REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202503222222
Adaelle Dantas Ribeiro¹,
Davi Moura de Lacerda¹,
Daildo Farias Junior¹,
Gabriel de Medeiros Aragão²,
Gilmar dos Santos Nascimento²
RESUMO
Introdução: A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) é uma doença endêmica e de notificação compulsória no Brasil. A sua região de maior incidência é a Norte, sendo uma afecção que carece de atenção extrema, pois pode causar deformações físicas permanentes nos indivíduos acometidos, bem como consequências psicológicas. Objetivos: Traçar um perfil epidemiológico da Leishmaniose Tegumentar Americana do estado do Amazonas do ano de 2022 a 2024. Comparar as variáveis de maior incidência da LTA na área delimitada. Abordar os impactos da LTA na população amazonense. Discutir sobre medidas profiláticas da LTA. Materiais e Métodos: O estudo terá um caráter ecológico e exploratório, com dados epidemiológicos, socioeconômicos e demográficos para análise da Leishmaniose Tegumentar Americana e os seus fatores de risco. Será realizada uma avaliação epidemiológica e quantitativa a partir dos dados secundários disponibilizados pelo SINAN e IBGE referentes aos anos de 2022 a 2024. Resultados esperados: Ao observar os perfis de maior acometimento pela LTA no estado do Amazonas, será possível um maior direcionamento de recursos e medidas de intervenção por parte do governo, que será de acordo com as demandas de cada local. Assim, seria possível reduzir o aparecimento de novos casos e proporcionar um melhor preparo quanto à conduta adotada.
Palavras-chave: Leishmaniose Tegumentar Americana; Epidemiologia; Amazonas; Região Norte.
1. INTRODUÇÃO
“A leishmaniose tegumentar americana (LTA) que ocorre na Amazônia Central brasileira, é causada principalmente pelo tripanossomatídeo Leishmania guyanensis e tem como principal vetor o flebotomíneo Lutzomyia umbratilis” (CHAGAS et al., 2006).
Segundo Corrêa (2007), as infecções chamadas de leishmanioses afetam o sistema fagocítico mononuclear (SFM) que apresentam características clínicas e epidemiológicas diferentes em cada região.
De acordo com Chagas et al. (2006), a LTA é uma doença típica de áreas florestais e está associada com o extrativismo vegetal/mineral. Ademais a leishmaniose tegumentar apresenta-se como problema de saúde pública em 85 países dos 4 continentes (Europa, Américas, África e Ásia). A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a LT como uma das 6 doenças infecciosas mais importantes no mundo (BRASIL, 2017).
O ministério da saúde publicou dados do ano de 2021 que mostram a incidência média de 21000 casos/ano no Brasil. A região Norte, por sua vez, assume a liderança de casos/indivíduo. “A região Norte apresenta o maior coeficiente (46,4 casos/100.000 habitantes)” (BRASIL 2021). Dessa forma, o melhor entendimento epidemiológico sobre a LTA é fundamental, não somente pela sua vasta distribuição geográfica, mas também devido aos graves comprometimentos psicossociais no indivíduo afetado (MUNIZ; SILVA, 2009).
O Brasil ainda é uma área endêmica para a LT, tendo a região norte como a mais acometida pela doença, principalmente devido ao desmatamento, atividade extrativista e crescimento urbano não planejado (BRASIL, 2023).
Nesse contexto, percebe-se que é urgente a necessidade de pesquisas que abordem sobre o tratamento, diagnóstico e prevenção da LTA, especialmente na população com alta exposição na região geoeconômica amazônica.
É de significativa importância que sejam realizados encontros com a população local, objetivando a divulgação e explanação de métodos preventivos para que no fim, haja a inclusão dessa população e diminuindo os casos dessa problemática na região Norte (BRASIL, 2017).
A desinformação sobre a transmissão e tratamento persiste, implicando na dificuldade da elaboração de estratégias para o controle (UCHÔA et al., 2004). Assim, a desinformação sobre essa doença, deve-se em grande parte, à incidência maior em populações rurais carentes de informações, corroborando com o retardo na procura do diagnóstico e tratamento. Na maioria das áreas onde existe leishmaniose, o conhecimento sobre essa patologia é reservado às pessoas que já tiveram a própria doença ou que tiveram contato com familiares e vizinhos que contraíram.
2. DESENVOLVIMENTO
2.1 TEMA
Estudo epidemiológico da Leishmaniose Tegumentar Americana no estado do Amazonas do ano de 2022 a 2024.
2.2 PROBLEMA DA PESQUISA
Quais os determinantes e condicionantes da LTA no estado do Amazonas?
2.3 OBJETIVOS
2.3.1 Objetivo primário
Traçar um perfil epidemiológico da Leishmaniose Tegumentar Americana do estado do Amazonas do ano de 2022 a 2024.
2.3.2 Objetivos secundários
- Caracterizar os grupos de maior incidência da LTA na área delimitada.
- Abordar os impactos da LTA na população amazonense.
- Discutir sobre medidas profiláticas da LTA.
3. JUSTIFICATIVA
A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) é uma doença que possui vários agentes de reservatórios e de vetores. Por ser uma doença mais prevalente na região Norte do que nas demais regiões do país, esse projeto objetiva o estudo da incidência da LTA no estado do Amazonas, bem como seus impactos na vida dessa população. Esse estudo tem uma grande importância, por se tratar de uma doença presente principalmente em populações ribeirinhas, de maior isolamento e vulnerabilidade.
Além disso, o projeto é de extrema importância científica, visto que tem como objetivo a discussão sobre novos métodos de profilaxia voltados à realidade social, econômica e habitacional destas comunidades. Ainda, a doença a ser discutida é classificada pelo o Ministério da Saúde do Brasil, como uma das doenças tropicais de maior importância clínica e epidemiológica. Essa pesquisa irá contribuir para a melhoria de situações de saúde das populações ribeirinhas e isoladas da zona urbana, permitindo uma maior condição de vida para elas. Ao discutir sobre a LTA, será possível produção de conhecimento, esclarecimento e inúmeros benefícios diante desse cenário pouco explorado.
Dessa forma, é relevante a escolha do tema, pois a Leishmaniose Tegumentar Americana é uma afecções dermatológicas que merece atenção devido a seu risco de produzir deformidades nos portadores da doença, o que pode afetar o indivíduo em diversas esferas, como no âmbito psicológico, social e econômico.
4.REFERENCIAL TEÓRICO
4.1 DEFINIÇÃO
A leishmaniose tegumentar americana (LTA) é uma doença de caráter zoonótico que acomete o homem e espécies de animais silvestres e domésticos. Ela pode se manifestar através de diferentes formas clínicas e pode ser considerada uma enfermidade polimórfica e espectral da pele e das mucosas (PEREIRA, 2022).
4.2 IMPORTÂNCIA
As doenças tropicais são um grande problema de saúde pública, as quais afetam inúmeros países, causando milhares de mortes anualmente (OMS, 2019). No ano de 2019, foram registrados um total de 277.058 novos casos globais de Leishmaniose Tegumentar Americana (OMS, 2021). Dessa forma, é válido citar que, no Brasil, as doenças tropicais mais prevalentes são a Malária, a dengue, a Doença de Chagas e a Leishmaniose, caracterizadas como doenças infecciosas de difícil prevenção e tratamento (ROSÁRIO et. al, 2017).
De acordo com ROSÁRIO et. al (2017, p. 118), “As Doenças Tropicais Negligenciadas assumiram características relevantes, pois afetaram crianças, homens, usuários com baixa escolaridade e moradores de áreas urbanas. A distribuição espacial possibilitou leitura objetiva dos locais que necessitam de maior suporte de políticas públicas, recomendando-se cuidado especial à leishmaniose visceral, à leishmaniose tegumentar americana e à dengue.”
Assim, a LTA é um problema de saúde pública que constitui uma doença tropical negligenciada com implicações que podem variar de acordo com a condição socioeconômica do indivíduo. Essa doença deve ser abordada como um tema relevante e pertinente, sendo indispensável uma abordagem epidemiológica no desenvolvimento de pesquisas em saúde, para que sejam identificadas as variáveis de maior incidência e aplicadas medidas de prevenção.
4.3 AGENTE ETIOLÓGICO
Traçar o perfil epidemiológico é fundamental para conhecer a resposta imunológica que será desenvolvida e como será o quadro clínico apresentado pelo indivíduo infectado, de modo a caracterizar a forma de manifestação da LTA.
Atualmente são conhecidas várias espécies de Leishmania que causam a leishmaniose tegumentar e um elevado número de amostras deste parasito ainda não estão caracterizadas, como Leishmania (Viannia) braziliensis, Leishmania (Viannia) guyanensis, Leishmania (Viannia) lainsoni, Leishmania (Viannia) shawi, Leishmania (Viannia) naiffi e Leishmania (Leishmania) amazonensis. O curso desenvolvimento da infecção nos animais, incluindo os humanos, varia de acordo com espécie de Leishmania, de características genéticas e da resposta imune do hospedeiro, o que irá determinar o quadro clínico do infectado (PEREIRA, 2022).
4.4 TRANSMISSÃO
De acordo com PEREIRA, 2022, “A transmissão ocorre pela picada de insetos hematófagos pertencentes ao gênero Lutzomyia conhecidos no Brasil por birigui, mosquito-palha, cangalhinha e tatuquira, entre outros. Ao exercer o hematofagismo, a fêmea do flebotomíneo corta com suas mandíbulas o tecido subcutâneo logo abaixo da epiderme, formando sob esta um afluxo de sangue, onde são depositadas as formas promastigotas metacídicas provenientes da região anterior do trato digestório do inseto.”
A LTA é uma doença infecciosa e não contagiosa, transmitida pela picada da fêmea de alguns insetos hematófagos.
4.5 MANIFESTAÇÕES
São diversas as formas de manifestação da LTA, sendo importante identificar cada forma clínica para que seja realizado o manejo e conduta pertinentes ao quadro, de acordo com a necessidade.
Apesar da ampla variedade de formas clínicas encontrada em pacientes com LTA, podemos agrupá-las em três tipos básicos: leishmaniose cutânea (LC), leishmaniose cutâneo mucosa (LCM) e leishmaniose cutânea difusa (LCD) (PEREIRA, 2022).
A Leishmaniose Cutânea é definida pela presença de úlceras únicas ou múltiplas, presentes apenas na derme com a epiderme ulcerada. Essas lesões resultam em úlceras leishmanióticas típicas ou podem evoluir para outros tipos vegetantes verrucosos ou flamboesiformes. Durante as fases iniciais, há a presença de grande densidade de parasitos nas bordas da úlcera, com tendência à diminuição nas úlceras crônicas. Em pacientes imunossuprimidos (AIDS) há uma variação da forma cutânea, definida como Leishmaniose Cutânea-Disseminada (PEREIRA, 2022).
A Leishmaniose Cutâneomucosa (LCM) é conhecida também como: espundia e nariz de anta. O agente etiológico dessa forma clínica é a L. braziliensis. O desenvolvimento da infecção durante as fases iniciais é semelhante à Leishmaniose Cutânea. A diferença entre as duas formas é o envolvimento de mucosas e cartilagens pela LCM, que afeta principalmente o nariz, a faringe, boca e laringe (PEREIRA, 2022).
Já a Leishmaniose Cutânea Difusa (LCD), é definida a partir da formação de lesões difusas, mas não ulceradas por toda a pele. Essas lesões contém um grande número de amastigotas. A LDC é desencadeada por parasitos pertencentes ao subgênero Leishmania, cujo agente etiológico no Brasil é o L. amazonensis. No início dessa infecção há a formação de uma úlcera única e durante as metástases do parasito, de um sítio para outro, através do sistema linfático ou de migração de macrófagos parasitados, se dá a multiplicidade de lesões (PEREIRA, 2022).
5. METODOLOGIA
5.1 METODOLOGIA COLETA DE DADOS
Será realizado um estudo ecológico e exploratório, com dados epidemiológicos, socioeconômicos e demográficos para análise da Leishmaniose Tegumentar Americana e os seus fatores de risco.Trata-se de um estudo quantitativo onde para a captação dos dados de casos de LTA. Para as análises epidemiológicas em pacientes acometidos com a LTA e o número total de casos da doença no estado do Amazonas irá ser utilizada a plataforma online disponível no SINAN através da interface “Tabnet” do departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil, de acordo com a Portaria nº 4, de 28 de setembro de 2017. Já os dados referentes às variáveis sociodemográficas (população amazonense) e cartográficas serão obtidas no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O referencial teórico será produzido a partir de revisões bibliográficas nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (Scielo) e National Library of Medicine (PUBMED). Assim para o desenvolvimento do trabalho foram estabelecidas etapas para a execução do artigo sendo estas a definição do tema elencando seus critérios de inclusão e exclusão a busca de informações assertivas com critérios específicos orientados em relação ao tema bem como a análise e interpretação dos resultados obtidos para a produção do artigo. Foram aplicados filtros para que para que fossem considerados somente os artigos disponíveis na íntegra, em português, inglês e espanhol no período entre 2017 a 2024. Ainda, a elaboração do referencial limitou-se à temática da Leishmaniose Tegumentar Americana e a sua prevalência no estado do Amazonas, recorrendo a artigos e livros publicados, dada a sua notoriedade nacional. Também foi utilizado um livro de renome na área da parasitologia de acordo com a temática abordada do ano de 2022.
É importante destacar que este artigo não necessitou de aprovação em comitê de ética em pesquisa (CEP), por se tratar de um estudo de revisão (Resolução nº 510 de abril de 2016 do Comitê Local).
5.1.1 Critério de Inclusão
O estudo irá considerar o período de 2022 a 2024, de acordo com as seguintes variáveis epidemiológicas: número de casos notificados no período proposto, sexo (masculino e feminino), etnia (ignorada, branca, preta, amarela, parda e indígena), faixa etária (<10 anos e ≥10 anos), escolaridade, forma de manifestação, tipo de entrada e evolução da doença.
5.1.2 Critério de Exclusão
Serão excluídas as macrorregiões de saúde de notificação, bem como a divisão administrativa estadual de residência e de notificação.
5.1.3 Riscos
Não serão riscos significativos, já que o estudo utilizará dados secundários de acesso público, como os dados do IBGE e do SINAN. No entanto, por serem dados secundários há risco de subnotificação.
5.1.4 Benefícios
Ao analisar os dados epidemiológicos, socioeconômicos e demográficos da Leishmaniose Tegumentar Americana, no estado do Amazonas, será possível observar os locais de maior incidência de LTA, de modo que seja possível propor medidas preventivas e um maior direcionamento quanto a políticas de saúde pública que proponham um tratamento eficaz para os indivíduos acometidos por essa doença, de modo a reduzir sequelas físicas e psicológicas.
5.2 METODOLOGIA DA ANÁLISE DE DADOS
5.2.1 Desfecho Primário
Não se aplica.
5.2.2 Desfecho Secundário
Não se aplica.
5.3 Público Alvo e Tamanho da Amostra
De acordo com o IBGE, a estimativa da população residente no Amazonas no ano de 2024 era de 4.281.209 habitantes. O levantamento foi realizado em julho de 2024 e apresenta 339.596 habitantes a mais que o censo de 2022 (IBGE, 2024).
Os dados serão retirados da base de dados (SINAN) de acordo com o ano de diagnóstico e o ano de notificação da LTA no estado do Amazonas.
6. RESULTADOS
Os dados apontam que entre os anos de 2022 e 2024 foram notificados um total de 2.897 casos de Leishmaniose Tegumentar Americana no estado do Amazonas, onde foram 885 (30,54%) no ano de 2022, 1.376 (47,49%) em 2023 e 636 (21,95%) em 2024.
Figura 1. Casos confirmados de LTA no Amazonas segundo ano de notificação.

Fonte: Ministério da Saúde/SVSA – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net
FORMA DE MANIFESTAÇÃO
Observou-se o predomínio da forma cutânea, correspondente a 95,06% dos casos (2.754), enquanto a forma mucosa representou apenas 4,93% (143).
Figura 2. Casos confirmados de LTA no Amazonas conforme a forma de manifestação e ano de notificação.

Fonte: Ministério da Saúde/SVSA – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net
ETNIA
Quanto ao critério da etnia dos indivíduos que apresentaram a doença, 173 se autodeclararam como brancos (5,97%), 80 como pretos (2,76%), 12 como amarelos (0,41%), 2.291 como pardos (79,08%), 217 como indígenas (7,49%) e 124 não responderam ao quesito (8,31%).
Figura 3. Casos confirmados de LTA no Amazonas de acordo com a etnia e o ano de notificação.

Fonte: Ministério da Saúde/SVSA – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net
SEXO
Quanto ao sexo, há predominância de acometimento no sexo masculino, com 2.266 casos (78,21%) em relação ao feminino, com 631 casos (21,78%).
Figura 4. Casos confirmados de LTA no Amazonas segundo sexo e ano de notificação.

Fonte: Ministério da Saúde/SVSA – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net
IDADE
De acordo com a faixa etária, foram contabilizados 140 indivíduos menores de 10 anos (4,83%), 2.757 com idade igual ou superior a 10 anos (95,16%).
Figura 5. Casos confirmados de LTA no Amazonas de acordo com a faixa etária e o ano de notificação.

Fonte: Ministério da Saúde/SVSA – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net
EVOLUÇÃO
Nesse contexto, a evolução dos pacientes cujos casos foram confirmados e notificados para Leishmaniose Tegumentar Americana deu-se da seguinte forma: 444 não preencheram a categoria (15,32%), 2.350 foram curados (81,11%), 66 abandonaram (2,27%), 1 óbito foi registrado por LTA (0,034%), 7 óbitos por outras causas (0,24%), 24 transferências (0,82%) e 5 mudanças de diagnóstico (0,17%).
Figura 6. Casos confirmados de LTA no Amazonas por evolução do caso segundo ano de notificação.

Fonte: Ministério da Saúde/SVSA – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net
TIPO DE ENTRADA
Já considerando o tipo de entrada/registro na base de dados, em 2022 foram registrados 806 casos novos, 45 recidivas e 34 não preencheram a categoria, totalizando 885 casos confirmados de LTA (30,54%). No ano de 2023 houveram 1.303 casos novos, 47 recidivas e 26 não preencheram a categoria, somando 1.376 casos confirmados (47,49%). Ainda, em 2024 ocorreram 585 casos novos, 44 recidivas e 67 não preencheram adequadamente a categoria, totalizando 636 casos (21,95%).
Tabela 1. Casos confirmados de LTA no Amazonas conforme tipo de entrada (novos casos, recidiva e ignorado).

Fonte: Ministério da Saúde/SVSA – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net
ESCOLARIDADE
Foram registrados 63 analfabetos (2,17%), 322 da 1° até a 4° série (11,11%), 135 da 4° série completa do ensino fundamental (4,65%), 529 da 5° a 8° série incompleta do ensino fundamental (18,26%), 254 do ensino fundamental completo (8,76%), 313 do ensino médio incompleto (10,8%), 600 do ensino médio completo (20,71%), 30 da educação superior incompleta (1%), 43 da educação superior completa (1,48%), 79 não se aplica (2,72%), 439 não preencheram (15,15%).
Figura 7. Casos confirmados de LTA no Amazonas por escolaridade segundo ano de notificação.

Fonte: Ministério da Saúde/SVSA – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net
7. DISCUSSÃO
É possível observar uma variação no número de casos de Leishmaniose Tegumentar Americana no estado do Amazonas entre 2022 e 2024. Essa identificação de casos mostra um aumento significativo em 2023, com 47,5% dos casos registrados nesse ano, e uma queda em 2024, com 21,95% dos casos. Tal variação pode indicar uma variabilidade na incidência da doença, mudanças nos programas de vigilância e até mesmo fatores ambientais e epidemiológicos. Prova disso, é o fato dos números de casos notificados de Leishmaniose Tegumentar durante períodos de desmatamento, segundo o artigo publicado pelo The Neotropical Leishmania Species. Além disso, a falta de monitoramento em áreas florestais de difícil acesso dificulta a precisão de resultados e intervenções mais objetivas.
Ademais, a maioria dos casos registrados entre 2022 e 2024 corresponde à Leishmaniose cutânea, com 95,06% (2.754 casos), e a forma mucosa representou uma parcela significativamente menor, com aproximadamente 4,94% (143 casos), conforme o Ministério Da Saúde. Isso indica que a Leishmaniose cutânea é a forma predominante da doença na região, o que é comum em muitas áreas endêmicas, já que a forma cutânea é mais diagnosticada devido aos sintomas visíveis, como lesões na pele. Já a forma mucosa, embora seja mais grave em termos de complicações, ocorre com menos frequência e pode ser mais difícil de diagnosticar. Essas características são importantes para direcionar as estratégias de prevenção e tratamento, visto que a forma cutânea, por ser mais diagnosticada, pode exigir uma abordagem mais ampla e intensiva para o controle adequado, segundo o Manual de Vigilância da Leishmaniose Tegumentar.
Diante da distribuição étnica de indivíduos que apresentaram a leishmaniose tegumentar americana, a maioria se concentra entre pessoas que se autodeclaram como pardos (79,08%), seguidos de brancos (5,97%), pretos (2,76%), indígenas (7,49%), e amarelos (0,41%), além de 8,31% de indivíduos que não responderam ao quesito étnico, segundo dados do Ministério da Saúde e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Essas informações podem ser úteis para entender a prevalência da doença dentro de diferentes grupos étnicos, sendo importante considerar fatores como localização geográfica, acesso a cuidados de saúde e condições socioeconômicas, que podem influenciar o risco de contrair a doença.
Quanto ao sexo, há predominância de acometimento no sexo masculino, com 2.266 casos (78,21%) em relação ao feminino, com 631 casos (21,78%). Essa diferença na prevalência entre os sexos, segundo estudos publicados pela revista Pan-Amazônica de Saúde, sugerem que os homens podem estar mais expostos ao risco de infecção devido a atividades trabalhistas em áreas endêmicas, como trabalho rural ou em regiões de vegetação densa, onde a presença de mosquitos transmissores é maior. Além disso, fatores comportamentais como a falta de proteção contra picadas de mosquitos, como o uso de repelentes, e possivelmente um diagnóstico mais tardio nas mulheres, por razões culturais ou relacionadas ao acesso aos serviços de saúde, também podem influenciar a maior incidência entre os homens nas atividades ao ar livre. Já de acordo com a faixa etária, foram contabilizados 140 indivíduos menores de 10 anos (4,83%), 2.757 com idade igual ou superior a 10 anos (95,16%), segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação. A grande maioria dos casos de leishmaniose tegumentar americana ocorre em indivíduos com idade igual ou superior a 10 anos, o que pode refletir o aumento da exposição a ambientes de risco com o passar dos anos, como atividades ao ar livre em regiões endêmicas. A incidência mais baixa entre os menores de 10 anos pode ser influenciada por fatores como menor exposição a áreas com risco de transmissão ou até mesmo maior proteção por parte dos cuidadores, que limitam o contato das crianças com essas áreas.
No que se refere a evolução dos casos de leishmaniose tegumentar americana (LTA) nos pacientes confirmados e notificados, foi possível constatar, segundo o Ministério da Saúde, que 444 casos (15,32%) não preencheram a categoria, isso pode se referir a registros incompletos ou falta de informações sobre a evolução do caso, 2.350 casos (81,11%) de curados, o que indica uma alta taxa de sucesso do tratamento, considerando que a leishmaniose tegumentar americana é tratável com o uso de medicamentos adequados, 66 casos (2,27%) abandonaram o tratamento, um número pequeno, mas que ainda reflete a importância de garantir a adesão ao tratamento para evitar recaídas ou agravamento da doença, 1 caso de óbito registrado por LTA (0,034%), que é considerado extremamente baixo e sugere que, quando tratada adequadamente, a doença tem uma taxa de mortalidade muito reduzida, 7 casos (0,24%) de óbitos por outras causas, indicando que alguns pacientes que foram diagnosticados com LTA faleceram por outras razões, e não pela doença em si, 24 casos (0,82%) por transferências, visto que alguns pacientes foram transferidos para outras unidades de saúde ou regiões, o que pode ser comum em sistemas de saúde onde os recursos são distribuídos entre diferentes locais e 5 casos (0,17%) devido mudanças de diagnóstico, podendo indicar casos em que, após mais exames ou avaliação clínica, o diagnóstico inicial foi revisado, o que é possível dado que outras doenças podem ter sintomas semelhantes à leishmaniose.
Com relação ao tipo de entrada/registro na base de dados, em 2022 foram registrados 806 casos novos, 45 recidivas e 34 casos que não preencheram a categoria, totalizando 885 casos confirmados de LTA (30,54%), em 2023 com 1.303 casos novos, 47 recidivas e 26 não preencheram a categoria, somando 1.376 casos confirmados (47,49%), e em 2024 com 585 casos novos, 44 recidivas e 67 não preenchidos adequadamente a categoria, totalizando 636 casos (21,95%), segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Nesse viés, é constatado que a variação é influenciada por transições na incidência da doença, mudanças nos programas de vigilância e fatores ambientais e epidemiológicos, sendo caracterizada por um pico de novos casos em 2023 e após isso uma diminuição gradativa dos casos notificados.
8. CONCLUSÃO
Dessa forma, a prevalência da Leishmaniose Tegumentar Americana é maior no sexo masculino (78,21%), idade ≥10 anos (95,16%), pardos (79,08%). De acordo com os dados de escolaridade, a maior parcela da população que preencheu os dados de escolaridade, não terminou o 2º grau completo (70,51%). Esse dado demonstra, que a falta de informação sobre a Leishmaniose Tegumentar Americana corrobora com a infecção pelo parasita. A maioria dos indivíduos evoluiu para a cura (81,11%), enquanto houve apenas 1 óbito confirmado causado pela LTA (0,034%). Há predomínio de manifestação da forma clínica cutânea (95,06%) em relação à forma mucosa.
A infecção pelos protozoários do gênero Leishmania pode levar a úlceras de pele e mucosa deformantes, afetando a qualidade de vida dos indivíduos. Além disso, foram notificados 2897 casos de Leishmaniose Tegumentar Americana entre os anos de 2022 e 2024, representando desafios à saúde pública do Amazonas. Embora venha apresentando transformações significativas nos aspectos epidemiológicos, ainda se encontra dificuldades no combate ao vetor da doença, bem como na profilaxia, assistência e identificação da população mais exposta à enfermidade. Dessa forma, o estudo epidemiológico é de extrema relevância para rastrear os principais grupos acometidos pela LTA, de modo que possam ser criadas medidas de prevenção e de controle desse cenário. Ainda, contribui para ações educativas e de promoção à saúde, visando a conscientização e proteção dos indivíduos, principalmente daqueles que estão mais vulneráveis a essa doença.
9. REFERÊNCIAS
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UCHÔA, Claudia Maria Antunes; et al. Educação em Saúde: Ensinando Sobre a Leishmaniose Tegumentar Americana. Caderno de Saúde Pública. Rio de Janeiro. 2004. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/csp/a/yz5d5Y5JmXPsVfVRJGLMrsF/?lang=pt&format=pdf>. Acesso em: 12 de março de 2024.
¹Adaelle Dantas Ribeiro, Davi Moura de Lacerda e Daildo Farias Junior são estudantes de Medicina na Faculdade Metropolitana- União de Ensino Superior da Amazônia Ocidental- UNNESA
²Professores Gabriel de Medeiros Aragão e Gilmar dos Santos Nascimento, Faculdade Metropolitana- União de Ensino Superior da Amazônia Ocidental- UNNESA