EXERCÍCIOS DE MOBILIDADE ARTICULAR E ESTABILIDADE COMO ESTRATÉGIA DE PREPARAÇÃO PARA AULAS DE TREINAMENTO FÍSICO FUNCIONAL COM ADULTOS ADVINDOS DA REABILITAÇÃO FUNCIONAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7057896


Autor:
Jorgequesson Luiz Gomes de Oliveira


RESUMO

A prescrição em aulas de treinamento funcional é normalmente direcionada para condicionamento físico, ganhos de força, velocidade, potência entre outros que visam melhoria funcional, performance esportiva e emagrecimento. Todavia, nessa prescrição, deve-se pensar na elaboração do programa visando o equilíbrio das valências da aptidão física, não esquecendo os componentes flexibilidade/mobilidade e estabilidade. Levando em consideração que exercícios voltados a mobilidade e estabilidade melhoram os padrões de movimento melhorando a sua eficiência e atuando na redução dos riscos de lesões. Surgiu o meu interesse em acompanhar alunos/pacientes advindos da reabilitação funcional no treinamento físico funcional na prescrição e orientação de exercícios de mobilidade e estabilidade com a finalidade de promover através desses exercícios uma melhor qualidade de movimento. O presente relato de experiência foi desenvolvido através da minha vivência como profissional de educação física na clínica CENTROMEDE na cidade de São Gonçalo – RJ. As aulas eram realizadas com um grupo de 20 pessoas, divididas em 5 grupos iguais, entre homens e mulheres de 20 a 50 anos, 3 vezes por semana. O objetivo deste trabalho foi relatar minha experiência na realização de exercícios de mobilidade e estabilidade como preparação para as aulas de treinamento funcional onde conclui que qualquer que seja o exercício, o que deve ser observado inicialmente é se o padrão do movimento executado está correto e não apresenta disfunções analisando quais articulações comprometem a execução e a busca para melhorar através de exercícios específicos de mobilidade e estabilidade. Assim promoveremos melhoria funcional das atividades da vida diárias.

Palavras-chave: Mobilidade articular. Estabilidade. Disfunção de movimento. Treinamento Físico Funcional. Eficiência dos Movimentos. Melhoria funcional das atividades da vida diárias (AVD).

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho é um relato de experiência partindo da vivência de ensino como profissional de educação física com as aulas de treinamento físico funcional para adultos da clínica CENTROMEDE/BIOMOVE na cidade de São Gonçalo – RJ, que contribuiu constantemente de forma efetiva para o meu crescimento profissional, pois tive a oportunidade de adquirir e expor conhecimentos tanto na parte teórica como na parte prática através da prescrição para adultos advindos da reabilitação funcional, na utilização dos conhecimentos em cinesiologia, treinamento desportivo, treinamento físico funcional, reabilitação física e funcional, fisiologia do exercício e principalmente a  inclusão de exercícios específicos de mobilidade articular e estabilidade na fase de preparação para as aulas com os alunos/pacientes do treinamento físico funcional.  

O treinamento físico funcional se tornou um dos métodos mais utilizados de treinamento para a melhora da saúde, da estética e do desempenho esportivo, e ainda podemos utilizar a prática em um programa de prevenção e/ou tratamento de lesões, reduzindo dores musculares, melhorando o equilíbrio, e aumentando a potência muscular.

Todavia, nessa prescrição, deve-se pensar na elaboração do programa visando o equilíbrio das valências da aptidão física, não esquecendo os componentes mobilidade/flexibilidade e estabilidade. Nesse contexto é necessário que se aplique de forma lógica e coerente exercícios como estratégia de preparação para o movimento voltados para melhora física e funcional dos alunos/pacientes.

Portanto, o presente trabalho tem como objetivo apresentar a importância do uso de exercícios de mobilidade articular e estabilidade como preparação para o treinamento físico funcional para adultos advindos da reabilitação funcional, relatando minha vivência como profissional de educação física onde realizo as prescrições, orientações e correções dos exercícios de mobilidade articular e estabilidade  e posteriormente treinamento físico funcional, observando o comportamento articular nos movimentos e visando a melhora do componente mobilidade/flexibilidade, estabilidade e por consequência melhora nos padrões de movimento dos exercícios, melhoria funcional das atividades da vida diárias (AVD), contribuindo para eficiência dos movimentos, reduzindo os riscos de lesões e contribuindo inclusive com redução de dores, assim descrevendo minha experiência vivida como profissional da saúde, onde iniciei esse trabalho antes não existente no período de Junho de 2021 até os dias atuais.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Reabilitação funcional, a importância da atividade física e o treinamento físico funcional

Com o passar dos anos e com a evolução do ser humano, pode-se afirmar que a funcionalidade esteve presente em todos os momentos de nossa vida. O homem sempre precisou desempenhar com eficiência as tarefas do dia a dia, garantindo assim a sobrevivência em situações muitas vezes adversas. Com a evolução tecnológica, a facilidade e o conforto para a realização de ações que antes eram essencialmente físicas tornaram o homem menos funcional (CAMPOS; NETO, 2004).

A capacidade funcional declina com a idade a partir dos 30 anos e de acordo com o estilo de vida, faz com que diversas valências físicas sofram uma redução em seu potencial. Apesar de todas as capacidades fisiológicas declinarem em geral, nem todas ocorrem no mesmo ritmo (MCARDLE; KATCH; KATCH, 1998).

Um estudo realizado por Raso (2002) com mulheres adultas acima de 47 anos, correlacionou a perda da funcionalidade nos gestos e movimentos corporais do dia a dia, com o aumento da adiposidade corporal total e as suas atribuições (central e periférica), explicando 30% da limitação na performance em testes de capacidade funcional. Segundo Campos e Neto (2004) a prática de exercícios que possam manter ou recuperar a capacidade funcional é fundamental para todo ser humano, independente da fase da vida em que este se encontra.

Utilizado na reabilitação, o treinamento funcional condiciona o paciente no retorno as suas atividades de vida diária, sendo eficiente e primordial no que se refere à melhoria da qualidade de vida da população (CAMPOS; NETO, 2004).

O principal objetivo do treinamento funcional é promover um resgate da aptidão pessoal do indivíduo utilizando-se de um planejamento individualizado e personalizado, independente do seu grau de condição física e das atividades que ele desenvolva, usando exercícios que incluem atividades específicas do indivíduo e que transferem seus ganhos de forma eficaz para o seu cotidiano. Portanto, o trabalho com o treinamento funcional propõe utilizar-se de todas as capacidades físicas do indivíduo e aprimorá-las, sendo que este treinamento ocorre de forma integrada, pois o treinamento funcional vê o corpo humano de forma complexa (SILVA, 2011).

Portanto um indivíduo deveria possuir total autonomia de movimentos e deveria possuir amplitude de movimento, mobilidade articular, força e resistência muscular, bem como a habilidade de coordenar o movimento, alinhar o corpo e reagir quando o peso ou parte do corpo se desloca em uma variedade de planos (D’ELIA; D’ELIA, 2005).

De acordo com Boyle (2015) o treinamento funcional pode ser descrito como um treinamento com um propósito, já que função é essencialmente o propósito. Teixeira e Guedes Júnior (2010) afirmam que o treinamento funcional se baseia no conceito da especificidade, pois é caracterizado pela semelhança do exercício com situações do dia a dia.

O dicionário de língua portuguesa mostra que treinamento é definido como a ação de treinar, e funcional refere-se às funções vitais. Então, ao fazer a associação de palavras, treinamento funcional é a ação de treinar para aprimorar as funções vitais. (TEIXEIRA e EVANGELISTA, 2014).

De acordo com Teixeira e Guedes Júnior (2010) o termo “funcional” só era utilizado antigamente para fins de reabilitação, mas com o tempo passou a ser incluído nas práticas de exercícios de muitos alunos. Como todo treinamento, o funcional vem para somar às demais estratégias de treinamento e possibilitar um desenvolvimento corporal mais homogêneo.

Segundo Novaes, Gil e Rodrigues (2014) o termo treinamento funcional originou-se com profissionais da fisioterapia e reabilitação que trabalhavam com a finalidade de devolver a funcionalidade de suas atividades habituais a seus pacientes lesionados. Nos últimos anos os profissionais da área de educação física têm inserido esse tipo de treino para agregar benefícios ao praticante, e o definem como um treino cuja finalidade é refinar a capacidade funcional do corpo, sendo para isso necessário o treinamento da região central do corpo, definida como “core”.

Liebenson (2017) considera que o treinamento funcional se torna mais funcional na medida em que o foco passa a ser desenvolver padrões de movimentos estereotípicos que um atleta usa em todos os esportes, em vez de movimentos isolados. Então, se o objetivo for melhorar a qualidade para tarefas funcionais, o movimento integrado deve ser o foco.

2.2 Mobilidade articular, estabilidade e a sua importância na prescrição do treinamento físico funcional

Dentro da temática da amplitude do movimento temos algumas definições. De acordo com Schneider et al. (1995), mobilidade é o grau de realização de movimento dentro de uma liberdade natural de amplitude de cada articulação que tanto pode otimizar a performance física do indivíduo quanto pode aumentar o risco de lesões quando essa mobilidade apresenta disfunção. A flexibilidade e a extensibilidade são componentes da mobilidade articular. Enquanto a flexibilidade está ligada às articulações, a extensibilidade se refere aos músculos, tendões, ligamentos e as cápsulas articulares.

A mobilidade é a capacidade de estruturas ou segmentos permitirem a amplitude de movimento para as atividades funcionais (Paz e Santana, 2019).

A estabilidade é a capacidade do sistema neuromuscular em manter um segmento corporal em uma posição estacionária ou de controle por meio de ações musculares sinérgicas (Paz e Santana, 2019).

As disfunções nos movimentos articulares podem estar ligadas a falta de mobilidade ou de estabilidade nas articulações. Submetermos nossas articulações a trabalharem além dos seus limites poderá resultar em lesões, ou seja, essa articulação que está com seu grau de mobilidade insuficiente poderá iniciar uma sequência de mecanismos compensatórios que ocasionará um stress além do normal nas articulações que estão localizadas logo acima e logo abaixo desta. Boyle (2015) define esta compensação da seguinte maneira:

A perda da função da articulação abaixo – no caso da coluna lombar, os quadris parecem afetar a articulação local e as articulações acima. Em outras palavras, se os quadris não conseguem se mover, a coluna lombar irá. O problema é que os quadris são designados para mobilidade e a coluna lombar para estabilidade. Quando a articulação que era para ser móvel se torna imóvel, a articulação estável é forçada a se movimentar em compensação, se tornando menos estável e subsequentemente dolorosa (BOYLE, 2015, p. 13).

Dores nas costas podem estar associadas a falta de mobilidade do quadril. Dessa forma, o processo de dor na coluna lombar é causado pela compensação de movimento dessa região que deveria ser estável, porém se movimenta de maneira excessiva para compensar a imobilidade do quadril (BOYLE, 2018).

O processo é simples:
Perder a mobilidade do tornozelo, dor no joelho.
Perder a mobilidade do quadril, ter dor lombar.
Perder a mobilidade torácica, dor no pescoço e ombro (ou dor lombar).
(BOYLE, Mike. A Joint-by-Joint Approach to Training.2007).

De acordo com Teixeira et al. (2016) a principal característica do treinamento funcional é o objetivo, pois enquanto no treino tradicional há uma tendência de se objetivar a estética, no funcional objetiva-se a função, tendo como norteador o princípio da especificidade, assumindo as características das atividades cotidianas, sendo integrado, assimétrico, acíclico e multiplanar. Outra característica é a estimulação da adaptação do sistema de controle e coordenação do movimento humano.

Cress et al. (1996) são bem objetivos ao falar sobre a importância da especificidade do treinamento citando exemplos como: nadadores devem treinar nadando, levantadores de peso devem levantar pesos, jogadores de futebol americano devem correr e arremessar. Questionam que apesar dessa estratégia funcionar para atletas, não é usada nos treinamentos diários de um adulto, em que a intenção seria justamente desenvolver as funções utilizadas nas atividades diárias. Para isso, é necessário um treino que promova a integração de múltiplas articulações e vários grupos musculares, já que nos nossos movimentos do dia a dia realizamos sempre ações coordenadas.

Sendo assim, a inclusão de exercícios específicos para aumentar a amplitude de movimento da articulação e as bases de estabilidade irá corrigir desequilíbrios musculares melhorando os padrões de movimento, melhoria funcional das atividades da vida diárias (AVD), contribuindo para eficiência dos movimentos, contribuindo para redução de dores, melhorando a eficiência funcional e reduzindo os riscos de lesões.

Portanto, é notável a importância da inclusão de exercícios específicos para mobilidade articular e estabilidade, principalmente nas aulas de treinamento físico funcional para adultos. E dessa forma aumentar a eficiência do programa de exercícios funcionais visando a melhora dos componentes da aptidão física do indivíduo e colaborando principalmente para preservação da saúde, melhora da funcionalidade do dia a dia e a redução dos riscos de lesões.

3. RELATO DE EXPERIÊNCIA

3.1 Exercícios de mobilidade articular e estabilidade como estratégia de preparação para aulas de treinamento físico funcional com adultos: a vivência com pacientes/alunos advindos da reabilitação funcional

O presente trabalho caracteriza-se como um relato de experiência da minha vivência do ensino como profissional de educação física com aulas de treinamento físico funcional para adultos advindos da reabilitação funcional na clínica CENTROMEDE/BIOMOVE na cidade de São Gonçalo – RJ. As aulas ocorriam as segundas, quartas e sextas-feiras das 14h00min às 19h00min, horário em que constava alunos/ pacientes adultos para prática do treinamento físico funcional.  

Como profissional de educação física nas aulas de treinamento físico funcional nossa missão é atender, cuidar do nosso aluno/paciente, ministrar a atividade treinamento funcional com objetivo de melhora funcional e transferência da sua performance para as suas atividades da vida diária (AVD) e esportiva, de acordo com o objetivo de cada aluno/paciente. Inicialmente, o aluno é apresentado ao ambiente (espaço de treinamento), passando pela avaliação física funcional para que possa ser identificado qual o perfil e necessidade do cliente. Em seguida, é realizado a explicação, demonstração, observação, correção e ajustes dos exercícios prescritos com o intuito de acompanhar esse aluno durante todo momento em que ele esteja na sala de treinamento.

É durante esse processo que temos que ter um olhar clínico para observar como estão os exercícios dos nossos alunos, como estão os padrões de movimento, quais limitações eles têm, onde está a origem dessa limitação e como devemos atuar para melhorar isso. E, dessa forma, promover através desse acompanhamento, o melhor atendimento possível com o objetivo de proporcionar saúde, bem-estar, qualidade de vida, oferecendo também um ambiente de aprendizagem e treinamento agradável do ponto de vista social, sem esquecer da grande responsabilidade que temos de reduzir os riscos de lesões, observando com cuidado os movimentos executados pelos nossos alunos/pacientes.

Durante as avaliações físicas e funcionais foram diagnosticados a necessidade de trabalhar as funções primárias das articulações. Entretanto, realizamos como estratégia a montagem de treinamento específico na preparação para o ganho de mobilidade, flexibilidade e estabilidade, possivelmente porque a maioria dos praticantes não têm conhecimento da importância desses atributos para a qualidade e melhora dos padrões de movimentos, melhoria funcional das atividades da vida diárias (AVD), melhoria funcional esportiva, contribuindo para eficiência dos movimentos, reduzindo os riscos de lesões e contribuindo inclusive com redução de dores. 

Portanto, ao perceber a necessidade de se trabalhar esses componentes comecei a aplicar na fase de preparação movimentos de mobilidade articular e estabilidade com a finalidade de melhorar o padrão de movimento, reduzir riscos de lesões e melhoria funcional dos alunos/pacientes praticantes do treinamento físico funcional.

3.2 Local para realização dos exercícios de mobilidade articular e estabilidade

As explicações e demonstrações direcionadas com os exercícios de mobilidade articular e estabilidade específicas como preparação para as aulas de treinamento físico funcional foram desenvolvidas na sala de treinamento. A sala se apresentava bem limpa e segura onde também existiam instrumentos para executar os exercícios de mobilidade e estabilidade. O ambiente sempre com constante limpeza e manutenção por parte de funcionários específicos para essa função.

A clínica CENTROMEDE/BIOMOVE conta com uma sala específica para realização da avaliação física funcional, realizando uma análise de padrões de movimento para identificar restrições, encurtamentos e baixos padrões de movimentos.

3.3 Público: Alunos/ pacientes adultos advindos da reabilitação funcional

O grupo de pessoas era formado por grupo de 20 pessoas que foram divididas em 5 grupos iguais entre homens e mulheres de 20 a 50 anos. Não foi realizada uma seleção formal, a escolha foi feita com as pessoas que apresentavam, visualmente, maiores graus de disfunção de movimentos, fato que é um risco para lesões ou patologias articulares a curto, médio e longo prazo. As aulas contemplavam praticamente todas as faixas etárias e cada um com diferentes objetivos com a atividade física como: saúde e qualidade de vida, alto rendimento, aprendizagem dentre outros. Os alunos mais jovens, em sua maioria, procuravam uma finalidade de performance esportiva e alto rendimento, os mais adultos e idosos buscavam na atividade física o desenvolvimento funcional, um regulador da saúde, melhora da aptidão física, melhora das atividades da vida diária, auxílio na perda de peso e qualidade de vida de uma maneira geral.

3.4 Desenvolvimento dos exercícios de mobilidade articular e estabilidade como estratégia de preparação para as aulas de treinamento físico e funcional para adultos

A partir da observação e identificação de alunos que apresentavam baixos padrões de movimento com algum tipo de erro de execução, elaborei um plano de atendimento para esse público visando a melhora desses padrões de movimento com a finalidade de corrigi-los e reduzir riscos de lesões decorrentes dessas disfunções. Boyle (2015) afirma que as lesões estão associadas à disfunção articular, ou seja, os problemas em uma certa articulação se apresentam na forma de dor em outra articulação mais próxima dessa. 

Antes de começar a utilizar os exercícios de mobilidade articular e estabilidade foi realizada uma aula de nivelamento para o estagiário afim de garantir um padrão de atendimento e de conhecimento. Na aula ministrada foram mostrados os padrões corretos dos movimentos, os erros mais frequentes de execução, as possíveis origens de cada disfunção e como corrigi-los. Dessa forma, o estagiário que trabalhava no horário no qual eu atuava como profissional de educação física me auxiliou no decorrer dessa experiência. Boyle (2015) defende que é necessária uma compreensão do que o padrão correto do movimento e o segredo para isso é a observação e análise como ferramenta para corrigir padrões de movimento e desequilíbrios e uso dessa análise está em perceber que consiste apenas no que o nome implica.

Inicialmente identifiquei alunos que apresentavam disfunções em graus mais elevados de movimentos em membros inferiores nos exercícios de tornozelo, joelho e quadril, e membros superiores nos exercícios de coluna lombar, torácica e ombros, nos quais os erros de execução e a disfunção iria implicar no desenvolvimento funcional e na capacidade de desenvolvimento esportivo. A partir disso, separei um grupo de 20 pessoas, divididas em 5 grupos, entre homens e mulheres de 20 a 50 anos para iniciar esse trabalho de mobilidade e estabilidade com corretivo desses movimentos usando a mobilidade articular e estabilidade como preparação.

Os alunos/pacientes compareciam no treinamento físico funcional as segundas, quartas e sextas no horário das 14:00h às 19:00h, horário em que eu atuava como profissional de educação física. Na divisão dos grupos fizemos a separação em cinco horários: a primeira turma de 04 pessoas das 14:00 às 15:00, a segunda das 15:00 às 16:00, a terceira das 16:00 às 17:00, a quarta turma das 17:00 às 18:00 e a quinta turma das 18:00 às 19:00. Com o objetivo de manter o bom andamento da atividade.

A partir da chegada dos alunos iniciávamos o trabalho de mobilidade articular e estabilidade como aquecimento e preparação para as aulas de treinamento físico e funcional que consistia em movimentos que trabalhavam a mobilidade e estabilidade de tornozelo, joelho, quadril, coluna lombar, coluna torácica, cintura escapular e ombros que são articulações que quando não apresentam um bom grau de liberdade de movimento e bases de estabilidade, desencadeiam um processo de disfunções que sobrecarregam as outras articulações. De acordo com Boyle (2018), um tornozelo imóvel sobrecarrega os joelhos ao mesmo tempo que um quadril com pouca mobilidade e estabilidade sobrecarrega a coluna lombar. A falta de mobilidade torácica pode gerar dor cervical ou, até mesmo, dor lombar. De acordo com Sahrmann, (2005), precisamos ser capazes de mover a articulação glenoumeral com uma escápula estável. Essa é a essência de um ombro saudável.

Durante os exercícios de mobilidade e estabilidade eram feitas as correções e adaptações necessárias para cada aluno e após essa etapa iniciávamos exercícios para prática do treinamento físico funcional envolvendo movimentos para membros superiores e inferiores promovendo deslocamentos e ações para melhora do desempenho e condicionamento. Sempre observando, analisando e corrigindo as execuções garantindo que o movimento fosse sempre bem executado até o limite que a mobilidade e estabilidade atual permitia, avançando gradativamente em relação à amplitude de movimento até chegarem a uma boa execução e melhoria do padrão de movimento. 

No decorrer das aulas os alunos foram melhorando seus movimentos à medida em que notávamos ganhos de amplitudes de movimentos e bases de estabilidade, tornando o exercício mais bem executado. Tanto nos exercícios de mobilidade, estabilidade e controle motor quanto nos padrões de movimentos do mais simples ao mais complexo.  

Dessa forma foi observado que os alunos adquiriam mais confiança na realização dos movimentos e eles relataram que não sentiam mais dores pontuais que os incomodavam anteriormente como dores nos ombros, região lombar, joelhos e tornozelo. Dores que muito provavelmente surgiam em detrimento da disfunção mio articular gerada pela ausência de movimento. 

À medida em que o aluno progredia na qualidade da execução dos movimentos eram realizadas modificações até conseguirmos fazer com que os movimentos fossem feitos de maneira satisfatória dentro do padrão previsto. Portando, notamos que além de promover saúde e qualidade de vida, estávamos realizando também um trabalho de redução dos riscos de lesões que são objetivos da prática regular de exercícios físicos quando nos preocupamos não apenas com quais exercícios o aluno irá realizar, mas sim de que irá realizar, respeitando suas individualidades em relação ao movimento e a funcionalidade.

4. CONCLUSÃO

Com o passar das aulas foi observado que gradativamente os alunos/pacientes melhoraram seus padrões de movimento, obtiveram ganho de mobilidade, estabilidade e controle motor, executando os exercícios sem apresentar disfunções e sem sentir alguns incômodos pontuais anteriormente relatados como dores nos ombros, lombares e por vezes dores nos joelhos. Aliado a isso a maioria dos alunos nos relataram uma melhora significativa no rendimento nas aulas de treinamento físico funcional, melhoria funcional das atividades da vida diárias (AVD), performance esportiva, contribuindo para eficiência dos movimentos.

Ao final do período de experiência todos os alunos já tinham domínio dos exercícios de mobilidade, estabilidade e consciência corporal elevada, executando os exercícios de mobilidade articular e estabilidade na preparação para as aulas de treinamento físico funcional e levando a prática dos exercícios de mobilidade articular e estabilidade para o seu dia a dia na sua residência e não apresentando mais disfunções nos movimentos. 

O período da experiência vivenciada com esse trabalho foi extremamente válido porque pude perceber o quanto é importante trabalhar essas características físicas, a mobilidade articular e estabilidade, em paralelo com outros programas do treinamento voltados para condicionamento físico, força, resistência, velocidade, potência e outros comumente visto na atividade do treinamento físico funcional. Conscientizando assim os alunos de que um indivíduo com baixo índice de mobilidade e estabilidade pode desencadear lombalgias e/ou patologias de ordem mio articular, fazendo com que fique suscetível a lesões, baixos padrões de movimentos e incapacitando-o corpo de trabalhar com eficiência.  

Dessa forma concluo que independentemente de qualquer que seja o exercício, que deve ser observado inicialmente é se o padrão do movimento executado está correto e não apresenta disfunções. Caso haja disfunção do movimento, deve-se analisar as articulações comprometidas e melhorar através de exercícios específicos de mobilidade e estabilidade. Assim aumentaremos exponencialmente a tanto a qualidade dos exercícios quanto reduziremos de forma significativa os riscos de lesões e melhoramos o rendimento nas aulas de treinamento físico funcional para adultos.

Dentre os benefícios da manutenção da mobilidade articular e estabilidade está a melhora da sua performance: Independente como seja sua carga de atividade diária, seja você atleta profissional ou simplesmente alguém que busca melhorar sua qualidade de vida, ter uma boa mobilidade articular e estabilidade irá proporcionar ao seu corpo uma maior liberdade para que as suas articulações executem os movimentos aos quais você está adaptado, ou seja vai melhorar seu desempenho nas funções básicas e fundamentais do seu corpo.

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