ESTUDO COMPARATIVO DO ESTILO DE VIDA ATIVO E FATORES ASSOCIADOS NA PREVALÊNCIA DOS TRANSTORNOS DE DEPRESSÃO EM ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DEMAIS CURSOS DA ÁREA DA SAÚDE: UM ESTUDO BIBLIOGRÁFICO

COMPARATIVE STUDY OFACTIVE LIFESTYLE AND ASSOCIATED FACTORS IN THE PREVALENCE OF DEPRESSION DISORDERS IN ACADEMIC PEOPLE IN PHYSICAL EDUCATION AND OTHER COURSES IN THE HEALTH AREA: A BIBLIOGRAPHICAL STUDY

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202411181004


Ana Leticia Sales Medino1
Leyla Regis de Meneses Sousa Carvalho2


RESUMO

Introdução: A depressão é uma doença multifatorial que pode surgir em qualquer período da vida, produzindo alterações no humor caracterizada por tristeza profunda e forte sentimento de desesperança. Objetivo: Comparar o estilo de vida ativo e fatores associados na prevalência dos transtornos de depressão em acadêmicos de educação física e demais cursos da área da saúde. Métodos: Trata-se de uma revisão bibliográfica do tipo integrativa, realizadas nas bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Pubmed, Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Utilizando de forma isolada e/ou conjugada os seguintes descritores: Depressão em jovens; Depressão em universitários; Depressão e exercício físico; Depressão e atividade física. Resultados: Os dados apontaram que os acadêmicos que mantém um estilo de vida ativo manifestaram menores índices de sintomas depressivos, além disso, foram identificados alguns fatores associados à depressão neste grupo como: situações relacionadas às novas regras acadêmicas, pressão e carga excessiva de estudos, exigências sociais de maior autonomia dentre outros, fatores esses que contribuem de forma massiva para desencadear esse transtorno.  Considerações: Neste sentido, a prática de exercícios físicos se mostra benéfica no tratamento e melhorias da capacidade física e psicológica, posto que, quando devidamente orientados os exercícios tendem a influenciar de forma positiva no estado de humor, proporcionando inúmeros benefícios, desempenhando tanto papel preventivo quanto auxiliando no tratamento dos sintomas e consequentemente promovendo aumento na autoestima e estado psicossocial favorável. Sugere-se que tenham mais estudos comparando a prevalência de depressão por área de estudo, uma vez que, este grupo em especial merece atenção e cuidados.

PALAVRAS-CHAVE: Atividade Física. Depressão.  Exercício Físico. Universitários

ABSTRACT

Introduction: Depression is a multifactorial disease that can appear at any time in life, producing mood swings characterized by deep sadness and a strong feeling of hopelessness. Objective: To compare the active lifestyle and associated factors in the prevalence of depression disorders in physical education students and other health courses. Methods: This is an integrative literature review, carried out in the following databases: Virtual Health Library (VHL), Pubmed, Scientific Electronic Library Online (SciELO). Using the following descriptors in isolation and/or in combination: Depression in young people; Depression in university students; Depression and physical exercise; Depression and physical activity. Results: The data indicate that students who maintain an active lifestyle manifested lower rates of depressive symptoms, in addition, some factors associated with depression in this group were identified, such as: situations related to the new academic rules, pressure and excessive workload of studies, social demands for greater autonomy, among others, are factors that contribute to trigger this disorder. Considerations: In this sense, the practice of physical exercises is beneficial in the treatment and improvements of physical and psychological capacity, since, when properly guided, exercises tend to positively influence the state of mood, providing numerous benefits, playing both a preventive role and helping in the treatment of symptoms and consequently promoting an increase in self-esteem and a favorable psychosocial state. It is suggested that there are more studies comparing the prevalence of depression by study area, since this group in particular deserves attention and care.

KEYWORDS: Physical Activity. Depression. Exercise. University.

1 INTRODUÇÃO

A depressão é uma doença multifatorial que pode surgir em qualquer período da vida produzindo alterações no humor caracterizadas por tristeza profunda e forte sentimento de desesperança, manifesta-se com comportamentos autodestrutivos, acarretando impacto significativo tanto na vida pessoal quanto na vida social (BARROSO; OLIVEIRA; ANDRADE, 2019).

Segundo World Health Organization – OMS (2017), essa doença mental crônica atinge aproximadamente 4,4% da população do mundo, enquanto que, no Brasil os dados apontam que 9,3% da população padece com esse tipo de transtorno mental atingindo aproximadamente 18,6 milhões de pessoas. No tocante aos estudantes de ensino superior estima-se que 15% a 25% desse grupo apresentam algum tipo de transtorno psiquiátrico durante sua formação acadêmica (LADEIA; TEIXEIRA, 2021). 

O início da vida acadêmica em uma instituição de ensino superior é marcado como sendo um dos momentos mais importantes da vida do acadêmico, somado a isso, situações relacionadas à socialização com novos colegas e professores, novas regras, carga excessiva de estudos, pressão na execução dos trabalhos e provas, exigências sociais de maior autonomia, morar longe dos pais e em algumas circunstâncias dividir espaços com pessoas desconhecidas são fatores que contribuem para desencadear quadros de ansiedade e transtornos depressivos, principalmente por ser um campo de grandes interações sociais e um ambiente que exige desses universitários muita competências e responsabilidades acadêmicas (LADEIA; TEIXEIRA, 2021).

Em relação aos acadêmicos de educação física Melo et al (2016) destaca que os alunos de educação física por terem disciplinas curriculares ao longo do curso que tratam dos conceitos de Educação em promoção da saúde isso os auxiliam a visualizar melhor os benefícios que um estilo de vida ativo traz e consequentemente tendem a serem mais ativos, melhorando consequentemente tanto a saúde física quanto a saúde mental, apresentando menos sintomas de ansiedade e depressão. O curso de educação física não exige tantas cobranças em relação aos demais cursos da área da saúde, enquanto que, o curso de medicina e enfermagem, o ambiente é mais propício ao stress e às variáveis que o circundam como: a falta de lazer, ambiente hospitalar e sobrecarga curricular, o que podem ser fatores determinantes no favorecimento de um possível quadro depressivo. Outros fatores associados para o desenvolvimento do transtorno depressivo nos acadêmicos da área da saúde estão a falta de segurança em alguns procedimentos, medo de cometer erros, o contato com a morte e irregularidade de horários podem trazer consequências negativas, os quais podem desenvolver ou agravar diversos transtornos mentais e afetivos (MOTERLE, 2018).

E para minimizar o quadro desse transtorno, Aníbal e Romano (2017) abordam que, os exercícios auxiliam no tratamento e na melhoria da capacidade física e psicológica, posto que, quando devidamente orientados e regulares os exercícios tendem a influenciar de forma positiva no estado de humor, proporcionando inúmeros benefícios aos seus praticantes dentre os quais se destaca: o controle de ansiedade, melhoria na sensação de bem-estar e concentração, aumento da qualidade das noites de sono e redução do estresse, consequentemente, promovendo uma melhoria na qualidade de vida e elevando a autoestima (GONÇALVES, 2018). 

Castro et al (2010) e Belvederi et al (2018) reforçam ainda que, os exercícios físicos trazem grandes benefícios para a saúde humana como: bem-estar físico, emocional e social dentre outros, contribuindo para a aquisição de fatores extrínsecos como: a prevenção de doenças e melhoria da condição física, assim como, os fatores intrínsecos no controle do estresse, depressão e bem-estar do indivíduo, vale destacar que, o estilo de vida ativo traz melhorias significativas em diversas patologias, fazendo assim com que as pessoas se sintam cada vez melhor com a continuidade da prática.

É de suma importância que se faça um levantamento sobre essa problemática, visto que, nos dias atuais a depressão é considerada o mal do século e ainda tratada de forma indireta. O estudo pode prover informações sobre o tema contribuindo de forma preventiva e incluindo propostas a serem desenvolvidas dentro das instituições de ensino superior, voltados para resolução de problemas que visem melhorias para o bem-estar psicossocial através do fornecimento de informações adequadas e que possa atender a esse grupo que tanto merece atenção a fim de prevenir e ou reduzir os sintomas depressivos destes acadêmicos, diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo comparar o estilo de vida ativo e fatores associados na prevalência dos transtornos de depressão em acadêmicos de educação física e demais cursos da área da saúde.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo de revisão bibliográfica integrativa, esse tipo de pesquisa segundo Souza, Silva e Carvalho (2010) ajusta a síntese de conhecimento, permite a inclusão de métodos diversos, que têm o potencial de desempenhar um importante papel na pesquisa científica e tem sido apontada como uma ferramenta eficaz, sobretudo no cenário de pesquisas voltadas para a área da saúde.

O presente estudo foi realizado através de investigações nas bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Pubmed, Scientific Eletronic Library Online (SciELO) utilizando de forma isolada e/ou conjugada os seguintes descritores: depressão em jovens, depressão em universitários, depressão e exercício físico, depressão e atividade física.

Os critérios de seleção das publicações dos sujeitos da pesquisa foram somente publicações que tratam do conhecimento sobre depressão e exercício físico em jovens universitários publicados no Brasil em artigos científicos originais nos últimos 10 anos, isto é, compreendido entre os anos de 2014 a 2024, considerando os descritores acima mencionados e como critério de exclusão foram excluídos todos e quaisquer descritores que não fazem parte deste constructo como: depressão em crianças, adolescentes, idosos e/ou outra faixa etária e grupo não compatível com o objetivo desta pesquisa. Foram excluídos também toda e quaisquer publicações fora do período compreendido entre 2014 a 2024, trabalhos em línguas estrangeiras, assim como: trabalhos publicados em monografia, dissertações, teses e livros didáticos. 

Inicialmente o estudo adotou algumas etapas preparativas como: elaboração da pergunta norteadora, buscas na literatura priorizando o tema em questão, análise crítica dos estudos selecionados seguindo critérios de inclusão e exclusão, discussão dos resultados, organização do quadro de revisão e considerações finais.

Após a conclusão desta fase foram executadas as análises de conteúdo, seguindo a proposta por Bardin (2011) que se configura em três fases: 1) Análise inicial; 2) levantamento dos dados e catalogação; 3) Organização e análise, nesta fase, os objetivos e os resumos propostos dos artigos foram sintetizados atendendo aos critérios de inclusão e exclusão, em seguida, os dados foram dispostos em planilhas seguindo a ordem cronológica de cada publicação, a fim de estabelecer os resultados e discussão do estudo em questão.

A pesquisa foi conduzida por meio da seguinte questão norteadora: Há relação entre o estilo de vida ativo na prevalência dos transtornos de depressão em universitários de educação física e demais cursos da área da saúde? Os estudos incluídos na revisão foram analisados de forma organizada analisando os objetivos propostos atendendo aos critérios de inclusão e exclusão, permitindo a compreensão do conhecimento pré-existente sobre o tema investigado.

Figura01: Fluxograma analítico do levantamento bibliográfico 

3 RESULTADOS

Os dados relativos à pesquisa seguem apresentados abaixo atendendo aos critérios devidamente elaborados, com a proposta fundamental de atender aos objetivos do estudo. As informações estão claramente classificadas por ordem cronológica e pelos seguintes critérios: autor, ano, título, objetivo, metodologia, resultados /considerações.

No tocante aos resultados, foram realizadas as análises dos 05 artigos selecionados de acordo com eixos temáticos, dividindo-os em categorias análogas. Os artigos foram selecionados através do levantamento nas bases de dados já mencionadas e estão representados no Quadro 01, abaixo:

Quadro 1- Sínteses dos resultados que comparam o estilo de vida ativo e fatores associados na prevalência dos transtornos de depressão em acadêmicos de educação física e demais cursos da área da saúde: Um estudo bibliográfico.

AUTORTÍTULOOBJETIVOMETODOLOGIARESULTADOS/ CONSIDERAÇÕES
Barros (2017)Ansiedade e depressão em universitários estudantes de educação física da Universidade Federal de Santa CatarinaIdentificar a prevalência da Ansiedade e Depressão em universitários concluintes do curso no segundo semestre de 2017 da UFSC, visto as pressões sociais e pessoais que estes indivíduos enfrentam nesta etapa da graduação.O estudo teve a participação de 47 estudantes do sexo masculino e feminino com faixa etária variada. Trata-se de um estudo de caráter Quantitativo e Qualitativo. Foram utilizados dois questionários: o primeiro relacionado ao IPAQ-4 e o segundo a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD).Os resultados identificaram estudantes ativos (85%), sendo que, apresentavam sintomas depressivos (07) e não apresentavam nenhum sintoma (13). A prevalência de sintomas nos ativos foi de (35.0%) e inativos foi de (66.0%), os indivíduos ativos apresentaram menor prevalência de sintomas depressivos. Conclui-se que tanto os indivíduos ativos, que praticavam exercícios regulares, quanto os inativos apresentaram sintomas depressivos, porém, sintomas graves e moderados foram encontrados de forma prevalente nos estudantes inativos
Azevedo et al (2020)Prevalência de ansiedade e depressão, nível de atividade física e qualidade de vida em estudantes universitários da área de saúdeAvaliar a prevalência de ansiedade e depressão, nível de atividade física e qualidade de vida em estudantes universitários da área de saúde do período noturno da cidade de Ubá – MG.      O estudo teve a participação de 288 estudantes universitários de cursos da área da saúde (Educação Física, Enfermagem, Estética, Odontologia, Psicologia), do sexo masculino e feminino, sendo do sexo feminino 181 (63%), com idade de 23,69 (DP=6,42). Trata-se de uma pesquisa de caráter descritivo e transversal. Foram utilizados os seguintes questionários: Questionário socioeconômico; Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ), que avaliou o nível de atividade física (versão curta); Questionário Short-Form Health Survey (SF-36), que averiguo o nível de qualidade de vida e Questionário de Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS), para avaliar o nível de depressão.Os resultados indicaram prevalência de ansiedade em (45.0%) e depressão (23%). Os resultados do nível de atividade física do IPAC apontaram prevalência de fisicamente ativos nos alunos de educação física (72%), enquanto que, nos demais cursos obtiveram valores abaixo de (60%,). Ao avaliara associação entre o nível de atividade física e a classificação de ansiedade e depressão, as diferenças encontradas foram estatisticamente significativas com valor de (p<0,05). Os dados evidenciaram que o grupo fisicamente ativo, que apontou prática de exercícios regulares, apresentou menor prevalência de depressão, além disso, o nível de atividade física interferiu positivamente na capacidade funcional e no estado geral de saúde desses estudantes.  
Maximiano et al (2020)Nível de atividade física, depressão e ansiedade de estudantes de graduação em Educação FísicaVerificar os níveis de atividade física, sintomas depressivos e ansiedade de estudantes de Educação Física, bem como verificar a relação entre os níveis de atividade física e depressão e ansiedade entre universitários deste curso.Participaram da pesquisa 150 alunos, sendo mulheres (52) e homens (98), com idade entre 18 a 45 anos (22,85; ±4,80). Os dados foram coletados em uma instituição de ensino particular, na qual foram aplicados instrumentos como: dados sociodemográficos; Questionário Internacional de Atividade Física-IPAC (versão curta), para avaliação do nível de atividade física – NAF e Inventário de Beck para avaliar o nível de ansiedade e depressão.Os resultados revelaram que os estudantes têm um nível de atividade física baixo (18%); moderado (20%) e alto nível de atividade física (60%). Em relação aos resultados dos sintomas depressivos, verificou-se que esses foram categorizados com sintomas mínimo, leve, moderado e grave, porém, houve prevalência de sintomas mínimos (76.0%). Não foram identificadas diferenças estatísticas entre os níveis de atividade física com depressão (p=0, 163). Conclui-se que os universitários apresentaram altos níveis de prática regular de atividade física e baixo nível de sintomas depressivos, também não houve relação entre os graduandos de Educação Física depressivos com seus níveis de atividade física.
Mendes  et al (2021)Atividade física e sintomas de ansiedade e depressão entre estudantes de medicina durante a pandemia  Comparar grupos de estudantes de medicina (EM) que praticam diferentes níveis de atividade física moderada e vigorosa (AFMV) durante a pandemia de COVID-19.O estudo analisou 218 estudantes de Medicina composta por jovens entre 18 e 25 anos do sexo feminino (85,8%), residentes na cidade de São Paulo. Trata-se de um estudo transversal. Foram coletados por meio de formulários online: para avaliar a depressão utilizou o inventário de Beck Depression Inventory – BDI. O nível de atividade física foi avaliado pelo International Physical Activity Questionnaire – IPAQ.Quanto ao nível de atividade física houve prevalência de inativos que realizava ≥300 minutos de atividade física (68,3%) com comportamento sedentário acima de 8 horas diárias (82,1%). As razões de chance para a presença de sintomas de ansiedade e depressão foram prevalentes e com má qualidade do sono. Os dados sugeriram que os Estudantes de Medicina que praticavam maior tempo de atividade apresentaram baixa prevalência de sintomas de depressão.
Oliveira; Silva; Carvalho (2022)Prevalência de Depressão e fatores associados em estudantes universitários do curso de Educação Física praticantes e não praticantes de exercício físico de uma capital do NordesteComparar a prevalência de depressão e fatores associados em estudantes universitários do curso de Educação Física praticantes e não praticantes de exercício físico.O estudo teve a participação de 200 acadêmicos do curso de Educação Física divididos em mulheres (100) e homens (100), com idade entre 18 anos e 40 anos, sexo feminino (22,4 ± 4,3) e sexo masculino (22,2 ± 4,4) anos, escolhidos por conveniência todos universitários. Trata-se de um estudo com análise quantitativa descritiva. Para coleta de dados foi aplicado o inventário de depressão de Beck (BDI).Os resultados indicaram que os níveis de depressão foram classificados prevalentemente em mínimo (53.0%), seguidos respectivamente por leve e moderados (22.0 %) e (25.0%). Os homens estão minimamente mais depressivos (61.0%) em relação às mulheres (44.0%), enquanto que, as mulheres estão modernamente mais depressivas (29.0%), porém, a prevalência de depressão de nível grave foi maior no sexo masculino (6.0%). Em relação aos níveis de depressão de universitários praticantes e não praticantes de exercício não foram identificadas associação com a depressão (p=0, 163). Os dados evidenciaram que os exercícios físicos podem estar correlacionados à liberação de hormônios que desempenham papel importante no humor e saúde mental, mostrando-se bastante eficaz principalmente nos casos leves e moderados da depressão.

Fonte: Autoria própria (2024)

4 DISCUSSÃO

No primeiro estudo, Barros (2017) revelou que, entre os 20 participantes, 07 identificaram sintomas depressivos, enquanto 13 não demonstraram nenhum sintoma. Dentre esses estudantes, 17 estavam envolvidos nas práticas de lazer. A prevalência de sintomas entre os que eram ativos foi de (35.0%), enquanto nos inativos foi de (66.0%). É importante ressaltar que tanto os indivíduos ativos quanto os inativos nas práticas de lazer apresentaram sintomas de ambos os transtornos, sendo que apenas os estudantes inativos apresentaram sintomas moderados e graves de depressão.

Santos et al (2019) enfatizam que a ausência da prática de exercício físico e ou sedentarismo é um fator de impacto negativo na saúde mental dos indivíduos, pois se manifesta com redução da autoestima, do bem-estar, da sociabilidade, consequentemente, aumentando os níveis de estresse resultando em transtornos de ansiedade, causando possivelmente os transtornos depressivos, além disso, Batista e Ornellas (2013) avaliam o exercício físico como um forte aliado no combate e prevenção da depressão, posto que a prática possui baixo custo se comparada com as demais terapias, tornando-se acessível a indivíduos de diversas classes sociais.

No segundo estudo realizado, Azevedo et al. (2020) demonstrou que (72%) dos estudantes que eram considerados ativos exibiram uma menor ocorrência de sintomas de ansiedade e depressão, desta forma, constatou-se que a prática de atividade física teve um impacto positivo na capacidade funcional e no estado geral de saúde dos estudantes. Por outro lado, (23%) dos alunos relataram sintomas de depressão, enquanto 45% mostraram índices de ansiedade.

Nesse sentido, destaca-se a importância da conexão entre o exercício físico e saúde mental, pois proporcionam benefícios físicos e psicológicos, como: a redução da insônia, da tensão promovendo o bem estar emocional, além disso, reduz o estresse, melhora a qualidade de vida, melhoria do humor, aumenta as sensações de energia e reduz os sintomas associados à depressão, promovendo benefícios cognitivos e sociais (DARABAS, 2016). 

Para Teixeira et al. (2016) deve-se contemplar a prática de exercícios como uma alternativa não farmacológica designada ao cuidado dos transtornos depressivos, sendo importante perceber que ele oferece vantagens à possibilidade de não produzir efeitos secundários indesejáveis para a saúde, tendo em vista que, as razões pelas quais os exercícios aliviam os sintomas depressivos estão na distração dos pensamentos negativos além do contato social oferecido pelo mesmo, uma vez que, o sedentarismo é um produtor de saúde mental maléfico, pois incide na redução do bem-estar e na socialização do indivíduo, com isso, aumenta o nível de estresse e consequentemente a depressão (NASCIMENTO; AYAN; CANCELA, 2013). 

Com base nessas informações, Herdt (2022) chega à conclusão de que o bem-estar gerado pelos exercícios físicos, além de melhorar o condicionamento físico do indivíduo, proporciona também privilégios psicofisiológicos em curto período, o que comprova a extrema importância da prática como prevenção e tratamento da depressão.

No terceiro estudo Maximiano et al (2020) revelou que estudantes têm um nível de atividade física baixo (18%), moderado (20%) e alto nível de atividade física (60%).  Entre os universitários, apresentaram sintomas leves de depressão (76%), enquanto que, mostraram índices de ansiedade moderados (65%), não foram observadas diferenças estatísticas relevantes nos níveis de atividade física em relação à depressão (p = 0,163) e à ansiedade (p = 0,545).

Resultado similar corrobora com este desfecho no estudo realizado por Pereira et al., (2021) com universitários ativos e sedentários, os dados também apontaram que não houve associação significativa entre os níveis de atividade física e depressão nesses estudantes, porem, Aníbal e Romano (2017) destacam que o exercício é uma forma de tratamento atenuante da depressão e apontado como uma forma preventiva, segura e equivalente à psicoterapia em níveis de eficácia, além de evitar o desconforto dos efeitos colaterais dos remédios utilizados e principalmente no custo deles, porém, essa intervenção não exclui as terapias convencionais. 

Dando sequência a essa linha de pensamento, Zawadzki, Stiegler e Brasilino (2019) ressaltam que o exercício físico sendo desenvolvido em média três vezes por semana, com uma intensidade de moderada a intensa, pode proporcionar benefícios na saúde em geral como também nas relações sociais e psicológicas.

Neste contexto, Santiago (2017) revela que o exercício físico é um grande aliado na prevenção e combate da depressão, devendo sempre ser orientado por profissionais habilitados trazendo excelentes resultados terapêuticos, interferindo positivamente em todos os sistemas orgânicos, sejam eles: respiratório, psíquico, cardíaco, osteomioarticular dentre outros, enfatizando que, a intervenção farmacológica é a mais aplicada no tratamento da depressão, entretanto, os exercícios físicos também assumem importância para prevenção e tratamento deste transtorno.

No quarto estudo, a pesquisa conduzida por Mendes et al (2021) com estudantes de medicina no período da Covid-19, quanto ao nível de atividade física houve um elevado percentual de inativos que realizava ≥300 minutos de atividade física (68,3%) com comportamento sedentário acima de 8 horas diárias (82,1%). As razões de chance para a presença de sintomas de ansiedade e depressão foram prevalentes e com má qualidade do sono. Os dados evidenciaram que os dentre esses estudantes os que praticavam maior tempo de atividade apresentaram baixa prevalência de sintomas de depressão durante a pandemia de COVID-19.

Vale destacar, que ao analisar a depressão durante a pandemia trata-se de uma situação atípica, porém, a prática regular de exercícios produz resultados benéficos em quaisquer situações, posto que, a depressão não tratada pode desencadear graves consequências em qualquer circunstância, o indivíduo com transtornos depressivos tende a ter dificuldades em pensar e tomar decisões, sintomas como: falta de concentração, sentimento de culpa e inferioridade, autodesvalorização, crises de choro, atraso ou agitação psicomotora, lentidão generalizada, sensação de tristeza, desinteresse sexuais, pessoais ou profissionais, destacando ainda a falta de vontade para a realização das atividades no cotidiano, incluído também a ideação suicida que é a fase mais grave e preocupante da doença (DARABAS, 2016).

E finalizando a última discussão Oliveira; Silva e Carvalho (2022) afirmam que os homens estão minimamente mais depressivos (61.0%) em comparação às mulheres (44.0%). Por outro lado, as mulheres estão modernamente mais depressivas (29.0%). Contudo, a ocorrência de casos de depressão de nível grave é prevalente entre os homens (6,0%). Com isso, os níveis de depressão foram prevalentemente categorizados como mínimo (53.0%), seguidos, respectivamente, pelos níveis leve (22.0%) e moderados (25.0%). Em relação aos níveis de depressão de universitários praticantes e não praticantes de exercício também não foram identificadas associação com a depressão (p = 0, 163).

Conforme aponta Darabas (2016), essa doença é prevalente na população feminina em comparação à população masculina, visto que, (8%) das mulheres e (4%) dos homens são afetados por este distúrbio, desse modo, pode-se ressaltar que a depressão está associada a aspectos como: fatores genéticos, sexo, idade, estado civil, classe social e às condições sociais.

Reforçando a discussão referente aos dados apontados acima, nas mulheres a depressão é aproximadamente duas vezes mais prevalente quando comparadas aos homens, a explicação para essa diferença estão nas diferenças fisiológicas e hormonais, no baixo nível de escolaridade, renda e questões socioculturais, além da dificuldade feminina em lidar com situações estressoras (SANTOS 2020; SILVA; SOUSA-CARVALHO, 2023).

Outros fatores que incide na vulnerabilidade feminina à depressão estão as questões sociais, excessiva cobrança e dupla jornada de trabalho, violência doméstica, assédio moral e sexual, somado a um reduzido tempo para descanso e como horários indefinido para o início e finalização das atividades diárias, acarretando em um acúmulo exaustivo de tarefas desencadeando problemas nessa ordem (SILVA et al. 2020).

5 CONSIDERAÇÕES

O estudo em questão indica que a depressão se tornou um tema de grande relevância, uma vez que, os dados têm sido cada vez mais prevalentes, essa condição é caracterizada como um transtorno psicológico constante e repetitivo, no qual existe um dano significativo da capacidade de sentir interesse em certas atividades do dia a dia, além disso, estão incluídos problemas relacionados ao sono, modificações no apetite, sensações de culpa, falta de concentração  com predominância de pensamentos negativos e autodestrutivos.

Dentre os fatores associados à depressão em universitários, é evidente que o ambiente acadêmico traz uma série de desafios, dessa forma, as fontes de estresse costumam ser intensificadas com o avançar do curso em razão das crescentes exigências acadêmicas. A adaptação a um novo espaço, carga horária excessiva de estudos, alterações nas rotinas de sono, além das necessidades de organizar melhor o tempo e estratégias de estudo, requer uma notável habilidade de adaptação. Outros aspectos, como a insegurança em alguns procedimentos, o receio de errar, a proximidade com a morte e o medo de adquirir doenças podem ativar mecanismos de defesa psicológica nos estudantes. Esses estressores podem resultar em consequências negativas para a saúde mental, desencadeando uma perspectiva pessimista sobre a experiência universitária.

Desta forma, acredita-se que os estudantes de Educação Física apresentam uma estabilidade nos percentuais de pessoas categorizadas como muito ativos e ativos, alcançando maiores resultados em relação aos demais cursos da área da saúde, isso indica que, as particularidades do próprio curso podem incentivá-los a manter uma rotina de exercícios físicos regulares, posto que, a inclusão de disciplinas na grade curricular voltadas para os conceitos de saúde e promoção da Saúde, verifica-se que esses estudantes tendem a desenvolver hábitos mais saudáveis em seu cotidiano, entretanto, os resultados referentes à adoção de um estilo de vida ativo nessa população ainda geram questionamentos. 

É importante ressaltar que a prática de exercícios físicos desempenha um papel essencial na recuperação da saúde mental, trazendo consigo vantagens tanto físicas quanto psicológicas, o que, por sua vez, melhora a qualidade de vida. Nesse sentido, a implementação de hábitos e comportamentos saudáveis, particularmente entre os estudantes da área da saúde do ensino superior, surge como uma alternativa benéfica no combate à depressão e isso contribui positivamente para o bem-estar emocional, proporcionando inúmeros benefícios. 

Alguns estudos apontaram a não associação significativa entre exercício físico e depressão, entende-se aqui que o objetivo da pesquisa não foi de apresentar a prática de exercícios como um “milagre”, mas propô-lo como alternativa preventiva, terapêutica e como fator coadjuvante e potencializador no tratamento convencional.

Para finalizar, recomenda-se que se realizem mais pesquisas acerca deste tema, é essencial que novos estudos sejam feitos, estabelecendo uma relação mais clara entre a prática de exercícios físicos e a depressão, especialmente no campo da saúde. Esses novos estudos poderão servir como fundamento para pesquisas e referências em investigações futuras.

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1Acadêmico do Bacharelado em Educação Física do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina (PI), Brasil. Email: analeticiamedino@hotmail.com.
2Doutora em Educação Física pela Universidade Católica de Brasília (UCB) e professora do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina (PI), Brasil. Email: leyla.regis@hotmail.com.