STUDY OF THIRD MOLAR AGENESIS IN MODERN HUMANS: AN INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102410281229
Matheus Harllen Gonçalves Veríssimo1
José Martí Luna Palhano1
Alane Raiane Soares Mendonça2
Carla Simone Cavalcante3
Paloma Ribeiro Soares3
Raquel da Silva Alves4
Monalisa Sousa Marinho5
Sabryna Dicksan Silva Meira Lima5
Suzane Henriques Pereira5
Gabrielle Lima Bezerra Campos5
Fábio Moura Duarte2
Marina Mayanne Gonçalves Veríssimo2
Geovanna Caroline Brito da Silva6
Helene Soares Moura3
Morgana Maria Souza Gadêlha de Carvalho2
RESUMO
Objetivo: Realizar uma revisão integrativa da literatura sobre como se desenvolveu a agenesia dos terceiros molares no decorrer da evolução humana. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, com metodologia qualitativa, cuja busca foi realizada na base de U. S. National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Cochrane Library e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Foram utilizados os descritores (MeSHterms/DeCS): “Third Molar”; “Agenesis”, com auxílio do operador booleano “AND”. Os critérios de elegibilidade foram os seguintes: artigos publicados em inglês, português e espanhol; publicações entre outubro de 2016 a outubro de 2024; artigos que se adequem à temática. Resultados e Discussão: As características que apresentaram maior ênfase nos artigos foram: sexo feminino; sem prevalência por idade, visto que o desaparecimento ocorre desde a formação fetal; local de maior ocorrência é no osso maxilar; a causa evolutiva para a agenesia são as mudanças de hábitos alimentares e as alterações que ocorreram por conta dessa evolução foram modificações morfológicas no sistema estomatognático. Considerações Finais: Com a análise dos artigos científicos, pode-se observar a prevalência de algumas características na ocorrência da agenesia de terceiros molares. Dessa forma, as características que apresentaram maior ênfase nos artigos foram: sexo feminino; sem prevalência por idade, visto que o desaparecimento ocorre desde a formação fetal; local de maior ocorrência é no osso maxilar; a causa evolutiva para a agenesia são as mudanças de hábitos alimentares e as alterações que ocorreram por conta dessa evolução foram modificações morfológicas no sistema estomatognático. Os resultados desse estudo responderam à pergunta norteadora.
Palavras-chave: Evolução; Agenesia; Terceiro molar.
ABSTRACT
Objective: To conduct an integrative literature review on how third molar agenesis developed throughout human evolution. Methodology: This is an integrative literature review, with a qualitative methodology, whose search was carried out in the U.S. National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Cochrane Library, and Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS). The following descriptors (MeSHterms/DeCS) were used: “Third Molar”; “Agenesis”, with the aid of the Boolean operator “AND”. The eligibility criteria were as follows: articles published in English, Portuguese, and Spanish; publications between October 2016 and October 2024; articles that fit the theme. Results and Discussion: The characteristics that presented the greatest emphasis in the articles were: female gender; no prevalence by age, since the disappearance occurs since fetal formation; the site of greatest occurrence is in the maxillary bone; the evolutionary cause for agenesis is changes in eating habits and the alterations that occurred due to this evolution were morphological modifications in the stomatognathic system. Final Considerations: With the analysis of the scientific articles, it is possible to observe the prevalence of some characteristics in the occurrence of agenesis of third molars. Thus, the characteristics that presented greater emphasis in the articles were: female sex; no prevalence by age, since the disappearance occurs since fetal formation; the site of greatest occurrence is in the maxillary bone; the evolutionary cause for agenesis is changes in eating habits and the alterations that occurred due to this evolution were morphological modifications in the stomatognathic system. The results of this study answered the guiding question.
Keywords: Evolution; Agenesis; Third molar.
1 INTRODUÇÃO
A agenesia dentária ocorre quando há uma falha no processo inicial da odontogênese, na qual não ocorre a formação do germe dental. Desse modo, tais alterações demonstram o desaparecimento de elementos dentários, em caso de terceiros e até mesmo quartos molares, como evidências evolutivas, tendo base em estudos de ancestrais fossilizados (Hermann et al., 2022). Nesse sentido, teorias explicam tal fenômeno como consequência da interferência de fatores relacionadas tanto ao fenótipo, quanto ao genótipo (Usinger e Dallanora, 2016; Le et al., 2024).
Ainda que grande parte de estudos envolvendo o mecanismo molecular do desenvolvimento dentário venha de estudos com camundongos, foi identificado que as variações patogênicas identificadas na agenesia dentária humana também fornecem informações valiosas sobre a odontogênese em mamíferos (Sarkar; et al., 2014). Sob esse aspecto, variantes genéticas do gene Pax9 pode estar ligada à agenesia do terceiro molar (Nieminen et al., 2001; Klein et al., 2005; Pereira et al., 2006; Kuchler et al., 2024).
Nas últimas décadas, os mecanismos morfológicos, moleculares e celulares que governam o desenvolvimento dentário foram amplamente estudados (Juuri et al., 2017). Em suma, esse artigo científico objetiva realizar uma revisão integrativa da literatura, com metodologia qualitativa, para analisar os principais aspectos evolutivos que são importantes para análise da prevalência de agenesias dentárias, através da concepção de uma pergunta norteadora e análises em base de dados.
2 METODOLOGIA
Esta revisão integrativa da literatura possui uma metodologia qualitativa, sendo baseada em Rother (2007) e Pereira et al. (2018), e no desenvolvimento da seguinte pergunta de pesquisa: Como se desenvolveu a agenesia dos terceiros molares no decorrer da evolução humana?
Para isto, foi utilizada a base de dados eletrônica: U. S. National Library of Medicine (PubMed), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Cochrane Library e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), para pesquisar e identificar estudos que respondessem à pergunta norteadora desta revisão integrativa da literatura. A base de dados foi pesquisada para estudos realizados entre outubro de 2016 a outubro de 2024.
Esta revisão integrativa baseou-se em cinco etapas: Na primeira etapa foi o estabelecimento dos descritores para ambas as bases de dados, sendo uma com a utilização de MeSHterms/DeCS. Em seguida, segunda etapa, fora feito a busca avançada nas bases e análise do quantitativo dos artigos científicos presentes na íntegra. Logo em seguida, na terceira etapa, foram selecionados os artigos que se adequaram aos critérios de elegibilidade estabelecidos pelos pesquisadores. Na quarta e quinta etapa, os pesquisadores formularam uma tabela descritiva sobre os autores, objetivo da pesquisa, protocolo, resultados e conclusão e em seguida, desenvolvimento da discussão dos artigos científicos para uma análise do melhor manejo do clareamento dental, a fim de se chegar ao sucesso clínico e responder à pergunta norteadora estabelecida no início desta metodologia.
Foram utilizados dois descritores para a composição da chave de pesquisa, sendo os seguintes (MeSH): Third Molar; Agenesis. Em seguida, os pesquisadores selecionaram os trabalhos com análise no título e resumo, com base nos critérios de elegibilidade. Os critérios de elegibilidade foram os seguintes: artigos publicados em inglês, português e espanhol; publicações entre outubro de 2016 a outubro de 2024; artigos que se adequem à temática.
Também foi utilizado o sistema de formulário avançado para busca e seleção dos artigos utilizando conector booleano “AND”. Em seguida, artigos que preencheram os critérios de elegibilidade foram identificados e incluídos na revisão.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com a Teoria Darwin-Wallace, o processo de seleção natural é um fator crucial para a perpetuação de determinada espécie, sendo assim, a espécie mais adaptada ao meio é capaz de perpetuar a espécie e passar tais características, por meio da hereditariedade, para seus descendentes. Tais modificações, dependentes de fatores fenotípicos- como nutrientes disponíveis ou fatores geográficos e climáticos, são repassadas as futuras gerações podendo ser não somente vantajosa, mas também deletéria (Silva & Santos, 2015).
Entretanto, estudos moleculares mais recentes afirmam que há fatores que vão além da seleção natural, sendo assim, a Síntese Moderna mescla a Teoria Darwin-Wallace com a genética. Não obstante, a Síntese moderna defende a evolução como um processo independente do meio, sendo as características vindas do processo de meiose. Sendo assim, as teorias supracitadas podem explicar o processo de agenesia dentária de terceiros e até quartos molares (Silva & Santos, 2015).
Com a busca avançada, foram selecionados apenas os artigos que entraram nos critérios de inclusão. Os resultados por análise foram representados na Tabela 1:
Tabela 1 – Seleção dos artigos por análise empregada e estabelecimento dos critérios de inclusão.
Íntegra | Duplicados | Artigos selecionados | |
PubMed | 657 | 9 | 13 |
LILACS | 41 | 2 | 2 |
SciELO | 1 | 1 | 0 |
Cochrane | 1 | 0 | 0 |
Fonte: Próprios autores, 2024.
Portanto, a partir dessa estratégia de busca, foram encontrados 700 (setecentos) trabalhos na íntegra; destes, 12 (doze) artigos encontravam-se duplicados nas estratégias de busca, totalizando, assim, 15 (quinze) selecionados. Todos os artigos selecionados apresentaram objetivo relacionado à agenesia dos terceiros molares e a evolução humana. As características principais dos artigos avaliados encontram-se resumidas na Tabela 2 abaixo:
Tabela 2 – Descrição dos artigos científicos selecionados
Autores | Ano | Objetivo | Resultados/Conclusão |
Fournier et al. | 2017 | Analisar os fenótipos dentais da agenesia dentária sindrômica e não sindrômica ligadas às mutações genéticas, com foco nos genes: MSX1, PAX9, AXIN2, PITX2, WNT10A, NEMO, EDA, EDAR, EDARADD, GREMLIN2, LTBP3, LRP6 e SMOC2 | Notou-se que a agenesia dentária isolada existe como parte de um espectro de síndromes para todos os genes identificados, exceto PAX9 e que o padrão de agenesia dentária pode ser útil em diagnóstico clínico para identificar mutações genéticas causais. Embora o estudo tenha sido feito na dentição como um todo, verificou-se uma maior frequência em terceiros molares. |
Kilinç et al. | 2017 | Investigar a agenesia de terceiros molares em crianças com dentição permanente em uma população limitada na província de Izmir, Turquia. | Avaliou-se que as mudanças nos hábitos alimentares dentro da evolução humana podem ter causado mudanças nas estruturas da mandíbula e dos dentes. Tendo como base no estudo de Katsaros (2001), a função muscular mastigatória proporcionou o crescimento da mandíbula e a largura da arcada dentária afetando diretamente o crânio. |
Mishra e Pandey | 2017 | Determinar e comparar a prevalência e o padrão de agenesia de terceiros segundo em crianças. | Considerou-se a prevalência da ausência alta de terceiro molar para terceiro molar superior direito (28,6%), enquanto pelo menos para mandibular terceiro molar esquerdo (21,6%). Além disso, corroborando o estudo de Grahnen (1956), agenesia dentária é genotipicamente transmitido como um traço autossômico dominante e expressividade variável e correlaciona-se a adaptação funcional. |
Singh et al. | 2017 | Avaliar a presença de agenesia de terceiros molares, em virtude do não uso desse elemento, do terceiro molar na população de 18 a 25 anos, em relação ao gênero e localização anatômica- maxila e mandíbula. | Constatou-se uma frequência significativamente maior em indivíduos do sexo feminino e uma maior predileção de ausência do elemento dentário na maxila em relação à mandíbula |
Trakinienė et al. | 2018 | Determinar o impacto da herdabilidade na agenesia do terceiro molar em gêmeos , por meio da análise da influência genética e do ambiente, estudo de gêmeos, que poderia apresentar informativamente o efeito da genética. | Revelou-se que a agenesia do terceiro molar foi fortemente afetada pela genética aditiva. Contudo, estudos futuros em grupos maiores devem ser realizados para avaliar o papel dos genes, da epigenética e do meio ambiente, mais precisamente |
Scheiwiller; Oeschger e Nikolaos | 2020 | Analisar a prevalência de casos de agenesia do terceiro molar, diante de aspectos do desenvolvimento e da evolução humana na formação de terceiros molares na dentição do homem moderno. | Verificou-se a prevalência média de 22,6% de agenesia de terceiros molares. Embora que fatores genéticos estejam relacionados a esses elementos dentários, houve alteração na dentição desses indivíduos como um todo. Assim, tais alterações podem ser associadas a processos evolutivos. |
Alamoudi et al. | 2022 | Investigar o dimorfismo sexual nos padrões e a gravidade da agenesia dos terceiros molares em indivíduos europeus brancos não sindrômicos com (grupo A: 303 indivíduos) e sem agenesia (grupo B: 303 indivíduos) de dentes diferentes dos terceiros molares. | O padrão de agenesia de terceiros molares mais comum foi o de nenhum terceiro molar. Tanto para mulheres quanto para homens, a agenesia bilateral de terceiros molares foi aproximadamente três vezes mais frequente no grupo A do que no grupo B (p < 0,001), enquanto não foi detectada diferença para agenesia unilateral. Esses achados indicam um forte controle genético do processo de desenvolvimento da formação dentária, com quaisquer interrupções afetando ambos os sexos de maneira semelhante. No geral, a maior vulnerabilidade da formação de terceiros molares pode estar associada à tendência evolutiva em humanos para um número reduzido de dentes molares, o que parece não mostrar diferenças relacionadas ao sexo. |
Andrews et al. | 2022 | Avaliar o desenvolvimento do terceiro molar em uma população londrina de britânicos brancos e britânicos negros ou outra etnia negra | O desenvolvimento do terceiro molar ocorreu mais cedo em indivíduos de ascendência negra em comparação com aqueles de ascendência branca. Embora ambos os grupos étnicos tenham mostrado grandes faixas etárias para cada estágio de terceiro molar, em indivíduos do sexo feminino isso geralmente ocorreu pelo menos 1,5 anos antes e em homens pelo menos um ano antes. A hipodontia e a agenesia dos terceiros molares foram mais prevalentes nos britânicos brancos, mas a diferença étnica no desenvolvimento dos terceiros molares persistiu em indivíduos com dentições completas. Este é um grande estudo que confirma as diferenças étnicas em uma população de Londres, enfatiza as dificuldades de estabelecer o limite de 18 anos usando DAE e confirma o risco de superestimar a idade de indivíduos de etnia negra usando dados de referência étnicos brancos. |
Hermann et al. | 2022 | Avaliar se polimorfismos genéticos funcionais em genes relacionados à vitamina D estão associados à agenesia de terceiros molares e microdontia de terceiros molares em pacientes ortodônticos alemães | Um total de 164 pacientes foram analisados. Quarenta e nove (29,9%) pacientes apresentaram pelo menos uma anomalia do terceiro molar. Na análise de haplótipos, polimorfismos genéticos em VDR e CYP27B1 foram associados a anomalias de terceiros molares (p < 0,05). O alelo G em rs8018720 (SEC23A) foi mais frequente nos casos de microdontia. Na análise da distribuição genotípica, rs8018720 em SEC23A foi associado a microdontia de terceiros molares na co-dominante (p = 0,034; Razão de Prevalência [RP]=5,91, Intervalo de Confiança [IC] de 95%= 1,14-30,66) e no recessivo (p = 0,038; RP=5,29; IC95% = 1,09-25,65). Em conclusão, genes relacionados à vitamina D podem estar envolvidos em anomalias de terceiros molares. |
Intarak et al. | 2022 | Identificar seis indivíduos tailandeses em duas famílias com agenesia dentária não sindrômica, realizamos sequenciamento de exoma e conduzimos experimentos funcionais | Ambos os indivíduos eram heterozigotos para c.230G>A (p.Arg77Gln) em PAX9, o que não foi relatado anteriormente. Prevê-se que essa variante seja prejudicial, evolutivamente conservada e resida no peptídeo de ligação PAX9. Os níveis de RNA BMP4 nos leucócitos do Proband-1 não foram significativamente diferentes dos controles, enquanto os níveis de BMP4 observados no Proband-2 foram significativamente aumentados. Além disso, a variante p.Arg77Gln demonstrou localização nuclear semelhante à do tipo selvagem, mas resultou em transativação significativamente prejudicada de BMP4, um gene a jusante PAX9. Em conclusão, demonstramos que o PAX9 p.Pro20Leu está altamente associado à ausência de terceiros molares, enquanto o novo PAX9 p.Arg77Gln prejudica a transativação de BMP4 e está associado à agenesia molar total. |
Jadhav et al. | 2024 | Encontrar a prevalência de agenesia de terceiros molares entre a população mais jovem da Índia. | O padrão mais comum de agenesia foi a falta de ambos os terceiros molares superiores, seguido pela agenesia de todos os terceiros molares. A frequência de agenesia foi de 18 >28 >48 >38. O estudo mostrou uma predileção significativa na maxila em relação à mandíbula. Não houve predileção estatisticamente significativa por sexo para agenesia de terceiros molares.A prevalência de agenesia de terceiros molares está aumentando rapidamente com o tempo, sem predileção significativa por gênero e mudanças nas tendências dos padrões de agenesia. |
Kanavakis et al. | 2024 | Investigar a associação entre o número de terceiros molares e a forma craniofacial | Houve uma forte associação entre a agenesia dos terceiros molares e a forma de todas as configurações craniofaciais em ambos os sexos. Indivíduos com terceiros molares ausentes apresentaram uma configuração craniofacial menos convexa, uma altura facial anterior mais curta e uma maxila e mandíbula mais retrusivas. Nos casos com agenesia do terceiro molar em apenas uma mandíbula, as diferenças de forma também foram evidentes na mandíbula oposta. |
Kuchler et al. | 2024 | Avaliar a associação entre SNPs nos fenótipos PITX2, agenesia de terceiros molares e sela túrcica. | A agenesia do terceiro molar não foi associada a SNPs nos fenótipos PITX2 e sela túrcica. SNPs em PITX2 podem ter um papel importante no padrão de sela túrcica. |
Le et al. | 2024 | Avaliar a associação entre agenesia de terceiros molares e morfologia sagital e vertical craniofacial. | Os resultados deste estudo sugerem que a agenesia do terceiro molar pode estar associada a um comprimento maxilar reduzido e uma mandíbula mais plana. No entanto, esses achados precisam ser interpretados com cautela devido a inconsistências na certeza das evidências. |
Paddenberg et al. | 2024 | Avaliar uma possível associação entre padrões craniofaciais e ATM em pacientes ortodônticos alemães. | A classe esquelética determinada pela avaliação individualizada de Wits revelou significância estatística entre os grupos de AT e controle (p = 0,022), nos quais os pacientes com AT tinham 11 vezes mais chances de apresentar uma classe esquelética individual III (razão de chances 11,3, intervalo de confiança de 95% 1,7-139,5). A análise cefalométrica esquelética não revelou diferenças estatísticas entre os grupos TMA e controle para quaisquer outros parâmetros angulares, lineares e proporcionais. A agenesia do terceiro molar foi associada à classe esquelética III determinada pela avaliação individualizada de Wits. |
Fonte: Próprios autores, 2024.
Na pesquisa de Scheiwiller; Oeschger & Nikolaos (2020), os autores analisaram a prevalência de casos de agenesia do terceiro molar, observando a influência da evolução humana na formação de tais dente e a causa de tal desaparecimento. Sendo assim, verificou-se a prevalência de 22,6% de agenesia de terceiros molares, podendo os processos evolutivos estarem diretamente influenciados.
Mishra & Pandey (2017) determinaram e compararam a prevalência e o padrão de agenesia de terceiros molares em crianças, em que a prevalência se deu em 28,6% para o terceiro molar superior direito, enquanto pelo menos para o terceiro molar superior esquerdo 21,6%. Ademais, na pesquisa de Grahnen (1956), a agenesia dentária é genotipicamente transmitido como um traço autossômico dominante e é ocasionado pela adaptação funcional do organismo.
Na pesquisa de Singh et al. (2017) avaliaram a presença da agenesia de terceiros molares, em virtude do não uso do elemento dentário, em uma população de 18 a 25 anos em relação ao gênero e localização anatômica para maxila e mandíbula. Em seus resultados, constatou-se uma frequência significativamente maior em indivíduos do sexo feminino e uma maior predileção de ausência do dente na maxila em relação à mandíbula.
Sendo assim, construiu-se a seguinte Tabela 3 para que possamos observar o resumo das características mais prevalentes encontradas nas pesquisas científicas para a ocorrência da agenesia dentária dos terceiros molares.
Tabela 3 – Prevalência da agenesia dos terceiros molares
Características de maior prevalência | |
Sexo | Feminino. |
Idade | Sem prevalência, visto que o desaparecimento ocorre desde a formação fetal. |
Local anatômico | Maxila. |
Causa evolutiva | Mudança dos hábitos alimentares |
Alteração evolutiva | Modificações morfológicas no sistema estomatognático. |
Fonte: Próprios autores, 2024.
Para Trakiniene et al. (2018), a agenesia do terceiro molar foi fortemente afetada pela genética aditiva. Além desses, Fournier et al. (2017) analisaram os fenótipos dentais da agenesia dentária sindrômica e não sindrômica ligadas as mutações em alguns genes, em que foi notado um espectro de síndromes para todos os genes analisados, exceto PAX9 e que o padrão pode ser útil no diagnóstico clínico de mutações genéticas causais para a agenesia do terceiro molar.
No estudo de Kilinç et al. (2017), os pesquisadores observaram que as mudanças dos hábitos alimentares foi um fator preponderante na evolução humana e, consequentemente, no desaparecimento do terceiro molar, alterando as estruturais dos ossos maxilares e mandibulares. Para tanto, no estudo de Katsaros (2001), a função muscular mastigatória proporcionou o crescimento da mandíbula e a largura da arcada dentária, afetando diretamente o crânio humano.
A agenesia dos terceiros molares, ao longo da evolução humana, parece estar fortemente influenciada por fatores genéticos, alterações morfológicas no sistema estomatognático e mudanças nos hábitos alimentares. Com base em diversos estudos, é possível observar que esse fenômeno evolutivo se intensificou à medida que as necessidades mastigatórias da humanidade mudaram, com dietas mais macias e menos exigentes do ponto de vista funcional, resultando em uma redução do uso dos dentes do siso e, por conseguinte, na sua formação.
Pesquisas como as de Scheiwiller, Oeschger e Nikolaos (2020) apontam uma prevalência crescente de agenesia de terceiros molares (22,6%), sugerindo que esse desaparecimento pode ser um reflexo de processos evolutivos. Em linha com isso, Kilinç et al. (2017) reforçam que as mudanças nos hábitos alimentares, com uma dieta menos rígida, resultaram em alterações na estrutura óssea maxilar e mandibular, contribuindo para a redução da necessidade e, eventualmente, da formação desses dentes.
Geneticamente, o estudo de Trakiniene et al. (2018) destaca a influência significativa da genética aditiva, enquanto Fournier et al. (2017) relaciona mutações genéticas com a agenesia dentária, excetuando o gene PAX9, que tem um papel particular. Intarak et al. (2022) reforçam essa ideia ao associar variantes no gene PAX9 com a ausência de terceiros molares em indivíduos tailandeses.
A prevalência e o padrão de agenesia variam entre diferentes populações e gêneros, conforme demonstrado por Mishra & Pandey (2017) e Singh et al. (2017), que relataram uma prevalência maior de agenesia na maxila e, em alguns casos, maior em mulheres. Essas diferenças são reforçadas por Andrews et al. (2022), que observou que o desenvolvimento dos terceiros molares ocorre mais cedo em indivíduos de ascendência negra do que em brancos, enquanto os brancos apresentavam uma maior prevalência de agenesia.
A associação entre a agenesia e características morfológicas craniofaciais é abordada por Kanavakis et al. (2024) e Le et al. (2024), que identificaram uma relação entre a ausência dos terceiros molares e mudanças na forma craniofacial, como mandíbulas retrusivas e altura facial reduzida, refletindo uma adaptação evolutiva das estruturas ósseas faciais à redução dentária.
Os estudos destacam que a agenesia dos terceiros molares é influenciada por uma combinação de fatores genéticos, étnicos e anatômicos, sendo que diferentes genes (como VDR e PAX9) estão envolvidos na sua manifestação. Além disso, as variações no desenvolvimento dos terceiros molares entre populações e a relação com a morfologia craniofacial sugerem que o desenvolvimento dental está intimamente ligado a outros aspectos do crescimento esquelético.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a análise dos artigos científicos, pode-se observar a prevalência de algumas características na ocorrência da agenesia de terceiros molares. Dessa forma, as características que apresentaram maior ênfase nos artigos foram: sexo feminino; sem prevalência por idade, visto que o desaparecimento ocorre desde a formação fetal; local de maior ocorrência é no osso maxilar; a causa evolutiva para a agenesia são as mudanças de hábitos alimentares e as alterações que ocorreram por conta dessa evolução foram modificações morfológicas no sistema estomatognático.
A agenesia dos terceiros molares é um fenômeno multifatorial que combina aspectos genéticos, anatômicos e comportamentais, todos moldados pela evolução. Essa adaptação pode ser vista como uma resposta a um ambiente em mudança, onde a função dos dentes molares tornou-se menos crucial, levando à sua progressiva ausência em certas populações.
Além disso, a função muscular mastigatória influenciou no crescimento da mandíbula e na largura da arcada dentária, afetando diretamente o crânio e, consequentemente, no espaço dentário para o preenchimento da arcada dentária. Novas pesquisas são necessárias para a determinação e análise apurada das discrepâncias por raça e etnia. Os resultados dessa revisão responderam à pergunta norteadora estabelecida na metodologia.
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1 Faculdade Coesp, João Pessoa-PB. matheusharllen@gmail.com
2 Faculdade Rebouças de Campina Grande – PB. contato.alanerai@gmail.com; fabio.duarte@si.unifacisa.edu.br; marinamayanne1810@gmail.com
3 Universidade Estadual da Paraíba, campus VIII, Araruna-PB. paloma.soares@aluno.uepb.edu.br
4 Faculdade Maurício de Nassau, Campina Grande-PB. raquelaaalvess@gmail.com
5 Universidade Estadual da Paraíba, campus I, Campina Grande-PB