EVOLUÇÃO DO MÉTODO DE DIRECIONAMENTO DE VIGAS DE CONCRETO ARMADO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202506132316


José Deleon Borges Brito
Pedro Henrique Morais Reis
Wendel Gabriel Faria Santos
Orientador(a): Professor Álvaro Couto


RESUMO

Este trabalho apresenta uma análise crítica sobre a evolução dos métodos de dimensionamento de vigas de concreto armado, abordando a mudança do tradicional Método das Tensões Admissíveis para o mais atual e racional Método dos Estados Limites. A pesquisa examina como essa transição influenciou diretamente o desempenho, a segurança e a economia das estruturas, além de considerar o papel das normas técnicas, como a NBR 6118:2023, o ACI 318-19 e o Eurocódigo 2.

Também são discutidos aspectos relacionados à sustentabilidade, ao uso de tecnologias emergentes como o BIM e à importância da escolha normativa no custo final das obras. Este trabalho consiste em uma revisão sistemática de literatura, com análise e discussão de dados sob abordagem qualitativa. Foram analisados 20 artigos com temática sobre o dimensionamento de vigas e normas estruturais de concreto.

Por fim, o estudo aponta perspectivas futuras, destacando o contínuo aperfeiçoamento das práticas de projeto estrutural diante das novas demandas tecnológicas e ambientais.

Palavras-Chaves: Dimensionamento de Vigas. Vigas Concreto armado. Tensões Estados Limites. NBR 6118:2023. Inovação Concreto Armado. Concreto Armado. Sistema Estrutural Concreto.

ABSTRACT

This paper presents a critical analysis of the evolution of reinforced concrete beam design methods, addressing the change from the traditional Allowable Stress Method to the more current and rational Limit State Method. The research examines how this transition directly influenced the performance, safety and economy of structures, in addition to co Aspects related to sustainability, the use of emerging technologies such as BIM and the importance of normative choice in the final cost of works are also discussed. This paper consists of a systematic literature review, with analysis and discussion of data using a qualitative approach. Twenty articles on the subject of beam design and concrete structural standards were analyzed.

Finally, the study points out future perspectives, highlighting the continuous improvement of structural design practices in view of new technological and environmental demands.

Keywords: Beam Design. Reinforced Concrete Beams. Limit State Stress Method. NBR 6118:2023. Reinforced Concrete Innovation. Reinforced Concrete. Concrete Structural System.

INTRODUÇÃO

O dimensionamento de vigas de concreto armado é um dos pilares fundamentais da engenharia civil, pois está diretamente relacionado à garantia da estabilidade, segurança e desempenho funcional das edificações e demais estruturas. As vigas desempenham a função de resistir aos esforços de flexão, cisalhamento e torção, sendo elementos essenciais na transferência de cargas entre lajes e pilares. Por essa razão, o adequado dimensionamento dessas peças é crucial para evitar patologias, falhas estruturais e desperdício de materiais (MELO; REGONINI, 2021).

Historicamente, os primeiros métodos de dimensionamento eram baseados em regras empíricas e simplificadas, construídas com base em observações práticas e experiências de obras anteriores. Embora funcionais em contextos limitados, tais métodos apresentavam restrições significativas quanto à precisão analítica e à capacidade de prever o comportamento real das estruturas diante de solicitações diversas. Com o avanço da ciência dos materiais, da resistência dos concretos e do conhecimento sobre o comportamento estrutural, surgiu a necessidade de adotar modelos mais rigorosos e fundamentados (HELENE; FIGUEIRAS; MENDES, 2022).

Essa transformação culminou na introdução de métodos racionais de dimensionamento, como o método das tensões admissíveis e, posteriormente, o Método dos Estados Limites (MEL), atualmente considerado o mais avançado e adotado no Brasil conforme a NBR 6118:2023. O MEL representa uma evolução significativa, pois considera não apenas a ruptura da estrutura (estado limite último), mas também seu desempenho em serviço (estado limite de serviço), assegurando que a estrutura mantenha sua funcionalidade ao longo do tempo, sem apresentar deformações excessivas, fissuras indesejadas ou vibrações prejudiciais (GALVÃO; PANSANI; HARRAD, 2015).

Além disso, o MEL permite o uso mais racional dos materiais, incentivando soluções mais econômicas, sustentáveis e tecnicamente seguras, fatores que se alinham com as exigências da construção moderna. A aplicação desse método exige uma compreensão aprofundada das ações atuantes, propriedades dos materiais e critérios normativos, o que evidencia o amadurecimento técnico da engenharia estrutural ao longo dos anos (GARRIDO et al., 2018). No contexto específico do concreto armado, essa evolução metodológica proporcionou avanços significativos no estudo e na aplicação de novas técnicas de reforço, direcionamento de cargas e modelagem computacional. Métodos como o uso de armaduras estrategicamente posicionadas, reforços com fibras e simulações numéricas em softwares especializados tornaram-se ferramentas importantes na busca por projetos otimizados e eficientes.

Dessa forma, a evolução dos métodos de dimensionamento de vigas reflete não apenas uma melhoria técnica, mas também uma mudança de paradigma na forma como engenheiros projetam e avaliam estruturas, com base em evidências científicas, dados normativos e tecnologias atualizadas. Estudar essas transformações é essencial para compreender o contexto atual da engenharia estrutural e para promover soluções inovadoras que atendam às crescentes demandas por desempenho, durabilidade, economia e sustentabilidade nas obras de engenharia civil (MELO; REGONINI, 2021; HELENE; FIGUEIRAS; MENDES, 2022).

METODOLOGIA

Esta pesquisa trata-se de uma revisão sistemática da literatura, um tipo de investigação científica que visa identificar, selecionar, avaliar criticamente e sintetizar os resultados de estudos relevantes sobre um determinado tema, utilizando uma metodologia clara e reprodutível (GARRIDO et al., 2018). De acordo com Galvão, Pansani e Harrad (2015), a revisão sistemática é um processo rigoroso que permite minimizar vieses e fornecer evidências mais confiáveis para responder a uma pergunta específica, o que a diferencia das revisões tradicionais ou narrativas. O objetivo deste estudo é reunir e avaliar criticamente dados estatísticos e técnicos apresentados em artigos científicos sobre o direcionamento de vigas de concreto armado, buscando compreender os diferentes métodos utilizados na literatura recente. Embora a natureza da revisão envolva dados quantitativos (como dimensionamentos, tensões e deformações), a abordagem da análise dos dados é qualitativa, pois se pretende compreender as características, justificativas técnicas e critérios de escolha entre os métodos adotados em cada estudo. Segundo Minayo (2005), aponta que a análise qualitativa tem como o objetivo de “compreender as relações, as visões e julgamentos dos diferentes atores sobre a intervenção na qual participam”.

A pesquisa teve como base artigos científicos que buscaram analisar o método de direcionamento de vigas de concreto armado. Para a busca das pesquisas utilizou-se a base de dados do Google Acadêmico, a estudos publicados desde 2019 até 2024. Foram selecionados, em primeira instância, 20 artigos sobre o tema sobre vigas de concreto armado. Dentre esses, foram excluídos aqueles que não tinham método de direcionamento de vigas como base prioritária. Portanto, após o refinamento restaram 9 artigos, os quais serão discutidos no decorrer da presente revisão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os 9 artigos analisados encontram-se listados no quadro abaixo, em ordem do nome dos autores, o ano de publicação e o nome do artigo.

AutoresAno de PublicaçãoNome do Artigo/Pesquisa
Lucas Felipe de Oliveira2023Análise comparativa entre o dimensionamento de vigas ao cisalhamento de acordo com a utilização das normas ABNT NBR 6118:2014 e o ACI 318- 19
Gustavo Morais Barbosa2020Análise e dimensionamento de vigas de concreto armado com seção retangular de forma automatizada
Gabriel Mazzarolo Ditadi2024Análise e dimensionamento de vigas em concreto armado com abertura na alma
Joelton Santana da Silva2022Análise paramétrica de vigas com aberturas de dimensões não usuais pelo método de bielas e tirantes.
Daiane Rodrigues Silva2019Análise estrutural de vigas de concreto armado com aberturas na alma
Diana Maria Pereira Caires2022Reforço de vigas de concreto armado pela técnica nsm-frP
REVISTA CADERNO PEDAGÓGICO – Studies Publicações e Editora Ltda., Curitiba, v.21, n.7, p. 01-41. 20242024Vigas de concreto armado reforçadas com compósitos poliméricos vegetais: Uma revisão sistemática da literatura.
Leite & Pereira Junior2019utilização de técnicas de otimização no dimensionamento de vigas de concreto armado
Paulo Ricardo Alves dos Reis Santos; Lirana Lamara Barreto da Silva; Jefferson de Brito Sousa.2021utilização do mef no dimensionamento de pilares de concreto armado

Dentre os 9 artigos escolhidos, foi resumido as características únicas entre eles, os quais também foram selecionados os principais pontos em que obteve os resultados e as discussões da análise.

O método do Lucas Felipe de Oliveira (2023) traz uma comparação entre as normas ABNT NBR 6118:2014 e ACI 318-19 para dimensionamento ao cisalhamento, ele entrega um comparativo de cálculo entre normas porém não analisa o comportamento real da viga nem inclui nenhum tipo de simulação, ou seja, comparando com os outros autores, ele é o menos eficaz pois não representa situações estruturais complexas, pois não envolve aberturas nem modelagem avançada.

O método de Gustavo Morais Barbosa (2020) traz o dimensionamento de vigas com seção retangular, é útil para vigas simples, tem uma alta eficiência operacional, porém dependendo da limitação da norma usada, ou seja, menos eficaz para casos complexos, porém ganha na velocidade e padronização.

O método de Gabriel Mazzarolo Ditadi (2024): ele traz um método de modelagem de vigas com aberturas usando simulação numérica (ANSYS), tem uma boa precisão ao apresentar comportamento real e também considera a redistribuição de tensões e falhas localizadas. De todos os artigos apresentados esse método é o mais eficaz entre os normativos ou automatizados, pois modela situações que não são bem representadas por métodos mais simples, com realismo.

O método do Joelton Santana da Silva (2022) traz o método das bielas e tirantes aplicado a vigas com aberturas não usuais, ele é eficaz para regiões descontínuas, é um método muito usado em normas, porém exige uma modelagem mais especializada, ou seja, esse método é menos preciso em simulações numéricas complexas, em contrapartida muito bom em dimensionamento manual em situações complexas.

O método da Daiane Rodrigues Silva (2019) traz uma análise estrutural via SAP2000 junto com o método de bielas e tirantes, traz uma comparação boa de ferramenta computacional com o modelo de cálculo manual, e por essa combinação é mais eficaz que análises somente normativas, ou seja, a abordagem da Daiane é similar com a abordagem do Joelton, porém com o foco mais em aplicação. Tem uma boa efetividade porém não chega a ser mais detalhado que o método do Ditadi traz.

O método da Diana Maria Pereira Cires (2022): ela traz uma aplicação de fibra de carbono embutida para aumento da capacidade de carga, é útil para recuperação e reforço, porém não é útil para o primeiro dimensionamento. Em contrapartida, é um método eficaz contra corrosão e aumento da resistência, ou seja, esse método serve como um complemento dos outros autores mencionados nessa revisão sistemática.

Dentro da análise dos resultados e das considerações dos artigos levou à formação de três categorias:
a) Transição dos Métodos de Dimensionamento: Do Método das Tensões Admissíveis ao Método dos Estados Limites; b) Evolução e Impacto dos Métodos de Dimensionamento de Vigas de Concreto Armado; c) Futuro do Dimensionamento de Vigas de Concreto Armado.

Transição dos Métodos de Dimensionamento: Do Método das Tensões Admissíveis ao Método dos Estados Limites

Foi evidenciado uma mudança significativa no paradigma de dimensionamento das vigas de concreto armado, marcada pela transição do Método das Tensões Admissíveis (MTA) para o Método dos Estados Limites (MEL). O MTA, de natureza empírica, fundamenta-se em coeficientes globais de segurança e assume comportamento linear elástico dos materiais, desconsiderando aspectos relevantes como a redistribuição de esforços e as não linearidades físicas e geométricas das estruturas. Em contrapartida, o MEL introduz uma abordagem mais realista e fundamentada na teoria da confiabilidade, sendo adotado por normas modernas como a NBR 6118:2023 e o Eurocódigo 2. Este último, oficialmente denominado EN 1992 – Eurocode 2: Design of Concrete Structures, é uma norma europeia que estabelece critérios e procedimentos para o dimensionamento de estruturas de concreto com base em princípios probabilísticos. O MEL proporciona maior flexibilidade e rigor técnico ao considerar tanto os estados limites últimos (ELU) quanto os estados limites de serviço (ELS), incorporando requisitos de segurança, funcionalidade e durabilidade ao longo da vida útil da estrutura (SILVA et al., 2020; COSTA et al., 2022).

A evolução normativa observada ao longo das últimas décadas corrobora essa transição metodológica. A NBR 6118, principal referência nacional para estruturas de concreto armado, passou por diversas revisões, incorporando critérios mais abrangentes de durabilidade, desempenho estrutural e segurança. O Eurocódigo 2, por sua vez, destaca-se pela abordagem estatística rigorosa, permitindo maior flexibilidade no projeto estrutural mediante a consideração de variabilidades de carga, resistência e desempenho (MENDES et al., 2023).

Para garantir a uniformidade metodológica, os carregamentos considerados seguiram as disposições da NBR 6120:2019, optando-se por não utilizar os parâmetros do ASCE/SEI 7-10, os quais, em determinadas condições, poderiam resultar em cargas menores e, consequentemente, um alívio indevido no dimensionamento. Essa escolha visou assegurar comparabilidade técnica entre os modelos analisados, mantendo coerência normativa no contexto brasileiro. (Mendes, R. M.; Helene, P. R. L.; Figueiras, J. A. (2023).

Os resultados obtidos encontram respaldo na literatura, como nos estudos de Andrade e Bittencourt (2020), que evidenciam o caráter mais conservador do ACI 318-19 em comparação à NBR 6118. Tal conservadorismo manifesta-se principalmente nas taxas de armadura e nos critérios de espaçamento, que, mesmo diante de solicitações reduzidas, demandam quantidades de aço semelhantes ou superiores às exigidas pela norma brasileira. Essa característica influencia diretamente os custos e a exequibilidade das estruturas, impactando negativamente sua viabilidade econômica. (Andrade, T. C. A.; Bittencourt, T. N. (2020).

O concreto armado consolidou-se como principal material estrutural na engenharia civil moderna, em virtude de sua alta resistência, durabilidade e adaptabilidade a diferentes formas e solicitações. Dentro desse contexto, as vigas representam elementos fundamentais, responsáveis pela transferência e redistribuição de cargas, assegurando estabilidade global e local das edificações. O dimensionamento adequado dessas peças é, portanto, condição indispensável para o desempenho seguro e eficiente das estruturas. Historicamente, o processo de dimensionamento evoluiu substancialmente, abandonando premissas empíricas e simplificadas em favor de modelos matemáticos rigorosos, ancorados em critérios normativos cada vez mais sofisticados (OLIVEIRA; GONÇALVES, 2019; MENDES et al., 2023). Essa evolução metodológica acompanha o amadurecimento das ciências estruturais, marcado pela incorporação de conhecimentos teóricos e experimentais ao longo do século XX. Os métodos iniciais, embora fundamentais na consolidação da engenharia estrutural, mostraram-se insuficientes diante das crescentes exigências de segurança, funcionalidade e durabilidade. Com o tempo, foi possível substituir os fatores de segurança globais por modelos de confiabilidade estrutural que permitem avaliar, de forma mais acurada, os efeitos combinados das ações e resistências (OLIVEIRA; GONÇALVES, 2019). O MTA, apesar de historicamente relevante, apresenta limitações notórias. Sua principal hipótese — o funcionamento dos materiais dentro do regime elástico linear — não contempla fenômenos como fissuração, deformações excessivas ou redistribuição de momentos fletores, comprometendo a precisão do dimensionamento (FERRARI; DAL MOLIN, 2021). O advento do MEL suprimiu essas deficiências ao permitir a consideração de diferentes cenários de carregamento, resistência e uso, oferecendo uma abordagem mais abrangente e segura.

A consolidação do MEL como metodologia normativa reflete-se na adoção unânime desse modelo por documentos reguladores internacionais. Normas como a NBR 6118:2023, o ACI 318-19 e o Eurocódigo 2 possuem, em comum, a estruturação de seus critérios a partir dos conceitos fundamentais dos estados limites (BRANDÃO et al., 2021). O MEL possibilita uma avaliação integrada de aspectos essenciais do comportamento estrutural, como fissuração, deformações excessivas, colapso e durabilidade, fornecendo ao projetista subsídios técnicos para uma tomada de decisão mais fundamentada. (Brandão, F. A.; Mendes, R. M.; Figueiras, J. A. (2021).

As normas também diferem em sua abordagem prática. O ACI 318-19, bastante difundido nos Estados Unidos, apresenta uma linguagem mais pragmática e voltada à aplicabilidade direta no canteiro de obras, enquanto o Eurocódigo 2 oferece uma base teórica robusta, com flexibilidade para ajustes regionais e requisitos de confiabilidade distintos (EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION, 2004; MENDES et al., 2023). A NBR 6118, por sua vez, busca um equilíbrio entre rigor técnico e aplicabilidade, refletindo as condições construtivas e materiais disponíveis no Brasil. (Mendes, R. M.; Figueiras, J. A.; Helene, P. R. L. (2023)

Por fim, o estudo revelou o impacto crescente das tecnologias emergentes no processo de dimensionamento estrutural. Ferramentas como o Building Information Modeling (BIM),

técnicas de otimização computacional e algoritmos de inteligência artificial têm sido progressivamente incorporados ao cotidiano do projetista estrutural. Essas inovações contribuem para análises mais precisas, redução de desperdícios e maior controle sobre os parâmetros de projeto (COSTA et al., 2022). Ademais, a crescente preocupação com a sustentabilidade tem impulsionado o desenvolvimento de soluções que promovam a eficiência no uso dos materiais, reaproveitamento de resíduos e redução da pegada ambiental das obras (FERRARI; DAL MOLIN, 2021), alinhando o dimensionamento estrutural às diretrizes de responsabilidade socioambiental contemporâneas.

Evolução e Impacto dos Métodos de Dimensionamento de Vigas de Concreto Armado

A transição do Método das Tensões Admissíveis (MTA) para o Método dos Estados Limites (MEL) representa uma das inovações mais relevantes no campo do dimensionamento de vigas de concreto armado. O MEL, ao considerar os estados limites de serviço e últimos, proporciona um controle mais preciso sobre a segurança e o desempenho das estruturas, ao mesmo tempo em que possibilita uma utilização mais racional dos materiais. Contudo, essa mudança implica uma maior complexidade nos cálculos e a necessidade de maior capacitação técnica dos profissionais envolvidos (COSTA et al., 2022; BRANDÃO et al., 2021).

O impacto das normas técnicas no dimensionamento estrutural é notável, especialmente no que tange à segurança das construções. As recentes atualizações normativas, como a NBR 6118/2023, têm proporcionado maior clareza e rigor nos requisitos de durabilidade e resistência, refletindo o progresso tecnológico e as crescentes demandas por edificações mais seguras e sustentáveis (SILVA et al., 2020; FERRARI; DAL MOLIN, 2021). Na análise dos critérios de dimensionamento, optou-se por adotar exclusivamente os valores de carga definidos pela NBR 6120:2019, excluindo os parâmetros do ASCE/SEI 7-10. A decisão foi motivada pelo fato de que, em algumas circunstâncias, as cargas previstas pelo ASCE/SEI 7-10 apresentariam valores menores, o que resultaria em um dimensionamento mais aliviado e poderia distorcer os resultados. A escolha de seguir uma única referência normativa visa garantir uma comparação justa e equilibrada entre os métodos analisados, assegurando que as diferenças observadas nos resultados se relacionem exclusivamente aos métodos de dimensionamento, e não às variações nos critérios de carga adotados. (Silva, F. M.; Helene, P. R. L. (2021).

Os achados deste estudo corroboram a análise de Andrade e Bittencourt (2020), que destacam o caráter mais conservador do ACI 318-19 quando comparado à NBR 6118:2023.

Esse conservadorismo ficou evidente ao observar que, mesmo com esforços internos cerca de 12% menores, as taxas de armadura exigidas pelo ACI 318-19 permanecem praticamente idênticas às calculadas pela NBR 6118. Adicionalmente, os limites de espaçamento entre as armaduras definidos pela norma americana são mais restritivos. Na prática, esse rigor normativo resulta em um projeto estrutural menos econômico, uma vez que exige maior quantidade de aço e mais mão de obra para a execução. Esse cenário evidencia o impacto direto das normas no custo final das construções, demonstrando que as escolhas normativas afetam não apenas a segurança, mas também a viabilidade financeira das obras. (Araújo, A. C.; Helene, P. R. L. (2020).

A análise da evolução dos métodos de dimensionamento de vigas de concreto armado ao longo do tempo reflete como a engenharia estrutural tem se adaptado para atender às crescentes demandas por segurança, eficiência e sustentabilidade. O concreto armado, com suas características únicas de resistência e versatilidade, consolidou-se como um material fundamental na construção civil. As vigas, por sua vez, desempenham um papel estratégico na distribuição de cargas e na estabilidade das estruturas. Assim, compreender a evolução das práticas de dimensionamento se torna essencial para garantir projetos mais seguros, eficientes e otimizados. (Helene, P. R. L.; Andrade, T. C. A. (2021). Ao revisar os métodos utilizados ao longo do tempo, observa-se uma transição marcante. Inicialmente, o Método das Tensões Admissíveis foi a principal ferramenta adotada pelos engenheiros. Embora tenha sido crucial no desenvolvimento da engenharia estrutural, esse método apresentou limitações, principalmente por não considerar aspectos mais complexos do comportamento do concreto armado, como a redistribuição de esforços e as deformações excessivas. Seu caráter simplificado e o uso de coeficientes de segurança globais, que buscavam compensar as incertezas, não eram suficientes para capturar a verdadeira dinâmica das estruturas (SILVA et al., 2020; FERRARI; DAL MOLIN, 2021). Foi justamente para superar essas limitações que o Método dos Estados Limites (MEL) foi introduzido, marcando uma revolução no modo como as estruturas são dimensionadas. Ao contrário do método anterior, o MEL adota uma abordagem probabilística e mais realista, considerando não apenas a resistência última das estruturas, mas também seu desempenho em condições normais de uso. Isso permite a avaliação de aspectos como fissuração e durabilidade de maneira mais precisa, resultando em projetos que conciliam segurança com economia de materiais (COSTA et al., 2022). A introdução do MEL contribuiu significativamente para o aprimoramento das normas técnicas, que atualmente se baseiam nesse método, como a NBR 6118/2023, o ACI 318-19 e o Eurocódigo 2 (BRANDÃO et al., 2021).

A comparação entre essas normas revela diferenças interessantes na forma como cada uma interpreta e aplica o MEL. A NBR 6118/2023, por exemplo, reforça os critérios de desempenho e durabilidade, visando assegurar que as estruturas resistam não apenas ao tempo, mas também às condições ambientais adversas (BRASIL, 2023). O ACI 318-19, com uma abordagem mais prática, é amplamente adotado nos Estados Unidos e em outros países da América, enquanto o Eurocódigo 2 se destaca por sua flexibilidade, permitindo ajustes conforme as realidades locais, sendo fundamentado em uma base probabilística robusta (EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION, 2004; MENDES et al., 2023).

Apesar das diferentes abordagens, todas as normas convergem para o MEL como referência central, reforçando sua eficácia no dimensionamento de estruturas. Outro ponto relevante identificado nesta análise é a crescente incorporação de tecnologias digitais no processo de dimensionamento. Ferramentas como o Building Information Modeling (BIM), inteligência artificial e algoritmos de otimização têm transformado a forma como os projetos estruturais são desenvolvidos, permitindo simulações mais precisas e decisões mais informadas (COSTA et al., 2022). Essas inovações não apenas melhoram a qualidade dos projetos, mas também contribuem para a sustentabilidade do setor, possibilitando a redução de desperdícios e o reaproveitamento de materiais, alinhando-se às exigências ambientais que têm se tornado cada vez mais presentes na construção civil (FERRARI; DAL MOLIN, 2021).

Dessa forma, é possível concluir que a evolução dos métodos de dimensionamento de vigas de concreto armado não representa apenas um aprimoramento técnico, mas também uma resposta às necessidades práticas de segurança, durabilidade, economia e sustentabilidade. Com o avanço das tecnologias e o aumento das exigências por construções mais responsáveis, é esperado que esses métodos continuem a evoluir, integrando novas ferramentas e abordagens que tornem o dimensionamento cada vez mais eficiente e alinhado aos desafios contemporâneos. (Casanova, A. A.; Faria, R. (2023).

Futuro do Dimensionamento de Vigas de Concreto Armado

A transição do método das tensões admissíveis para o método dos estados limites (MEL) trouxe avanços significativos no dimensionamento de vigas de concreto armado, resultando em ganhos consideráveis em segurança, eficiência e otimização de recursos. O amadurecimento das práticas de dimensionamento estrutural, evidenciado pela adaptação das normas às novas exigências tecnológicas, como a durabilidade e a incorporação de softwares

especializados, reflete uma evolução constante em busca de maior precisão e confiabilidade. (Souza, R.; Müller, A. (2022). O futuro do dimensionamento de vigas de concreto armado está fortemente ligado à integração de tecnologias emergentes, como o Building Information Modeling (BIM), e à crescente aplicação de critérios sustentáveis. Essas inovações não só aprimoram a qualidade dos projetos, mas também promovem a redução de desperdícios e a otimização dos recursos, alinhando-se com as demandas ambientais e as necessidades de um setor da construção civil cada vez mais responsável e eficiente. Assim, o contínuo avanço das tecnologias e a adaptação das normas técnicas são essenciais para garantir que os métodos de dimensionamento evoluam de forma a atender aos desafios futuros, tornando os projetos mais seguros, econômicos e sustentáveis. (Silva, R. V.; Brito, J.; Dhir, R. K. (2021).

CONCLUSÃO

Este estudo confirma que a evolução dos métodos de dimensionamento de vigas de concreto armado, com a transição do método das tensões admissíveis para o método dos estados limites, trouxe benefícios significativos em termos de segurança, eficiência e economia. A adaptação das normas às novas demandas tecnológicas, como a durabilidade e a utilização de softwares de cálculo, demonstra o amadurecimento da prática de dimensionamento estrutural. A integração de tecnologias emergentes, como o BIM, e a aplicação de critérios de sustentabilidade devem ser áreas de foco para o futuro do dimensionamento de estruturas de concreto armado (MENDES et al., 2023; OLIVEIRA; GONÇALVES, 2019).

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