REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10371609
Lana Benarrós De Mesquita Lima
Marcos Vinícius Terdulino Viana
Orientadora: Dra. Samara Silva De Souza
RESUMO
Este trabalho objetivou analisar o hemograma de gatos acometidos pela leucemia felina, com o intuito de entender suas possíveis e principais alterações. O estudo foi feito no mês de agosto de 2023 numa clínica localizada no Rio de Janeiro, no bairro da Ilha do Governador, e incluiu exames realizados entre 28/08/2021 à 23/08/2023; foram analisados resultados de hemogramas de 15 amostras de gatos positivos para FeLV, dentre eles 8 machos e 7 fêmeas. Os dados dos hemogramas foram tabelados e analisados em relação à média, desvio padrão, mínimo, máximo, utilizando o programa Excel. Foi possível observar que animais entre 1 a 6 anos de idade (11/15) foram mais acometidos e que a anemia (5/15), leucopenia (4/15), leucocitose (4/15), linfopenia (5/15), eosinopenia (4/15), monocitopenia (4/15), trombocitopenia (6/15) e hiperproteinemia (4/15) foram as alterações mais frequentes podendo estar relacionados com a FeLV. Desse modo, foi possível concluir que estas alterações hematológicas estão diretamente relacionadas à leucemia felina.
Palavras chave: anemia, felina, leucemia, trombocitopenia
Lista de abreviaturas e siglas
DNA Ácido desoxirribonucleico
EDTA Ácido etileno diamino tetra-acético
ELISA Ensaio de imunoabsorção enzimática
FeLV Vírus da Leucemia Felina
FIV Vírus da imunodeficiência felina
IFA Ensaio de imunoabsorção enzimática
IFI Imunofluorescência Indireta
PCR Reação em cadeia da polimerase
PIF Peritonite Infecciosa Felina
RNA Ácido ribonucleico
AGRADECIMENTOS
Gostaríamos de expressar nossa profunda gratidão a todas as pessoas e instituições que nos apoiaram ao longo desta jornada de Trabalho de Conclusão de Curso. Este trabalho representa o resultado de um esforço coletivo, e sem o auxílio e encorajamento de todos, certamente não teríamos alcançado esse marco significativo em nossa carreira acadêmica.
Em primeiro lugar, gostaríamos de expressar nossa sincera gratidão à nossa família, especialmente a nossas mães, Larissa Marine e Lenise Benarrós, da mesma forma, à nossa orientadora Samara Silva de Sousa, pelo seu apoio, orientação e paciência ao longo de todo o processo de pesquisa. Sua experiência e conhecimento foram fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho, e somos imensamente gratos pela sua dedicação e comprometimento.
Gostaríamos de estender nossos agradecimentos aos membros da banca examinadora, por dedicarem seu tempo e expertise para avaliar nosso trabalho. Suas contribuições e sugestões foram inestimáveis e ajudaram a aprimorar o nosso trabalho.
Não podemos deixar de agradecer aos nossos colegas de faculdade, que compartilharam suas ideias, conhecimentos e experiências ao longo dessa jornada. Suas discussões estimulantes e apoio mútuo foram fundamentais para o nosso crescimento acadêmico e pessoal.
Por fim, queremos expressar nossa profunda gratidão a todas as fontes de conhecimento e inspiração que encontramos ao longo deste processo de pesquisa. Aos autores, pesquisadores e estudiosos cujas obras foram fundamentais para o embasamento teórico deste trabalho, somos gratos por compartilharem seu conhecimento e por suas contribuições significativas para a área de estudo.
1.INTRODUÇÃO
A infecção pelo vírus da Leucemia Felina (FeLV) é extremamente comum em gatos de vida livre, sendo transmitida por contato direto com fluidos corporais de gatos infectados, como saliva, sangue, urina e fezes, ou por meio indireto, como pela água e alimentos contaminados (BIEZUS et al., 2017). Em gatas prenhes, normalmente os fetos não sobrevivem, porém caso a infecção não chegue ao feto, o filhote será infectado na amamentação (LUTZ et al.,2009). A FeLV é uma doença que acomete gatos domésticos e selvagens em todo mundo, podendo levar a uma variedade de sintomas graves e até a morte do indivíduo (GLEICH e HARTMANN, 2009).
Segundo estudos, a FeLV é considerada uma das doenças infecciosas mais importantes que afetam os gatos em todo o mundo, com uma prevalência variável de acordo com a região e a população de felinos (LUTZ et al., 2009). No estudo feito por Gleich e Hartmann (2009), foi observado que os gatos infectados com a leucemia felina geralmente tinham uma menor concentração de hemoglobina, além de menos hemácias, leucócitos e plaquetas que os gatos não infectados.
Embora a FeLV não tenha cura, existem maneiras de prevenir a infecção, como manter os gatos em ambientes controlados e evitar o contato com gatos desconhecidos ou infectados. A vacinação é outra medida preventiva importante, e os gatos devem ser vacinados anualmente para ajudar a prevenir a infecção (LUTZ et al., 2009). Dessa forma, a FeLV é uma doença viral significativa que pode ser evitada através de medidas preventivas e que pode resultar em diversas alterações hematológicas (ROCHA et al., 2019).
É relevante enfatizar que o diagnóstico da FeLV frequentemente apresenta desafios, uma vez que a infecção pode permanecer latente e o vírus pode não ser detectado nos estágios iniciais da doença. Além disso, devido à diversidade de sintomas e à possível sobreposição com outras enfermidades em felinos, a identificação da FeLV se torna uma tarefa complexa, ressaltando a importância desta pesquisa e do desenvolvimento de métodos diagnósticos mais sensíveis e específicos.
Este trabalho objetivou analisar os resultados hematológicos de gatos afetados pela leucemia felina, visando compreender as potenciais e principais modificações observadas.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Epidemiologia
Embora a infecção pelo vírus da leucemia felina (FeLV) seja uma das doenças mais frequentes em felinos, sua prevalência diminuiu na América do Norte devido ao diagnóstico precoce e à vacinação. No entanto, as taxas reais de prevalência ainda são pouco conhecidas, estimando-se que menos de 25% dos gatos foram testados (ALVES et al., 2015). De acordo com Biezus (2021), o Brasil apresenta uma elevada prevalência da doença, tornando-se um fator de risco.
De Almeida et al., (2016) apontam que o diagnóstico do FeLV no Brasil enfrenta limitações, como os custos elevados dos testes rápidos para detectar o antígeno p27. Nessa perspectiva, grupos de gatos com hábitos semi-domiciliares ou provenientes de abrigos, não castrados, principalmente entre jovens e adultos, e outras condições que resultam em imunossupressão, como coinfecções por FIV ou Mycoplasma haemofelis, estão associados a maiores resultados positivos para a infecção por FeLV (PEREIRA et al., 2020; ALVES et al., 2015; DE ALMEIDA et al., 2016).
Souza (2017) relata que estudos indicam a inexistência de diferenças significativas entre os sexos, mas a idade emerge como um fator determinante, com a maior prevalência em felinos de 6 a 10 anos, sendo o acesso à rua um importante fator de risco. Conforme Hartmann (2012), observa-se uma maior prevalência em machos adultos com acesso livre à rua.
Estudo demonstra que filhotes de gatos têm maior suscetibilidade a tornarem-se persistentemente infectados em comparação com gatos adultos ou idosos, devido ao maior número de receptores celulares utilizados pelo FeLV para infectar as células. Além disso, a quantidade de anticorpos é mais elevada entre gatos adultos em comparação com filhotes. Apesar dessa consideração, os gatos adultos apresentam taxas significativas de infecção devido à facilidade de contato com outros felinos (ALVES et al., 2015).
- Etiologia do vírus da Leucemia Felina
O FeLV pertence à família Retroviridae, da sub-família Oncovirinae, e ao gênero Gammaretrovirus. É um vírus encapsulado com espículas curtas, é sensível à ação de desinfetantes comuns. O vírus possui capacidade de se integrar no genoma celular do hospedeiro, garantindo persistência permanente, isso ocorre devido à presença de uma enzima transcriptase reversa, à qual transcreve seu RNA em parte do DNA do hospedeiro. (ALVES et al., 2015; SOUZA, 2017; BIEZUS et al., 2019).
Este tópico é categorizado em subgrupos A, B, C e T, distinguindo-se com base no tipo de glicoproteína encontrada no envoltório. O subgrupo FeLV-A é o único considerado transmissível, enquanto os demais derivam de mutações e combinações com sequências celulares do DNA felino. O FeLV-B está associado a condições como linfomas e leucemias e é detectado em aproximadamente metade dos gatos afetados. Por outro lado, o subgrupo FeLV-C está relacionado a casos de anemias arregenerativas e é encontrado em apenas cerca de 1 a 2% dos gatos infectados. Por fim, o subgrupo FeLV-T exibe preferência pelos linfócitos T, desempenhando um papel importante na supressão do sistema imunológico (ALVES et al., 2015; HARTMANN, 2012; DUDA, 2018).
2.3 Transmissão
A propagação do vírus da Leucemia Felina ocorre principalmente por meio da saliva, que contém uma alta concentração de partículas virais, por contatos envolvendo a área oral e nasal. Além disso, a transmissão do FeLV também pode acontecer por via transplacentária, bem como por meio de outros fluidos corporais, como urina, plasma e leite. Há ainda a possibilidade de transmissão iatrogênica, relacionada ao uso de instrumentos contaminados e transfusões sanguíneas (ALVES et al., 2015; DE ALMEIDA et al., 2016; SOUZA, 2017; BIEZUS et al., 2019).
De acordo com Alves et al. (2015), os gatos assintomáticos persistentemente virêmicos são considerados o reservatório natural da infecção, pois podem eliminar o vírus em sua saliva, contribuindo para a manutenção da prevalência da doença. Importante ressaltar que felinos com infecção abortiva não apresentam viremia e, portanto, não representam risco de contágio (SOUZA, 2017; HARTMANN, 2012).
Souza (2017) e Nelson e Couto (2015), concluíram que é possível observar que o comportamento social dos felinos interfere na propagação da doença, influenciado por seus hábitos de higiene e a prática de compartilhamento de objetos, como recipientes de água e comida. É importante ressaltar que gatos neonatos podem adquirir a infecção de diferentes maneiras, seja por transmissão transplacentária, através do leite materno ou mesmo durante os cuidados maternos de limpeza e higiene.
No entanto, é relevante notar que, devido à fragilidade do vírus e à sua curta sobrevivência fora do corpo do hospedeiro, a contaminação pelo ambiente não se dá com muita frequência. O vírus pode ser rapidamente inativado através de procedimentos de desinfecção convencionais, como a utilização de detergentes comuns, álcool ou alvejante (NELSON; COUTO, 2015; ALVES et al., 2015).
2.4 Sinais Clínicos
De acordo com a literatura, é notável que os sinais clínicos associados à infecção pelo vírus da Leucemia Felina (FeLV) podem ser altamente variados e não específicos. Estes incluem sintomas como dificuldade respiratória, letargia, falta de apetite, perda de peso e febre (THRALL, 2015). Na avaliação física dos animais, podem ser observadas características como membranas mucosas pálidas, aumento dos gânglios linfáticos, inflamação das gengivas e um aumento nos órgãos abdominais, tais como o fígado, baço e rins (NELSON; COUTO, 2015).
Alves et al. (2015) destacam que o provírus FeLV tem a capacidade de afetar a expressão de genes nas células, resultando em efeitos citopáticos, oncogênicos e imunossupressores; isso pode impactar várias células e tecidos, incluindo as células da medula óssea, linfócitos, células intestinais e placenta, bem como afetar o feto em desenvolvimento. A manifestação dos sinais clínicos está frequentemente relacionada à ocorrência de infecções oportunistas ou respostas autoimunes, o que explica a variedade de alterações observadas (DE ALMEIDA et al., 2016; NELSON; COUTO, 2015).
O FeLV também está associado a distúrbios imunomediados, possivelmente devido à formação de complexos antígeno-anticorpo que o provírus favorece na superfície das células. Isso pode resultar em condições como anemia hemolítica imunomediada, trombocitopenia imunomediada, glomerulonefrite imunomediada e poliartrites crônicas (HARTMANN, 2012; ALVES et al., 2015).
No sistema reprodutivo, o FeLV pode causar uma aparente infertilidade devido à absorção dos fetos, bem como abortos e natimortos. A “síndrome do gatinho definhado” é uma ocorrência triste entre filhotes que adquirem o vírus através do leite materno, levando a uma alta taxa de mortalidade nas primeiras duas semanas de vida. Além disso, os abortos podem predispor a infecções uterinas bacterianas (ALVES et al., 2015; HARTMANN, 2012).
Alguns gatos afetados pelo FeLV também podem apresentar disfunções neurológicas, como por exemplo a anisocoria, midríase, cegueira ou síndrome de Horner. Essas condições podem ser causadas por linfomas e infiltrações no cérebro e medula espinhal, resultando em compressão, ou por efeitos diretos neurotóxicos do vírus (HARTMANN, 2012). De acordo com Alves et al. (2015), infecções secundárias por agentes como C. neoformans, T. gondii e o vírus da Peritonite Infecciosa Felina (PIF) também podem contribuir para a apresentação desses sinais clínicos.
2.5 Patogenia
Estudos mostram que o desfecho após a exposição ao vírus é influenciado por vários fatores, incluindo a idade do animal no momento da exposição, a resposta imunológica do hospedeiro, a cepa viral, a carga viral, a duração da exposição, a presença de doenças concomitantes e a existência de condições de imunossupressão (BIEZUS et al., 2019).
A literatura detalha que após a inoculação, o vírus se replica inicialmente nos tecidos linfóides locais e, posteriormente, nos tecidos sistêmicos, como baço, linfonodos e, em animais jovens, no timo. Se o animal desenvolver uma resposta imunológica eficaz, o vírus é eliminado, resultando em uma infecção abortiva. Em casos de progressão, o FeLV migra para a medula óssea, contaminando células de defesa e causando viremia. O vírus também infecta células glandulares, como glândulas salivares, lacrimais e mamárias, resultando na excreção de grandes quantidades virais na saliva e no leite (NELSON e COUTO, 2015; ALVES et al., 2015; BIEZUS et al., 2019).
As diretrizes mais recentes sobre o Retrovírus Felino, mostram que a infecção por FeLV pode ser classificada como progressiva, regressiva ou abortiva, não se utilizando mais os termos “transitória” e “latente”. Na infecção progressiva, o vírus se replica intensamente nos tecidos linfóides e na medula óssea, seguido pelos tecidos das mucosas e glândulas, resultando na excreção do vírus, principalmente na saliva. Gatos progressivamente infectados permanecem virêmicos e com baixos níveis de anticorpos, tornando-se fontes de contaminação (LITTLE et al., 2020; HARTMANN 2012). A expectativa de vida é baixa, com 90% dos gatos afetados morrendo em até quatro anos (DE ALMEIDA et al., 2016).
Little (2020) descreveu que as infecções regressivas são acompanhadas por uma resposta imunológica que controla, mas não elimina completamente, a replicação viral. O DNA proviral pode ser detectado apenas por PCR, permitindo a transmissão via transfusões sanguíneas em gatos com infecção regressiva.
Pacientes regressivos possuem anticorpos anti-FeLV, mas, se não houver replicação viral, não há presença da proteína p27 circulante, resultando em testes negativos de ELISA e IFA, mas positivos em PCR. No entanto, portadores regressivos ainda são suscetíveis ao desenvolvimento de neoplasias e, em casos de imunossupressão, podem desenvolver infecção por FeLV (HARTMANN, 2012).
Os mesmos autores descreveram que a infecção abortiva ocorre em situações de resposta imunológica competente, impedindo a replicação viral e eliminando células infectadas, sem viremia. Os gatos abortivos não apresentam RNA viral ou DNA proviral, mas têm anticorpos, especialmente quando não vacinados contra a FeLV (LITTLE et al., 2020; HARTMANN, 2012).
Autores (DUDA, 2018; ALVES et al., 2015; HARTMANN, 2012) mencionam a infecção focal, caracterizada por replicação focal atípica em locais específicos como glândulas mamárias, vesícula urinária, baço e linfonodos. Isso pode resultar na produção intermitente do antígeno p27, levando a falsos negativos em testes rápidos. No entanto, dependendo do local de replicação, ainda é possível a transmissão.
2.6 Prevenção e controle
O isolamento e a vacinação são um dos mecanismos bem-sucedidos na diminuição da infecção por FeLV. O protocolo vacinal deve ser realizado periodicamente, conforme o Guidelines de Imunoprofilaxia (WSAVA, 2020). Para Hartmann (2012) e Alves et al. (2015), pode ser considerado realizar o protocolo em frequências menores, considerando o atraso e a diminuição da resposta humoral de gatos FeLV positivos.
A quíntupla felina é considerada não-essencial, sendo classificada como categoria de risco específica, sendo altamente recomendada em felinos que possam ter algum tipo de exposição (NELSON e COUTO, 2015). É essencial testar os animais antes de realizar a vacinação, evitando utilizar cepas virais desnecessariamente, podendo gerar reações vacinais. Nessa perspectiva, o ideal é não manter o animal exposto ao vírus, ou seja, com outros felinos portadores do vírus, mesmo que tenha sido vacinado (ALVES et al., 2015).
2.7 Diagnóstico
O diagnóstico da infecção pelo vírus da leucemia felina (FeLV) é realizado por meio de exames sorológicos complementares, embora o histórico do paciente também possa servir como indicativo de possíveis infecções por FeLV, especialmente em casos de episódios frequentes de doenças, acesso à rua e achados clínicos. É recomendado que todos os felinos se submetam a testes diagnósticos para FeLV, permitindo a detecção precoce de animais infectados, o que possibilita um manejo adequado e orienta o protocolo de prevenção vacinal (NELSON e COUTO, 2015; ALVES et al., 2015).
O teste rápido, conhecido como “teste de bancada” ou ELISA, é a principal técnica de triagem utilizada na prática clínica diária. O Ensaio Imunoadsorvente Ligado à Enzima (ELISA) e a Imunofluorescência Direta (IFI) detectam o antígeno p27, sem interferência de anticorpos maternos ou vacinais. Entretanto, alguns animais podem apresentar resultados positivos apenas semanas ou meses após a infecção, devido a uma parcela dos gatos ser antigenicamente negativa, sem a presença do antígeno p27. Para confirmar os resultados dos testes rápidos, podem ser realizados testes de detecção do provírus (DNA) por PCR ou isolamento viral (DE ALMEIDA et al., 2016; ALVES et al., 2015; DUDA, 2018). Na execução do ELISA, é aconselhável usar soro ou plasma, evitando o uso de sangue total para evitar resultados falso-positivos, o que também ocorre com testes que utilizam saliva e lágrimas (ALVES et al., 2015).
Resultados positivos em testes ELISA podem indicar viremias primárias (a partir de 30 dias após a infecção), viremia transitória (gatos regressivos com episódios de viremia), viremia persistente (gatos progressivos) ou falso-positivo. Resultados negativos no teste ELISA podem estar associados a gatos não expostos ao vírus, gatos com infecção abortiva, gatos com infecção recente que ainda não passaram pela viremia primária, gatos com infecção regressiva (sem viremia) ou focal, ou resultados falso-negativos (HARTMANN, 2012).
É importante repetir o teste em pacientes clinicamente saudáveis para diagnosticar uma infecção progressiva ou regressiva. A repetição do teste pode ser realizada em um período de 16 semanas, tempo necessário para superar a viremia transitória. Em casos positivos, é possível inferir que se trata de um felino progressivamente infectado, onde o vírus está constantemente em replicação (HARTMANN, 2012). O tempo necessário para a antigenemia nos estágios iniciais do vírus pode variar de 4 a 16 semanas após o contágio inicial (MATESCO, 2014; ALVES et al., 2015).
O teste de Imunofluorescência Direta (IFI) detecta o antígeno p27 no citoplasma de células e plaquetas infectadas, indicando envolvimento da medula óssea. No entanto, é pouco eficaz nas infecções iniciais ou em animais não virêmicos, resultando em falsos negativos. A coleta de amostras pode ser feita a partir de sangue com EDTA, esfregaço de sangue fresco ou esfregaço de medula óssea. Assim como o ELISA, é necessário repetir o IFI em um período de 12 a 16 semanas para confirmar a progressividade da infecção. Resultados falso-positivos podem ocorrer devido a erros laboratoriais (ALVES et al., 2015).
Os resultados positivos no ELISA podem ocorrer antes do acometimento da medula óssea, mas não indicam a progressão da infecção. Em relação ao IFI, os resultados positivos só são observados após o acometimento da medula óssea, sendo improvável a ocorrência de IFI positivo e ELISA negativo, o que está associado a erros de técnica (ALVES et al., 2015).
O teste confirmatório é o PCR, que possui alta sensibilidade ao detectar o RNA viral ou DNA proviral no organismo. O DNA proviral é encontrado em casos em que o vírus se integrou ao genoma das células na medula óssea, independentemente do estado de regressão. Devido ao seu custo elevado, o PCR é comumente utilizado em casos de discrepância nos testes de triagem, auxiliando no diagnóstico (DUDA, 2018; ALVES et al., 2015).
2.8 Tratamento
A infecção pelo vírus da leucemia felina não possui uma cura definitiva. Portanto, o tratamento geralmente se concentra no controle dos sintomas, no controle de infecções secundárias e na preservação da qualidade de vida do paciente. Além disso, é essencial e necessário identificar comorbidades específicas que possam requerer terapias adicionais. Embora a infecção pelo vírus FeLV seja associada a uma redução na expectativa de vida, os felinos afetados podem viver por meses a anos com cuidados adequados (MATESCO, 2014; ALVES et al., 2015).
Para abordar essa condição, são levadas em conta algumas opções terapêuticas como a administração de medicamentos como ciclofosfamida, vincristina, prednisona e estimulantes de colônias granulocíticas, como o filgrastim (MATESCO, 2014; ALVES et al., 2015). Além disso, o uso do Interferon-ω demonstrou benefícios significativos na prolongação da vida e no tratamento da infecção por FeLV.
A zidovudina, que atua como inibidor da transcriptase reversa viral, é outra opção, mas seu benefício em interromper a viremia persistente em gatos com FeLV é limitado, como indicado por Nelson e Couto (2015).
2.9 Prognóstico
Em termos gerais, é comumente afirmado que a perspectiva para gatos afetados pelo vírus é desfavorável, devido à diversidade de sinais clínicos, incluindo casos assintomáticos. Gatos que mantêm viremia constante apresentam um prognóstico mais sombrio, com uma expectativa de vida que geralmente se situa entre 2 a 3 anos de idade (NELSON e COUTO, 2010; DUDA, 2018).
2.10 Alterações hematológicas
Em termos gerais, conforme mencionado por Hartmann (2012) e Almeida et al. (2016), as repercussões nas células da medula óssea podem induzir diversas modificações, incluindo anemias, neutropenias de natureza persistente, transitória ou cíclica, trombocitopenia, disfunções plaquetárias e panleucopenia. Tanto pacientes com replicação ativa do vírus quanto aqueles em estágios regressivos podem experimentar supressão da medula óssea.
A infecção por FeLV é reconhecida como uma das principais causas de anemia em gatos, caracterizando-se predominantemente como arregenerativa devido ao impacto citopático do vírus nas células-tronco hematopoiéticas, resultando na destruição das linhagens celulares (MARÇOLA, 2011). O vírus também pode induzir a expressão de antígenos nas células, levando à destruição imunomediada. A inflamação crônica surge como um fator predisponente das anemias em felinos infectados pelo FeLV, devido à elevada concentração de citocinas (DE ALMEIDA et al., 206; HARTMANN, 2012).
As anemias arregenerativas são observadas em casos que envolvem lesões nas células-tronco, podendo ser reversíveis ou não. A anemia mais comum na infecção por FeLV é a normocítica normocrômica arregenerativa, conhecida como anemia aplásica, indicando ausência de produção de células. Esta manifestação é mais prevalente em felinos do subgrupo C, os quais infectam precursores e podem levar a doenças mieloproliferativas. Ela é observada quando há alterações simultâneas nas células vermelhas, leucócitos e trombócitos, também denominada pancitopenia (NELSON; COUTO, 2015; THRALL et al., 2015; MARÇOLA, 2011). Há ainda a aplasia eritrocitária, resultando em eritropoese defeituosa, manifestando-se em animais com anemia não regenerativa, mas com quantidades normais de plaquetas e leucócitos (THRALL et al., 2015).
Anemias regenerativas, caracterizadas por anisocitose, policromasia e reticulocitose, também podem ocorrer em menor escala (DE ALMEIDA et al., 2016). No entanto, é crucial realizar a contagem de reticulócitos para classificar o grau de regeneração da anemia, conforme destacado por Alves et al. (2015). Anemias regenerativas frequentemente estão associadas a infecções oportunistas (Mycoplasma haemofelis, M. haemominutum, Erlichia e Babesia) ou hemólise imunomediada.
A função plaquetária pode ser comprometida pela ação direta nas plaquetas ou nos megacariócitos, resultando em uma diminuição de sua longevidade. A diminuição da produção pela medula óssea, com dano aos megacariócitos ou doença imunomediada, pode ser uma causa secundária (BIEZUS, 2021).
Na série branca, a neutropenia é uma ocorrência comum em gatos infectados, podendo estar associada a outras citopenias (MARÇOLA, 2011). Acometendo todos os estágios de maturação, sugere-se uma infecção de células precursoras. Para Hartmann (2012), alguns casos respondem ao tratamento com glicocorticoides, indicando a possível presença de mecanismos imunomediados nas desordens neutropênicas.
A linfopenia é consistentemente relatada na maioria dos gatos. De acordo com Biezus (2021), a linfopenia foi a alteração leucocitária mais prevalente no estudo, destacando-se como um diferencial diagnóstico para a FeLV. Além disso, é um indicativo importante, pois está associada a infecções secundárias oportunistas que podem resultar em óbito.
Os mecanismos subjacentes à imunossupressão ainda são pouco compreendidos, resultando em diferentes graus de imunodepressão nos animais infectados. A neutropenia, a disfunção dos linfócitos e a formação de imunocomplexos são resultados da patogênese da imunossupressão, tornando os animais suscetíveis a infecções oportunistas, em semelhança ao vírus da imunodeficiência felina (FIV) (HARTMANN, 2012).
Conforme destacado por Hartmann (2012), gatos infectados pelo FeLV não demonstram hipergamaglobulinemia e hiperproteinemia com mais frequência do que aqueles não portadores do vírus. No entanto, ocasionalmente, também é relatada a desregulação do sistema imune, manifestando-se pela diminuição da imunidade humoral e pelo aumento de anticorpos IgG e IgM. Isso pode resultar em instabilidade na resposta, predispondo o animal a doenças autoimunes, como a deposição de imunocomplexos, que podem causar glomerulonefrites, poliartrites, vasculites, uveítes e até mesmo anemia hemolítica imunomediada (AHIM). O quadro de trombocitopenia imunomediada (TIM) pode coexistir com a anemia hemolítica imunomediada (AHIM), aumentando os distúrbios hemorrágicos e agravando o quadro clínico do paciente.
Diversos mecanismos podem contribuir para a formação de tumores, aumentando a predisposição de felinos ao desenvolvimento de linfomas e leucemias em decorrência da infecção por FeLV. O efeito imunossupressor do vírus desencadeia a oncogênese pela ativação de proto-oncogenes ou pela supressão de genes anti-tumorais, resultando em neoplasias. O acúmulo de proteínas virais, como a gp70, pode interferir na função celular (DUDA, 2018).
Segundo Hartmann (2012) e Alves et al. (2015), felinos infectados pelo FeLV têm maior propensão a desenvolver linfoma ou leucemia, com menos frequência associada a outros tumores hematopoiéticos. Entretanto, é importante observar que gatos não infectados pelo vírus FeLV também apresentam índices elevados de linfoma, originando-se predominantemente de células B, enquanto nos gatos infectados, células T são mais comuns. A classificação dos linfomas é baseada em sua localização anatômica e pode incluir alterações radiográficas.
Quanto à medula óssea, é possível observar o desenvolvimento de mielofibrose, uma condição caracterizada por uma proliferação exacerbada de fibroblastos devido à estimulação crônica da medula óssea. Em casos graves de mielofibrose, pode ocorrer a destruição completa do endósteo da cavidade medular (HARTMANN, 2012).
- MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de um estudo retrospectivo transversal, no qual os dados foram coletados de agosto a outubro de 2023 em uma clínica veterinária localizada no Rio de Janeiro, no bairro da Ilha do Governador, e incluiu exames realizados entre 28/08/2021 e 05/08/2023 que foram reunidos utilizando o banco de dados próprio da clínica veterinária em que o laboratório responsável pelos exames envia todos os resultados.
A pesquisa foi realizada analisando resultados de exames hematológicos de felinos positivos para FeLV. Todos os felinos foram atendidos e após anamnese foram testados para FIV e FeLV com o teste rápido de ELISA, sendo confirmados para o vírus da FeLV.
Dos dados dos hemogramas, foram coletados os parâmetros do eritrograma, leucograma, plaquetograma, concentração de proteínas plasmáticas, além dos dados dos pacientes referentes a sexo e idade.
Os resultados foram tabelados e analisados em relação à média, desvio padrão, mínimo, máximo; utilizando o programa Excel.
- RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram analisados resultados de hemogramas de 15 amostras de felinos positivos para FeLV, os dados referentes a idade, sexo e data de realização do exame de cada felino estão presentes na tabela 1. Os exames foram coletados e analisados no período entre agosto de 2021 e agosto de 2023 em uma mesma clínica veterinária no Rio de Janeiro. As idades dos animais avaliados variaram de 5 meses a 20 anos.
Tabela 1 – Parâmetros de data da coleta, idade do paciente e sexo, de 15 felinos positivos para o vírus da leucemia felina pelo método rápido de ELISA, referente a animais atendidos em uma clínica veterinária no município do Rio de Janeiro.
Nº do gato | Data da coleta | Idade do paciente | Sexo |
G1 | 23/03/2023 | 4a | M |
G2 | 26/11/2022 | 1a | F |
G3 | 18/11/2022 | 1a | M |
G4 | 07/09/2022 | 3a | M |
G5 | 23/01/2023 | 5m | F |
G6 | 10/02/2023 | 2a | F |
G7 | 24/10/2022 | 1m | M |
G8 | 03/09/2022 | 5a | F |
G9 | 27/07/2022 | 5a | M |
G10 | 24/06/2022 | 4a | F |
G11 | 03/05/2022 | 20a | M |
G12 | 28/08/2021 | 4a | F |
G13 | 12/04/2023 | 6a | M |
G14 | 13/04/2023 | 2a | M |
G15 | 05/05/2023 | 2a | F |
Dentre os felinos, 13,33% (2/15) tinham menos de 1 ano (jovens), 80% (12/15) estavam na faixa de 1 a 6 anos (adultos) e 6,66% (1/15) estavam acima de 6 anos (geriátrico) (Figura 1). Além disso, a média de idade foi de 47,6 meses, aproximadamente 4 anos e o desvio padrão foi de 4,938, indicando uma alta variabilidade de idade.
Os resultados são compatíveis com o estudo de Almeida (2009), em que foi constatado que a faixa etária com maior risco era de 1 a 6 anos. Além disso, de acordo com Sykes e Hartmann (2014), um gato adulto tem mais chances de estar infectado com FeLV do que um gato com menos de 6 meses e a média de idade de gatos infectados é de 3 anos, sendo explicado por ser uma doença responsável por diminuir o tempo de vida do hospedeiro.
Figura 1: Gráfico da distribuição de faixa etária de felinos positivos para o vírus da leucemia felina pelo método rápido de ELISA, referente a animais atendidos em uma clínica veterinária no município do Rio de Janeiro.
Vale ressaltar que 8 dos 15 felinos eram machos e 7 eram fêmeas (Figura 2), isso mostra que provavelmente não há uma tendência significativamente maior de contrair o vírus mais facilmente em função do sexo, como foi visto também em Gleich e Hartmann, (2019) e em Cobucci et al.,(2019).
Figura 2 – Parâmetros da divisão de sexo de felinos positivos para o vírus da leucemia felina pelo método rápido de ELISA, referente a animais atendidos em uma clínica veterinária no município do Rio de Janeiro
Os parâmetros hematológicos dos pacientes acometidos pelo vírus da FeLV estão apresentados nas tabelas 2, 3, 4 e 5. Na tabela 2 estão os eritrogramas, divididos em felinos, acima e abaixo de 1 ano.
Tabela 2 – Parâmetros hematológicos de eritrograma de 15 felinos positivos para o vírus da leucemia felina pelo método rápido de ELISA, referente a animais atendidos em uma clínica veterinária no município do Rio de Janeiro.
Felino | Hemácias (106/µl) | Hemoglobina (g/dL) | Hematócrito (%) | VCM (fL) | CHCM (%) |
Referência (<1 ano) | 3,5 a 8 | 7 a 14 | 22 a 38 | 40 a 55 | 31 a 35 |
G5 | 6,3 | 9,2 | 32 | 50,8 | 28,7 |
G7 | 3,4 | 5,6 | 17 | 50 | 32,9 |
Referência (>1 ano) | 5 a 9,5 | 8 a 16 | 28 a 45 | 39 a 55 | 31 a 35 |
G1 | 4,2 | 6,7 | 20 | 48 | 34 |
G2 | 10,2 | 13,4 | 47 | 46,1 | 28,5 |
G3 | 9,4 | 15,3 | 45 | 47,9 | 34 |
G4 | 2,3 | 3,2 | 10 | 43,5 | 32 |
G6 | 10,8 | 14,5 | 45,2 | 41,85 | 32,04 |
G8 | 3,1 | 5,2 | 17 | 54,8 | 30,6 |
G9 | 9,7 | 15,5 | 47 | 48,5 | 33 |
G10 | 7,1 | 12 | 37 | 52,1 | 32,4 |
G11 | 7,4 | 11,8 | 36 | 48,6 | 32,8 |
G12 | 7,6 | 12,5 | 38 | 50 | 32,9 |
G13 | 3,24 | 5,3 | 15 | 46 | 35 |
G14 | 6,3 | 10,6 | 32 | 51 | 33 |
G15 | 7 | 11,6 | 35 | 50 | 33 |
Mínimo | 2,3 | 3,2 | 10 | 41,85 | 13,42 |
Máximo | 10,8 | 15,5 | 47 | 54,8 | 35 |
Média | 6,50 | 10,05 | 31,3 | 48,51 | 30,94 |
Desvio padrão | 2,88 | 4,17 | 13,10 | 3,40 | 5,38 |
Dentre os exames da série vermelha pôde-se observar que 33,33% (5/15) dos gatos estavam com hemácias, hemoglobina e hematócrito abaixo do valor de referência, no entanto 20% (3/15) estavam com os valores de hemácias e hematócrito acima (Figura 3). Os gatos com FeLV podem desenvolver deficiências medulares que levam à anemia, na maioria das vezes, arresponsiva (SYKES e HARTMANN, 2014).
No estudo de Cobucci et al., (2019), foi visto que gatos infectados com o vírus da leucemia felina tinham mais chances de apresentarem anemia, neste estudo, 38,2% dos gatos positivos para leucemia felina apresentaram anemia não regenerativa, número próximo do encontrado na presente pesquisa. A policitemia encontrada em alguns pacientes pode ser explicada por uma possível desidratação, visto que, dos 3 animais que a apresentaram, 2 deles possuem também elevado nível de proteínas plasmáticas.
Figura 3 – Comparação de parâmetros de hemácias, hemoglobina e hematócrito de 15 felinos positivos para o vírus da leucemia felina pelo método rápido de ELISA, referente a animais atendidos em uma clínica veterinária no município do Rio de Janeiro.
Na tabela 3 estão os leucogramas, separados em felinos com mais e com menos de 1 ano.
Tabela 3 – Parâmetros de leucograma de 15 felinos positivos para o vírus da leucemia felina pelo método rápido de ELISA, referente a animais atendidos em uma clínica veterinária no município do Rio de Janeiro.
Felino | Leucócitos (/µL) | Bastonetes (/µL) | Segmentados (/µL) | Linfócitos (/µL) | Monócitos (/µL) | Eosinófilos (/µL) | Basófilos (/µL) |
Referência (>1 ano) | 6000 a 17000 | 0 a 170 | 2400 a 12750 | 1200 a 8500 | 60 a 680 | 60 a 1700 | 0 a 170 |
G5 | 4400 | 176 | 3344 | 616 | 0 | 264 | 0 |
G7 | 780 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
Referência (<1 ano) | 6000 a 17000 | 0 a 160 | 2400 a 12750 | 1200 a 8500 | 60 a 850 | 60 a 1870 | 0 a 170 |
G1 | 1300 | 0 | 0 | 910 | 13 | 0 | 0 |
G2 | 9500 | 0 | 6840 | 2090 | 0 | 570 | 0 |
G3 | 10000 | 0 | 7400 | 1800 | 200 | 600 | 0 |
G4 | 16300 | 0 | 4564 | 11084 | 163 | 489 | 0 |
G6 | 20100 | 603 | 16281 | 3015 | 201 | 0 | 0 |
G8 | 8800 | 792 | 7392 | 528 | 88 | 0 | 0 |
G9 | 24200 | 0 | 20238 | 2904 | 484 | 484 | 0 |
G10 | 17200 | 0 | 14964 | 1892 | 172 | 172 | 0 |
G11 | 9000 | 0 | 7380 | 1350 | 90 | 180 | 0 |
G12 | 20000 | 800 | 15600 | 3400 | 200 | 0 | 0 |
G13 | 13400 | 0 | 10988 | 1340 | 536 | 0 | 0 |
G14 | 5800 | 0 | 4698 | 348 | 638 | 116 | 0 |
G15 | 12300 | 0 | 7503 | 2829 | 1476 | 492 | 0 |
Mínimo | 780 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 | 0 |
Máximo | 24200 | 800 | 20238 | 11084 | 638 | 600 | 0 |
Média | 11484,28 | 169,35 | 8549,21 | 2234,07 | 198,92 | 205,35 | 0 |
Desvio padrão | 7276,33 | 311,36 | 6227,44 | 2752,29 | 208,87 | 234,19 | 0 |
Dos 15 pacientes, 26,6% (4/15) apresentaram leucopenia, 13,33% (2/15) estavam com neutropenia e 33,3% (5/15) apontaram linfopenia e 26,6% (4/15) mostraram monocitopenia e eosinopenia. Em um estudo feito por Cobucci et al., (2019), os animais com FeLV possuíam mais chances de possuir leucopenia, muitas vezes relacionado a neutropenia e eosinopenia.
Essas alterações podem estar relacionadas a disfunções da medula óssea que podem ser causadas pelo vírus da leucemia felina no entanto, 26,6% (4/15) apresentaram leucocitose com desvio leve à esquerda e neutrofilia; são alterações que podem estar presentes em gatos acometidos pela leucemia felina, visto que, com a depressão do sistema imunológico, os animais são mais suscetíveis às infecções. (SYKES e HARTMANN, 2014).
Figura 4 – Comparação de parâmetros de leucócitos, segmentados, linfócitos, monócitos e eosinófilos de 15 felinos positivos para o vírus da leucemia felina pelo método rápido de ELISA, referente a animais atendidos em uma clínica veterinária no município do Rio de Janeiro.
A contagem de plaquetas está na tabela 4 e não apresenta variação de idade.
Tabela 4 – Parâmetros de contagem de plaquetas de 15 gatos positivos para o vírus da leucemia felina pelo método rápido de ELISA, referente a animais atendidos em uma clínica veterinária no município do Rio de Janeiro.
Felino | Plaquetas (/µL) |
Referência | 300000 a 800000 |
G1 | 64000 |
G2 | 320000 |
G3 | 630000 |
G4 | 151000 |
G5 | 327000 |
G6 | 282000 |
G7 | 20000 |
G8 | 1388000 |
G9 | 310000 |
G10 | 666000 |
G11 | 347000 |
G12 | 530000 |
G13 | 300* |
G14 | 222.000 |
G15 | 308.000 |
Mínimo | 300* |
Máximo | 1.388.000 |
Média | 375.521 |
Desvio padrão | 356868,24 |
Do espaço amostral, 40% (6/15) dos gatos estavam com trombocitopenia e apenas 6,66% (1/15) apresentou aumento do número de plaquetas na corrente sanguínea. No resultado, que apresentou 300 plaquetas por µL, também foi visto agregado plaquetário,em que uma das causas pode ser o estresse durante a coleta, mas podem ter outros fatores determinantes. Em um estudo feito por Malta (2022), em amostras de felinos acometidos pela leucemia felina, 37,5% das amostras apresentaram agregado plaquetário, mostrando que pode estar relacionado com a doença. Em pacientes afetados com o vírus da leucemia felina, a trombocitopenia é comum, podendo ser causada de forma imunomediada ou por disfunção da medula óssea (ROCHA et al., 2019).
Figura 5 – Comparação de parâmetros de concentração de plaquetas no sangue de 15 felinos positivos para o vírus da leucemia felina pelo método rápido de ELISA, referente a animais atendidos em uma clínica veterinária no município do Rio de Janeiro.
Os dados relacionados às proteínas plasmáticas constam na tabela 5 e estão separados por gatos antes e depois de completar o primeiro ano de vida.
Tabela 5 – Parâmetros de proteínas plasmáticas de 15 felinos positivos para o vírus da leucemia felina pelo método rápido de ELISA, referente a animais atendidos em uma clínica veterinária no município do Rio de Janeiro.
Gato | Ptn plasmáticas (g/dL) |
Referência (>1 ano) | 4,5 a 7,8 |
G5 | 7 |
G7 | 5,6 |
Referência (<1 ano) | 6 a 8 |
G1 | 6,8 |
G2 | 8 |
G3 | 8 |
G4 | 7 |
G6 | 8,2 |
G8 | 8,2 |
G9 | 9,4 |
G10 | 5,8 |
G11 | 8 |
G12 | 8 |
G13 | 9 |
G14 | 7 |
G15 | 7,5 |
Mínimo | 5,6 |
Máximo | 9,4 |
Média | 7,57 |
Desvio padrão | 1,09 |
Dentre os animais do espaço amostral, 28,6% (4/15) estavam com a concentração de proteína plasmática aumentada e 7,1% (1/15) estavam menores que os valores mínimos de referência (Figura 5). O aumento da concentração de proteínas no sangue pode ser devido ao aumento da produção de globulinas, por ativação do sistema imune, ou pelo aumento da concentração de albumina que pode estar relacionado a desidratação (THRALL, 2015). A hiperproteinemia, na maioria das vezes, indica desidratação, sendo um sinal clínico muito comum nos pacientes com FeLV (SYKES e HARTMANN, 2014).
Figura 6 – Comparação de parâmetros de concentração de proteínas plasmáticas no sangue de 15 felinos positivos para o vírus da leucemia felina pelo método rápido de ELISA, referente a animais atendidos em uma clínica veterinária no município do Rio de Janeiro.
- CONCLUSÃO
Em suma, pelos dados coletados neste presente estudo, a idade dos gatos está provavelmente relacionada com o risco de ser portador do vírus da FeLV, sendo de 1 a 6 anos as idades mais acometidas.
Além disso, foi observado que um gato com a leucopenia felina possui probabilidade elevada de apresentar anemia, leucopenias, neutropenia, linfopenia, eosinopenia, trombocitopenia e desidratação e grande parte dessas alterações podem estar relacionadas com disfunções medulares causadas pelo vírus, infere-se que apenas o acompanhamento hematológico pode ser insuficiente para avaliar a progressão da doença, devendo ser correlacionada com a clínica médica, dados epidemiológicos e além de outros exames complementares.
É importante entender as diversas formas nas quais esta doença pode se manifestar, podendo acometer diversos órgãos e tecidos e, dessa forma, diagnosticar e tratar a leucemia felina da melhor maneira e mais rapidamente.
O exame de detecção de FeLV, deve ser um exame de triagem para todos os gatos, principalmente aqueles com contato com o ambiente externo à casa dos proprietários, o qual não tem controle de quais animais circulam naquela área.
Retrospective study of hematological alterations in FeLV felines in a clinic in Rio de Janeiro
Abstract. This study aimed to analyze the hemogram of cats affected by feline leukemia, with the purpose of understanding the possible and main alterations. The study was carried out in August 2023 in a clinic located in Rio de Janeiro, at Ilha do Governador neighborhood, and included exams performed between 08/28/2021 until 08/23/2023; the research was performed by analyzing hemogram results from 15 samples of FeLV positive cats, among them 8 males and 7 females. The data of the hemograms were tabulated and analyzed in relation to the mean, standard deviation, minimum, maximum, using the excel program. It was possible to observe that animals between 1 and 6 years old (11/15) were more affected and that anemia (5/15), leukopenia (4/15), leukocytosis (4/15), lymphopenia (5/15), eosinopenia (4/15), monocytopenia (4/15), thrombocytopenia (6/15) and hyperproteinemia (4/15) were the most frequent alterations that could be related to FeLV. Thus, it was possible to conclude that these hematological alterations are directly related to feline leukemia.
Keywords: anemia, feline, leukemia, thrombocytopenia
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