ESTUDO OBSERVACIONAL DA CLASSIFICAÇÃO DE SCHATZKER EM FRATURAS DO PLANALTO TIBIAL

OBSERVATIONAL STUDY OF THE SCHATZKER CLASSIFICATION IN TIBIAL PLATEAU FRACTURES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ma10202409131806


Marcus Vinícius Gonçalves Pinto1
Elivan de Sá Luz2
Samuel Mendes de Souza3
Eduardo Soares de Oliveira4


Resumo 

A classificação de Schatzker é amplamente utilizada na prática ortopédica para categorizar fraturas do planalto tibial. O objetivo deste estudo observacional consiste em analisar a eficácia e a relevância clínica dessa classificação, avaliando sua aplicabilidade na tomada de decisões clínicas e prognósticas. Foram analisados retrospectivamente os registros de pacientes com fraturas do planalto tibial admitidos, no ano de 2023, no centro ortopédico de um Hospital Público, da cidade de Salvador-Bahia. Os dados foram coletados quanto à distribuição das fraturas de acordo com a classificação de Schatzker, correlacionando-as com variáveis clínicas como idade, mecanismo de lesão, intervenções cirúrgicas e desfechos funcionais. Utilizou-se das ferramentas de Rx e tomografia computadorizada para uma melhor análise dos casos analisados nos prontuários. A análise comparativa com outras classificações de fraturas do planalto tibial, também, foi realizada para destacar as vantagens e limitações da classificação de Schatzker em relação às novas abordagens. Os resultados preliminares demonstraram uma distribuição heterogênea das fraturas do planalto tibial conforme a classificação de Schatzker, com predominância de tipos mais comuns como as fraturas tipo II e tipo VI, possibilitando concluir que, mediante a análise do estudo, dos diferentes tipos de fraturas do planalto tibial de acordo com a classificação de Schatzker, ficou demonstrado a importância de uma abordagem individualizada no tratamento dessas lesões. Enquanto fraturas menos complexas (tipos I e III) geralmente respondem bem ao tratamento conservador, fraturas mais complexas (tipos IV e V) requerem frequentemente intervenções cirúrgicas mais extensas. Todavia, nos casos analisados os desfechos funcionais evidenciaram tanto bons quanto excelentes. 

Palavras-chave: classificação de Schatzker. Fratura do planalto tibial. Intervenções. Desfechos funcionais.

Abstract 

The Schatzker classification is widely used in orthopedic practice to categorize tibial plateau fractures. The objective of this observational study is to analyze the efficacy and clinical relevance of this classification, evaluating its applicability in clinical and prognostic decision-making. The records of patients with tibial plateau fractures admitted in 2023 to the orthopedic center of a public hospital in the city of Salvador, Bahia, were retrospectively analyzed. Data were collected regarding the distribution of fractures according to the Schatzker classification, correlating them with clinical variables such as age, mechanism of injury, surgical interventions, and functional outcomes. X-ray and computed tomography tools were used for a better analysis of the cases analyzed in the medical records. Comparative analysis with other classifications of tibial plateau fractures was also performed to highlight the advantages and limitations of the Schatzker classification in relation to new approaches. The preliminary results demonstrated a heterogeneous distribution of tibial plateau fractures according to the Schatzker classification, with a predominance of more common types such as type II and type VI fractures, allowing us to conclude that, through the analysis of the study, of the different types of tibial plateau fractures according to the Schatzker classification, the importance of an individualized approach in the treatment of these injuries was demonstrated. While less complex fractures (types I and III) generally respond well to conservative treatment, more complex fractures (types IV and V) often require more extensive surgical interventions. However, in the cases analyzed, the functional outcomes showed both good and excellent results. 

Keywords: Schatzker classification. Tibial plateau fracture. Interventions. Functional outcomes. 

Introdução 

As fraturas do planalto tibial apresentam espectro muito variável de manifestação, dependendo da energia do trauma e das características do paciente. Sistemas de classificação foram propostos para facilitar o entendimento dessas lesões. Dentre as várias aplicações de um sistema para classificação de fraturas salientam-se as suas propriedades de facilitar a comunicação entre médicos, agregar valor prognóstico, orientar a tomada de decisões e permitir a documentação e comparação de dados para fins científicos(1)

O sistema de classificação ideal deve ser confiável, reprodutível, incluir todas as formas de apresentação da fratura para aquele segmento, ser mutuamente exclusivo, lógico e útil clinicamente(2). Essa classificação é amplamente utilizada para categorizar fraturas do platô tibial com base em suas características radiográficas e clínicas, com a finalidade de ajudar e orientar as decisões de tratamento, sobretudo, possibilitar a avaliação da gravidade das lesões(3)

A classificação de Schatzker, proposta por Marvin Schatzker em 1974, é uma ferramenta amplamente reconhecida para a estratificação de fraturas do planalto tibial. Composta por seis tipos principais (I a VI), Fig.1, essa classificação baseia-se na localização e na extensão da fratura, oferecendo um sistema de orientação crucial para a decisão terapêutica ortopédica(4-6).  

Embora seja amplamente aceita e utilizada, a classificação de Schatzker tem sido objeto de debate quanto à sua capacidade de prever o prognóstico funcional e orientar escolhas cirúrgicas específicas(5). Este estudo visa avaliar criticamente a aplicabilidade clínica da classificação de Schatzker, explorando sua eficácia em diferentes contextos clínicos e comparando-a com outras classificações emergentes. 

A tomada de decisões quanto à melhor via de acesso cirúrgico e às técnicas de redução e fixação da fratura depende de fatores como a localização do traço de fratura e a extensão do dano aos tecidos moles(3). Neste sentido, a classificação das fraturas do planalto tibial ainda é um tema de muita relevância, uma vez que se constitui no elemento decisivo para o planejamento pré-operatório. 

Assim, o objetivo consiste em analisar a eficácia e a relevância clínica da classificação de Schatzker, avaliando sua aplicabilidade na tomada de decisões clínicas e prognósticas, para pacientes com fratura do platô tibial. 

Material e Métodos 

Trata-se de um estudo observacional retrospectivo, realizado em um centro ortopédico, de um Hospital Público, da cidade de Salvador-Bahia, com 130 pacientes diagnosticados com fratura do planalto tibial admitidos no ano de 2023. 

Foram revisados os prontuários médicos dos pacientes para identificar casos de fraturas do planalto tibial classificados de acordo com a classificação de Schatzker. 

Os dados foram coletados quanto à distribuição das fraturas pelos diferentes tipos de Schatzker, características demográficas (idade, sexo), mecanismo de lesão, tratamento inicial (conservador vs. cirúrgico), procedimentos cirúrgicos realizados e desfechos funcionais pós-tratamento. 

Os critérios de inclusão adotados foram: 

  • pacientes com idade acima de 18 anos; 
  • pacientes de ambos os sexos e com fraturas do platô tibial, com imagens radiográficas nas incidências anteroposterior e lateral de boa qualidade e submetidos à tomografia computadorizada. 

Excluiu-se do estudo pacientes com fratura prévia no mesmo osso e associada do terço distal do fêmur. 

Neste estudo, foram utilizadas ferramentas padronizadas de estatística descritiva, com elaboração de gráficos. Utilizou-se, também, o índice de Kappa para verificar a concordância, por ser uma medida estatística usada para avaliar a concordância entre dois métodos de classificação, (radiografias e tomografia computadorizada) levando em consideração o acaso. É particularmente útil em estudos onde a concordância entre classificações é crítica, como na avaliação de fraturas do platô tibial segundo a classificação de Schatzker. 

Índice de Kappa na Classificação de Schatzker: 

1. O que é o Índice de Kappa? 

O índice de Kappa (κ) quantifica o nível de concordância entre dois avaliadores ou sistemas de classificação. Ele ajusta a concordância observada para o que seria esperado por acaso. O valor de Kappa varia de -1 a 1: 

  • κ = 1: Concordância perfeita 
  • κ = 0: Concordância igual ao acaso 
  • κ < 0: Menos concordância do que o acaso 

2. Aplicação na Classificação de Schatzker 

Para fraturas do platô tibial, o índice de Kappa pode ser utilizado para avaliar a concordância entre diferentes especialistas ao classificar a gravidade e o tipo de fratura segundo a classificação de Schatzker. Isso é importante para garantir que os tratamentos e intervenções sejam baseados em uma avaliação consistente e precisa. Tende a indicar uma concordância substancial de 0,78, sugerindo que as classificações sejam realizadas de forma bastante consistente entre os sistemas de avaliação. 

A Importância do Índice de Kappa, adotada nas avaliações dos pacientes submetidos à cirurgia, utilizando como métodos a radiografia e tomografia computadorizada, foi em decorrências dos seguintes pontos: 

  • Consistência no Diagnóstico: um alto índice de Kappa garante que os especialistas estão de acordo quanto à gravidade e tipo das fraturas, o que é crucial para selecionar o tratamento apropriado, como a escolha entre placas de bloqueio e outras abordagens cirúrgicas. 
  • Padronização do Tratamento: a concordância elevada ajuda a padronizar o tratamento das fraturas do platô tibial, assegurando que os pacientes recebam um cuidado uniforme e baseado em evidências. 
  • Qualidade dos Estudos Clínicos: em estudos clínicos e pesquisas, uma boa concordância entre avaliadores é essencial para validar os resultados e garantir que as conclusões sejam robustas e confiáveis. 

Resultados e Discussão 

As fraturas do platô tibial são lesões complexas que afetam a superfície superior da tíbia, essencial para a articulação do joelho. Na coleta de dados os achados se dividiram em fraturas do platô tibial, considerando os seis tipos da classificação de Schatzker: 

  1. Tipo I: Fraturas por cisalhamento ou clivagem, exibem apenas uma linha de fratura que cria uma fratura marginal ao longo do platô tibial lateral. 
  2. Tipo II: Fratura por cisalhamento ou depressão com clivagem são mais comuns na minoria das séries, inclui uma fratura horizontal do platô tibial lateral associada ao deslocamento. 
  3. Tipo III: Fratura por compressão local ou por depressão central pura, são laterais, mas não resultam de um fragmento dividido, ocorre somente depressão local, com tendência de ocorrência em idosos. 
  4. Tipo IV: Fratura do côndilo medial que fica inteiramente dividido em um fragmento solitário, ou ainda, pode apresentar um componente de depressão articular com cominuição. 
  5. Tipo V: Fratura bicondiliana, em que tanto o aspecto medial como o lateral do platô tibial estão fraturados. 
  6. Tipo VI: Fratura com envolvimento da diáfise tibial, dissociada da metáfise, que se segue acompanhada de uma diminuição variável da superfície articular(7)

O tratamento das fraturas do platô tibial é direcionado pela classificação de Schatzker e pode variar de conservador a cirúrgico. A abordagem depende da gravidade da fratura, da estabilidade da articulação e da condição geral do paciente. 

Dos 130 pacientes analisados, em seus prontuários, os resultados preliminares demonstraram uma distribuição heterogênea das fraturas do planalto tibial conforme a classificação de Schatzker, com predominância de tipos mais comuns como as fraturas tipo II e tipo VI. 

Na Tabela 1, encontram-se descritos os tipos, o número de casos, em percentual, as características demográficas, o tratamento inicial, os procedimentos cirúrgicos adotados e os desfechos funcionais, coletados junto aos prontuários dos pacientes atendidos no período descrito, anteriormente, nos materiais e métodos adotados, considerando a concordância avaliativa entre radiografias e tomografia computadorizada, mediante a análise do índice de Kappa que é uma ferramenta valiosa para medir a concordância entre classificadores na avaliação de fraturas do platô tibial segundo a classificação de Schatzker. 

Estudos demonstram que, embora a concordância possa variar, um índice de Kappa elevado geralmente indica que a classificação e, consequentemente, o tratamento das fraturas são realizados de forma consistente entre os especialistas. Isso é fundamental para garantir a eficácia dos tratamentos e a precisão nas intervenções cirúrgicas.  

Com o acesso online das radiografias, demonstraram nas fraturas considerando a classificação Schatzker I e III que o tratamento adotado foi o conservador, quando estes: 

  • Imobilização: uso de gesso ou órtese para manter a articulação do joelho imobilizada e permitir a cicatrização. 
  • Controle da Dor: medicamentos para controle da dor e anti-inflamatórios para reduzir o inchaço. 
  • Fisioterapia: início gradual de fisioterapia para restaurar a amplitude de movimento e a força muscular, uma vez que a fratura tenha cicatrizado. 

Com o tratamento conservador foi possível obter como desfechos funcionais excelente (82%) e bom (65%), respectivamente para as fraturas classificadas nos tipos I e III; e, diferentemente, sendo descritos para tratamento cirúrgico para as fraturas II, IV, V e VI, em conformidade com a classificação de Schatzker, com desfecho funcional de bom (59%); excelente (78%); excelente (73%) e excelente (79%), respectivamente. Ressalte-se que essas evidências foram confirmadas com as tomografias feitas à época. 

O tratamento cirúrgico consistiu em promover a restauração da anatomia normal, vindo, consequentemente, garantir a estabilidade da articulação. Assim, o tratamento cirúrgico incluiu: 

  • Redução Aberta e Fixação Interna (RAFI): técnica comum onde a fratura é realinhada cirurgicamente e fixada com placas e parafusos. Este método foi usado para fraturas deslocadas e instáveis. 
  • Artroscopia: em alguns casos, uma abordagem minimamente invasiva pode ser usada para visualizar e tratar fraturas e lesões associadas. 
  • Fixadores Externos: em fraturas muito complexas ou com lesões adicionais, fixadores externos podem ser utilizados para estabilizar a fratura. 

Os pacientes cirúrgicos foram orientados à imobilização e reabilitação da área afetada com exercícios de amplitude de movimento e fortalecimento. Os mesmos foram monitorados e acompanhados na cicatrização das fraturas através de radiografias e avaliações clínicas. Também, em alguns casos, foram descritos o gerenciamento da dor, buscando controlá-la, para evitar possíveis complicações, como infecções ou trombose venosa profunda. 

A Tabela 1 ilustra a distribuição das fraturas do planalto tibial de acordo com a classificação de Schatzker, além de fornecer informações sobre características demográficas dos pacientes, quando descreve (idade média e faixa etária) para cada tipo de fratura de Schatzker, permitindo uma comparação direta das idades médias dos pacientes em cada tipo de fratura (Gráfico 1), observando ainda, a existência, de variações significativas na idade média dos pacientes conforme o tipo de fratura. 

O Gráfico 1 descreve a distribuição percentual, do número de casos, conforme Classificação de Schatzker, permitindo compreender, de forma rápida, a distribuição relativa das diferentes classificações de Schatzker entre os casos de fraturas do planalto tibial(4;6), em termos percentuais. 

Observou-se uma correlação significativa entre o tipo de fratura de Schatzker e a necessidade de intervenção cirúrgica, sendo que fraturas mais complexas (tipo V e VI) frequentemente requeriam abordagens cirúrgicas mais invasivas para restauração anatômica adequada(8)

Ressalte-se que os desfechos funcionais foram excelentes nos tipos I (82%), IV (78%), V (73%) e VI (79%) e bom no tipo II (59%), caracterizando êxito no emprego de cirurgia, após a análise conforme a classificação do tipo de fratura de Schatzker.

Gráfico 1. Distribuição Percentual, do número de casos, conforme Classificações de Schatzker
Fonte: Elaboração própria, conforme Tabela 1. (2024).

E, considerando a Tabela I, os resultados acerca da análise crítica de cada tipo de fratura do planalto tibial de acordo com a classificação de Schatzker, se baseia nos dados apresentados na mesma, conforme se seguem, conforme coleta em prontuários. 

Em relação ao Tipo I de Schatzker, foram 15 (10%) dos casos, onde os pacientes tinham média de idade de 45 anos, tendo como tratamento, como mencionado anteriormente, o conservador, conforme avaliados em radiografia e tomografia computadorizada. Os desfechos funcionais foram categorizados como Excelente (82% com AOFAS). Bem como do Tipo III de Schatzker, quando foram analisados 12 (8%) casos no prontuário médico, obtendo-se uma idade média dos pacientes em torno dos 58 anos. As radiografias e tomografia indicaram um tratamento conservador, sem a necessidade de procedimentos cirúrgicos. Neste caso, os desfechos funcionais foram considerados como bom (59% com AOFAS). 

Na análise crítica relacionadas às fraturas do tipo I, estas são, geralmente, fraturas simples do planalto tibial, com pouca ou nenhuma depressão da superfície articular(4;6-8). O tratamento conservador tende a apresentar bons resultados, e, o que foi adotado no momento, como indicado pela alta porcentagem de casos com resultados funcionais excelentes(9-10). Isso sugere que, para fraturas deste tipo, a abordagem conservadora pode ser preferível devido aos bons desfechos sem a necessidade de intervenção cirúrgica(11)

Quanto a análise crítica das fraturas do tipo III são fraturas da articulação do joelho com extensão para a parte posterior do planalto tibial(12). O tratamento conservador foi, a priori, considerado como uma opção inicial, porém, os resultados funcionais são menos favoráveis em comparação com fraturas menos complexas. Isso pode indicar que algumas fraturas do tipo III podem beneficiar-se de uma abordagem cirúrgica mais agressiva para melhorar os desfechos. 

Em relação ao Tipo II de Schatzker, foram encontrados 35 (25%) casos, sendo que as características demográficas, apresentaram pacientes com idade média de 52 anos. O procedimento inicial adotado foi o cirúrgico, com colocação de placa de bloqueio, obtendo como desfechos funcionais um quando Bom (59% com AOFAS). 

Não diferente, o Tipo IV de Schatzker, foram analisados 20 (14%) de casos, com características demográficas de idade média de 49 anos. O tratamento inicial cirúrgico, sendo considerado como desfechos funcionais de Bom (78% com AOFAS). 

No Tipo V de Schatzker, no qual foram analisados 18 (12%) casos, tendo como população as características demográficas de idade média de 61 anos. O tratamento inicial foi cirúrgico, utilizando como procedimentos a colocação da placa de bloqueio, cujo desfechos funcionais considerados como excelente (73% com AOFAS). 

E, por fim, o Tipo VI de Schatzker, foram analisados 30 (21%) casos, com as características demográficas da população com idade média de 55 anos, adotando o tratamento inicial cirúrgico, com a aplicação de procedimentos    de placa bloqueada, obtendo um desfecho funcional regular (49% com AOFAS). 

Analisando criticamente esse resultado, entendemos que as fraturas do tipo II envolvem uma fratura lateral do planalto tibial, geralmente com alguma depressão articular(4;8;11-12). Já a análise crítica do tipo IV é de que para este tipo de fratura envolvendo extensão para a região medial do planalto tibial(4-5), o bloqueio de placa adotado visou a estabilização. Os resultados funcionais são favoráveis na maioria dos casos, indicando que a abordagem cirúrgica pode ser eficaz na restauração da função articular(8;110)

No que diz respeito à análise crítica, entendemos que as fraturas do tipo V são complexas, mas o procedimento adequado utilizado da placa de bloqueio permite a restauração da estabilidade e da função da articulação(12-14). Os resultados funcionais são mais variáveis. No entanto, na amostra obtida, os desfechos funcionais se apresentaram como excelentes. 

E, por fim, analisando criticamente, entendemos que as fraturas do tipo VI são as mais severas, muitas vezes resultando em destruição extensa da superfície articular(13;15-17). A alta porcentagem de desfechos funcionais regular reflete as dificuldades em obter uma reconstrução articular funcional após uma fratura tão grave(16-17). 

Percebeu-se, a partir dos dados coletados nos prontuários que a abordagem cirúrgica com placa de bloqueio é comum devido à necessidade de restauração anatômica da superfície articular. Os resultados funcionais são de bons a excelentes na grande maioria dos casos, refletindo uma boa resposta ao tratamento cirúrgico e reconstrução adequada da articulação. 

A Redução Aberta e Fixação Interna (RAFI) é o tratamento cirúrgico mais comum para fraturas do platô tibial, especialmente para aquelas classificadas como Tipo II, Tipo III, Tipo IV, Tipo V e Tipo VI(3). O objetivo é restaurar a anatomia normal da articulação e fornecer estabilidade para promover a cicatrização adequada, com obtenção de taxas de sucesso em torno de 85% dos casos, com melhora significativa do joelho e menor taxa de complicações em comparação com outras técnicas. 

A escolha do tratamento cirúrgico para fraturas do platô tibial depende de vários fatores, incluindo o tipo e a complexidade da fratura, as condições gerais do paciente e a experiência do cirurgião. A RAFI continua a ser o tratamento padrão para a maioria das fraturas complexas. Ressalte-se que cada técnica possui suas vantagens e limitações, e a decisão sobre o tratamento deve ser personalizada com base nas necessidades específicas do paciente e nas características da fratura. 

Ficou demonstrado que 27% da amostra coletada nos prontuários, foram classificados nos Tipos I e III, o tratamento inicial foi conservador, resultando em desfechos funcionais de excelência (82% com AOFAS); e, Bom (65% com AOFAS), respectivamente. 

Não diferente, a referida Tabela, também, mostra os tratamentos iniciais adotados, procedimentos cirúrgicos realizados em 73%, utilizando a placa de bloqueio. 

As placas de bloqueio são uma opção importante no tratamento cirúrgico das fraturas do platô tibial, especialmente no contexto da classificação de Schatzker Tipo V, que envolve fraturas com deslocamento, estas são projetadas para fornecer estabilidade adicional em fraturas complexas, como as do Tipo VI, que incluem fraturas do platô tibial lateral com deslocamento. Estas placas têm características específicas que ajudam na fixação robusta e na correção da posição da fratura. 

Já as placas em L e T são projetadas para se adaptar aos contornos do platô tibial e oferecer suporte em áreas com fragmentação complexa. As placas em L e T são especialmente úteis para estabilizar fraturas que envolvem múltiplos fragmentos e que requerem suporte lateral e medial robusto. Sua indicação e vantagem é para promover uma estabilidade melhorada. Em fraturas Tipo II, que são geralmente deslocadas e envolvem fragmentação, as placas de bloqueio oferecem uma estabilidade superior em comparação com as placas de fixação convencional. Isso é crucial para manter os fragmentos ósseos na posição correta e evitar o deslocamento, facilitando a consolidação óssea(5-9;12). Bem como minimizar o deslocamento, onde o bloqueio proporcionado pelos parafusos impede que os fragmentos ósseos se movam durante o processo de cicatrização, o que é essencial para evitar o deslocamento contínuo e promover a união óssea(12)

Já o ajuste anatômico consiste em projetar as placas em L e T para seguir o contorno do platô tibial, o que proporciona um ajuste anatômico e uma distribuição uniforme das forças, ajudando na recuperação funcional do joelho(9)

A discussão da classificação de Schatzker, neste estudo, oferece uma estrutura útil para a comunicação e a tomada de decisões clínicas em fraturas do planalto tibial. No entanto, suas limitações incluem a variabilidade na interpretação interobservador e a dificuldade em prever com precisão o prognóstico funcional dos pacientes. 

A classificação de Schatzker é, provavelmente, uma das mais utilizadas em todo o mundo para o diagnóstico e planejamento pré-operatório de fraturas do planalto tibial, apesar disso ela falha em classificar as fraturas traço no plano coronal e componente posterior(18)

Embora vários estudos tenham demonstrado o seu grau de concordância inter e intraobservador, o presente estudo considerou a amostra e o número total de ferramentas utilizadas, radiografias e tomografia computadorizada. A primeira considerada com o grau de moderado, com média de coeficiente de kappa de 0,58; enquanto que a concordância intraobservador foi considerada substancial, com média de coeficiente de kappa de 0,76(3;19)

Estes resultados são comparáveis aos da literatura em geral. Outros estudos que avaliaram a concordância da classificação de Schatzker baseada em radiografias simples, encontraram resultados semelhantes aos apresentados neste estudo(3; 20-21)

A adição da tomografia nas reconstruções axial, sagital e coronal aumentou a média do coeficiente de concordância para 0,62. A adição da reconstrução tridimensional aumentou ainda mais o coeficiente de concordância para a média de 0,64. Portanto, a tomografia computadorizada incrementou a faixa de concordância entre os examinadores de moderada para substancial, de acordo com Landis e Koch (1977). Estes resultados corroboram também os achados de outros autores(3; 22)

Entendemos que a escolha da classificação apropriada para guiar o tratamento ortopédico deve considerar não apenas a estratificação da fratura, mas, principalmente, a complexidade do caso e as preferências do cirurgião, pois importante compreender que a classificação de Schatzker é uma das abordagens clássicas para categorizar fraturas do planalto tibial e tem sido amplamente utilizada na prática ortopédica há décadas(4;8)

No entanto, comparada a novas abordagens mais recentes, como a classificação AO/OTA, ela apresenta tanto vantagens quanto limitações importantes, a saber. 

Vantagens da Classificação de Schatzker: 

  1. Simplicidade e Facilidade de Uso: a classificação de Schatzker é relativamente simples, dividindo as fraturas em seis tipos principais com base na localização e extensão da fratura. Isso facilita a comunicação entre profissionais de saúde e o entendimento geral da lesão. 
  2. Ampla Aceitação e Uso Prolongado: sendo uma das primeiras classificações desenvolvidas especificamente para fraturas do planalto tibial, a classificação de Schatzker é amplamente aceita e sua aplicação foi validada ao longo do tempo por muitos ortopedistas ao redor do mundo. 
  3. Orientação Terapêutica Inicial: a classificação de Schatzker fornece uma diretriz inicial útil para a decisão terapêutica, sugerindo o tipo e a gravidade da fratura, o que pode orientar a escolha entre tratamento conservador e cirúrgico(7-8;21). 

Em relação às limitações da Classificação de Schatzker é possível mencionar: 

  1. Falta de Detalhamento Anatômico: embora seja útil para categorizar o tipo geral de fratura, a classificação de Schatzker não fornece detalhes anatômicos precisos que podem ser cruciais para o planejamento cirúrgico, como a estabilidade do fragmento e a extensão das lesões associadas. 
  2. Variação na Interpretação Interobservador: como qualquer sistema de classificação baseado em critérios subjetivos, a interpretação das características de uma fratura segundo a classificação de Schatzker pode variar entre os observadores, o que pode impactar a consistência dos registros e na tomada de decisão clínica. 
  3. Limitações na Previsão de Prognóstico: a capacidade da classificação de Schatzker de prever o prognóstico funcional nem sempre é precisa, especialmente em fraturas complexas ou casos com lesões concomitantes significativas(7-8;21)

Quanto a comparação com Abordagens Modernas (como a Classificação AO/OTA), temos o seguinte posicionamento: 

  1. Detalhamento Anatômico Aprimorado: a classificação AO/OTA considera não apenas a localização e extensão da fratura, mas também a estabilidade do fragmento, presença de lesões associadas e outros fatores anatômicos importantes, proporcionando uma visão mais completa da lesão. 
  2. Adaptação a Tecnologias e Procedimentos Atuais: abordagens mais modernas como a AO/OTA foram desenvolvidas para integrar avanços tecnológicos e procedimentos cirúrgicos contemporâneos, adaptando-se melhor às demandas da prática ortopédica atual. 
  3. Maior Precisão na Estratificação de Risco e Prognóstico: a classificação AO/OTA pode oferecer uma estratificação de risco mais precisa, ajudando na escolha do tratamento ideal e na previsão de desfechos clínicos(21-22)

Conclusão(ões) ou Considerações Finais 

Concluindo a análise do estudo, dos diferentes tipos de fraturas do planalto tibial de acordo com a classificação de Schatzker, ficou demonstrado a importância de uma abordagem individualizada no tratamento dessas lesões. Enquanto fraturas menos complexas (tipos I e III), na coleta de dados dos prontuários analisados, responderam bem ao tratamento conservador, fraturas mais complexas (tipos II, IV, V e VI) requereram intervenções cirúrgicas mais extensas, apresentando desfechos funcionais entre bom e excelente. 

Considerando o estudo observacional analisado, entendemos que a escolha do tratamento ideal deve considerar não apenas a classificação da fratura, mas, também, as características individuais do paciente e as habilidades técnicas disponíveis. E, dessa forma, este estudo observacional ofereceu uma análise crítica da aplicabilidade da classificação de Schatzker em fraturas do planalto tibial, destacando sua utilidade clínica e suas limitações, sobretudo a partir das análises radiográficas e de tomografia computadorizada. 

Fica a reflexão de que futuras pesquisas podem explorar ainda mais a validade preditiva das classificações existentes e desenvolver sistemas mais precisos que melhorem os desfechos clínicos dos pacientes com fraturas do planalto tibial, pois embora a classificação de Schatzker tenha sido uma ferramenta valiosa na ortopedia por muitos anos, ela apresenta limitações significativas em comparação com abordagens mais modernas como a classificação AO/OTA. 

A transição para sistemas de classificação mais detalhados e precisos pode melhorar a consistência na comunicação clínica, otimizar a decisão terapêutica e potencialmente melhorar os resultados clínicos para pacientes com fraturas do planalto tibial complexas. 

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1Médico. Título de Especialista em Ortopedia e Traumatologia. Vitória da Conquista-Bahia
2Médico. Título de Especialista em Ortopedia e Traumatologia. Vitória da Conquista-Bahia
3Médico. Título de Especialista em Ortopedia e Traumatologia. Vitória da conquista-Bahia
4Médico. Ortopedista. Especialista em Ortopedia Pediátrica. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Titulação aprovada em março de 2016).

autores correspondentes:
pintomarcus@bol.com.br 
elivanluz@hotmail.com
samuel.meduesb@gmail.com
eduardos_oliveira@hotmail.com