoterapia Domiciliar Prolongada tem impacto na qualidade de vida dos pacientes, com melhora dos sintomas respiratórios, mas apresentam também pontos negativos na vida social, como limitações em suas atividades diárias ou mudanças comportamentais.

Palavras – chaves: Oxigenoterapia, domiciliar.

ABSTRACT

Hypoxemia is a common clinical manifestation in patients with chronic respiratory disease, and is the main factor for the prescription of prolonged home oxygen therapy. For those who progress with hypoxemia, the prescription of prolonged home oxygen therapy (LTOT) may bring benefits, such as reduced sensation of dyspnea, greater tolerance to exertion, and improved life expectancy. Objective: To describe the expectations and experiences of adult patients using prolonged home oxygen therapy. Methods: Literature review, articles addressing subjects related to the theme, published in the period 2013 to 2023, were selected. Conclusion: it was observed that Prolonged Home Oxygen Therapy has an impact on the quality of life of patients, with improvement of respiratory symptoms, but also has negative points in social life, such as limitations in their daily activities or behavioral changes.

Keywords: Oxygen therapy, home. 

    1 – INTRODUÇÃO

    A hipoxemia é uma manifestação clínica comum em pacientes com doença respiratória crônica (AZEVEDO et al, 2021)(1). As doenças respiratórias crônicas podem evoluir com hipoxemia em repouso ou induzida pelo exercício, estando entre as principais causas de redução da qualidade e da expectativa de vida. Elas têm como consequência, especialmente devido às complicações infecciosas e internações, um alto custo para a assistência à saúde pública e suplementar, assim como para os pacientes e seus familiares. Para aqueles que progridem com hipoxemia, a prescrição da oxigenoterapia domiciliar prolongada (ODP) poderá trazer benefícios, como redução da sensação de dispneia, maior tolerância aos esforços e melhora na expectativa de vida (CASTELLANO et al, 2022).(2)

    Em WATANABE et al 2015(3), destaca-se que a ODP tem sido pesquisada em populações de diferentes faixas etárias. Estudo com crianças mostrou que as doenças de base que levam ao uso de ODP são: fibrose cística, displasia broncopulmonar, bronqueolite obliterante, neurodeficiências e hipertensão pulmonar secundária. Já em adultos, a pesquisa considera que as principais doenças de base são: enfisema pulmonar, hipoxemia, bronquite, fibrose pulmonar entre outras; enquanto outro estudo cita a DPOC e hipoxemia.

    A melhora da sobrevida com a ODP foi comprovada em pacientes com DPOC estável e hipoxemia crônica grave.(2) A DPOC é uma doença inflamatória dos pulmões, resultantes de alterações patológicas nas vias aéreas periféricas e no parênquima pulmonar, representada pela limitação do fluxo de ar. Quando o paciente é diagnosticado em estágio grave da DPOC é prescrito a Oxigenoterapia Domiciliar Prolongada (ODP)(BUENO et al, 2023).(4)

    Segundo Weber 2020(5), a oxigenoterapia consiste num tratamento em que a pressão parcial do oxigênio no sangue arterial é aumentada por meio de uma maior concentração de oxigênio no ar inspirado, sendo uma terapia eficaz. Sua indicação baseia-se em dados gasométricos e clínicos.

    Classicamente, a indicação de ODP é baseada em trabalhos sobre DPOC e extrapolada para as demais doenças respiratórias crônicas. A oximetria de pulso é usada para triar os pacientes com hipoxemia em repouso; quando a SpO2 for ≤ 92%, está indicada a solicitação de gasometria arterial coletada em ar ambiente; além disso, também se deve avaliar a presença ou não de hipercapnia. Os critérios para indicação de ODP são os seguintes: hipoxemia grave com PaO2 ≤ 55 mmHg ou SaO2 ≤ 88% ou PaO2 ≤ 59 mmHg ou SaO2 ≤ 89% na presença de edema, cor pulmonale (HP) e/ou policitemia (hematócrito > 55%).(6,20,25) A duração diária da ODP deve ser de, no mínimo, 15 h/dia, incluindo o período de sono, e o fluxo de oxigênio deve ser o suficiente para elevar a PaO2 acima de 60 mmHg ou a SpO2 acima de 90% (CASTELLANO et al, 2022).(2)

    Para WEBER et al 2020(5), o uso da ODP apresentou-se como uma ferramenta para o aumento da capacidade funcional dos pacientes. Estes benefícios incluem aumento da interação social, apreciação do estado de saúde e autogestão de suas atividades diárias. A maioria dos pacientes também percebeu benefícios no controle dos sintomas, tais como a melhora da falta de ar, das náuseas, do apetite e da cor da pele. As principais desvantagens identificadas nestes estudos foram diminuição da mobilidade, desconforto relacionado com os tubos nasais, barreiras ao acesso à terapia de oxigênio, e o ruído relacionado com o equipamento.

    2 – OBJETIVOS

    Descrever sobre as expectativas e experiências do paciente adulto em uso de oxigenoterapia domiciliar prolongada.

    3 – MATERIAIS E MÉTODOS

    Para esta revisão bibliográfica foram efetuadas pesquisas, utilizando as bases de dados online SciELO e BVS. As pesquisas foram feitas utilizando os seguintes termos: oxigenoterapia, domiciliar. Adotaram-se os seguintes critérios de inclusão: artigos escritos nos últimos dez anos, ou seja, de 2013 a 2023, redigidos em português e ou inglês traduzido, disponibilizados de forma gratuita e livre. Foram selecionados após a leitura do título e resumo, observando se contemplavam o tema pesquisado. Foram excluídos os artigos com as seguintes características: informações inapropriadas ou omissas e ensaios clínicos que não abordem a temática.

    Esta pesquisa se caracteriza como uma revisão bibliográfica que visa descrever sobre as expectativas e experiências do paciente adulto em uso de oxigenoterapia domiciliar prolongada.

    4 – RESULTADOS

    Ao realizar a busca foram encontradas 13 referências. Após a leitura minuciosa dos títulos e resumos e a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foram selecionadas 4 referências para compor o quadro do artigo.

    QUADRO 1 – IDENTIFICAÇÃO DOS ARTIGOS POR AUTOR/ANO, TIPO,OBJETIVO E CONCLUSÃO

    Autor e anoTipoObjetivoConclusão
    Bueno et al (2023)Estudo qualitativoCompreender os significados atribuídos pela pessoa idosa com DPOC em uso da ODP referentes ao relacionamento amoroso e à prática sexual.A percepção da pessoa idosa com DPOC em uso da ODP indica que a oxigenoterapia impactou sobre a prática sexual e nos relacionamentos amorosos. Ter boa qualidade nos relacionamentos e na prática sexual é condição fundamental para promover a saúde.
    Weber et al (2020)Estudo qualitativoConhecer as perspectivas dos pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica sobre o uso da Oxigenoterapia Domiciliar Prolongada.Os pacientes experimentaram limitações em suas atividades diárias, sendo estas um ônus para eles. Conhecer as expectativas e experiências destas vivências auxiliam no cuidado mais humanizado e integral.
    Marcondes et al (2020)Estudo longitudinal retrospectivoAvaliar a associação da aderência ao uso da ODP com as características clínicas, qualidade de vida e mortalidade após cinco anos de seguimento em pacientes com DPOC muito graveA aderência à ODP e o tipo de prescrição não foram associados nas taxas de mortalidade. As características clínicas dos pacientes não foram associadas com a aderência ao uso da ODP e foi identificada alta taxa de mortalidade em pacientes com DPOC em uso de ODP em cinco anos.
    Mesquita et al (2018)Estudo experimental (ensaio clínico)Determinar o impacto da adesão à oxigenoterapia de longa duração (OLD)na qualidade de vida, dispneia e capacidade de exercício em pacientes com DPOC e hipoxemia decorrente do esforço acompanhados durante um ano.A qualidade de vida parece ser menor em pacientes com DPOC e hipoxemia decorrente do esforço que não aderem à OLD do que na queles que o fazem. Além disso, a OLD parece ter efeito benéfico nos sintomas da DPOC.

    5 – DISCUSSÃO

    Bueno et al (2023) realizaram um estudo qualitativo no qual pacientes idosos com diagnóstico confirmado de DPOC e em uso de ODP foram entrevistados, a fim de compreender os significados atribuídos pelos mesmos, referentes ao impacto do tratamento no relacionamento amoroso e à prática sexual. Na análise qualitativa, duas categorias emergiram das entrevistas: 1- Desestabilização no relacionamento amoroso e na vida sexual do usuário de ODP revelou que a terapia causa perturbação nos relacionamentos, como mudança de parceiro ou até a ideia de procurar uma pessoa extraconjugal; 2- Vivência e significados da DPOC e da oxigenoterapia durante a relação sexual, na qual é relatado o sofrimento com as questões fisiológicas, o quanto o paciente sente falta de ar para ter relação sexual e o impacto disso no desempenho e na frequência, diminuindo esses momentos com o parceiro. Diante dos achados do estudo, a percepção da pessoa idosa com DPOC em uso da ODP indica que a oxigenoterapia impactou sobre a prática sexual e nos relacionamentos amorosos. Os pacientes tiveram suas vidas modificadas, com mudança de hábitos, alterações fisiológicas e reorganização familiar.

    Em Weber et al (2020) também foi realizado um estudo qualitativo, com 20 pacientes com diagnóstico de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, com o objetivo de conhecer as perspectivas dos pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica sobre o uso da Oxigenoterapia Domiciliar Prolongada. Sobre a composição da amostra, a idade média foi de 69 anos, 70% do sexo feminino, 85% possuíam escolaridade inferior ao ensino médio e 15% eram analfabetos. O tempo médio de uso da ODP foi de 3,5 +- 2 anos. As categorias de análise foram: fortalezas da terapia, desafios da terapia, processo de luto e relação com a família. O estudo apresentou que são nítidas as mudanças no cotidiano e no comportamento dos usuários com ODP. Os pacientes experimentaram limitações em suas atividades diárias, sendo estas um ônus para eles. Conhecer as expectativas e experiências destas vivências auxiliam no cuidado mais humanizado e integral.

    Marcondes et al (2020) tiveram como objetivo avaliar a associação da aderência ao uso da ODP com as características clínicas, qualidade de vida e mortalidade após cinco anos de seguimento em pacientes com DPOC muito grave. Os achados do estudo mostraram que a aderência à ODP e o tipo de prescrição não foram associados às taxas de mortalidade. As características clínicas dos pacientes não foram associadas com a aderência ao uso da ODP e foi identificada alta taxa de mortalidade em pacientes com DPOC em uso de ODP em cinco anos.

    Mesquita et al (2018) determinaram em seu estudo, o impacto da adesão à OLD na qualidade de vida, dispneia e capacidade de exercício em pacientes com DPOC e hipoxemia decorrente do esforço acompanhados durante um ano. Em conclusão, o principal achado do estudo é que a qualidade de vida é pior em pacientes que não aderem à ODP do que naqueles que o fazem. A adesão à ODP contribui para melhorar a qualidade de vida por meio da melhora dos sintomas. Em comparação com os pacientes com DPOC que não aderiram à ODP, aqueles que o fizeram apresentaram melhor qualidade de vida após um ano de acompanhamento.

    6 – CONCLUSÃO

    Com esta revisão bibliográfica observou-se que, pelos estudos apresentados, a Oxigenoterapia Domiciliar Prolongada tem impacto na qualidade de vida dos pacientes, com melhora dos sintomas respiratórios, mas apresentam também pontos negativos na vida social dos mesmos, como limitações em suas atividades diárias ou mudanças comportamentais. 

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

    AZEVEDO, F. M. de; OLIVEIRA, C. C.; EVANGELISTA, D. G.; CABRAL, L. F.; MALAGUTI, C. Adesão à oxigenoterapia domiciliar prolongada em pacientes com doença respiratória crônica em duas cidades do estado de Minas Gerais, Brasil. J. Bras. Pneumol. 2021;47(3):e20210055

    BUENO, G. H.; CAMPOS, C. J. G.; TURATO, E. R.; PASCHOAL, I. A.; MARTINS, L. C. Vivências de idosos com doença pulmonar crônica em uso de oxigenoterapia domiciliar prolongada no relacionamento amoroso e sexual. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol. 2023;26:e230085

    CASTELLANO, M. V. C. O.; PEREIRA, L. F. F.; FEITOSA, P. H. R.; KNORST, M. M.; SALIM, C.; RODRIGUES, M. M.; ET. AL. Recomendações para oxigenoterapia domiciliar prolongada da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (2022). J. Bras. Pneumol. 2022;48(5):e20220179

    MARCONDES, V. K.; KUWAZURU, T. S.; SILVA, L. P. C. e; CEZARE, T. J.; FRANCO, E. A. T.; PRUDENTE, R.; TANNI, S. E. Avaliação da associação da aderência à oxigenoterapia domiciliar prolongada e marcadores clínicos e mortalidade em cinco anos em pacientes com a doença pulmonar obstrutiva crônica. J. Bras. Pneumol. 2020;46(6):e20190158

    MESQUITA, C. B.; KNAUT, C.; CARAM, L. M. de O.; FERRARI, R.; BAZAN, S. G. Z.; GODOY, I.; TANNI, S. E. Impacto da adesão à oxigenoterapia de longa duração em pacientes com DPOC e hipoxemia decorrente do esforço acompanhados durante um ano. J. Bras. Pneumol. 2018;44(5):390-397

    KOVELIS, D.; CRUZ, P.L.; SILVA, L.I.; SIERRA, J.R.; SANDOVAL, P.R.M.; VALDERRAMAS, S. Characteristics of long-term home oxygen therapy users in the municipality of Curitiba, Brazil. Fisioter. Mov. 2019;32:e003204

    WATANABE, C. S.; ANDRADE, L. F. C.; SILVA NETO, M. Q.; SANTOS, S. F. T.; KAWATA, L. S. Oxigenoterapia domiciliar prolongada: perfil dos usuários e custos. Rev. enferm. UERJ ; 23(1): 95-101, jan.-fev. 2015.

    WEBER, A.; BUENO, G. H.; GODOY, I. Perspectivas da oxigenoterapia domiciliar para pacientes com doença pulmonar crônica. J. Nurs. Health. 2020; 10(1): e20101005.


    1Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: roberto_rog@hotmail.com
    2Fisioterapeuta do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: samarakarinecs@yahoo.com.br
    3Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: adri.linsh@gmail.com
    4Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: leticiasantosphb@hotmail.com
    5Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: aretusalc@hotmail.com
    6Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: cariine.andrade@hotmail.com
    7Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas de Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: juliana.abrandao@hotmail.com
    8Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH. e-mail: rafaeladrk@gmail.com
    9Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: lilian_magri@hotmail.com
    10Fisioterapeuta do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares – EBSERH, e-mail: matheusnery_6@hotmail.com
    11Fisioterapeuta da Universidade Federal de Uberlândia, e-mail: reisladelis@gmail.com