REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7394595
Ariana Evelin Farias1;
Tatiane Martins2;
Isabel Fernandes3.
RESUMO
Introdução. A cervicalgia é um quadro álgico que afeta a parte posterior do pescoço. O surgimento está relacionado principalmente a movimentos repetitivos, sobrecarga musculares e posições inadequadas por longos períodos. A fisioterapia apresenta muitas técnicas com resultados positivos na presença da dor muscular que podem ser aplicadas associadamente em protocolos de atendimento ao paciente com esta queixa. Objetivo. Assim, a pesquisa objetivou apresentar a comparação entre dois protocolos fisioterapêuticos para o alívio da dor cervical não-traumática: a estimulação nervosa elétrica transcutânea (TENS) versus TENS associada à liberação miofascial. Metodologia. Estudo observacional, descritivo, em série de casos com 10 (dez) pacientes voluntários. Ao longo de um mês, foram atendidos com as técnicas propostas nos dois protocolos. A variável estudada foi a dor, mensurada por meio da escala EVA e pelo teste de umbral de dor, associado aos indicadores não verbais de algia. A avaliação dos indicadores não verbais da dor foi realizada antes e após cada aplicação da técnica da liberação miofascial. Os demais testes foram realizados no primeiro e no último dia do atendimento. Resultados. Os pacientes atendidos eram jovens, na faixa etária de 20 a 25 anos (90%;n=9), estudantes (56,3%;n=9) e que também citaram estar com ocupação (43,8%;n=7). Citaram o etilismo (50%;n=6) e o tabagismo (33,3%;n=4) como hábitos sociais. Atuam nas posições sentada (81,8%;n=9) e em pé (18,2%;n=2) por períodos que variam de 5 a 10 horas (90%;n=9). O protocolo com TENS apresentou melhor desempenho na série de casos quando comparado pré e pós-atendimento com a escala EVA. Quanto ao teste umbral de dor, os protocolos se mostraram praticamente equivalentes em decorrência da maior variação dos valores apresentados pelos casos da série. Conclusão. As características do público atendido na série de casos, jovens, sedentários, com dupla jornada – trabalho e estudo – experimentando longas horas laborais na posição sentada, levaram a um tímido resultado quanto à efetividade de ambos os protocolos no alívio da dor. No entanto, no relato ao longo dos atendimentos foi possível identificar o bem-estar trazido logo após as sessões de atendimento.
Palavra-chave: Fisioterapia; Cervicalgia; Fáscia; Eletroanalgesia; Manipulações Musculoesqueléticas.
INTRODUÇÃO
A cervicalgia é comumente tida como um quadro álgico que afeta a parte posterior do pescoço, em alguns casos, a dor pode irradiar para outras regiões como ombros, membros superiores e cabeça. Afeta negativamente até 70% da população mundial, e, quando instalada por mais de 3 meses, é considerada crônica. Acomete principalmente indivíduos do sexo feminino. A incidência maior em mulheres pode ser determinada por diferenças fisiológicas entre os sexos. Além disso, está relacionada ao estilo de vida, fatores biomecânicos e psicossociais, restrições miofasciais, alterações morfológicas musculares, idade e histórico social (GONZÁLEZ-RUEDA et al., 2020; RODRIGUEZ-HUGUET et al., 2018; YOON et al., 2022; DE PAUW et al., 2016).
No entanto, o surgimento da cervicalgia está relacionado principalmente aos movimentos repetitivos, à sobrecarga musculares e às posições inadequadas por longos períodos. A inatividade física, os transtornos relacionados à saúde mental também podem ser contribuir na presença desta algia (BIKBOV et al., 2020; GONZÁLEZ-RUEDA et al., 2020; KAZEMINASAB et al., 2022; POZZOBÓN et al., 2019; SHAMSI et al., 2020; FLORENCIO et al., 2020).
Contudo, a presença do quadro da dor cervical mostra-se desfavorável devido aos fatores sintomatológicos que impossibilitam o desempenho habitual do indivíduo, influenciando negativamente na renda e na qualidade de vida do paciente. O custo elevado do tratamento multidisciplinar é outro aspecto negativo desta disfunção (FLORENCIO et al., 2020; RODRIGUEZ-HUGUET et al., 2018; TAKLA; REZK-ALLAH, 2018; YOON et al., 2022).
Devido ao impacto negativo na execução das atividades de vida diária (AVD’s), protocolos de atendimento que promovam o bem-estar e a analgesia são indicados. Na fisioterapia, várias técnicas e equipamentos são utilizados nessa finalidade. Entre alguns exemplos, estão as que empregam eletrofototermoterapia, alongamentos, terapia manual, exercícios ativos assistidos, meditação e terapia aquática (HE et al., 2021; MICHELETTI et al., 2019; TAKLA; REZK-ALLAH, 2018).
Neste estudo, foi utilizada a estimulação nervosa elétrica transcutânea (TENS). Conceitualmente, é uma terapia de baixa frequência que, mediante eletrodos aderidos na pele que conduzem estimulação elétrica modificável, promovem analgesia por meio do mecanismo de ação nas fibras musculares de maior porte. A estimulação elétrica libera neurotransmissores ao sistema nervoso central (SNC) para inibir os sinais de dor percebidos continuamente, resultando em diminuição da dor (HE et al., 2021; YOON et al., 2022).
Do mesmo modo, a liberação miofascial é considerada uma terapia manual que busca amenizar a dor e reconstituir a funcionalidade da fáscia. Isso é feito por meio de estiramentos de baixa carga e longa duração em regiões com restrições e pontos gatilhos miofasciais (RODRÍGUEZ-HUGUET et al., 2018; TAKLA; REZK-ALLAH, 2018).
A pesquisa objetivou apresentar um estudo comparativo entre ambos os protocolos fisioterapêuticos com TENS somente e, esta, associada à liberação miofascial em uma série de casos de pacientes com queixa de cervicalgia. Os pacientes foram atendidos em uma clínica escola de fisioterapia de uma instituição privada de ensino superior na cidade de Foz do Iguaçu/PR.
MÉTODOS
Estudo observacional, descritivo, em série de casos com 10 (dez) pacientes voluntários com queixa de cervicalgia não-traumática. Ao longo de um mês, esses pacientes foram atendidos com as técnicas propostas em dois protocolos fisioterapêuticos para o alívio da dor: a estimulação nervosa elétrica transcutânea versus a estimulação nervosa elétrica transcutânea associada a liberação miofascial.
A variável estudada foi a dor, mensurada por meio da escala EVA e pelo teste de umbral de dor, associado aos indicadores não verbais de algia. A avaliação dos indicadores não verbais da dor foi realizada antes e após cada aplicação da técnica da liberação miofascial. Os demais testes foram realizados no primeiro e no último dia do atendimento.
Para o recrutamento dos voluntários à série de casos, foi elaborado um questionário pré-avaliativo. Os escolhidos, previamente informados sobre os interesses da pesquisa, passaram por uma anamnese. Em seguida, foram divididos, por sorteio, em dois grupos iguais. Os indivíduos dos dois grupos receberam atendimento 2 (duas) vezes por semana ao longo de todo o período de tratamento.
O primeiro grupo, composto por 5 (cinco) indivíduos, recebeu apenas a eletroanalgesia. O segundo grupo recebeu a combinação de eletroanalgesia associado à liberação miofascial. A técnica da liberação foi aplicada durante 5 (cinco) minutos.
Para a aplicação de eletroterapia de ambos os grupos, o equipamento utilizado foi o estimulador elétrico transcutâneo (TENS), com as seguintes características: FES(electrostimulator 4 channel, Bioset Physiotonus four), classe de segurança NBR IEC 601/1, tipo BF, fabricado no Brasil.
O equipamento TENS foi configurado nos seguintes parâmetros: frequência de 80 HZ/250 microssegundos durante 20 minutos (RODRÍGUEZ-HUGUET et al., 2018). Foi feito uso de 1 (um) canal com 2 (dois) eletrodos colocados na região suboccipital e interescapular, respectivamente.
No grupo que recebeu a terapia manual após o uso do TENS, foram realizadas 4 (quatro) técnicas de liberação miofascial, as quais são detalhadas a seguir em ordem de execução. 1) A flexão máxima foi realizada com o paciente em decúbito dorsal, onde o terapeuta sustentou a cabeça com uma mão e com a outra realizou um estiramento até a flexão máxima. 2) A manobra de anteriorização do atlas com as falanges, onde o terapeuta colocou ambas as mãos na região suboccipital do crâneo, realizando a flexão das falanges, para promover um deslizamento na vértebra e proporcionar uma elevação contra a gravidade. 3) O estiramento do ECOM (esternocleidomastoideo) foi realizado mediante uma leve rotação da cabeça do paciente, com uma mão posicionada na região suboccipital e a outra realizando um deslizamento pelo ventre muscular, desde a sua origem (processo mastoide). 4) Manobra de alongamento da fáscia em região posterior, foi executada promovendo uma inclinação da cabeça do paciente, com uma mão localizada na região suboccipital e com a outra apoiada entre as escápulas, para sustentar e promover um estiramento eficaz.
Os dados foram consolidados no formato tabular. A primeira tabela caracterizou os pacientes por faixa etária, hábitos sociais, ocupação, atividade profissional executada, posição de execução e tempo em horas diárias trabalhadas. Vale atentar para o fato de que nessa tabela algumas variáveis possuem o n° amostral maior que os 10 casos da série em decorrência de o paciente poder citar mais de uma opção. A segunda tabela consolidou os testes umbral da dor e escala EVA. Ambos aplicados nos momentos antes de pós-tratamento. Foi organizada de forma a listar todos os pacientes em cada protocolo. Foram realizadas as médias e desvio padrão de forma a identificar o desempenho do protocolo no grupo quanto a percepção do alívio da dor.
Para finalizar a consolidação dos dados, foi apresentado um quadro com a síntese do diário de bordo do pesquisador. O quadro apresentou um retrato da queixa pré-atendimento contendo os itens idade, sexo, queixa principal, histórico da dor, providência para alívio da dor, uso de medicação, posição da maior dor, relato aberto do paciente. E outro retrato das falas dos pacientes da série de casos no pós-tratamento contendo queixa, providência para alívio da dor, uso de medicação, posição de maior dor, relato aberto do paciente.
A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual Do Oeste do Paraná – UNIOESTE em parecer consubstanciado de nº. 5.478.547. O projeto tramitou sob o número de protocolo CAAE 58804422.8.0000.0107.
RESULTADOS
Os pacientes da série de casos atendidos eram jovens, na faixa etária de 20 a 25 anos (90%;n=9), estudantes (56,3%;n=9) e que também citaram estar com ocupação (43,8%;n=7). Citaram o etilismo (50%;n=6) e o tabagismo (33,3%;n=4) como hábitos sociais. Atuam nas posições sentada (81,8%;n=9) e em pé (18,2%;n=2) por períodos que variam de 5 a 10 horas (90%;n=9) (Tabela 1).
Tabela 1: Consolidação dos dados sociodemográficos e econômicos de mulheres com cervicalgia não traumática, participantes da série de casos que receberam atendimento fisioterapêutico para analgesia para cervicalgia, consolidados por frequência absoluta (Fi) e seus percentuais equivalentes (%), coletados em uma clínica escola de Fisioterapia de Foz do Iguaçu/PR, 2022.
Variáveis | Categorias | fi | % |
Faixa Etária | 20 |—| 22 | 5 | 50,00% |
23 |—| 25 | 4 | 40,00% | |
26 |—| 28 | 1 | 10,00% | |
Ocupação (n=16) | Estudantes | 9 | 56,3% |
Regime CLT | 7 | 43,8% | |
Atividade profissional (n=16) | Estudantes | 9 | 56,3% |
Administrativo | 4 | 25,0% | |
Vendas | 2 | 12,5% | |
Recepcionista | 1 | 6,3% | |
Hábitos sociais (n=12) | Etilista | 6 | 50,0% |
Tabagista | 4 | 33,3% | |
Nenhum | 2 | 16,7% | |
Posição de Execução da Função Laboral (n= 11) | Sentada | 9 | 81,8% |
Em pé | 2 | 18,2% | |
Quantidade de horas na mesma posição | 5 horas | 4 | |
8 horas | 3 | 30,0% | |
10 horas | 2 | 20,0% | |
16 horas | 1 | 10,0% |
Em relação às variáveis de dor, pode ser observado que, com a aplicação do protocolo terapêutico 1, houve redução de 1 e 2 pontos na escala EVA no paciente nº 4 e nº 5 respectivamente. No entanto, no Teste de Umbral de Dor somente existiu redução em 1 (um) ponto, com exceção do paciente nº 3.
Paralelamente, com aplicação do protocolo terapêutico 2, pode ser observado uma redução de 2 pontos na escala EVA do paciente nº 8. E, no Teste de Umbral de Dor, com exceção do paciente nº 10, todos apresentaram redução de 2 pontos. O protocolo com TENS apresentou melhor desempenho na série de casos quando comparado pré e pós-atendimento com a escala EVA. Quanto ao teste umbral de dor, os protocolos se mostraram praticamente equivalentes em decorrência da maior variação dos valores apresentados pelos casos da série (Tabela 2).
Tabela 2: Distribuição dos resultados do Teste Umbral de Dor e Escala EVA em pacientes com cervicalgia não-traumática, segmentados em pacientes, consolidados antes e após a aplicação do protocolo 1 e 2, coletados em uma clínica escola de Fisioterapia de Foz do Iguaçu-PR, 2022.
Atendimento | Paciente | Escala EVA* | Escala EVA* | Teste Umbral de Dor | Teste Umbral de Dor |
Pré | Pós | Pré | Pós | ||
Protocolo 1** | N1 | 6 | 6 | 4 | 3 |
N6 | 5 | 6 | 6 | 5 | |
N7 | 6 | 6 | 3 | 3 | |
N8 | 7 | 6 | 4 | 3 | |
N9 | 8 | 6 | 6 | 5 | |
Média | 6,40 | 6,00 | 4,60 | 3,80 | |
D.Padrão(±)◆ | 1,14 | 0,00 | 1,34 | 1,10 | |
Protocolo 2*** | N2 | 6 | 6 | 4 | 2 |
N3 | 6 | 9 | 6 | 4 | |
N4 | 7 | 5 | 6 | 4 | |
N5 | 5 | 5 | 3 | 1 | |
N10 | 6 | 6 | 6 | 6 | |
Média | 6,00 | 6,20 | 5,00 | 3,40 | |
D.Padrão(±)◆ | 0,71 | 1,64 | 1,41 | 1,95 |
No quadro abaixo, foi apresentada a síntese do diário de bordo com as notas do pesquisador.
Quadro 1: Síntese do diário de bordo com as notas do pesquisador para cada paciente da série de casos com presença de cervicalgia não-traumática, resumida com variáveis observadas antes e após a aplicação do protocolo 1 e 2, coletados em uma clínica escola de Fisioterapia de Foz do Iguaçu-PR, 2022.
PRÉ-APLICAÇÃO DE PROTOCOLO | PÓS-APLICAÇÃO DE PROTOCOLO | |
Grupo 1 – Aplicação somente de TENS | ||
PACIENTE | Indicadores: Idade, sexo, queixa principal, histórico da dor, providência para alívio da dor, uso de medicação, posição da maior dor, relato aberto do paciente. | Indicadores: Queixa, providência para alívio da dor, uso de medicação, posição de maior dor, relato aberto do paciente. |
N° 1 | 22 anos, feminino, relatou dor EVA 6 (moderada) localizada no pescoço. Algia presente todos os dias, com irradiação a membros superiores. Teste Umbral de Dor quantificado 4. A dor apareceu devido à postura e aumento de demandas no trabalho. A dor diminuía na posição deitada e aumentava quando permanecia longo período na mesma postura. Muito raramente utilizou analgésicos. Tabagista e etilista socialmente. | Dor (EVA 6 Teste Umbral de Dor 3), localizada no pescoço e braços. Para alívio, realizou suaves movimentos. Raramente utilizou analgésicos. A dor aumentava na permanência, por longos períodos, em sedestação. Paciente afirmou diminuição da dor somente no dia do atendimento EVA 4 (moderada). |
N° 6 | 28 anos, feminino, relatou dor EVA 5 (moderada) em formigamento, fisgada e queimação no pescoço. Algia presente ao final do dia, com irradiação a ombro, escapula e cabeça. Teste Umbral de dor quantificado 6. A dor apareceu devido à postura e demandas estressantes. A dor diminuía com uso de bolsas térmicas e massagens. Aumentava quando fica longo período na mesma postura. Quando não aguentava mais recorria a analgésicos. Nega vícios. | Dor (EVA 6 Teste Umbral de Dor 5), Em queimação no pescoço. Para alívio realizou alongamentos e descansos no trabalho. Usava analgésico nas crises de dor EVA 7 (moderada). Passa 8 (oito) horas diária sentada. Paciente afirmou diminuição de dor nos dias do atendimento EVA 2 (leve). |
N° 7 | 20 anos, feminino, relatou dor EVA 6 (moderada) em queimação e agulhada no pescoço. Algia todos os dias, com irradiação a ombro. Teste Umbral de Dor quantificado 3. A dor apareceu devido a longos períodos na mesma postura. Diminuía com alongamentos. Aumentava devido a longos períodos na mesma postura, e dias com muita demanda. Recorria a analgésico quando sentia muita dor. Etilista socialmente. | Dor (EVA 6 – Teste Umbral de Dor 3) no pescoço e ombro direito. Para amenizar o quadro álgico realizava alongamentos. Sem uso de analgésico. Passa 10 horas diárias, sentada. Paciente afirmou diminuição de dor nos dias do atendimento EVA 3 (leve). |
N° 8 | 24 anos, feminino, relatou dor EVA 7 (moderada) em formigamento, fisgada e localizada no pescoço e costas ao final do dia, com irradiação a cabeça. Teste Umbral de Dor quantificado 4. A dor apareceu devido a longos períodos na mesma postura. Diminuía com alongamentos e movimentos suaves. Aumentava quando permanecia longo período no computador. Sem uso de analgésicos. Etilista socialmente. | Dor (EVA 6 – Teste Umbral de Dor 3) no pescoço e região interescapular. Realizava alongamentos para diminuir a dor. Sem uso de analgésico. Passa 5 horas diárias, sentada. Paciente afirmou que a dor se manteve nos dias do atendimento EVA 6 (moderada). |
N° 9 | 22 anos, feminino, relatou dor EVA 8 (intensa) em queimação localizada no pescoço e parte alta das costas durante todo o dia. Teste de Umbral de Dor quantificado 6. A dor apareceu devido à postura e aumento das demandas. Diminuía com alongamentos e massagens. Aumentava quando ficava longo período sentada. Sem uso de analgésicos. Etilista e tabagista socialmente. | Dor (EVA 6 – Teste Umbral de Dor 5) no pescoço. Realizava alongamentos e tomava banhos quentes para amenizar a algia. Sem uso de analgésico. Passa 8 horas diárias, sentada. Paciente afirmou que a dor se manteve nos dias do atendimento EVA 6 (moderada). |
Grupo 2 – Aplicação de TENS associada à Liberação Miofascial | ||
N° 2 | 22 anos, feminino, relatou dor EVA 6 (moderada) em queimação localizada no pescoço e parte posterior ao finalizar o dia. Teste Umbral de dor quantificada 4. A dor apareceu devido à postura. Diminuía quando permanecia deitada. Aumentava devido à postura por longo período. Raramente recorria a analgésicos. Tem escoliose. Etilista e tabagista socialmente | Dor (EVA 6 – Teste Umbral de Dor 2) no pescoço. Realizava alongamentos para amenizar o quadro álgico. Raramente recorria a analgésico. Passa 5 horas diárias, sentada. Paciente afirmou diminuição de dor nos dias do atendimento EVA 4 (moderada). |
N° 3 | 21 anos, feminino, relatou dor EVA 6 (moderada) em fisgada e pontada no pescoço no final do dia, com irradiação a ombros e parte posterior. Teste Umbral de Dor quantificado 6. A dor apareceu devido à postura e fatores de estresse. Diminuía com uso de bolsa térmica. Aumentava devido à postura. Em casos extremos recorria a analgésicos. Etilista e tabagista socialmente. | Dor (EVA 9 – Teste Umbral de Dor 4) no pescoço. Usava bolsas térmicas para amenizar a dor. Em casos extremos recorria a analgésico. Passa 5 horas diárias, sentada. Paciente afirmou diminuição de dor nos dias do atendimento EVA 4 (moderada). |
N° 4 | 23 anos, feminino, relatou dor EVA 7 (moderada) em fisgada e agulhada no pescoço quando finaliza o dia, com irradiação a membros superiores. Teste Umbral de Dor quantificado 6. A dor apareceu devido ao aumento de horas de estudo. Sem uso de analgésico. Tabagista socialmente. | Dor (EVA 5 – Teste Umbral de dor 4) no pescoço. Realizava relaxamentos para que a dor amenize. Sem uso de analgésico. Passa 16 horas diárias, sentada. Paciente afirma que no dia do atendimento a dor se mantêm EVA 5 (moderada). |
N° 5 | 25 anos, feminino, relatou dor EVA 5 (moderada), em fisgada e agulhada em cervical e lombar quando acaba o dia, com irradiação para torácica. Teste Umbral de Dor quantificado 3. A dor apareceu devido a longos períodos estudando. Sem uso de analgésicos. Nega vícios. | Dor (EVA 5 – Teste Umbral de dor 1) em lombar. Realizava caminhada e meditação para amenizar o quadro álgico. Sem uso de analgésico. Paciente afirma diminuição de dor no dia do atendimento EVA 3 (moderada). |
N° 10 | 23 anos, feminino, relatou dor EVA 6 (moderada) em fisgada na cervical e interescapular ao final do dia. Teste Umbral de Dor quantificado 6. A dor apareceu devido a movimentos repetitivos. Realizava alongamentos para diminuir a dor. Em casos extremos recorria a analgésicos. Nega vícios. | Dor (EVA 6 – Teste Umbral de Dor 6) no pescoço. Realizava alongamentos e tomava banhos quentes para diminuir a dor. Sem uso de analgésico. Paciente afirma diminuição de dor no dia dos atendimentos EVA 5 (moderada). |
DISCUSSÃO
Nas disfunções musculoesqueléticas, a cervicalgia é umas das principais causas de incapacidade e limitação. Bikbov, et al. (2020) realizaram um estudo onde seus achados demonstraram que nos últimos 30 (trinta) anos a cervicalgia se manteve em 2° (segundo) lugar como doença incapacitante, nos 34 (trinta e quatro) países ricos em que a pesquisa foi realizada.
Posteriormente, estudos relacionaram o sexo feminino sendo mais susceptível a sofrer com a cervicalgia (BIKBOV, et al., 2022; TAKLA; REZK-ALLAH, 2018; BHOJRAJ, et al., 2021). Na presente pesquisa, a série de casos de pacientes foi composta somente por mulheres, parecendo indicar que o estudo chamou mais a atenção de indivíduos do sexo feminino.
González-Rueda, et al. (2020) e Pozzobón, et al. (2019) afirmam que a etiologia desta doença pode ser desencadeada por problemas de déficit de forca muscular, movimentos repetitivos, fatores ergonômicos, psicossociais, entre outros. Para os autores, o sexo mais predisposto é o feminino, pelo papel que desempenham na sociedade.
A idade também foi um fator associado à cervicalgia. Autores afirmam que quanto maior a idade, maior é a predisposição de sentir dores musculoesqueléticas, principalmente na cervical (BHOJRAJ, et al., 2021; KAZEMINASAB, et al., 2022).
Shamsi et al. (2020) e Bikbov, et al. (2020) revelam que os pacientes jovens, na faixa etária de 20 a 50 anos, são mais afetados pela doença devido ao estilo de vida e também por permanecerem por longos períodos usando as tecnologias, entre essas os celulares, computadores, televisão, etc. Permanecem por longas horas estudando e/ou trabalhando com posturas inadequadas, por exemplo, adotam flexão contínua de cervical, anteriorização de tronco, entre outras. Isso associado a poucas horas de sono e fatores psicossociais, tais como estresse, angústia, emoções fortes, desencadeiam a cervicalgia crônica. A série de casos do presente estudo também foi composta por indivíduos jovens, estudantes e trabalhadores em regime CLT, que afirmaram passam longos períodos na mesma posição recorrendo a tecnologias.
Micheletti et al. (2019) e Kazeminasab, et al. (2020) em seus estudos afirmaram encontrar associação entre tabagismo, etilismo e dieta não saudável com a cervicalgia. Isto pode ter razão na presença de nicotina no SNC, que ocasiona um dano vascular, diminuindo o fluxo de sangue e oxigeno e aumentando a atividade do sistema autoimune. Esse contexto promove uma maior predisposição para a dor musculoesquelética crônica. Os pacientes da série deste estudo com cervicalgia não-traumática afirmam ser tabagistas e etilista.
A dor foi quantificada utilizando a escala EVA e o teste de umbral de dor antes e após aplicação do protocolo de eletroanalgesia e do protocolo combinando a eletroanalgesia associado à liberação miofascial. Estudos afirmam que a utilização de técnicas isoladas não apresenta relevantes resultados. Os melhores desfechos são os obtidos com uso de terapia multifacética com enfoque na atenção primaria contra a cervicalgia. Neste contexto, podemos exemplificar a educação, a ergonomia laboral, a utilização de eletrofototermoterapia, a prática de exercícios, o acompanhamento remoto, a melhora na qualidade de sono e o investimento em hábitos saudáveis de vida (TAKLA; REZK-ALLAH, 2018; GONZÁLEZ-RUEDA et al., 2020; RODRIGUEZ-SANZ et al., 2020).
Na presente série de casos, foi possível observar que no dia do atendimento a dor diminuía significativamente, porém retornava com a mesma intensidade nos dias seguintes à sessão. Isto pode ter ocorrido pela diferença entre o mecanismo de ação das terapias utilizadas. Outra justificativa para a não alteração do quadro da queixa de dor, pode ser a de que o fator causal da dor não era modificado.
A liberação miofascial em regiões com comprometimento do tecido resulta em diminuição da percepção de dor em decorrência de a técnica promover o deslizamento entre as fáscias e consequentemente liberação de aderências, gerando a sensação de alívio e bem-estar (RODRIGUEZ-HUGUET et al., 2018).
Em relação à eletroterapia, a dor é tratada por meio de inibição no SNC, tendo efeito de curto prazo. Assim, após a aplicação, a dor tende a retornar. A eletroterapia se apresenta efetiva somente para tratar o sintoma (YOON et al., 2022).
Nos casos da série de pacientes da presente pesquisa não foi possível afirmar que as técnicas investigadas em ambos os protocolos de atendimento tenham sido efetivas na melhoria e alívio da dor. Sendo assim, destaca-se a importância de realizar exercícios de ergonomia e ginástica laboral para promover uma qualidade de vida aos pacientes (FLORENCIO et al., 2020; TAKLA; REZK-ALLAH, 2018; MICHELETTI et al., 2019).
Na série de casos investigada nesse estudou não houve grande diferença de alívio de dor entre os protocolos aplicados no que diz respeito a escala EVA pré e pós-tratamento. Quanto ao teste de Umbral de Dor, o grupo que recebeu o protocolo com aplicação de TENS associado à liberação miofascial que apresentou melhores resultados. Até certo ponto, é possível afirmar que a utilização de técnicas isoladas para tratar a dor no pescoço pode ser menos eficiente (TAKLA; REZK-ALLAH, 2018).
Em conjunto, pequenas mudanças no estilo de vida e na rotina diária podem trazer bem-estar, pois tem influência nas mudanças de fatores psicossociais e ambientais promotores da dor (GONZÁLEZ-RUEDA et al.,2020). Por fim, a combinação de recursos e técnicas, tais como terapia manual, exercícios, educação para a evitação da dor, meditação, eletrofototermoterapia e alongamentos, são indicados no alívio da dor em pacientes com cervicalgia crônica não-traumática (RODRIGUEZ-SANZ et al., 2021).
CONCLUSÃO
O protocolo com TENS apresentou melhor desempenho na série de casos quando comparado pré e pós atendimento com a escala EVA. Quanto ao teste umbral de dor os protocolos se mostraram praticamente equivalentes em decorrência da maior variação dos valores apresentados pelos casos da série.
As características do público atendido na série de casos, jovens, sedentários, com dupla jornada de trabalho e estudo, experimentando longas horas laborais em sedestação, levaram a um tímido resultado quanto à efetividade de ambos os protocolos no alívio da dor. No entanto, no relato ao longo dos atendimentos foi possível identificar o bem-estar trazido logo após as sessões e ao longo do dia em que receberam o atendimento.
REFERÊNCIAS
BIKBOV, M.M. et al. Prevalence of and factors associated with low Back pain, thoracic spine pain and neck pain in Bashkortostan, Russia: The Ural Eye and Medical Study. BMC Musculoskeletal Disorders, v.21, n. 1, 01 Fev, 2020.
BHOJRAJ S.Y. et al. Clinical patterns and their prevalence among adult population with back pain: A community-based cross-sectional study in rural Gadchiroli, India. Journal of Global Health, v.11, p.12004, 27 Nov, 2021.
DE PAUW R. et al. Does muscle morphology change in chronic neck pain patients? – A systematic review. Manual Therapy, v.22, p.42–49, Abr, 2016.
FLORENCIO L.L. et al. Is There an Association between Diabetes and Neck and Back Pain? Results of a Case-Control Study. Journal of Clinical Medicine, v.9, n.9, p. 1–13, 1 Set, 2020.
GONZÁLEZ-RUEDA V.G. et al. Does Upper Cervical Manual Therapy Provide Additional Benefit in Disability and Mobility over a Physiotherapy Primary Care Program for Chronic Cervicalgia? A Randomized Controlled Trial. International Journal of Environmental Research and Public Health, v.17, n.22, p.1–14, 02 Nov, 2020.
HE L. et al. Multicenter, randomized, double-blind, controlled trial of transcutaneous electrical nerve stimulation for pancreatic cancer related pain. Medicine, v.100, n.5, p.e23748, 05 Fev, 2021.
KAZEMINASAB S. et al. Neck pain: global epidemiology, trends and risk factors. BMC Musculoskeletal Disorders, v.23, n.26, 03 Jan, 2022.
MICHELETTI J.K. et al. Association between lifestyle and musculoskeletal pain: cross-sectional study among 10,000 adults from the general working population. BMC Musculoskeletal Disorders, v.20, n.1, 17 Dez, 2019.
POZZOBON D. et al. Is there an association between diabetes and neck and back pain? A systematic review with meta-analyses. Plos One, 21 Fev, 2019.
RODRIGUEZ FUENTES I. et al. Is Myofascial Release Therapy Cost-Effective When Compared With Manual Therapy to Treat Workers’ Mechanical Neck Pains?. Journal of Manipulative and Physiological Therapeutics, v.43 (7): 683-690, 12 Set, 2020.
RODRIGUEZ FUENTES I. Efectividad de La Terapia de Liberación Miofascial en el Tratamiento de la Cervicalgia Mecánica en el Ámbito Laboral. Departamento de Medicina Facultad de Ciencias de la Salud, 2011.
RODRIGUEZ-HUGUET .M. et al. Effects of Myofascial Release on Pressure Pain Threshold in Patients With Neck Pain: A Single-Blinde Randomized Controlled Trial. American Journal of Physical Medicine and Rehabilitation, v.97, n.1, p. 16-22, 01 Jan, 2018.
RODRIGUEZ-SANZ J.R. et al. Comparison of an exercise program with and without manual therapy for patients with chronic neck pain and upper cervical rotation restriction. Randomized controlled trial. PeerJ, 2021.
RODRIGUEZ-SANZ J. et al. Does the Addition of Manual Therapy Approach to a Cervical Exercise Program Improve Clinical Outcomes for Patients with Chronic Neck Pain in Short- and Mid-Term? A Randomized Controlled Trial. International Journal of Environmental Research and Public Healt, v.17 (18): 6601, 10 Set, 2020.
SHAMSI M.B. et al. The prevalence of musculoskeletal pain among above 50-year-old population referred to the Kermanshah-Iran health bus in 2016. BMC Research Notes, v.13, n.72, p. 1-6, 12 Fev, 2020.
TAKLA M.K.N; e REZK-ALLAH S.S. Immediate Effects of Simultaneous Application of Transcutaneous Electrical Nerve Stimulation and Ultrasound Phonophoresis on Active Myofascial Trigger Points: A Randomized Controlled Trial. American Journal of Physical Medicine and Rehabilitation, v.97, n.5, p.332–338, 01 Maio, 2018.
YOON Y.S. et al. Effects of Personal Low-Frequency Stimulation Device on Myalgia: A Randomized Controlled Trial. International Journal of Environmental Research and Public Health, v.19, n.2, 01 Jan, 2022.
1. Acadêmica do Bacharelado em Fisioterapia do Centro Universitário Uniamérica-Descomplica.
2. Fisioterapeuta. Especialista na Saúde da Mulher pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Docente no bacharelado em Fisioterapia do Centro Universitário Uniamérica-Descomplica e orientadora da pesquisa.
3. Cientista da Computação. Doutora em Ciências – Enga. da Produção pela COPPE/UFRRJ. Docente no bacharelado em Fisioterapia do Centro Universitário Uniamérica-Descomplica e orientadora da iniciação científica.
arianafarias82@gmail.com; tatiane.martins@descomplica.com.br; isabel.souza@descomplica.com.br.