ESTUDO DO DESCARTE RESIDENCIAL DE MEDICAMENTOS VENCIDOS E SEU IMPACTO AMBIENTAL EM SÃO LUÍS – MA

STUDY OF RESIDENTIAL DISPOSAL OF EXPIRED MEDICINES AND ITS ENVIRONMENTAL IMPACT IN SÃO LUÍS – MA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10292365


Raimundo Romualdo Pereira Campos1
Paulo de Tarso Silva Barros2


Resumo

Os resíduos sólidos urbanos constituem uma preocupação mundial, uma vez que coletados e manejados inadequadamente provocam impactos negativos. Destaca-se os medicamentos que, quando descartados incorretamente, podem ser prejudiciais ao meio ambiente e à saúde do homem. Este estudo objetivou investigar o descarte residencial de medicamentos vencidos e seu impacto ambiental entre moradores da cidade de São Luís – MA. Trata-se de um estudo epidemiológico observacional analítico transversal. A coleta de dados foi realizada por meio de ampla divulgação de questionários, via Google Forms e a distribuição deu por meio eletrônico, como redes sociais, e-mail e sites. A amostra do estudo foi constituída de 137 participantes. Os resultados demonstraram que62% eram do sexo feminino, 40,2% estavam com idade entre 18 a 29 anos, 48,2% solteiros e 58,4% tinham ensino superior. Com relação a compra de remédios sem prescrição médica, 73,7% afirmaram esse questionamento. Referente ao armazenamento dos medicamentos, observa-se que 87,6% possuem o costume de armazenar em casa, 64% realizam o armazenamento o medicamento na caixa original e com a bula e 49,3% deixam os fármacos no quarto.  Quanto aos aspectos dos medicamentos, 86,9% possuem o costume de verificar a data de validade dos medicamentos e 66,4% também tem costume de verificar o odor, cor e integridade dos fármacos. Sobre o descarte dos medicamentos 65,7% sabem como fazer o descarte dos medicamentos, sendo que 44,4% relataram que o local correto para descarte no lixo doméstico. Entre os tipos de medicamentos mais descartados, 42% analgésicos, seguidos de antibióticos (29%). E 69% relatam que impactos ambientais são o reflexo do descarte incorreto dos medicamentos, seguido pela intoxicação de terceiros (23%). Conclui-se que o  conhecimento  e  comportamento autorreferidos evidenciam fragilidades que podem comprometer a saúde pública e ambiental, logo, existe a necessidade  de mais ações das políticas públicas que tratem apenas desse assunto.

Palavras-chave: Resíduos sólidos urbanos. Medicamentos. Descartes.

Abstract

 Urban solid waste is a global concern, as inadequately collected and managed waste causes negative impacts. We highlight medicines that, when discarded incorrectly, can be harmful to the environment and human health. This study aimed to investigate the residential disposal of expired medicines and their environmental impact among residents of the city of São Luís – MA. This is a cross-sectional analytical observational epidemiological study. Data collection was carried out through the wide dissemination of questionnaires via Google Forms and distribution was carried out electronically, such social networks, e-mail and websites. The study sample consisted of 137 participants. The results showed that 62% were female, 40.2% were aged between 18 and 29 years old, 48.2% were single and 58.4% had higher education. Regarding the purchase of medicines without a prescription, 73.7% stated this question. Regarding the storage of medicines, it is observed that 87.6% have the habit of storing them at home, 64% store the medicines in the original box and with the leaflet and 49.3% leave the medicines in the room. Regarding aspects of medicines, 86.9% have the habit of checking the expiration date of medicines and 66.4% also have the habit of checking the odor, color and integrity of drugs. Regarding the disposal of medicines, 65.7% know how to dispose of medicines, with 44.4% reporting that the correct place for disposal is in the household waste. Among the most discarded types of medication, 42% were analgesics, followed by antibiotics (29%). And 69% report that environmental impacts are a reflection of the incorrect disposal of medicines, followed by the poisoning of third parties (23%). It is concluded that self-reported knowledge and behavior highlight weaknesses that can compromise public and environmental health, therefore, there is a need for more public policy actions that deal only with this issue.

Keywords: Urban solid waste. Medicines. Descartes

1 INTRODUÇÃO

Os resíduos sólidos urbanos referem-se a materiais produzidos pela ação humana, que segundo NBR 15849 (ABNT, 2010) define RSU como resíduos que são derivados de casa domiciliares, serviços de limpeza urbana, pequenos estabelecimentos comerciais, industriais e de prestação de serviços, que estejam incluídos no serviço de coleta regular de resíduos e, que tenham características similares aos resíduos sólidos domiciliares.” (ABNT, 2020).

O consumo populacional, o estilo de vida da sociedade e os modos de produção possuem alterações de acordo com o crescimento da população, dos avanços tecnológicos, do desenvolvimento econômico e da urbanização. Nos centros urbanos, existe o aumento de produção de resíduos sólidos, de quantidade e diversidade. Contudo, o crescimento da quantidade da produção de resíduos nos últimos tempos passou a abrigar nos seus compostos elementos sintéticos, que para a saúde da população, e  para os ecossistemas é mais perigoso, pelas novas tecnologias avançadas e incorporadas no dia a dia (NERES et al., 2022).

De acordo com a pesquisa da ABRELPE (2020), a geração total de resíduos sólidos urbanos no Brasil, em 2019 foi de aproximadamente 78,6 milhões de toneladas. A mesma pesquisa relata que na região Nordeste, os 1.794 municípios dos nove Estados da região geraram, em 2019, a quantidade de 55.177 toneladas/dia de RSU, das quais 78,5% foram coletadas, o índice mais baixo em comparação as outras regiões (ABRELPE, 2020).

Entre os RSU, destacam-se os medicamentos, cujo descarte é considerado um desafio mundial, visto que representa uma ameaça a saúde humana e para o ambiente. A presença de fármacos no ambiente, sobretudo antibióticos, estrogênios, antineoplásicos e os imunossupressores, podem ocasionar subprodutos com grande potência tóxica de difícil decomposição, com decorrências teratogênicos, mutagênicos e carcinogênicos no ser humano e também nos animais (CONSTANTINO et al., 2020).

Na América Latina, o Brasil é um dos principais mercados de medicamentos, além do México, Colômbia e Argentina, com mais de duzentos laboratórios farmacêuticos regularizados (TASSARA et al., 2021). Tais dados e estimativas apontam que o Brasil pode alcançar uma posição entre os cinco principais mercados farmacêuticos globais atualmente liderados por EUA, China, Japão e Alemanha. Globalmente, o comércio e a indústria farmacêutica brasileira é apenas uma fração de um mercado global, mas ainda é um mercado com crescimento significativo. Nesse contexto, maiores vendas e consumo implicam em maiores quantidades de produtos químicos entrando no meio ambiente (FREITAS; RADIS-BAPTISTA, 2021).

O armazenamento de medicamentos em casa promove a automedicação, o que resulta em uma variedade de consequências adversas, como, por exemplo, a incidências de resistência a medicamentos, risco de toxicidade, poluição ambiental e dosagem incompleta (MICHELON et al., 2019).  É importante lembrar que, nos lares brasileiros, a existência da farmácia domiciliar é um fato bastante comum, justificando como “farmácia domiciliar” para casos de necessidade. Dentre os fatores da criação da farmácia domiciliar estão a venda de medicamentos em quantidades superiores às prescrições médicas, erros de prescrição e dispensação ou alterações sucessivas de tratamentos e amostras grátis (TASSARA et al., 2021).

Embora existam opções para o descarte de medicamentos não utilizados, muitos consumidores mantêm os medicamentos em seu poder por desconhecimento de como descartá-los adequadamente. Além disso, que a forma de descarte mais utilizada é principalmente o lixo, o vaso sanitário ou a pia (QUADRA et al., 2019). De acordo com a Agência de Nacional de Vigilância Sanitária e Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABIDI), estima-se que cerca de 10,3 mil toneladas anualmente de resíduos de medicamentos e não tem descarte correto (SANTOS et al., 2022).

O descarte inadequado de medicamentos, sobretudo no lixo comum ou na rede de esgoto, tem como consequência a contaminação o solo, as águas superficiais, como em rios, lagos e oceanos e águas subterrâneas, nos lençóis freáticos. Os compostos químicos dos medicamentos, quando expostas a condições adversas de umidade, temperatura e luz podem tornar em substâncias tóxicas e afetar o equilíbrio do meio ambiente, modificando ciclos biogeoquímicos, intervindo nas teias e cadeias alimentares (ROCHA et al., 2018).  Exemplos disso seria o caso dos antibióticos que, quando descartados inadequadamente, favorecem o surgimento de bactérias resistentes, além dos hormônios usados para reposição ou presentes em anticoncepcionais, que afetam o sistema reprodutivo de organismos aquáticos, podem feminizar os peixes machos (PINTO et al., 2014).

Cumpre ressaltar que a distribuição de amostras grátis por parte dos laboratórios, por meio de seus representantes, sem saberem da sua real utilização acaba por ampliar a quantidade de medicamentos vencidos. Muitos países ainda carecem de regulamentação efetiva sobre o descarte de medicamentos, sendo que as leis brasileiras, por exemplo, regulamentam a produção industrial de medicamentos, porém, não incluem descarte adequado pelo consumidor final (KAHSAY et al., 2020).

Diante do exposto, no Brasil, as leis que tratam do gerenciamento de resíduos hospitalares são recentes e possuem lacunas que podem favorecer o descumprimento da lei por parte do público em geral ou fabricantes das instalações e indústria farmacêutica (KAHSAY et al., 2020). Farmácias e drogarias não são obrigadas a receber medicamentos de uso doméstico desnecessários, exceto aqueles localizados em cidades com mais de cem mil habitantes. Assim, em geral, em cidades pequenas, o gerenciamento e descarte de resíduos de medicamentos ainda se dá de forma pessoal, desorientada e praticamente inadequada (FREITAS; RADIS-BAPTISTA, 2021).

Nesse sentido, justifica-se a realização desse estudo, visto que embora muitos países ainda não tenham protocolos adequados para descarte de medicamentos não utilizados, como o Brasil, é fundamental que a população tenha consciência das consequências para o meio ambiente devido ao ato inadequado. Nesse sentido, justifica-se a realização desse estudo, pois acredita-se que o consumo consciente de medicamentos, a correta realização dos tratamentos médicos, a redução da automedicação e a destinação adequada desses compostos são significativos para a mitigação dos impactos ambientais causados por poluição farmacêutica.

Este estudo é relevante, visto que a maioria da população brasileira não possui conhecimento de que RSU do tipo medicamentos tem substâncias que lesam à saúde e realizam o seu despejo de qualquer forma. Nesse sentido, qualquer  medicamento  é  considerado  resíduo  químico,  portanto é necessário que a população seja informada de forma correta sobre a destinação de medicamentos inutilizados ou vencidos, para prevenir um impacto ao meio ambiente e a saúde de todo. Portanto, este estudo objetivou investigar o descarte residencial de medicamentos vencidos e seu impacto ambiental entre moradores da cidade de São Luís – MA.

2 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo epidemiológico observacional analítico transversal. A coleta de dados foi realizada por meio de ampla divulgação de questionários, via Google Forms (plataforma online e gratuita). O questionário foi composto por: localização de residência, idade, sexo, escolaridade, estado civil e renda familiar. Além disso, questões específicas sobre automedicação, classes de medicamentos mais consumidos e forma de descarte foram incluídos.

O estudo foi realizado com uma população variada na cidade de São Luís – MA e a distribuição se deu por meio eletrônico, como redes sociais, e-mail e sites. Com relação ao critério de inclusão foi: pessoas maiores de 18 anos e que assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O único critério de exclusão foi os questionários não estiverem todas as perguntas respondidas. A amostra foi realizada de forma aleatória, totalizando 137 participantes. Os participantes foram informados sobre os objetivos, no qual se deu seu consentimento através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), bem como a confidencialidade de suas respostas, no intuito de evitar constrangimentos futuros. Os dados investigados foram, primeiramente, tabulados no programa Excel.

3 RESULTADOS

Com relação ao perfil dos participantes, observou-se que 62% eram do sexo feminino, 40,2% estavam com idade entre 18 a 29 anos, 48,2% solteiros e 58,4% tinham ensino superior, como demonstra a tabela 1.

Tabela 1 – Distribuição dos participantes, segundo o perfil sociodemográfico. São Luís, 2023.

Com relação a compra de remédios sem prescrição médica, verifica-se que 73,7% afirmaram esse questionamento, como mostra o gráfico 1.

Gráfico 1 – Distribuição dos participantes, segundo compra de remédios sem prescrição médica. São Luís, 2023.

Na tabela 2, com relação ao armazenamento dos medicamentos, observa-se que 87,6% possuem o costume de armazenar em casa, 64% realizam o armazenamento o medicamento na caixa original e com a bula e 49,3% deixam os fármacos no quarto.

Tabela 2 – Distribuição dos participantes, segundo o armazenamento dos medicamentos. São Luís, 2023.

Quanto aos aspectos dos medicamentos (Tabela 3), 86,9% possuem o costume de verificar a data de validade dos medicamentos e 66,4% também tem costume de verificar o odor, cor e integridade dos fármacos.

Tabela 3 – Distribuição dos participantes, segundo o aspecto dos medicamentos. São Luís, 2023.

Sobre o descarte dos medicamentos (Tabela 4), 65,7% ressaltam que sabem como fazer o descarte dos medicamentos, sendo que 44,4% relataram que o local correto para descarte no lixo doméstico.

Tabela 4 – Distribuição dos participantes, segundo o descarte dos medicamentos. São Luís, 2023.

No gráfico 2, observa-se que entre os tipos de medicamentos mais descartados, 42% analgésicos, seguidos de antibióticos (29%).

Gráfico 2 – Distribuição dos participantes, segundo tipos de medicamentos mais descartados. São Luís, 2023.

 No gráfico 3, verificou-se 69% relatam que impactos ambientais são o reflexo do descarte incorreto dos medicamentos, seguido pela intoxicação de terceiros (23%).

Gráfico 3 – Distribuição dos participantes, segundo os impactos do descarte incorreto dos medicamentos. São Luís, 2023.

4 DISCUSSÃO

De acordo com o perfil dos participantes, os dados são semelhantes com o estudo de Queiroz e Pontes (2021) que investigaram o perfil de conduta da população de Trindade quanto ao descarte de medicamentos vencidos e em desuso, sendo que dos 100 participantes, observaram que 75% pertenciam ao sexo feminino, 26% apresentavam idades entre 22 e 25 anos (26%) e 43% tinham o nível superior.

Corroborando também com a pesquisa de Linhares, Carvalho e Frias (2020) avaliaram o avaliar o nível de conhecimento da população de Santa  Rita  do  Araguaia,  GO,  sobre  o  descarte  de  medicamentos, verificaram que com relação ao perfil, dos 105  pacientes, 66,7%  eram  mulheres,  40% possuíam idade acima de 42 anos e 42,8% ensino superior.

No estudo observou também que a maioria dos participantes compram remédios sem prescrição médica. Semelhante com o estudo de Nascimento et al. (2022) analisaram a automedicação em tempos de pandemia de COVID-19 na população de algumas cidades da Paraíba, verificaram que dos 302 participantes, 95,7% relataram que usam medicamentos sem receita. De acordo com o Conselho Federal de Farmácia (CFF, 2019) cerca de 77% dos brasileiros possuem o hábito de automedicar e que fizeram utilização de medicamentos nos últimos seis meses.

No estudo de Barbosa e Resende (2018) com 50 moradores da cidade de  Cordisburgo/MG, verificaram que 100% possuem o hábito de se automedicarem e 70% desses interromperam a utilização após o desaparecimento dos sintomas, podendo ocasionar o desenvolvimento da resistência medicamentosa. Silvia e Quintilio (2021) ressaltam que a utilização indiscriminada de fármacos pode ocasionar um diagnóstico incorreto, com erros na administração e na dosagem do medicamento e consequentemente o desenvolvimento de complicações como: intoxicação, interação medicamentosa, dependência e reação alérgica, entre outros.

Dombrovski et al. (2021) afirmam que o Brasil, mundialmente é o país que mais apresenta consumidores de fármacos, devido a falta de informação que está associado as programadas de medicamentos, consequentemente ocorre um aumento da compra de medicamentos sem a receita médica, ocasionando uma preocupação com a qualidade da automedicação praticada no país.

Segundo Silva e Geron (2018) os consumidores possuem consciência dos  riscos  que  isso  pode acarretar  a  saúde  praticando  a automedicação, mas a justificativa para sua realização é devido a ação  rápida de  tentar resolver  o  problema ou também pela dificuldade de acesso aos postos de saúde.

Com relação ao armazenamento dos medicamentos, os dados corroboram com a literatura, como no estudo de Linhares, Carvalho e Frias (2020) que verificaram o armazenamento   de   medicamentos em casa foi relatado por 64,7% dos participantes, 92% relataram que os armazenam na própria embalagem dentro de caixas ou potes fechados e 89% armazenam em armários, tendo predileção pelo da cozinha, do banheiro e do quarto (guarda-roupa), corroborando com o estudo em questão.

De acordo com Silva e Geron (2018) o armazenamento de medicamentos nos domicílios é uma prática comum entre os brasileiros, sendo que os locais mais corriqueiros de armazenamento são gavetas, dispensas, pias, dentro de caixas ou de armários, no qual passa a ignorar o tempo de armazenamento após ser aberto, logo estão expostos a altas temperaturas, luz solar ou artificial e umidade, como cozinha   e banheiro, pode acontecer modificações composição (química, física e microbiológica) dos fármacos, com a redução da efetividade terapêutica ou elevação do risco de efeitos tóxicos conforme com o tipo de degradação sofrida pelo medicamento.

Quanto aos aspectos dos medicamentos, verifica-se que a maioria possui o costume de verificar a data de validade dos medicamentos e também a cor, odor e integridade dos fármacos. Dados semelhante com o estudo de Dombrovski et al. (2021) com 120 pacientes atendidos  em  farmácias  privadas  de  Jaraguá  do  Sul,  SC, observaram que 67% verificam a validade dos medicamentos e 75% o estado físico. Contudo, os autores analisaram na pesquisa que 20% não verificaram ou raramente em relação a validade dos medicamentos usados, e 25% responderam que não observam aspectos como cor, odor e integridade do medicamento antes de fazer o seu uso. Fato importante, pois medicamentos vencidos e/ou péssimos estados pode acarretar danos à saúde, como intoxicações e efeitos adversos.

Sobre o descarte dos medicamentos, a maioria ressalta que sabem como fazer o descarte dos medicamentos, entretanto, relatam que o local correto para descarte é o lixo doméstico. No estudo de Queiroz e Pontes (2021) que dos 100 participantes, observaram que 72% dos participantes apontaram que descartam no lixo comum para coleta pública, contudo, 77% afirmaram nunca ter recebido instrução sobre como fazer o descarte correto de medicamentos. Moretto et al. (2020) em sua pesquisa com 490 entrevistados 55% das pessoas demonstraram não tinham conhecimento sobre o descarte correto de medicamentos e 54,1% despejam  os medicamentos em lixo do tipo comum, demonstrando que tipo de descarte no país é comum e já o encaminhamento dos fármacos para posto de saúde ainda é pequeno a porcentagem de pessoas que realizam tal ato.

Na Resolução n°44 de 17 de agosto de 2009, a ANVISA em seu artigo 93 permiti que às  farmácias  e drogarias participei em programas de coleta de medicamentos a serem descartados pela comunidade, com a finalidade de preservar a saúde pública e a qualidade do meio ambiente. Entretanto, ainda não existe uma legislação específica para cobrar desses estabelecimentos à realização desse tipo de ações educativa, conferindo então a responsabilidade para a comunidade em devolver a esses lugares os medicamentos não usados (QUEIROZ; PONTES, 2021).

Observou-se também no estudo que entre os tipos de medicamentos mais descartados, a maioria relatou analgésicos, seguidos de antibióticos. No estudo de Pereira et al. (2019) realizado em 153 participantes na cidade de Picos–PI, observaram que entre os tipos de fármacos descartados, a maioria foram  analgésicos, antitérmicose os antigripais, com uma frequência de 88%, 64% e 58%, respectivamente. Na pesquisa de Azevedo et al. (2020) com 272 entrevistados  voluntários em Belém, verificaram que os analgésicos e anti-térmicos (31%), os anti-inflamatórios (20%) e os antibióticos (11%), apesar de não serem de uso continuo, mas são que mais se encontram nos domicílios da cidade.

Justifica-se o alto índice de analgésicos descartados, pelo fato que essa classe farmacológica utilizada para automedicação da dor, logo configura-se como um principal sintoma apresentado pelas diferentes condições de saúde. Além disso, são de fácil obtenção e, em grande parte, apresentarem venda livre, não necessitando de receita médica (PEREIRA et al., 2019).

 No estudo em questão, a maioria relatou que impactos ambientais são o reflexo do descarte incorreto dos medicamentos, seguido pela intoxicação de terceiros. Parente, Silva e Carvalho (2020) com 59 participantes de Goiás, observaram que 67,8% da amostra possui conhecimento do impacto gerado no meio ambiente com descarte incorreto de medicamentos. Já no estudo de Pereira et al. (2019) 68,0% admitiram que a forma do descarte dos medicamentos no ambiente ocasiona algum  risco  individual e 77,7% ressaltam que percebem a  existência  de  risco  coletivo. Nesse contexto, os autores afirmam m que há uma necessidade  de  que  a  população  compreenda  que  ela  também  é  ferramenta fundamental no  que  dizer respeito  à  procura  e  implementação  de  soluções  dos  problemas  ocasionados pelo descarte inadequado de medicamentos no ambiente.

5 CONCLUSÃO

De acordo com resultados encontrados, verifica-se que a maioria dos participantes compram remédios sem prescrição médica, que o armazenamento feito na própria embalagem, possuem costume de verificar a data de validade dos medicamentos e também a cor, odor e integridade dos fármacos. Sobre o descarte dos medicamentos, a maioria ressalta que sabem como fazer o descarte dos medicamentos, entretanto, relatam que o local correto para descarte é o lixo doméstico. Entre os tipos de medicamentos mais descartados, a maioria relatou analgésicos, seguidos de antibióticos. E a maioria relatou que impactos ambientais são o reflexo do descarte incorreto dos medicamentos, seguido pela intoxicação de terceiros.

Diante do exposto, observou-se no estudo  que  o  conhecimento  e  comportamento autorreferidos evidenciam fragilidades que podem comprometer a saúde pública e ambiental, logo, existe a necessidade  de mais ações das políticas públicas que tratem apenas desse assunto.

Como limitação do estudo, uma pequena amostra da população e não foi feita uma localidade específica, pois a amostra foi realizada aleatoriamente. Portanto, sugere-se a realização de outros estudos, visto que os resultados demonstraram  ser relevantes e preocupantes.  Logo, é importante a  necessidade  da elaboração de pesquisas sobre a temática e a acerca  do  controle  e  fiscalização  dos depósitos de lixo reciclável.

REFERÊNCIAS

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Raimundo Romualdo Pereira Campos – Acadêmico do curso de Farmácia da Universidade CEUMA.1
Paulo de Tarso Silva Barros – Professor/Orientador. Universidade CEUMA.2