EVASION, CHALLENGES AND PRACTICES IN EJA: GEOGRAPHIC EDUCATION AS AN INSTRUMENT FOR THE PERMANENCE OF STUDENTS AT A SCHOOL IN THE STATE NETWORK OF PORTO VELHO
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202412100825
Josias Mendes Garcia1
RESUMO
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) enfrenta desafios significativos em relação à evasão escolar, como a falta de motivação e a conciliação entre trabalho e estudos.Para reduzir a evasão, é fundamental implementar práticas pedagógicas que valorizem a experiência . A educação geográfica é descrita por teóricos como Callai (2014) como uma ferramenta importante na educação pela capacidade de atuar na construção da identidade e valorização da cultura local, nesse sentido pode ser um ótimo instrumento de permanência e transformação na EJA. Com base no contexto apresentado este artigo teve como objetivo geral analisar como a Geografia pode atuar como um instrumento de permanência dos alunos na Educação de Jovens e Adultos (EJA) de uma Escola da Rede Estadual de Porto Velho, identificando os principais fatores que contribuem para a evasão e propondo práticas pedagógicas que possam mitigar esse problema. Para conduzir a investigação foi realizada uma pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa com aplicação de questionários a três alunos da EJA e entrevista com a professora de Geografia da escola estudada.Os dados coletados destacam a relação intrínseca entre as percepções dos alunos sobre a Geografia, suas realidades socioeconômicas, e a abordagem pedagógica da professora de Geografia. Conclui-se que o alinhamento entre teoria e prática contribuirá para a construção de uma experiência educacional que respeite e valorize a diversidade do público da EJA, favorecendo a permanência e o sucesso dos alunos no sistema educacional.
PALAVRAS-CHAVE: Desafios. EJA. Evasão escolar. Geografia. Práticas docentes.
ABSTRACT
Youth and Adult Education (EJA) faces significant challenges regarding school dropout, such as lack of motivation and the need to balance work and studies. To reduce dropout, it is essential to implement pedagogical practices that value experience. Geographical education is described by theorists such as Callai (2014) as an important tool in education due to its ability to act in the construction of identity and appreciation of local culture, in this sense it can be an excellent instrument for permanence and transformation in EJA. Based on the context presented, this article had as its general objective to analyze how Geography can act as an instrument for the permanence of students in Youth and Adult Education (EJA) of a School of the State Network of Porto Velho, identifying the main factors that contribute to dropout and proposing pedagogical practices that can mitigate this problem. To conduct the investigation, a bibliographical research with a qualitative approach was carried out with the application of questionnaires to three EJA students and an interview with the Geography teacher at the studied school.The data collected highlights the intrinsic relationship between students’ perceptions about Geography, their socioeconomic realities, and the Geography teacher’s pedagogical approach. It is concluded that the alignment between theory and practice will contribute to the construction of an educational experience that respects and values the diversity of the EJA audience, favoring the permanence and success of students in the educational system.
KEYWORDS: Challenges. EJA. School dropout. Geography. Teaching practices.
INTRODUÇÃO
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma modalidade da Educação Básica destinada a alunos a partir de 15 anos para o Ensino Fundamental e a partir de 18 anos para o Ensino Médio. A maior parte dos estudantes da EJA é composta por adolescentes e adultos, formando um grupo variado e diverso, com objetivos distintos, muitos dos quais já estão inseridos no mercado de trabalho (CARMO e CARMO, 2014).
Segundo o Conselho Nacional de Educação (CNE), esse público plural e heterogêneo, parte integrado ao mercado de trabalho, representa o perfil predominante dos alunos dessa modalidade. A maioria já está empregada, e uma parcela busca e necessita de oportunidades laborais. Assim, os sistemas de ensino têm a responsabilidade de garantir uma oferta educacional adequada e exclusiva para esse grupo, que não teve acesso à educação básica obrigatória, por meio de oportunidades educacionais pertinentes (BRASIL, 2000).
Para atender a essas características distintas dos alunos da EJA, é necessário desenvolver uma metodologia própria, que apresente uma proposta pedagógica adequada. O que se observa, na prática, são metodologias do ensino regular mal adaptadas a essa modalidade, com critérios e parâmetros para avaliação, planejamento e discussão da EJA sendo os mesmos utilizados para alunos mais jovens do ensino regular, desconsiderando as particularidades do público em questão (HADDAD, 2009).
A importância desta pesquisa para o corpo docente da EJA reside em expor tanto os desafios quanto os sucessos dessa modalidade de ensino, possibilitando o desenvolvimento de estratégias que reforcem os aspectos positivos e mitiguem os negativos, levando em conta a diversidade dos alunos e seus interesses variados que provêm de diferentes idades, histórias de vida e contextos sociais.
Assim, este estudo permitirá aos educadores compreender a necessidade de evitar a padronização nas propostas educacionais, considerando cuidadosamente essa diversidade. A relevância deste trabalho para a sociedade consiste em contribuir com evidências científicas, conforme o Parecer nº 11/2000 do CNE, para promover reflexões sobre a importância de projetos pedagógicos que considerem a heterogeneidade do público da EJA, que abrange adolescentes, jovens e adultos com variadas experiências de trabalho, de vida e de posição social, incluindo suas práticas culturais e valores pré-estabelecidos (BRASIL, 2000).
O espaço geográfico é historicamente produzido pelo homem enquanto organiza econômica e socialmente sua sociedade. A percepção espacial de cada indivíduo ou sociedade é também marcada por laços afetivos e referências socioculturais. Nessa perspectiva, a historicidade enfoca o homem como sujeito construtor do espaço geográfico, um homem social e cultural, situado para além e através da perspectiva econômica e política, que imprime seus valores no processo de construção de seu espaço ( MORAIS;PINHEIROS, 2013).
Assim, o estudo de uma totalidade, isto é, da paisagem como síntese de múltiplos espaços e tempos deve considerar o espaço topológico — o espaço vivido e o percebido — e o espaço produzido economicamente como algumas das noções de espaço dentre as tantas que povoam o discurso da Geografia. Pensar sobre essas noções de espaço pressupõe considerar a compreensão subjetiva da paisagem como lugar: a paisagem ganhando significados para aqueles que a vivem e a constroem. As percepções, as vivências e a memória dos indivíduos e dos grupos sociais são, portanto, elementos importantes na constituição do saber geográfico (CAVALCANTI, 2019).
O presente estudo buscou investigar a realidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA) em uma escola da Rede Estadual de Porto Velho, colocando em destaque a importância dos fatores geográficos na evasão escolar, nas práticas pedagógicas e na formação da identidade dos alunos.
Com base no exposto, a problemática de pesquisa é: Quais fatores contribuem para a evasão dos alunos na EJA, e de que forma a educação geográfica pode ser utilizada para modificar esse cenário e promover a permanência dos estudantes?
As hipóteses de pesquisa levantadas foram:
Hipótese 1:. Os fatores socioeconômicos impactam no aumento da evasão escolar dos alunos da EJA.
Hipótese 2: Práticas pedagógicas ativas e integradas ao cotidiano dos alunos podem aumentar o interesse e a permanência na EJA.
Hipótese 3: A Geografia, quando aplicada de forma interdisciplinar e com foco nas realidades locais, pode potencializar a identificação dos alunos com o espaço escolar e a comunidade, reduzindo a evasão.
O objetivo geral foi analisar como a Geografia pode atuar como um instrumento de permanência dos alunos na Educação de Jovens e Adultos (EJA) de uma Escola da Rede Estadual de Porto Velho, identificando os principais fatores que contribuem para a evasão e propondo práticas pedagógicas que possam mitigar esse problema.
Os objetivos específicos foram: investigar as causas da evasão dos alunos na EJA de uma escola da rede Estadual de Porto Velho a partir de uma perspectiva geográfica; identificar as práticas pedagógicas atualmente utilizadas nas aulas de Geografia e sua relação com a permanência dos alunos na EJA e analisar a importância da contextualização geográfica do conteúdo para o engajamento e motivação dos alunos.
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – EJA
A Constituição Federal de 1988 ampliou o acesso à educação em todas as idades, criando oportunidades de ensino para indivíduos que, devido à idade, não tinham mais acesso ao sistema regular de educação. Ao mencionar a obrigação do Estado em relação à educação, a CF desafia os educadores a desenvolver políticas que compreendam as necessidades de jovens e adultos, garantindo seu acesso à formação (BRASIL, 1988).
Assim, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é flexível e leva em consideração as circunstâncias cotidianas de seus alunos, incluindo suas atividades laborais e a busca por melhores oportunidades de emprego, o que torna essencial a integração dessa modalidade ao ensino profissionalizante. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) reforça a EJA no Brasil, consolidando-a como uma política pública destinada a combater o analfabetismo. Dessa maneira, é assegurada a educação gratuita para jovens e adultos nas escolas, com a expectativa de que os interesses e as condições de vida dos alunos sejam respeitados, e que o governo promova o acesso e a continuidade dos trabalhadores na escola (BRASIL, 1996).
Os exames e cursos da EJA devem, por sua vez, estar alinhados ao currículo nacional, estabelecendo uma idade mínima de 15 anos para a conclusão do ensino fundamental e 18 anos para o ensino médio. Devido à presença de jovens e adultos, a EJA exige uma organização pedagógica distinta daquela aplicada ao ensino infantil, que atende crianças em idades apropriadas (BRASIL, 1996).
Conforme Azevedo (2013), a evasão e a repetência escolar representam um dos principais desafios enfrentados pelas redes de ensino público no Brasil, cujas causas e consequências estão entrelaçadas com fatores sociais, culturais, políticos e econômicos, além de estar conectadas à atuação dos professores, que frequentemente contribuem para a acentuação dessa problemática usando métodos de ensino inadequados.
Campos e Oliveira (2003) identificam que as razões para o abandono escolar podem ser observadas em situações em que o aluno deixa a escola para trabalhar; quando as condições de acesso e segurança são inadequadas; horários que entram em conflito com suas responsabilidades adquiridas; a falta de vagas e professores; a escassez de material didático; e a percepção de que a formação não é relevante para eles.
É sabido que muitas escolas noturnas têm um alto número de matrículas, mas a conclusão do ano letivo é baixa, com muitos alunos desistindo nas primeiras semanas. Haddad (2009) observa que no início do ano letivo, as turmas têm um grande número de alunos, mas logo muitos abandonam os estudos ao longo do ano, repetindo esse padrão anualmente.
EDUCAÇÃO GEOGRÁFICA COMO INSTRUMENTO DE PERMANÊNCIA
A educação geográfica desempenha um papel fundamental na formação de cidadãos conscientes e críticos, além de servir como um instrumento de permanência, tanto em contextos sociais quanto culturais. Através do ensino da geografia, é possível desenvolver uma compreensão mais profunda do espaço em que vivemos, das relações sociais que nos cercam e das dinâmicas que moldam nosso cotidiano. Neste texto, abordaremos a importância da educação geográfica na construção da identidade, e na valorização da cultura local, destacando seu potencial como instrumento de permanência e transformação (VALLERIUS, 2017).
A educação é fundamental para que a sociedade compreenda o contexto e a realidade em que seus membros estão inseridos, promovendo o desenvolvimento intelectual e humano e colaborando na construção de ideias. Diante dessa perspectiva, levanta-se a questão da importância de um processo formativo que capacite os alunos como cidadãos, em contraste com o ensino tradicional, que costuma restringir a capacidade crítica dos indivíduos na esfera educacional. Kaercher (2003) afirma que:
[…] A geografia não deve se restringir às aparências, ao visível […] a geografia deve falar, sobretudo, das pessoas. São elas que com seu trabalho, modificam o espaço e os lugares. Riquezas, mapas, cidades e países são frutos do trabalho destas pessoas […] (KAERCHER:2003, p.173).
Nesse cenário, o papel do ensino é fomentar o desenvolvimento de cidadãos, não se restringindo a meramente entender a realidade, mas capacitando o aluno a reconhecer seu papel e a sua influência nas práticas sociais. A Geografia, nesse sentido, pode ser considerada uma das ciências que contribui para a formação cidadã, especialmente se sua abordagem na escola for sistemática (SANTOS, 2014).
No entanto, é importante destacar as dificuldades que o professor de Geografia enfrenta devido ao desinteresse pela disciplina. Isso muitas vezes resulta em um ensino que perpetua características do modelo tradicional, focando na memorização de dados como nomes de rios ou capitais. Dentro de uma perspectiva geográfica mais ampla, busca-se um ensino que coloque o aluno como protagonista, responsável por questionar sua realidade, superando assim aprendizagens repetitivas.
A Geografia Crítica visa valorizar os conhecimentos prévios dos alunos, promovendo o desenvolvimento de cidadãos críticos que possam analisar seus espaços em diferentes escalas.
A Geografia escolar deve estreitar a relação entre o conhecimento científico e os saberes vividos pelos alunos, tendo um papel fundamental na inserção destes na vida social. Isso possibilitaria que se tornassem cidadãos ativos, capazes de participar das decisões sociais, políticas e econômicas de sua nação. Callai (2014, p. 02) afirma que “a educação para a participação cidadã requer que os professores trabalhem com clareza sobre sua identidade e pertencimento ao mundo, agindo como protagonistas de suas próprias vidas.”
É imprescindível repensar o papel do professor de Geografia e redirecionar suas práticas e objetivos para que estejam mais alinhados à cidadania, como observa Vesentini (2004) não se pode formar cidadãos ativos sem uma cidadania ativa, que deve ser continuamente expandida; isso é um dever de todos, não apenas do professor. Essa tarefa não se ensina, mas se aprende coletivamente, aplicando-se nas relações humanas, inclusive na educação (ARAUJO, 2008).
Destaca-se a busca por um ensino que promova práticas cidadãs, introduzindo reflexões críticas sobre as relações sociais e esclarecendo aos alunos não apenas seus direitos, mas também seus deveres e responsabilidades históricas. A Geografia Escolar, nesse contexto, preocupa-se em avançar metodologias que deem mais ênfase ao cotidiano, tornando a sala de aula um espaço de reflexão.
Tradicionalmente, o ensino de Geografia se dá por meio de aulas expositivas e leitura de livros didáticos. Contudo, há a possibilidade de abordá-la de maneira mais dinâmica e instigante, problematizando diferentes espaços geográficos por meio de paisagens, lugares e territórios que estabeleçam conexões entre o presente e o passado, entre o específico e o geral, e entre as ações individuais e coletivas (BRASIL, 2001, p. 153).
As abordagens modernas da Geografia têm buscado implementar práticas pedagógicas que permitam ao professor manejar diversas ferramentas, incentivando os alunos a considerar diferentes aspectos de um fenômeno geográfico, independentemente de seu nível escolar. Importante destacar a necessidade de cada aluno compreender seu papel como cidadão, conhecendo as características sociais, culturais e naturais do seu local de vida e estabelecendo comparações com outros espaços. Assim, duas abordagens conceituais relevantes que podem ser discutidas e aplicadas nas aulas de Geografia em relação à cidadania são: o espaço do cidadão e o direito à cidade.
O primeiro conceito foi desenvolvido em um momento em que se debatia a nova Constituição Brasileira, refletindo sobre a cidadania em um contexto em que a cultura de massa e a globalização prevalecem, e o autor problematiza as diversas “distorções territoriais” que surgem da desigualdade na distribuição de capital.
O conceito de Direito à Cidade, formulado pelo sociólogo Henri Lefebvre (1968), surge em um contexto de crescente urbanização. A cidade, portanto, se torna um objeto de estudo crucial, ligada a projetos de formação cidadã. Cavalcanti (1999) enfatiza a importância de todos os habitantes entenderem que a produção do espaço deve incluir suas participações, respeitando suas particularidades e diferenças.
CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE LOCAL
A educação geográfica permite que os alunos compreendam e valorizem o espaço em que vivem. Esse entendimento é crucial para a construção da identidade local, uma vez que a geografia não se limita a aspectos físicos, mas também abrange as relações sociais, históricas e culturais que caracterizam uma determinada região (SANTOS, 2019).
Por meio do estudo da geografia, os alunos podem explorar suas raízes e tradições, promovendo um sentimento de pertencimento. Esse fortalecimento da identidade local contribui para a permanência dos valores culturais, pois ao conhecerem sua história e seu espaço, as pessoas tendem a valorizá-los e preservá-los. A educação geográfica, portanto, atua como um elo entre o passado e o presente, possibilitando que as novas gerações se conectem com suas origens e construam um futuro consciente e respeitoso em relação à sua herança cultural (VALLERIUS, 2017).
Através da educação geográfica, é possível promover a valorização da cultura local, uma vez que o ensino pode explorar as peculiaridades das comunidades, suas tradições, suas festas, gastronomia e modos de vida. Este conhecimento gera um contexto no qual os estudantes não apenas aprendem sobre sua cultura, mas também se tornam agentes ativos na sua preservação (VALLERIUS, 2017).
A valorização e o respeito pelas diferentes culturas são aspectos que garantem a manutenção da diversidade cultural, essencial para o enriquecimento da sociedade como um todo (SANTOS, 2014).
Quando os alunos aprendem a importância de sua cultura e das dimensões geográficas que a envolvem, podem se tornar defensores de suas tradições, trabalhando para que estas permaneçam vivas e relevantes no mundo contemporâneo.
METODOLOGIA
Para conduzir a investigação que visa analisar como a Geografia pode servir como um instrumento para a permanência dos alunos na Educação de Jovens e Adultos (EJA) em uma Escola da Rede Estadual de Porto Velho – RO foi realizada uma pesquisa de natureza qualitativa com aplicação de um questionário estruturado direcionado aos alunos e entrevista com a professora de Geografia da Escola estudada, visando identificar as causas da evasão e práticas pedagógicas existentes.
Foram selecionados três alunos, representando diferentes faixas etárias e contextos sociais. A seleção foi feita de maneira intencional, com o objetivo de garantir diversidade e representatividade das vozes presentes na EJA.
A pesquisa contou com a contribuição de uma professora de Geografia em uma entrevista semiestruturada, na qual itens-chave foram discutidos, mas com espaço para explorar outros temas que pudessem surgir durante a conversa. O método de coleta de dados escolhido para a pesquisa de campo foi um questionário com perguntas elaboradas sobre o tema.
Os questionários apresentavam tanto questões abertas quanto fechadas, permitindo que os alunos expressassem suas opiniões de forma democrática e anônima, o que incentivou a sinceridade nas respostas. Os dados coletados na pesquisa de campo foram submetidos a uma análise minuciosa e, por fim, interpretados e discutidos.
RESULTADOS
Deu-se, então, início à transcrição literal dos questionários aplicados para 3 alunos da EJA de uma Escola da Rede Estadual de Porto Velho. O presente estudo teve como princípio analisar como a Geografia pode atuar como um instrumento de permanência dos alunos na Educação de Jovens e Adultos (EJA) de uma Escola da Rede Estadual de Porto Velho, identificando os principais fatores que contribuem para a evasão e propondo práticas pedagógicas que possam mitigar esse problema.
Os respondentes foram nomeados fantasiosamente por A, B e C a fim de preservar a identidade e integridade das mesmas e evitar qualquer tipo de constrangimento. Foi elaborado um quadro com a disposição das perguntas e respostas obtidas no questionário respondido pelos alunos A, B e C.
Fonte: Autor, 2024.
A pesquisa contou com a colaboração da Professora de Geografia da Escola estudada para se ter embasamento sobre as práticas pedagógicas utilizadas nas aulas de geografia e verificar sua percepção sobre as possíveis causas da evasão e desafios enfrentados para ensinar Geografia para os alunos da EJA. A fim de preservar a identidade da professora participante irei nomeá-la de “Professora A”
A primeira pergunta realizada na entrevista com a Professora A foi referente a como ela percebe as causas da evasão dos alunos na EJA da Escola em que atua e quais fatores geográficos ou sociais ela considerava mais impactantes. Então a professora A respondeu: “A evasão escolar é percebida pelo número de alunos que se matriculam, mas deixam de frequentar as aulas antes mesmo de encerrar o primeiro bimestre. A evasão pode ser constatada nos registros de frequência e diário eletrônico”.
A segunda pergunta feita foi referente a quais práticas pedagógicas ela utilizava atualmente nas aulas de Geografia e como acredita que elas podem influenciar a permanência dos alunos na EJA. Em resposta a professora A pontuou: “Procuro utilizar na maioria das aulas metodologias ativas. Como não temos mapas físicos eu utilizo o apoio das mídias digitais em minhas aulas, e sempre que posso realizo discussões em grupo para fomentar uma interação entre os alunos da EJA com a finalidade de criar uma socialização entre eles dando –lhes mais ânimo de participar das atividades escolares e consequentemente de alguma forma diminuir as faltas.
Posteriormente foi questionado de que maneira você contextualiza o conteúdo geográfico em suas aulas e como acredita que isso impacta o engajamento e a motivação dos alunos. Então a professora A respondeu: “Eu contextualizo o conteúdo geográfico relacionando-o com a realidade dos alunos, utilizando exemplos locais e atuais, além de estimular discussões sobre temas globais que os afetam diretamente. Essa abordagem torna o aprendizado mais relevante, aumentando o engajamento e a motivação, pois os alunos se veem como participantes ativos na construção do conhecimento. Assim, a geografia se torna uma ferramenta para compreender e influenciar o mundo ao seu redor.
Em seguida questionei quais estratégias de ensino ela considerava eficazes para promover a permanência dos alunos na EJA através do ensino de Geografia. Em resposta a professora A destacou que, “para combater a evasão escolar no contexto da EJA (Educação de Jovens e Adultos) através do ensino de Geografia, é fundamental implementar um projeto que envolva a participação ativa de toda a comunidade escolar, incluindo alunos, docentes, gestores e a Secretaria da Educação. Sugiro, uma abordagem colaborativa ,onde poderão ser desenvolvidas iniciativas que atendam às necessidades dos alunos, como aulas interativas que conectem conteúdos geográficos à realidade local e atividades práticas que estimulem o engajamento. Além disso, uma comunicação constante com as famílias e a criação de um ambiente acolhedor e inclusivo podem contribuir significativamente para a permanência dos estudantes”.
Logo após eu perguntei como ela avalia a infraestrutura e os recursos pedagógicos disponíveis para o ensino de Geografia na EJA e como esses fatores afetam a frequência e a participação dos alunos. Em resposta a professora A pontuou que “ O livro didático utilizado não atende adequadamente às necessidades dos alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Embora não tenhamos mapas físicos disponíveis na escola, temos à disposição o apoio das mídias digitais, que podem ser uma alternativa valiosa para enriquecer o aprendizado. É importante ressaltar que os fatores que afetam a frequência dos alunos não estão diretamente relacionados aos recursos pedagógicos, uma vez que os estudantes receberam kits escolares com materiais básicos, como cadernos, borrachas, lápis e canetas. Portanto, é essencial identificar outras razões que possam impactar a permanência dos alunos na escola e buscar soluções adequadas”.
Perguntei na sequência a opinião dela quanto aos principais desafios que ela enfrenta ao ensinar Geografia para alunos da EJA. Então a professora A respondeu: “A alfabetização cartográfica. É de modo geral o analfabetismo funcional.
Questionei ainda se ela recebeu formação ou participou em projetos que visem melhorar a permanência dos alunos na EJA, se sim relatasse como essas experiências impactaram sua prática docente. Então na sequência ela disse “ Em se tratando da EJA não temos projeto específicos e nenhuma formação em especifico com esse objetivo, entretanto seria importante a criação de projetos voltados para a EJA tendo em vista a grande evasão e diminuição da procura pela EJA após a implementação da prova do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos – Enceeja”.
Para finalizar a entrevista com a professora A perguntei quais seriam as suas sugestões para a implementação de ações ou políticas que possam mitigar a evasão dos alunos na EJA, com foco especialmente no ensino de Geografia. Em resposta ela disse que “Para mitigar a evasão na EJA, sugiro: 1) desenvolver conteúdos contextualizados que relacionem a Geografia com a realidade dos alunos, incluindo temas locais; 2) promover a integração da escola com a comunidade, incentivando projetos práticos que reforce a importância do aprendizado; 3) oferecer suporte psicológico e acompanhamento individualizado, assegurando que os estudantes sintam-se acolhidos e motivados a continuar seus estudos”.
DISCUSSÃO
Os dados obtidos por meio dos questionários aplicados a três alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) de uma escola da Rede Estadual de Porto Velho revelam uma série de percepções sobre o contexto do aprendizado e os desafios enfrentados por esses estudantes. As respostas dos alunos A, B e C indicam um quadro multifacetado de fatores que impactam a permanência dos alunos na EJA.
Um ponto central nas respostas dos alunos é a percepção da relevância da Geografia no cotidiano. Enquanto o aluno A acredita que as aulas de Geografia são relevantes “às vezes”, os alunos B e C reconhecem a importância dessa disciplina, afirmando que as aulas ajudam a entender melhor a realidade em que vivem. Essa discrepância nas respostas sugere que, apesar da consciência geral sobre a relevância do conteúdo geográfico, existem nuances nas experiências individuais que afetam o engajamento.
A habilidade de conectar o que é ensinado na sala de aula com as experiências cotidianas dos alunos pode ser uma estratégia eficaz para aumentar a motivação, conforme também ressaltado pela professora A em suas intervenções.
As respostas dos alunos revelam que a situação socioeconômica é uma preocupação significativa. O aluno A sente que sua situação o socioeconômica impacta sua permanência na escola, enquanto o aluno B menciona essa relação “ás vezes”. O aluno C, por outro lado, não vê essa conexão. Essa variação pode indicar que o impacto da situação socioeconômica é relativo e pode ser mais pronunciado em algumas realidades que em outras.
A professora A destaca o uso de metodologias ativas e a contextualização do conteúdo geográfico como estratégias que podem aumentar o engajamento e motivação dos alunos. Essa abordagem é corroborada pelas respostas dos alunos, que expressam desejo por aulas mais interativas, com exemplos práticos e uso de tecnologias. A ausência de recursos como mapas físicos foi mencionada como um desafio, mas a professora enfatizou a importância do uso de mídias digitais como alternativas para enriquecer o aprendizado. Esse ponto remete à necessidade de uma infraestrutura adequada que suporte práticas pedagógicas inovadoras.
Em relação à evasão, a professora A aponta que a falta de acompanhamento e projetos específicos direcionados à EJA fere a eficácia do ensino. O desinteresse inicial dos alunos, que muitas vezes se traduz em ausências já no primeiro bimestre, pode ser mitigado através de um envolvimento mais ativo da comunidade escolar. As respostas dos alunos A, B e C não mencionam explicitamente o desejo por apoio adicional, mas seus anseios por práticas mais dinâmicas e relevantes sugerem uma vontade de se sentir parte de uma comunidade de aprendizagens.
A criação de um ambiente acolhedor, conforme sugerido pela professora, é vital para que os alunos sintam-se motivados a permanecer e participar efetivamente. As sugestões da professora A para abordar a evasão na EJA, como a promoção de conteúdos contextualizados e a integração da escola com a comunidade, refletem uma compreensão profunda das necessidades dos alunos. Os alunos expressaram o desejo por mudanças, como a melhoria na merenda e a oferta de atividades práticas, o que sugere que eles anseiam por experiências que conectem a escola à vida real.
Os dados coletados destacam a relação intrínseca entre as percepções dos alunos sobre a Geografia, suas realidades socioeconômicas, e a abordagem pedagógica da professora A.
Para melhorar a retenção e a experiência dos alunos na EJA, é fundamental que as metodologias de ensino se alinhem com as necessidades e aspirações dos estudantes. A construção de um ambiente educacional mais inclusivo e que promova a conexão entre teoria e prática, além de contar com a colaboração da comunidade, são passos essenciais para enfrentar os desafios da evasão escolar. Essa análise reforça a importância da Geografia não apenas como uma disciplina acadêmica, mas como uma ferramenta vital para o empoderamento e formação de cidadãos críticos e ativos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) apresenta-se como uma modalidade essencial para a inclusão educacional de indivíduos que, por diversas razões, não tiveram acesso à educação básica em idade apropriada. Contudo, a evasão escolar continua a ser um desafio significativo, especialmente em escolas da Rede Estadual de Porto Velho. A pesquisa realizada visou analisar os fatores que contribuem para essa evasão e explorar como a educação geográfica pode ser um vetor importante para promover a permanência dos estudantes.
Com relação à problemática levantada — “Quais fatores contribuem para a evasão dos alunos na EJA, e de que forma a educação geográfica pode ser utilizada para modificar esse cenário e promover a permanência dos estudantes?” — A evasão na Educação de Jovens e Adultos (EJA) pode ser atribuída a fatores como dificuldades financeiras, falta de motivação e ausência de apoio familiar. A educação geográfica pode fomentar a permanência dos alunos ao conectar conteúdos às realidades locais, promovendo o interesse e a relevância do aprendizado, além de estimular a conscientização sobre questões sociais e comunitárias. Assim, ao tornar o aprendizado mais significativo, é possível aumentar o envolvimento e a motivação dos estudantes. Em relação à hipótese 1 levantada conclui que os fatores socioeconômicos impactam sim, no aumento da evasão escolar no EJA um dos motivos seria o trabalho em horário de aula devido não poder contar com o apoio familiar nos estudos por razões financeiras que os obrigam optar pelo trabalho ao invés dos estudos.
A validação da Hipótese 2 demonstra que práticas pedagógicas ativas e integradas ao cotidiano dos alunos são fundamentais para incentivar a permanência na EJA. Metodologias que valorizam a participação ativa dos estudantes, a colaboração em projetos comunitários e a aplicação de conteúdos geográficos em situações reais fortalecem o interesse e a identificação dos alunos com a escola, promovendo um ambiente educacional que vai além da simples transmissão de conhecimentos.
De acordo com a Hipótese 3, a Geografia, quando aplicada de maneira interdisciplinar e centrada nas realidades locais, revela-se uma ferramenta poderosa para estreitar os laços entre os alunos, a escola e a comunidade. O estudo destaca a importância de uma abordagem que considere a historicidade, a cultura e as experiências vividas pelos estudantes. Dessa forma, a Geografia não apenas fornece uma compreensão do espaço físico, mas também fomenta uma identidade coletiva e um senso de pertencimento no contexto escolar.
Cabe aqui ressaltar que os alunos precisam perceber a relevância e a aplicação prática dos conceitos ensinados em suas vidas cotidianas e contextos sociais. Portanto, conclui-se que, para enfrentar os desafios da evasão na EJA em Porto Velho, é imprescindível uma reformulação nas abordagens pedagógicas na área de Geografia. Prazo de situações contextualizadas e práticas que integrem conhecimento teórico à vivência dos alunos.
Esse alinhamento entre teoria e prática contribuirá para a construção de uma experiência educacional que respeite e valorize a diversidade do público da EJA, favorecendo a permanência e o sucesso dos alunos no sistema educacional.
A pesquisa, portanto, oferece subsídios valiosos para educadores, gestores e formuladores de políticas públicas que buscam aprimorar as práticas pedagógicas na Educação de Jovens e Adultos, reforçando a importância da Geografia como uma disciplina que não é apenas informativa, mas transformadora em seus aspectos sociais e culturais.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de expressar meus sinceros agradecimentos ao Prof. Dr. Adnilson de Almeida Silva do Curso de Geografia da Universidade Federal de Rondônia – UNIR pelas inestimáveis orientações e apoio ao longo do meu percurso. Sua dedicação e compromisso em compartilhar conhecimento foram fundamentais para o meu desenvolvimento e aprendizado.
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1Graduando do Curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal de Rondônia. E-mail: josiasmendes330@gmail.com ORCID: https://orcid.org/0009-0004-4629-2421