ESTUDOS DOS MALEFÍCIOS DO CIGARRO ELETRÔNICO NA SAÚDE ORAL E SUA ABORDAGEM NA ODONTOLOGIA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8319678


Kethlem Mendonça Barros¹
Sabrina Costa de Araújo²
Prof. Esp. Rafaela Oliveira de Paula.


RESUMO

Os cigarros eletrônicos (e-cigarros), que fornecem nicotina em aerossol, mas menos substâncias tóxicas do que as encontradas na fumaça do cigarro, apresentam questões novas e controversas para médicos, pacientes e pesquisadores. Tal como acontece com os cigarros tradicionais, os cigarros eletrônicos têm consequências para a saúde bucal. Basicamente, a cavidade oral, sendo a primeira parte do corpo exposta aos constituintes dos cigarros eletrônicos ou de qualquer outra forma de tabaco, corre um risco aumentado de exposição aos efeitos cancerígenos, imunológicos, microbianos e clínicos destes produtos. A viscosidade do e-líquido promove a colonização de Streptococcus mutans, um importante fator causador da cárie dentária. Verificou-se também que os principais ingredientes do e-líquido (nicotina, acetaldeído, acroleína, formaldeído e produtos químicos aromatizantes como cinamaldeído modificam o microbioma oral em direção a maior abundância de patobiontes orais, alteram a resposta do hospedeiro e aumentam a inflamação periodontal.

Palavras- chaves: Odontologia; Saúde Oral; Tabagismo; Cigarros eletrônicos.

ABSTRACT

Electronic cigarettes (e-cigarettes) are substances derived from nicotine gas that are more than toxic substances found in cigarette smoke, new problems exist and are devices for clinics, drugs and doctors. As with traditional cigarettes, e-cigarettes have consequences for oral health. Essentially, this dispersed, as the first portion to be exposed with e-cigarette components or other tobacco components, this treatable cancer presents a risk of exposure due to immunological, microbiological and clinical effects. The viscosity of the e-liquid can see the colonization of Streptococcus mutans, an important factor in dental caries. Equity is achieved by the proliferation of e-liquids (aromatic products such as nicotine, acetaldehyde, acrolein, formaldehyde, and cinnamaldehyde) altering the microbiome orally, as well as the large amount of biodegradation taken orally. inflammatory process increases periodontal

Keywords: Dentistry; Oral health; Smoking; Electronic cigarettes.

INTRODUÇÃO

Os novos produtos de nicotina, especialmente os cigarros eletrônicos tornaram-se cada vez mais populares na última década. Os cigarros eletrônicos são por vezes considerados uma alternativa menos prejudicial ao consumo de tabaco e há algumas evidências do seu papel potencial como auxiliar na cessação do tabagismo.

No entanto, existem preocupações sobre as suas consequências para a saúde, particularmente em utilizadores que não são fumadores de tabaco, e também quando consumidos a longo prazo. Dado o modo de entrega destes produtos, existe potenciais consequências para a saúde oral. Nos últimos anos, tem havido um número crescente de estudos realizados para explorar seus efeitos na saúde bucal.

Estudos relataram uma série de efeitos celulares, mas estes são muito menos pronunciados do que aqueles resultantes da exposição ao fumo do tabaco. Estudos microbiológicos indicaram que os utilizadores de cigarros eletrônicos têm um microbioma distinto, e há alguma indicação de que este pode ser mais patogênico em comparação com os não utilizadores. As evidências dos efeitos sobre a saúde bucal provenientes de ensaios clínicos ainda são limitadas, e a maioria dos estudos até o momento foram de pequena escala e geralmente de desenho transversal.

Estudos epidemiológicos destacam preocupações com secura oral, irritação e doenças gengivais. A interpretação dos dados dos estudos sobre cigarros eletrônicos é um desafio, dadas as diferentes populações que foram investigadas e o surgimento contínuo de novos produtos. No geral, os estudos revelam potenciais danos à saúde oral, sublinhando a importância dos esforços para reduzir o consumo em não fumadores.

O presente estudo tem por objetivo analisar os malefícios dos cigarros eletrônicos na saúde oral.

METODOLOGIA

Tratou-se de um estudo de revisão de literatura com abordagem qualitativa. Nesse tipo de pesquisa é feito uma busca, análise e descrição das ideias buscadas em livros, artigos de periódicos, artigos de jornais, registros históricos, teses e dissertações e outros.

Foram selecionados 10 artigos e publicações escritos em Inglês, Português ou Espanhol disponíveis de forma online e gratuitos, cujas publicações foram de 2013 a 2021

Como amostra para a composição do estudo foram utilizadas publicações que estavam presentes nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILASC), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) E Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE), mediante o cruzamento dos descritores: Cigarro eletrônico; Odontologia; Saúde bucal.

Após leitura minuciosa e posterior análise dos estudo esses artigos foram organizados em forma de texto trazendo uma abordagem acerca do tema central da pesquisa.

DISCUSSÃO

As evidências existentes sugerem que a exposição a substâncias tóxicas e cancerígenas provenientes dos cigarros eletrônicos é provavelmente menos prejudicial do que a dos produtos de tabaco combustíveis. É importante notar que as evidências não indicam que os cigarros eletrônicos sejam inofensivos (CHIARELLI et al., 2015).

Há cada vez mais evidências de que, para alguns consumidores de longo prazo de tabaco combustível tradicional, os cigarros eletrônicos podem ser úteis na cessação do tabagismo e, portanto, na redução dos danos. Uma abordagem bem informada sobre a utilização de cigarros eletrônicos para a cessação do tabagismo, ponderando riscos e benefícios, pode ser uma ferramenta a considerar pelos profissionais de saúde (CHAFFEE et al., 2021).

A consideração da redução de danos naqueles que correm risco substancial devido ao uso do tabaco, como os consumidores de longa data, aqueles com doenças crônicas, pode tornar os cigarros eletrônicos uma abordagem adequada para a cessação do tabagismo naqueles que falharam com outros métodos. São necessários mais ensaios clínicos randomizados de alta qualidade para investigar melhor a eficácia dos cigarros eletrônicos como uma estratégia confiável e segura de redução de danos. A monitorização e a avaliação dos riscos e danos a curto prazo e, mais importante, a longo prazo, são imperativas para expandir o conhecimento e melhorar as práticas seguras. (RAMÔA et al., 2017).

O uso de cigarros eletrônicos foi identificado como um sério problema de saúde pública por muitas agências de saúde pública e organizações profissionais, localmente e em todo o mundo. Os riscos representados pelos são muitos, especialmente para os adolescentes, que apresentam taxas crescentes de dependência da nicotina, vulnerabilidade a lesões pulmonares, potencial comprometimento da função cognitiva e aumento do risco do uso tradicional de cigarros combustíveis (SEILER-RAMADAS et al., 2021).

É amplamente conhecido que fumar cigarros convencionais leva a problemas de saúde bucal através de imunidade inata prejudicada, inflamação local e doença gengival e periodontal acelerada (SEILER-RAMADAS et al., 2021).

Estudos anteriores sugeriram associações entre o uso de cigarros eletrônicos e fraturas dentárias em adolescentes, bem como pequenos estudos mostraram que, em comparação com fumantes, os usuários de cigarros eletrônicos e os que nunca fumaram apresentam menos inflamação periodontal e menores pontuações de sintomas orais autorrelatados (CHIARELLI et al., 2015).

O uso de cigarros eletrônicos está associado a inúmeras consequências para a saúde bucal, incluindo, mas não se limitando a, xerostomia, candidíase oral, lesões na mucosa oral, halitose, cárie dentária e doença periodontal. Embora o impacto negativo do consumo de tabaco na saúde oral possa, até certo ponto, ser mitigado por bons comportamentos de saúde oral, parar de fumar e não recorrer ao uso de cigarros eletrônicos é a forma mais eficaz de garantir uma saúde oral boa e sustentada (SEILER-RAMADAS et al., 2021),

Neste contexto, os estudantes e profissionais de odontologia são considerados modelos para a comunidade e devem estar na vanguarda do combate às doenças dentárias e aos hábitos deletérios associados (BERTHOLON et al., 2013).

Coletivamente, os resultados em estudos revelaram boas práticas de higiene oral, incluindo a escovação dos dentes e a utilização de meios adicionais de higiene oral, mas também revelaram que  utilizadores de cigarros eletrônicos relataram boca seca e palpitações cardíacas em comparação com os não fumadores. Inesperadamente, no entanto, os utilizadores de cigarros eletrônicos relataram algumas melhorias em algumas das suas funções fisiológicas em comparação com os fumadores ou não fumadores de tabaco (BERTHOLON et al., 2013).

A má saúde bucal e a perda dentária afetam a qualidade de vida e são um problema de saúde significativo.  Entre 1990 e 2015, o número de pessoas com problemas orais não tratados aumentou 40% e afeta agora cerca de 3,5 mil milhões de pessoas em todo o mundo.  (ALMEIDA-DA-SILVA et al., 2020).

Existem muitos fatores de risco conhecidos para problemas de saúde oral, incluindo idade, raça, estatuto socioeconómico, depressão, diabetes mellitus, falta de exames dentários recentes e tabagismo.  (ALMEIDA-DA-SILVA et al., 2020).

A nicotina, um constituinte principal de muitos cigarros eletrônicos, pode ter um papel patogénico na perda dentária devido à sua capacidade de reduzir a mineralização dentária através de sinalização genética alterada e ativação de vias inflamatórias. Há evidências emergentes que sugerem que outros componentes do cigarro eletrônico promovem a inflamação oral e a senescência dos fibroblastos periodontais (ROUABHIA, 2020).

 Por exemplo, o propilenoglicol, um componente importante do e-líquido, também pode diminuir a integridade dentária através da alteração da libertação de cálcio e da mineralização dentária. Além disso, o uso de cigarros eletrônicos pode levar à inflamação, estresse oxidativo, alteração da senescência celular, resposta prejudicada do hospedeiro e mecanismos de reparo desregulados que podem levar à doença periodontal e à má higiene bucal (ROUABHIA, 2020).

Usar um cigarro eletrônico é quase certamente menos perigoso do que fumar um cigarro. O que permanece controverso é: 1) quão menos prejudicial um cigarro eletrônico pode ser para o usuário; e 2) o impacto líquido da ampla disponibilidade de cigarros eletrônicos na sociedade como um todo. A chegada dos cigarros eletrônicos foi saudada como “uma das maiores vitórias de saúde pública de todos os tempos” e, alternativamente, “uma epidemia emergente de saúde pública” (HOLLIDAY et al., 2021).

A premissa da redução de danos é que, para indivíduos que não desejam ou não podem evitar um comportamento altamente perigoso, pelo menos a curto prazo, a substituição por um comportamento menos perigoso acabará por melhorar a saúde (HOLLIDAY et al., 2021).

 Os cigarros eletrônicos poderiam desempenhar um papel de redução de danos para os fumadores que, de outra forma, não estariam dispostos ou seriam incapazes de deixar de fumar – uma visão que a indústria do tabaco abraçou firmemente (CHAFFEE et al., 2021).

A indústria do cigarro tem um histórico ignominioso de redução de danos, promovendo cigarros com “baixo teor de alcatrão” e com filtro, que não ofereciam nenhum benefício perceptível para a saúde, 40 por vezes em relações enganosas e manipuladoras com investigadores governamentais e potenciais reguladores (HOLLIDAY et al., 2021).

Além de quaisquer implicações para a saúde bucal dos cigarros eletrônicos nas condições de uso pretendidas, há vários casos documentados de traumas orais e faciais causados ​​por explosões. O dentista pode encontrar queimaduras, fraturas alveolares e avulsões dentárias, decorrentes de explosões de cigarros eletrônicos perto da boca (VOLESKY et al., 2017).

 Este potencial de lesões faciais é um dano exclusivo dos cigarros eletrônicos em relação aos produtos de tabaco convencionais e um exemplo em que, apesar da promessa de níveis mais baixos de toxinas conhecidas, a proliferação de cigarros eletrônicos pode ser acompanhada por riscos novos e inesperados (CHAFFEE et al., 2021).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os compostos dos cigarros eletrônicos podem potencialmente alterar o microbioma oral e ter efeitos adversos na saúde oral. A perturbação do microbioma oral, particularmente dos microrganismos comensais, pode levar à disbiose e aumentar os patobiontes, o que pode levar a doenças orais, como a doença periodontal.

Embora o impacto negativo do consumo de tabaco na saúde oral possa, até certo ponto, ser mitigado por bons comportamentos, parar de fumar e não recorrer ao uso de cigarros eletrônicos é a forma mais eficaz de garantir uma saúde oral boa e sustentada.

Os profissionais de odontologia têm um papel importante a desempenhar na educação dos pacientes não apenas sobre os danos potenciais e as consequências para a saúde do uso de cigarros eletrônicos, mas também sobre o risco de explosão intra-oral desses dispositivos.

Embora os efeitos nocivos do consumo tradicional de cigarros na saúde humana sejam bem pesquisados, o conhecimento dos efeitos da exposição ao e-aerossol é limitado e, acima de tudo, faltam estudos de longo prazo.

REFERÊNCIAS

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¹Acadêmica do Curso de Odontologia da Faculdade Metropolitana
²Acadêmica do Curso de Odontologia da Faculdade Metropolitana