STRESS IN PUBLIC ELEMENTARY SCHOOL TEACHERS: MANIFESTATIONS AND BEHAVIORS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202507091230
Elisangela Maria Fontenele1
Adriana Quaresma de Souza Carvalho2
Darlan Oliveira de Moura Leite3
Edilsilene da Silva Santos4
Maria Edilene de Carvalho Sousa5
Maria Francisca Pereira Damasceno6
RESUMO
O professor é o profissional responsável pela formação de estudantes em diferentes níveis de ensino, exercendo papel essencial não apenas na transmissão de conhecimentos, mas também no desenvolvimento social, emocional e cognitivo dos alunos. Contudo, a docência configura-se como uma atividade de elevada complexidade, caracterizada por múltiplas demandas, pressões institucionais e exigências emocionais contínuas. Objetivo: identificar as principais demandas geradoras de estresse entre professores do ensino fundamental na rede pública. Metodologia: trata-se de uma revisão bibliográfica de abordagem qualitativa, com levantamento de publicações nas bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Medline e Index Psicologia. A busca foi realizada utilizando os descritores: professores escolares, esgotamento profissional; saúde ocupacional e condições de trabalho, combinados entre si por sinônimos e pelos operadores booleanos “OR” e “AND”. Os artigos foram selecionados conforme critérios de inclusão e exclusão previamente definidos, garantindo a pertinência ao tema investigado. Resultados: constatou-se que os fatores mais associados ao estresse docente incluem a sobrecarga de trabalho, as demandas burocráticas, os desafios nas relações com alunos e famílias e a precariedade estrutural das instituições públicas de ensino. Conclusão: evidencia-se a necessidade de políticas públicas e estratégias institucionais que priorizem a valorização do professor, a melhoria das condições laborais e a promoção da saúde mental no ambiente escolar.
Palavras-chaves: professores escolares, esgotamento profissional; saúde ocupacional, condições de trabalho.
ABSTRACT
Teachers are professionals responsible for educating students at different levels of education, playing an essential role not only in the transmission of knowledge but also in the social, emotional and cognitive development of students. However, teaching is a highly complex activity, characterized by multiple demands, institutional pressures and continuous emotional demands. Objective: to identify the main demands that generate stress among elementary school teachers in the public school system. Methodology: this is a bibliographic review with a qualitative approach, with a survey of publications in the Virtual Health Library (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Medline and Index Psicologia databases. The search was conducted using the descriptors: school teachers, professional burnout; occupational health and working conditions, combined with each other by synonyms and the Boolean operators “OR” and “AND”. The articles were selected according to previously defined inclusion and exclusion criteria, ensuring relevance to the topic investigated. Results: it was found that the factors most associated with teacher stress include work overload, bureaucratic demands, challenges in relationships with students and families, and the structural precariousness of public education institutions. Conclusion: there is a clear need for public policies and institutional strategies that prioritize the appreciation of teachers, the improvement of working conditions, and the promotion of mental health in the school environment.
Keywords: school teachers, professional burnout; occupational health, working conditions.
1. INTRODUÇÃO
O termo “professor” refere-se ao profissional responsável pela instrução de alunos em diferentes níveis de ensino, desde a educação infantil até o superior. Além de transmitir conteúdos acadêmicos, os docentes desempenham um papel fundamental no desenvolvimento social, emocional e cognitivo dos estudantes. No entanto, essa profissão é reconhecida como altamente complexa, pois envolve lidar simultaneamente com múltiplas demandas, pressões institucionais e diversas situações emocionais. Ainda assim, espera-se que o professor mantenha uma postura equilibrada, empática e assertiva, o que contribui para ampliar a sobrecarga emocional e mental associada ao exercício da docência (Agyapong et al., 2022; Burić; Slišković; Sorić, et al., 2020; Ma et al., 2023).
A importância de se estudar esse tema, de acordo com Agyapong et al. (2022) está no fato de que a docência é uma função desafiadora, que demanda desenvoltura, capacidade de adaptação e habilidade para resolver problemas em ambientes de trabalho marcados por exigências elevadas e, muitas vezes, carência de recursos.
No entanto, níveis significativos de estresse e ansiedade são comuns entre esses profissionais, principalmente quando associados à sobrecarga de trabalho e à falta de apoio institucional, fatores que agravam o sofrimento emocional e comprometem a saúde mental no exercício da atividade docente. Assim, compreender as demandas e os impactos do estresse entre professores torna-se fundamental para subsidiar intervenções preventivas e estratégias de promoção da saúde mental no ambiente escolar (Emeljanovas et al., 2023).
Nesse sentido, Ozoemena et al., (2021) destacam que a docência é uma atividade frequentemente associada a elevados níveis de estresse e ao comprometimento da saúde física e mental. Além disso, professores do ensino primário apresentam índices mais elevados de sofrimento psicológico quando comparados a profissionais de outras áreas. Esse sofrimento se manifesta por meio de ansiedade, tristeza, irritabilidade, constrangimento e vulnerabilidade emocional, afetando a qualidade de vida, o desempenho profissional e as relações interpessoais desses docentes.
Diante desse cenário, o presente estudo teve como objetivo identificar as principais demandas geradoras de estresse entre professores do ensino fundamental na rede pública. A escolha do tema se justifica pela relevância acadêmica e social, ao reconhecer o estresse como uma condição de adoecimento que afeta diretamente a saúde mental, o desempenho profissional e a qualidade do ambiente escolar. Além de contribuir para o aprofundamento teórico sobre a temática, a pesquisa propõe ampliar a compreensão da sociedade e dos próprios docentes acerca dos desafios enfrentados no cotidiano escolar e das repercussões dessa sobrecarga, oferecendo subsídios para reflexões e ações voltadas à valorização profissional e à melhoria das condições de trabalho na educação básica.
2. METODOLOGIA
A presente pesquisa caracteriza-se como uma revisão bibliográfica de abordagem qualitativa. Segundo Boccato (2006), esse tipo de estudo tem como finalidade reunir, investigar e analisar criticamente publicações científicas sobre determinado tema, com o propósito de atualizar conhecimentos, aprofundar discussões e subsidiar a produção de novos estudos.
Para a construção desta revisão, foram consultadas as bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Medline e Index Psicologia. O levantamento foi realizado a partir dos descritores: professores escolares, esgotamento profissional, saúde ocupacional e condições de trabalho, combinados entre si por sinônimos e pelos operadores booleanos “OR” e “AND”, com o objetivo de refinar e selecionar os artigos mais pertinentes à temática proposta.
Os critérios de inclusão consideraram artigos publicados no período de janeiro de 2019 a dezembro de 2024, disponíveis na íntegra, nos idiomas português, inglês e espanhol, independentemente do país de origem, desde que abordassem diretamente a temática investigada. Como critérios de exclusão, foram desconsiderados artigos publicados antes de 2019, estudos sem relação direta com o tema central, dissertações, teses, artigos indisponíveis na íntegra e publicações que não correspondessem ao escopo desta revisão.
O processo de seleção dos artigos ocorreu em duas etapas. Inicialmente, foram identificadas 180 publicações nas bases de dados selecionadas. Na primeira etapa, procedeu-se à leitura e análise dos títulos e resumos, com o objetivo de verificar a adequação aos critérios de inclusão previamente estabelecidos. Nessa fase, 39 artigos foram considerados potencialmente elegíveis. Na segunda etapa, realizou-se a leitura completa desses artigos para confirmar sua relevância e compatibilidade com os objetivos da pesquisa. Ao final desse processo, 10 estudos foram selecionados para compor o corpus da presente revisão.
1. Fluxograma de seleção dos artigos

Fonte: Elaborado pelos autores, 2024.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A busca realizada nas bases de dados resultou na identificação de 10 artigos que atenderam aos critérios de inclusão estabelecidos para esta revisão. Esses estudos foram organizados no quadro a seguir, o qual reúne os principais aspectos de cada publicação. Essa sistematização possibilitou uma análise comparativa e fundamentada das evidências disponíveis sobre o tema.
Quadro 1: Caracterização dos Estudos Selecionados para a Revisão
Autor(es)/ Ano | Objetivo do Estudo | Metodologia | Principais Achados | Conclusão |
Deffaveri et al. (2020) | Identificar sintomas de ansiedade e estresse em professores da educação básica. | Estudo quantitativo, transversal, com 200 professores no RS. | Professores de ambas as redes tiveram mais ansiedade; estresse maior na rede pública. | Níveis elevados de ansiedade e estresse entre docentes. Maior vulnerabilidade na rede pública e dupla jornada. |
Pellerone et al. (2020) | Medir o papel de burnout nas dimensões emocionais e na qualidade do ensino. | Estudo transversal com 324 professoras sicilianas de diferentes etapas escolares. | Exaustão emocional e despersonalização correlacionadas; afetaram negativamente a qualidade do ensino. | Burnout prejudica o desempenho docente e deve ser prevenido e gerenciado. |
Furihata et al. (2022) | Investigar a relação entre horas extras e reações de estresse psicológico entre professores. | Estudo transversal com 6.135 professores japoneses. | Horas extras correlacionadas a maior estresse. Tarefas educacionais e periféricas elevaram reações de estresse. | Reduzir horas extras e dividir tarefas ajuda a mitigar o estresse docente. |
Zhao et al. (2021) | Investigar a relação entre estresse no trabalho, conflito trabalho-família, autoeficácia e esgotamento profissional em professores. | Estudo quantitativo com 558 professores. Aplicação de escalas de estresse, esgotamento, conflito trabalho-família e autoeficácia | Estresse preditor de conflito trabalho família e esgotamento. Autoeficácia moderou a relação, mas com efeito limitado. | Estresse impacta diretamente a saúde mental docente. Intervenções devem incluir equilíbrio trabalho-família e suporte emocional. |
Sanetti et al. (2022) | Avaliar a implementação e adaptação de um programa participativo de promoção de saúde no trabalho (HWPP). | Estudo piloto exploratório, método misto, realizado em duas escolas. Avaliação quantitativa e qualitativa. | Adaptações aumentaram aceitabilidade e viabilidade. Versão otimizada (HWPP-Educação) obteve melhores avaliações. | Intervenções participativas são viáveis, eficazes e replicáveis para promoção da saúde no ambiente escolar. |
Carvalho e Santos (2022) | Analisar estressores psicossociais, sexo, transtornos mentais comuns (TMC) e danos físicos em professores. | Estudo quantitativo, transversal, com 452 professores da rede pública. | Estressores explicaram TMC e danos físicos. Mulheres relataram mais sintomas. Conflito trabalho família e sobrecarga de trabalho preditores importantes. | Destaca-se impacto de estressores psicossociais, com diferenças de gênero. |
Wilson et al. (2022) | Avaliar o efeito de um programa de mindfulness (MBHP-Educa) na redução de estresse percebido e na melhora emocional em professoras da rede pública. | Ensaio clínico randomizado controlado (88 professoras), com grupo controle ativo, intervenção de8 semanas e análise de biomarcadores inflamatórios. | Reduziu estresse percebido e afeto negativo; aumentou afeto positivo, resiliência e bem-estar psicológico. Alterou positivamente IL-6, IL-8, IL-10 e IL12p70. | MBHP-Educa mostrou-se eficaz para reduzir estresse e promover benefícios emocionais e psicobiológicos em professoras da rede pública. |
La Marca et al. (2023) | Investigar a relação entre estresse crônico, interações professor-aluno e concentração de cortisol capilar (CHC). | Estudo observacional longitudinal com 41 professores. Coleta de cabelo, aplicação do TICS e gravações de aulas. | Interrupções, agressividade e número de aulas elevaram CHC. Relação professor aluno e gestão de sala reduziram níveis de estresse. | Relações interpessoais positivas amortecem o estresse docente. CHC é um indicador biológico confiável para estudos de estresse crônico. |
Tsubono et al. (2023) | Analisar estresse ocupacional de professores, diferenças de gênero e apoio organizacional. | Estudo quantitativo com 1.825 professores do ensino fundamental e médio. | Professoras relataram mais estresse psicológico e físico, menor suporte. Apoio familiar e social mais relevante para elas. | Intervenções devem considerar gênero, autonomia docente e cultura organizacional. |
Agyapong et al. (2024) | Avaliar a prevalência e os preditores das três dimensões do burnout (exaustão emocional, despersonalização e falta de realização profissional) entre professores do ensino fundamental e médio no Canadá. | Estudo transversal quantitativo, com aplicação online do MBI-ES, BRS e Perceived Stress Scale. Dados coletados entre setembro de e agosto de com 780 professores. Análise estatística no SPSS. | Prevalência de 76,9% para exaustão emocional, 23,2% para despersonalização e 30,8% para falta de realização profissional. Alto estresse e baixa resiliência foram os principais preditores das três dimensões. Professores do sexo masculino, casados e de Educação Física apresentaram maiores índices de despersonalização. | O estudo evidencia o impacto significativo do estresse e da baixa resiliência sobre o burnout docente, indicando a necessidade de intervenções institucionais para reduzir o estresse ocupacional e fortalecer a resiliência entre professores. |
Fonte: Elaborado pelos autores, 2024.
A análise dos dados organizados no quadro 1, permitiu identificar uma variedade de fatores preditores de estresse em professores do ensino fundamental, bem como diferentes manifestações emocionais, físicas e comportamentais. Os estudos contemplaram aspectos institucionais, demandas ocupacionais, conflitos no ambiente escolar e fatores psicossociais que influenciam a saúde mental docente. Dessa forma, para uma apresentação mais estruturada e aprofundada dos resultados, os achados foram agrupados em três categorias temáticas:
3.1 O estresse e suas manifestações em professores do nível fundamental.
Esta categoria reúne estudos que investigam a prevalência, os sintomas e as formas de manifestação do estresse, ansiedade e sofrimento psicológico em professores da educação básica, especialmente no ensino fundamental. Os artigos analisaram a intensidade dos sintomas e fatores associados, considerando o impacto das condições de trabalho e da rotina escolar.
De acordo com Deffaveri et al. (2020), o estudo identificou que professores que atuavam simultaneamente nas redes pública e privada apresentaram mais sintomas de ansiedade, enquanto aqueles exclusivamente da rede pública relataram níveis mais elevados de estresse. Apesar dos sintomas situarem-se entre leves e normais, os autores alertam para a importância de implementar políticas institucionais e governamentais que promovam melhores condições de trabalho, valorização salarial e infraestrutura adequada.
Para La Marca et al. (2023) e Tsubono et al. (2023), o estresse é um fator de risco significativo para a saúde mental e física dos professores. O ambiente de trabalho, frequentemente uma fonte de estresse, pode, em certas circunstâncias, levar ao burnout, uma síndrome caracterizada por exaustão emocional, despersonalização e baixa realização pessoal. Com o tempo, o estresse relacionado ao trabalho, por meio do burnout, pode evoluir para depressão.
Por outro lado, os estudos de Pellerone et al. (2020) identificaram diferenças significativas nas competências socioemocionais entre professoras do ensino fundamental e superior. No ensino fundamental, destacaram-se melhores habilidades de comunicação não verbal e resolução de conflitos. Já no nível superior, especialmente entre docentes com menos experiência, observou-se menor empatia e liderança efetiva.
Furihata et al. (2022) identificam o burnout como um estado de esgotamento composto por exaustão emocional, cinismo e ineficácia, relacionado ao estresse no ambiente social e profissional. O estudo associa esse quadro a sérias repercussões para a saúde física e mental, como depressão, insônia, doenças crônicas e aumento da mortalidade precoce, evidenciando a importância de estratégias institucionais para prevenir e reduzir o adoecimento entre professores.
Em síntese, a combinação desses fatores, associada a condições de trabalho precárias e demandas muitas vezes inexequíveis, configura um contexto de elevada adversidade que compromete a atenção, a concentração e a memória dos docentes. Além disso, observa-se uma prevalência ampliada de transtornos clínicos e psiquiátricos, notadamente depressão e ansiedade, os quais podem tanto precipitar quanto agravar o quadro de estresse crônico entre professores (Wilson et al., 2022).
3.2 Principais demandas que geram estresse nos docentes do ensino fundamental.
Nesta categoria, estão reunidos os estudos que investigaram os fatores e demandas específicas responsáveis por gerar estresse e sofrimento emocional entre professores do ensino fundamental, como sobrecarga de tarefas, conflitos interpessoais, metas pedagógicas, indisciplina e ausência de apoio institucional.
O estudo de Wilson et al. (2022) identificou que o estresse vivenciado por professores do ensino fundamental está relacionado a múltiplas demandas emocionais diárias e à falta de suporte institucional, configurando-se como fatores agravantes da sobrecarga docente. Os autores destacam que tarefas rotineiras geram estresse pessoal, enquanto situações mais complexas, como lidar com alunos e suas famílias, políticas educacionais e exigências avaliativas, caracterizam o estresse profissional. A intensidade desse estresse depende do nível de conflito e ambiguidade presente em cada situação e da percepção dos desafios como intransponíveis, frequentemente acompanhados por sentimentos de desgaste e frustração.
No estudo de Sanetti et al. (2022) identificaram que os principais fatores geradores de estresse entre professores do ensino fundamental são a sobrecarga de trabalho, os conflitos interpessoais no ambiente escolar e as exigências administrativas excessivas. Esses elementos, quando constantes, comprometem a saúde mental dos docentes, prejudicam a qualidade do ensino e contribuem para o afastamento e abandono da carreira. O estudo destaca a importância de intervenções institucionais que atuem não apenas no nível individual, mas também organizacional, visando melhorar as condições de trabalho e o bem-estar dos professores.
Segundo Carvalho e Santos (2022) os estressores psicossociais no trabalho docente, especialmente o conflito trabalho-família e a sobrecarga de trabalho, foram os principais preditores de transtornos mentais comuns e danos físicos entre professores. O estudo também identificou maior vulnerabilidade entre as mulheres e evidenciou que o conflito trabalho-família intensifica os danos físicos nesse grupo. Os autores destacam a necessidade de intervenções institucionais para reduzir esses estressores e proteger a saúde mental e física dos docentes.
3.3 As problemáticas associadas ao estresse para os professores e a educação de nível fundamental.
Esta categoria abrange estudos que discutiram as consequências do estresse para a saúde dos professores, a qualidade pedagógica e o ambiente escolar, além de apontar caminhos para minimizar os impactos do adoecimento docente sobre o processo educacional.
O estudo de La Marca et al. (2023) concluiu que demandas estruturais elevadas aumentam o estresse crônico em professores, enquanto ambientes escolares positivos e recursos institucionais funcionam como fator de proteção. Os autores defendem que a responsabilidade pela saúde mental docente deve ser compartilhada pelas instituições e sistemas educacionais, com a oferta de suporte, redução de sobrecarga e fortalecimento de estratégias saudáveis de enfrentamento no trabalho escolar.
No estudo de Furihata et al. (2022) evidenciou que trabalhar horas extras durante a semana, em feriados e levar trabalho para casa está associado a maiores reações de estresse psicológico entre professores japoneses. As horas extras dedicadas simultaneamente a tarefas educacionais e periféricas geraram níveis de estresse mais elevados do que aquelas voltadas apenas para atividades educacionais. Os resultados sugerem que reduzir a carga de trabalho extra e reorganizar a distribuição das tarefas pode ser uma estratégia eficaz para mitigar o estresse docente e promover melhores condições de saúde mental na categoria.
Segundo Agyapong et al. (2024) em sua pesquisa foi constatada uma elevada prevalência de exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional entre professores canadenses, sendo a exaustão emocional a dimensão mais frequente. O estudo apontou o alto nível de estresse e a baixa resiliência como os principais preditores do burnout nas três dimensões investigadas. Diante desses achados, os autores destacam a necessidade de promover intervenções no ambiente escolar que fortaleçam a resiliência docente, reduzam o estresse ocupacional e favoreçam um contexto institucional mais saudável e acolhedor para o bem-estar emocional e profissional dos educadores.
Segundo o estudo de Zhao et al. (2021), o estresse no ambiente de trabalho está diretamente relacionado ao esgotamento profissional de professores do ensino fundamental e médio, sendo essa relação mediada pelo conflito trabalho-família. Além disso, a pesquisa evidenciou que a autoeficácia atua como moderadora nesse processo, porém de maneira inesperada, pois professores com maior autoeficácia demonstraram maior vulnerabilidade aos efeitos negativos do conflito trabalho-família sobre o esgotamento.
No âmbito do esgotamento docente, a qualidade das relações interpessoais e a cooperação entre os profissionais da educação configuram-se como importantes fatores de proteção frente ao estresse e à exaustão emocional. Em contrapartida, a sobrecarga de trabalho desponta como uma das principais fontes de estresse, prejudicando a capacidade de enfrentamento, o tempo de recuperação e o equilíbrio emocional. Quando crônica, essa condição repercute negativamente no desempenho profissional, nas relações institucionais, na saúde mental e na qualidade de vida dos docentes (Agyapong et al., 2024).
Tsubono et al. (2023) identificaram que o estresse ocupacional docente é maior entre mulheres, influenciado especialmente por fatores familiares e menor disponibilidade de recursos no trabalho. Enquanto as demandas profissionais elevam o estresse, os recursos institucionais favorecem o bem-estar e o engajamento. Os autores recomendam que as escolas considerem essas diferenças de gênero e promovam suporte emocional, autonomia e ações que valorizem a diversidade no ambiente escolar.
Por outro lado, La Marca et al. (2023) e Sanetti et al. (2022) destacam que, apesar das adversidades do ambiente escolar, alguns recursos podem atenuar os efeitos do estresse docente. Os autores ressaltam que a qualidade das interações entre professores e alunos, associada a uma gestão de sala de aula eficaz, constitui um fator protetivo relevante tanto para a saúde mental dos docentes quanto para o desenvolvimento acadêmico e psicossocial dos estudantes. Contudo, quando o estresse se torna crônico, tende a instaurar um ciclo prejudicial, em que o comprometimento emocional do professor repercute negativamente no desempenho e comportamento dos alunos.
Concordando com essa perspectiva, Agyapong et al. (2024) contribui ao destacar que o burnout configura-se como uma forma de disforia ocupacional comum em profissões de serviços humanos, como o magistério, caracterizadas por intenso envolvimento interpessoal. O autor salienta que os professores estão especialmente vulneráveis a esse fenômeno em razão da elevada sobrecarga ocupacional, o que pode gerar importantes consequências para a saúde mental, o desempenho profissional e a qualidade do ambiente educacional.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise realizada nesta pesquisa demonstrou que o estresse ocupacional entre professores do ensino fundamental na rede pública é um fenômeno multifatorial, associado a sobrecarga de trabalho, exigências emocionais constantes, conflitos interpessoais e carência de suporte institucional adequado. Esses fatores afetam diretamente a saúde mental dos docentes, comprometendo o desempenho profissional, as relações interpessoais no ambiente escolar e a qualidade do processo de ensino-aprendizagem.
Foi possível identificar elevada prevalência de sintomas de ansiedade, depressão e esgotamento emocional, com destaque para a exaustão emocional e os sentimentos de desvalorização profissional. A exposição prolongada a situações estressoras compromete a capacidade de enfrentamento e o equilíbrio emocional dos professores, prejudicando sua produtividade, motivação e bem-estar geral.
Apesar de apresentarem melhores indicadores de comunicação e resolução de conflitos em comparação a outros níveis de ensino, os professores do ensino fundamental permanecem vulneráveis ao sofrimento psicológico, evidenciando que as demandas da função extrapolam a competência técnica e atingem dimensões emocionais e sociais relevantes.
As consequências do estresse docente não se restringem ao indivíduo, refletindo-se no ambiente escolar, na dinâmica institucional e no desempenho acadêmico dos estudantes. A intensificação desses quadros contribui para o afastamento e a evasão da carreira docente, agravando os desafios enfrentados pela educação pública.
Diante desse cenário, torna-se imprescindível que políticas públicas e ações institucionais priorizem a valorização profissional, a melhoria das condições de trabalho e a promoção da saúde mental no ambiente escolar. A construção de estratégias preventivas e de apoio psicossocial, articuladas entre gestores, profissionais de saúde e órgãos educacionais, é essencial para garantir ambientes escolares mais saudáveis, o bem-estar docente e a permanência qualificada desses profissionais na educação básica.
REFERÊNCIAS
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1Bacharel em Psicologia pelo Centro Universitário Maurício de Nassau – Teresina sul. Brasil. E-mail: elisangelafontenele01@gmail.com
2Bacharel em Psicologia pelo Centro Universitário Maurício de Nassau – Teresina sul. Brasil. E-mail: adriana24quaresma@gmail.com
3Bacharel em Psicologia pelo Centro Universitário Maurício de Nassau – Teresina sul. Brasil. E-mail: darlan.leite@pc.pi.gov.br
4Graduanda em Psicologia pelo Centro Universitário Maurício de Nassau – Teresina sul. Brasil. E-mail: lenebug@hotmail.com
5Graduanda em Psicologia pelo Centro Universitário Maurício de Nassau – Teresina sul. Brasil. E-mail: edileneedilene@yahoo.com
6Bacharel em Psicologia pelo Centro Universitário Maurício de Nassau – Teresina sul. Brasil. E-mail: mariafranciscapereira1705@gmail.com