ESTRATÉGIAS PARA ADMINISTRAÇÃO SEGURA DE MEDICAMENTOS EM PEDIATRIA: CONSTRUINDO UMA ASSISTÊNCIA SEGURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202411150521


Dayana Couto Silva; Ana Paula de Andrade Silva; Susankelly Paula Gomes de Assis; Tiely Cristine da Silva Almeida; Rodrigo Pereira Ramos de Oliveira; Emylle Thalyne de Lima Pereira; Yap onira Leal Sousa; Laís Câmara Borges Vilar  


RESUMO

O objetivo da pesquisa é analisar na literatura estratégias para administração segura de medicamentos em pediatria. Para seguir os seguintes caminhos primeiramente iremos caracterizar as publicações selecionadas de erros na administração de medicamentos, em seguida iremos identificar as lacunas da administração de medicamentos em pediatria nas bases da literatura e por fim, investigar a importância do uso de protocolos de medicamentos em pediatria. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa, com objetivo de compreender o conhecimento, através dos levantamentos bibliográficos, frente a estratégias para administração segura de medicamentos em pediatria. Após a associação de todos os descritores foram encontrados 52 artigos, excluídos 42 e selecionados 10. Posterior à leitura reflexiva emergiram a tabela com os resultados. Nos estudos recentes destacam a alta ocorrência de erros na dosagem de medicamentos em pediatria, atribuída à prática de prescrição off label e à necessidade de adaptação de doses de adultos para crianças, evidenciando a falta de formulações adequadas para esta população. Além disso, a tendência de individualizar o erro e adotar uma cultura de punição é apontada como ineficaz na prevenção de erros, destacando a importância de uma abordagem sistêmica. Observações em ambiente pediátrico revelaram problemas como preenchimento incorreto de rótulos e falhas na educação continuada, reforçando a necessidade de estratégias de segurança do paciente, como sistemas automatizados e protocolos eficazes de administração. Conclui-se, portanto, esta pesquisa destaca a importância da educação continuada e de protocolos padronizados para garantir a administração segura de medicamentos em pediatria, enfatizando a necessidade de uma abordagem sistêmica na prevenção de erros e na identificação de inconsistências, visando aprimorar a assistência aos pacientes infantis.

Palavra-chave: Medicamentos. Assistência. Pediatria. 

1 INTRODUÇÃO 

A segurança do paciente ganhou destaque no Brasil e no mundo após o relatório Errar é Humano do Instituto de Medicina dos Estados Unidos (IOF), que evidenciou os erros na assistência em saúde. Em resposta, a Organização Mundial de Saúde lançou uma Aliança Mundial para a Segurança do Paciente em 2017, com foco no terceiro desafio global de segurança do paciente, que abordou o “uso seguro de medicamentos”, visando reduzir danos evitáveis (OMS, 2017).

No Brasil, o Programa Nacional de Segurança do Paciente foi implementado em 2013 através da Portaria nº 529/13, com o objetivo de monitorar e prevenir danos na saúde, incluindo protocolos como o de Segurança na Prescrição, Uso e Administração de Medicamentos (Brasil, 2013).

O processo de medicação no Brasil envolve prescrição médica, dispensação pela farmácia das unidades de saúde, aprazamento pelos enfermeiros e administração pelos técnicos de Enfermagem. Falhas podem ocorrer devido à sobrecarga de trabalho, lotação de pacientes e falta de padronização, destacando-se altas taxas de erro no país (Volpe, 2016).

Os erros de medicação impactam negativamente no cuidado ao paciente, aumentando custos e prolongando a permanência hospitalar. No contexto pediátrico, as características próprias das crianças contribuem para incidentes, especialmente relacionados à dosagem e vias de administração, exigindo uma atenção especial da equipe de enfermagem (Souza et al., 2018; Rocha et al., 2015).

Treinamentos para profissionais de saúde, especialmente para a equipe de enfermagem, podem contribuir para a segurança do paciente, assim como a adoção de tecnologias em saúde, que abrangem desde equipamentos hospitalares até sistemas de informação e checklist (Brasil, 2013).

A enfermagem desempenha um papel fundamental na construção de um ambiente de cuidado seguro, promovendo uma cultura de segurança e contribuindo para a implementação de tecnologias voltadas para esse fim (Gomes et al., 2017).

Em vista da necessidade de se entender como ocorre a prevenção de erros de medicamentos e promoção da segurança do paciente na administração de medicamentos em pediatria surge a questão norteadora do presente estudo: Quais estratégias são utilizadas para administração segura de medicamentos em pediatria?

Para dá conta da problematização apresentada, a hipótese é de que a implementação de protocolos específicos para administração de medicamentos em pacientes pediátricos reduzirá significativamente os erros de medicação e aumentará a segurança do paciente. 

O objetivo da pesquisa é analisar na literatura estratégias para administração segura de medicamentos em pediatria. Para seguir os seguintes caminhos primeiramente iremos caracterizar as publicações selecionadas de erros na administração de medicamentos, em seguida iremos identificar as lacunas da administração de medicamentos em pediatria nas bases da literatura e por fim, investigar a importância do uso de protocolos de medicamentos em pediatria.

Justifica-se a necessidade de conhecer as tecnologias de segurança do paciente com foco na administração segura de medicamentos, tendo em vista que a cultura de segurança do paciente vem sendo implementada nas instituições de saúde, visando garantir a qualidade da assistência ofertada.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 

2.1 Erros na administração de medicamentos 

Os erros no preparo e na administração de medicamentos representam um problema significativo de saúde pública, especialmente devido à sua alta frequência de ocorrência. Esses erros são particularmente preocupantes quando envolvem medicamentos administrados por via intravenosa, pois o manuseio inadequado pode levar a eventos adversos graves nos pacientes. Isso acontece porque os medicamentos intravenosos agem diretamente na corrente sanguínea, o que aumenta a rapidez e a intensidade com que podem causar efeitos indesejados (Leite et al., 2023). Diante desse cenário, é essencial que a prática de preparação e administração de medicamentos seja realizada de maneira correta e segura. Isso é crucial para minimizar e prevenir erros, garantindo assim a segurança e o bem-estar dos pacientes.

Os erros de medicação podem causar uma variedade de impactos na saúde do paciente, variando desde complicações no quadro clínico até a morte, frequentemente prolongando a internação hospitalar. Isso resulta em danos físicos para o paciente e custos adicionais para a instituição (Silva, 2021). 

Um estudo identificou que 60% das doses preparadas apresentavam erros de técnica, enquanto uma pesquisa na Alemanha encontrou um índice de 56% (Hermanspann et al., 2019). Outro estudo de Nguyen e colaboradores (2015), com populações adultas apresentou resultados compatíveis, embora uma pesquisa no Vietnã tenha revelado um índice significativamente menor de 15,7% (Santana et al., 2019).

Os principais erros na técnica de preparo de medicamentos intravenosos incluíram a não utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) em 62% dos casos, identificação incorreta dos medicamentos preparados em 53%, falta de higienização das mãos em 45%, não desinfecção de ampolas em 35% e não desinfecção da bancada em 20% (Lyons et al., 2018). 

Para garantir a qualidade, segurança e eficácia na administração de medicamentos intravenosos, é necessário seguir requisitos mínimos para evitar contaminações químicas e biológicas. A segurança microbiológica pode ser comprometida quando os profissionais de enfermagem não higienizam as mãos, não limpam a bancada antes de preparar os medicamentos, não usam máscara e não desinfetam as ampolas (Lima et al., 2022).

O risco de contaminação ao remover a dose de medicamento de frasco-ampola está relacionado a vários fatores, incluindo o tipo de frasco, características da agulha ou dispositivo de punção, número de perfurações na borracha, características físicas da borracha, técnica asséptica utilizada, injeção de ar no frasco e eficiência dos conservantes (Leite et al., 2023).

A higienização das mãos muitas vezes não é realizada corretamente. Além disso, durante a desinfecção das ampolas, é comum o uso de algodão não estéril embebido em álcool 70%, sem o movimento de fricção mecânica necessário e sem aguardar os 15 segundos necessários para a secagem da solução (Reis et al., 2020). 

Durante o preparo dos medicamentos, pode ocorrer a falta de desinfecção da bancada, isso ignora o fato de que superfícies limpas e desinfetadas podem reduzir cerca de 90% dos microrganismos, enquanto superfícies apenas limpas reduzem 80% dos microrganismos por apenas duas horas. Portanto, é essencial armazenar, acessar e preparar medicamentos e materiais/suprimentos em uma área limpa, conforme o manual de limpeza e desinfecção da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) (Brasil, 2017).

As medidas de prevenção de infecção relacionadas à assistência à saúde, recomendadas pela ANVISA, incluem a desinfecção do ambiente e superfícies, higienização das mãos, uso de equipamentos de proteção, desinfecção de ampolas, frascos, pontos de adição dos medicamentos e conexões das linhas de infusão (Brasil, 2017).

A falta de higiene das mãos, o não uso de EPIs (máscaras, luvas e touca), a não desinfecção de ampolas e a não desinfecção da ponta do dispositivo de acesso intravenoso podem levar à translocação bacteriana para o sítio de infusão da dose e pele do paciente, aumentando o risco de flebite infecciosa e infecção de corrente sanguínea relacionada ao cateter. Essas medidas individuais são simples, pouco dispendiosas e eficazes na prevenção da propagação de infecções relacionadas à assistência à saúde (Santana et al., 2020).

Os erros na administração de medicamentos representam um problema crítico na área da saúde, afetando significativamente a segurança dos pacientes. Esses erros podem ocorrer em diversas etapas do processo de medicação, desde a prescrição até a administração final. A complexidade do tratamento medicamentoso, o ambiente hospitalar agitado e a carga de trabalho dos profissionais de saúde são fatores que contribuem para a ocorrência desses erros. Além disso, a falta de conhecimento adequado sobre os medicamentos e suas interações pode aumentar o risco de administração incorreta, colocando em perigo a vida dos pacientes e comprometendo a eficácia do tratamento (Silva et al., 2022).

A administração incorreta de medicamentos pode levar a uma variedade de consequências adversas, variando desde reações alérgicas leves até complicações graves e fatais. Os eventos adversos relacionados a medicamentos são uma causa significativa de morbidade e mortalidade hospitalar. Estudos mostram que erros de medicação prolongam o tempo de internação dos pacientes, aumentam os custos hospitalares e podem resultar em processos legais contra instituições de saúde e profissionais envolvidos. O impacto psicológico sobre os profissionais de saúde que cometem esses erros também não deve ser subestimado, pois podem sofrer de estresse e culpa, afetando seu desempenho e bem-estar (Pinheiro et al. 2020).

Diversos tipos de erros na administração de medicamentos são frequentemente observados. Entre os mais comuns estão a dosagem incorreta, administração de medicamento errado, uso de via de administração inadequada e falha na observação das contraindicações. A não adesão aos protocolos de segurança, como a confirmação da identidade do paciente e a verificação da medicação antes da administração, também contribui significativamente para a ocorrência desses erros. A falta de comunicação eficaz entre os membros da equipe de saúde e o uso de abreviações ambíguas nas prescrições são outros fatores que aumentam a probabilidade de erros (Santana et al., 2020).

Para mitigar os erros na administração de medicamentos, é crucial implementar estratégias eficazes de prevenção e controle. A adoção de sistemas informatizados de prescrição e administração de medicamentos pode reduzir consideravelmente os erros, garantindo que as dosagens e os tipos de medicamentos sejam verificados eletronicamente. Programas de educação continuada para profissionais de saúde são essenciais para mantê-los atualizados sobre as melhores práticas e novas informações relacionadas aos medicamentos (Santana et al., 2020). Além disso, a criação de uma cultura de segurança no ambiente hospitalar, onde os profissionais se sintam confortáveis em reportar erros sem medo de represálias, é fundamental para identificar e corrigir falhas no sistema.

Finalmente, a participação ativa dos pacientes no processo de medicação pode servir como uma camada adicional de segurança. Educar os pacientes sobre seus medicamentos, incluindo o nome, dosagem, e possíveis efeitos colaterais, pode ajudar a prevenir erros. Incentivar os pacientes a fazer perguntas e a confirmar informações sobre suas medicações com os profissionais de saúde pode reduzir significativamente os riscos de administração incorreta (Lima et al., 2022). Assim, a combinação de tecnologias avançadas, treinamento contínuo, comunicação eficaz e envolvimento do paciente é essencial para melhorar a segurança na administração de medicamentos e, consequentemente, a qualidade do cuidado de saúde.

2.2 Segurança do paciente na administração de medicamentos na pediatria 

A segurança do paciente é um desafio crucial para a prestação de cuidados de longo prazo, considerando a relação custo-eficácia dos programas de segurança em comparação aos danos causados. As causas de danos aos pacientes são complexas, dinâmicas e diversificadas, abrangendo todas as facetas do cuidado de saúde e comportamento do sistema de planejamento, educação e formação. Para promover a segurança do paciente, é essencial um ambiente seguro, estabelecido a partir de políticas institucionais com objetivos bem definidos, começando pelo compromisso de cada membro da equipe de saúde e de todos os envolvidos na promoção da saúde (Zsifkovits, 2016). A coordenação de ações eficazes é fundamental para prevenir eventos adversos e reduzir riscos, especialmente na área da saúde infantil. 

A segurança do cuidado resulta de ações corretas dos profissionais de saúde, além de processos e sistemas adequados nas instituições e serviços, bem como de políticas regulatórias governamentais. Isso requer um esforço coordenado e permanente. Em outubro de 2004, a Organização Mundial da Saúde (OMS) criou a World Alliance for Patient Safety, com o objetivo de promover e implementar mecanismos para melhorias na segurança do paciente em instituições de saúde de forma global (OMS, 2010).

Em abril de 2005, a Comissão Europeia adotou a Declaração de Luxemburgo em Segurança do Paciente, que reconhece o acesso aos cuidados de saúde de qualidade como um direito humano fundamental. Na mesma época, a Joint Commission International, uma organização de certificação de qualidade em assistência médico-hospitalar, foi designada como o centro colaborador da OMS em soluções para a segurança do paciente. De acordo com a OMS, a segurança do paciente é definida como a redução, a um mínimo aceitável, do risco de dano desnecessário associado ao cuidado de saúde (World Heath Organization, 2005). Esse mínimo aceitável é determinado pelo conhecimento atual, recursos disponíveis e contexto da assistência prestada, considerando o risco de não tratamento ou outro tratamento inadequado.

É essencial definir termos relacionados à segurança do paciente, como incidente de segurança do paciente, que é qualquer evento ou circunstância que poderia ter resultado, ou resultou, em dano desnecessário ao paciente. Um incidente sem dano é um evento que atingiu o paciente, mas não causou dano identificável, enquanto um incidente com dano resulta em dano ao paciente, sendo definido como evento adverso. Dano associado ao cuidado de saúde refere-se a planos ou ações realizadas durante o cuidado, ao invés da doença de base ou lesão (Costa et al., 2020). 

Eventos evitáveis são aqueles que poderiam ser prevenidos dentro de determinadas circunstâncias, e efeitos colaterais são efeitos conhecidos, distintos do efeito pretendido inicialmente, relacionados às propriedades farmacológicas de um medicamento. Reações adversas são danos inesperados resultantes de uma ação justificada, seguindo o processo correto para o contexto em que o evento ocorreu. Erros são falhas na execução de uma ação planejada ou a aplicação de um plano incorreto (Costa et al., 2020).

Além desses termos, é imprescindível compreender o significado do termo erro de medicação, definido pelo Ministério da Saúde como qualquer evento evitável que pode causar ou levar ao uso inapropriado de medicamentos ou causar dano ao paciente enquanto a medicação está sob o controle dos profissionais de saúde ou dos pacientes. Esse evento pode estar relacionado à prática profissional, produtos para a saúde, procedimentos e sistemas, incluindo prescrição, orientação verbal, rotulagem, embalagem e nomenclatura de produtos industrializados e manipulados, dispensação, distribuição, administração, educação, monitorização e uso. Dada a complexidade e a importância da segurança do paciente, é essencial que as instituições de saúde se comprometam ativamente com a implementação de práticas seguras e eficazes (Winck; Figueredo, 2017).

Diante dessa problemática, o Ministério da Saúde do Brasil instituiu, por meio da portaria nº 529 em abril de 2013, o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP). O objetivo desse programa é contribuir para a qualificação do cuidado em saúde em todos os estabelecimentos do território nacional (Brasil, 2013). A portaria inclui, entre outras recomendações, a elaboração e o apoio à implementação de protocolos, guias e manuais de Segurança do Paciente.

Em decorrência dessa iniciativa, o Ministério da Saúde aprovou e instituiu seis Protocolos Básicos para a Segurança do Paciente: Identificação do paciente, Prática de higiene das mãos em serviços de saúde, Cirurgia segura, Prevenção de úlcera por pressão, Prevenção de quedas, e Segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos. Este último protocolo é particularmente relevante, pois, mesmo com a implementação desses protocolos, ainda é evidente a ocorrência de erros no processo de administração de medicamentos. Esses erros podem ser prejudiciais aos pacientes, seus familiares, aos profissionais de saúde e aos serviços de saúde (Brasil, 2013).

O Protocolo de segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos visa minimizar os riscos associados ao uso de medicamentos, garantindo que cada etapa do processo seja realizada de maneira segura e eficaz. No entanto, a persistência de erros indica a necessidade de ferramentas e instrumentos específicos que abordem as particularidades de diferentes populações, como a pediátrica, onde os riscos podem ser ainda mais acentuados devido às características especiais dos pacientes.

Nesse contexto, há o Instrumento de Segurança do Paciente na Administração de Medicamentos na Pediatria (SPAMP) que é uma ferramenta importante para avaliar e garantir a segurança na administração de medicamentos a pacientes pediátricos, ajudando a identificar e corrigir potenciais erros antes que eles causem danos (Araújo, 2016).

O uso do SPAMP, juntamente com os Protocolos Básicos para a Segurança do Paciente, representa um passo significativo na melhoria da segurança do paciente pediátrico (Winck; Figueredo, 2017). Ao incorporar práticas padronizadas e validadas, as instituições de saúde podem aumentar a eficácia dos cuidados prestados e reduzir a incidência de eventos adversos. Isso não só melhora os resultados para os pacientes, mas também reforça a confiança das famílias e dos profissionais de saúde no sistema de saúde.

A implementação do Programa Nacional de Segurança do Paciente e seus protocolos específicos é uma medida crucial para a melhoria da qualidade e segurança do cuidado em saúde no Brasil. Ferramentas como o SPAMP são essenciais para garantir que esses protocolos sejam aplicados de forma eficaz, especialmente em populações vulneráveis como a pediátrica (Silva; Santana, 2018). A combinação de políticas bem definidas, práticas padronizadas e ferramentas de avaliação contínua é fundamental para alcançar um ambiente de cuidado seguro e eficiente.

A segurança do paciente na administração de medicamentos na pediatria é uma questão de extrema importância, devido à vulnerabilidade dessa população. Crianças apresentam características fisiológicas e farmacocinéticas distintas dos adultos, o que exige um cuidado especial na dosagem e administração de medicamentos. A margem de erro é muito menor, e os efeitos adversos podem ser mais graves e rapidamente progressivos (Sanabria, 2021). Portanto, a administração segura de medicamentos pediátricos é essencial para evitar danos significativos e garantir a eficácia do tratamento.

A dosagem correta é um dos principais desafios na administração de medicamentos pediátricos. Ao contrário dos adultos, as doses para crianças geralmente são calculadas com base no peso ou na superfície corporal, tornando o processo mais suscetível a erros de cálculo. Pequenas imprecisões podem levar a sobredosagens ou subdosagens, ambas potencialmente perigosas. A utilização de ferramentas precisas para calcular a dosagem e a dupla verificação dos cálculos por diferentes profissionais de saúde são práticas recomendadas para minimizar esses riscos (Souza et al., 2018).

A comunicação eficaz entre os profissionais de saúde é fundamental para a segurança do paciente pediátrico. O uso de uma linguagem clara e a padronização das prescrições ajudam a evitar ambiguidades que possam levar a erros. A prática de rounds multidisciplinares, onde médicos, enfermeiros e farmacêuticos discutem o plano de medicação dos pacientes, pode ajudar a identificar e corrigir potenciais erros antes que eles ocorram. Além disso, sistemas informatizados de prescrição e administração de medicamentos podem fornecer uma camada adicional de segurança, alertando para possíveis interações medicamentosas e erros de dosagem (Costa et al., 2020).

Outro aspecto crítico é a educação e o treinamento contínuo dos profissionais de saúde que atuam na pediatria. Dado que a farmacoterapia pediátrica pode ser complexa, é essencial que médicos, enfermeiros e farmacêuticos recebam treinamento específico sobre as particularidades do manejo de medicamentos em crianças (Santana et al., 2020). Programas de educação continuada e simulações práticas de cenários pediátricos podem aumentar a competência dos profissionais e reduzir a incidência de erros.

A participação ativa dos pais e cuidadores é também crucial para a segurança dos pacientes pediátricos. Informar os pais sobre os medicamentos que seus filhos estão recebendo, incluindo dosagens e horários, pode ajudar a garantir que a administração em casa seja realizada corretamente (Souza et al., 2018). Os pais devem ser incentivados a fazer perguntas e a comunicar quaisquer dúvidas ou preocupações sobre os medicamentos. Uma comunicação aberta e transparente entre os profissionais de saúde e os cuidadores pode prevenir erros e aumentar a adesão ao tratamento.

A implementação de protocolos e diretrizes específicas para a administração de medicamentos na pediatria é outra medida importante. Estes protocolos devem incluir procedimentos detalhados para a preparação e administração de medicamentos, bem como medidas de verificação e monitoramento. A padronização de processos pode reduzir a variabilidade e a possibilidade de erro, proporcionando um ambiente mais seguro para os pacientes pediátricos (Winck; Figueredo, 2017).

A monitorização contínua dos pacientes após a administração de medicamentos é essencial para identificar rapidamente quaisquer reações adversas ou sinais de dosagem inadequada. Crianças podem não ser capazes de expressar claramente seus sintomas, por isso os profissionais de saúde devem estar atentos a sinais sutis de desconforto ou alterações no estado clínico. A criação de um sistema de notificação de eventos adversos e quase-erros pode ajudar a identificar áreas problemáticas e a desenvolver estratégias de melhoria contínua (Vilela et al., 2022).

A cultura de segurança no ambiente de saúde pediátrico deve ser promovida de maneira contínua. Os profissionais devem sentir-se encorajados a reportar erros e quase-erros sem medo de represálias, para que possam ser analisados e utilizados como oportunidades de aprendizado. A colaboração e o comprometimento de toda a equipe de saúde são fundamentais para criar um ambiente onde a segurança do paciente seja uma prioridade absoluta (Souza et al., 2018).

Segundo Silva e Santana (2018) a segurança do paciente na administração de medicamentos na pediatria requer uma abordagem multifacetada, envolvendo cálculos precisos de dosagem, comunicação eficaz, treinamento contínuo, participação dos pais, implementação de protocolos, monitorização rigorosa e uma cultura de segurança robusta. Esses elementos combinados são essenciais para garantir que as crianças recebam a melhor e mais segura terapia medicamentosa possível.

2.3 Importância do uso de protocolos de medicamentos em pediatria 

A Portaria MS/GM nº 529/2013, que institui o Programa Nacional de Segurança do Paciente, estabelece que um conjunto de protocolos básicos, dentre esses, há o Protocolo de Segurança na Prescrição, Uso e Administração de Medicamentos, que é um dos componentes mais importantes para a promoção de práticas seguras no uso de medicamentos em estabelecimentos de saúde. Este protocolo deve ser aplicado em todas as instituições de saúde, independentemente do nível de complexidade, sempre que medicamentos sejam utilizados para profilaxia, exames diagnósticos, tratamento e medidas paliativas. Seu objetivo é garantir que todas as etapas do processo medicamentoso sejam realizadas de maneira segura e eficiente, minimizando riscos e prevenindo eventos adversos (Brasil, 2013).

Este protocolo estabelece práticas seguras para a prescrição, distribuição e administração de medicamentos. Para cada uma dessas etapas, são propostas intervenções específicas, procedimentos operacionais padrões e indicadores de monitoramento. A prescrição segura envolve a clareza e precisão das ordens médicas, garantindo que todas as informações necessárias sobre o medicamento e sua administração sejam claramente comunicadas. A distribuição segura se foca na correta armazenagem, manuseio e entrega dos medicamentos, assegurando que o paciente receba exatamente o que foi prescrito. A administração segura abrange a verificação de todos os aspectos antes da aplicação do medicamento ao paciente (Freitas et al., 2023).

No contexto da administração de medicamentos, o protocolo se baseia nos “nove certos da administração de medicamentos”, que são: paciente certo, medicamento certo, via certa, dose certa, hora certa, registro certo, orientação certa, forma certa e efeito certo. Estes princípios visam assegurar que cada medicamento seja administrado ao paciente correto, na dose adequada, pelo método apropriado, no momento certo e com a devida documentação. Além disso, inclui a orientação adequada ao paciente e a monitorização dos efeitos esperados e adversos (Araújo, 2016).

A aplicação rigorosa destes nove certos é crucial para evitar erros na administração de medicamentos. Por exemplo, a verificação da identidade do paciente (paciente certo) previne erros de medicação que ocorrem quando medicamentos são administrados à pessoa errada. A confirmação do medicamento certo, dose certa e via certa garante que o tratamento seja administrado conforme prescrito, evitando sobredosagens, subdosagens ou administração incorreta que podem resultar em efeitos adversos significativos (Araújo, 2016).

O registro certo envolve a documentação precisa e completa de cada etapa do processo medicamentoso, facilitando a rastreabilidade e a identificação de quaisquer desvios que possam ocorrer. A orientação certa assegura que os pacientes e seus familiares compreendam o tratamento, aumentando a adesão e a segurança. A forma certa refere-se à correta preparação e apresentação do medicamento, enquanto o efeito certo implica na monitorização adequada dos efeitos do medicamento no paciente, permitindo intervenções rápidas em caso de reações adversas (Araújo, 2016).

Discutindo a aplicação deste protocolo, é evidente que ele requer um esforço coordenado e contínuo de toda a equipe de saúde. A adesão aos procedimentos operacionais padrões e a utilização de indicadores de monitoramento permitem uma avaliação constante da eficácia das práticas adotadas, identificando áreas que necessitam de melhorias. Além disso, a educação e treinamento contínuos dos profissionais de saúde são fundamentais para manter a conscientização e a competência na aplicação dos nove certos.

O Protocolo de Segurança na Prescrição, Uso e Administração de Medicamentos é uma ferramenta essencial para garantir a segurança dos pacientes em todos os níveis de atendimento à saúde. Sua aplicação sistemática e rigorosa pode significativamente reduzir a incidência de erros de medicação, melhorando a qualidade do cuidado e promovendo um ambiente seguro para pacientes e profissionais de saúde (Souza et al., 2018). A discussão e a implementação contínuas de práticas seguras baseadas neste protocolo são vitais para a evolução constante dos padrões de segurança em saúde.

3 METODOLOGIA 

3.1 Desenho do estudo 

Trata-se de um estudo descritivo, do tipo revisão integrativa, que consiste na síntese dos estudos relevantes publicados sobre determinado assunto e possibilita atomada de decisões com bases nas conclusões evidenciadas. Sendo também umaforma ampla de se analisar a literatura existente (Mendes et al., 2019).

A pesquisa descritiva consiste na descrição de características de determinados grupos ou fenômenos estabelecidos de relações entre variáveis. “É aquela que visa apenas a observar, registrar e descrever as características de um determinado fenômeno ocorrido em uma amostra ou população, sem, no entanto, analisar o mérito de seu conteúdo” (Gil, 2019).

Segundo Gil (2019), a revisão integrativa costuma caracteriza-se pela forma de criar um perfil de uma determinada população, fenômenos ou estabelecimento de relações entre variáveis. Tem como principal objetivo em proporcionar maior familiaridade com problema a fim de torná-lo explícito. Estas são as menos rigorosas no planejamento, diferente dos demais tipos. Consistem em pesquisas de bibliografias existentes através de dados oferecidos sobre o determinado assunto. Com vistas aos objetivos deste estudo, ainda por cima, a metodologia de revisão integrativa (RI), que consiste em um método que permite criar uma síntese de conhecimento por meio de processo sistemático e rigoroso (Mendes et al., 2019).

Para construção da pesquisa, foi seguido as seis etapas recomendada por Mendes (2019) para a elaboração de uma revisão integrativa de qualidade:

1ª) Identificação do tema e seleção da questão de pesquisa; 

2ª) Estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão; 

3ª) Identificação dos artigos pré-selecionados e selecionados; 

4ª) Categorização dos artigos; 

5ª) Construção da análise dos resultados; 

6ª) Apresentação da síntese do conhecimento.

3.2 Local do estudo

O levantamento de dados foi realizado através de buscas nas bases de dados da revista Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Base da dados da Enfermagem (BDENF) e da National Library of Medicine (MEDLINE) por meio da Biblioteca Virtual em (BVS). Estas Bibliotecas representam, um instrumento de difusão do conhecimento científico que surge a partir da preocupação dos Organismos Públicos nacionais e internacionais por oferecer através da Internet uma informação científica de qualidade garantida. 

3.3 Período do estudo

A coleta das informações ocorreu no período de janeiro a março de 2024.

3.4 Critérios de inclusão e exclusão 

34.1 Critérios de inclusão 

Teve como critério de inclusão: estudos que respondam ao objetivo geral do estudo; disponíveis na íntegra sob a modalidade de artigo científico e de forma gratuita; publicados nas bases de dados nos últimos cinco anos, na língua portuguesa.

3.4.2 Critérios de exclusão 

Como critérios de exclusão: artigos repetidos, relato de experiência, não disponíveis de forma gratuita, em outros idiomas, artigos não originais, matérias jornalísticas, textos que foge do objetivo a ser estudados, análise conjuntural e aqueles que após a leitura na íntegra não responderam à questão de pesquisa.

3.5 Procedimentos

O estudo respeitou as respectivas etapas da revisão integrativa destacadas a no quadro a seguir:

Quadro 1: Etapas da Revisão Integrativa

Fonte: Autoria própria, adaptado de (Mendes, Silveira, Galvão, 2019).

3.6 Processamento e análise dos dados

A extração dos dados foi realizada por meio de um roteiro semiestruturado elaborado pela pesquisadora. O roteiro possibilitou a extração de informações dos estudos selecionados, como: título do artigo, autores, ano de publicação, objetivo e principais resultados.

Os artigos serão caracterizados como descritos acima e posteriormente utilizou-se a análise temática para categorizar os resultados. Segundo Minayo (2015), pode ser compreendida três etapas operacionais, pré-análise, exploração de materiais e tratamento de resultados obtidos a interpretação.  

Na primeira etapa, chamada de pré-análise, de acordo com o pensamento de Minayo (2015), antes de tudo, necessitam serem feitas a escolha dos documentos que irão servir de subsídio e fundamentação teórica para encontrar os resultados que pretendem serem encontrados com esta pesquisa. Dessa forma, faz-se a retomada dos objetivos iniciais da pesquisa, desenvolvendo-os de acordo com as hipóteses inferidas inicialmente.   

Na segunda fase o material foi selecionado, buscando uma abrangência na compreensão do conteúdo. É nessa fase que o objetivo da busca foi encontrar significativas informações em relação aos termos em que este assunto está organizado. É um momento apreensível, pois a utilização de material abordado poderá não ser tão consolidada como o esperado (MINAYO, 2015).    

Segundo Minayo (2015) na terceira etapa do estudo, o autor em geral se submete os resultados dados às informações obtidos. É nesse momento que o pesquisador pode inferir com interpretações possibilitando uma nova demissão teoria através da leitura.    

3.7 Aspectos éticos 

O estudo está em consonância com a Lei do direito autoral a lei 9610 de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais (Panzoline et al., 2017).

O direito autoral é o direito do criador, do tradutor, do pesquisador e do artista de controlar o que se faz de sua obra. A Lei regulamenta os direitos que o autor possui sobre sua obra intelectual protegida referente aos textos, criações literárias ou científicas, conferências, composições, fotografias, coreografias, filmes, pinturas, esculturas, traduções, enciclopédias, dicionários, programas de computador, projetos e esboços, referentes às diferentes áreas do conhecimento, (Panzoline et al., 2017).

Segundo o manual dos diretos autorais, relata que os direitos morais e autorais asseguram a autoria, permitindo a preservação do trabalho de qualquer modificação e a reivindicação e integridade e até a suspenção se houver dano ao autor. Além disso, também garantem a reivindicação, a integridade da obra sem denegrir a reputação do autor (Brasil, 2017).

4 RESULTADO E DISCUSSÃO 

Foram encontrados 52 textos o estudo procedeu com a leitura dos títulos e resumos dos artigos, com a finalidade de selecionar apenas os que possuíssem relação com o tema estudado. Após a análise, foram selecionados 10 artigos que envolviam a temática estudada (Figura 1).

Figura 1. Fluxograma das etapas de seleção dos artigos.

Fonte: Autores.

4.1 Caracterização dos estudos 

Tabela 1– Consolidação da revisão integrativa

TítuloAutor AnoObjetivo Principais resultados
Adesão às barreiras de segurança no processo de administração de medicamentos na pediatriaVória et al2020Investigar a adesão das barreiras de segurança adotadas no preparo e na administração de medicamentos endovenosos em unidades de Pediatria e Terapia Intensiva Pediátrica.A amostra foi constituída por 334 oportunidades de observação do preparo e administração de medicamentos em pacientes pediátricos. A maior parte das ações foi realizada por profissionais do sexo feminino, técnicos de enfermagem e concursados.
Erros de Medicação em Pediatria – estratégias de prevenção adotadas pelos enfermeiros: revisão sistemática da literaturaBranco2019Identificar a eficácia das estratégias de prevenção de erros de medicação por enfermeiros de pediatriaForam três os estudos que resultaram da avaliação metodológica, segundo os critérios estabelecidos pelo JBI. Dois estudos são observacionais e um é de intervenção. Verificou-se uma grande heterogeneidade dos estudos em termos de objetivos, intervenções, metodologias, contextos de cuidados e a tipologia dos erros de medicação aferidos.
Administração segura de medicamentos para crianças no domicílio após a alta hospitalar: percepção dos pais.Callé2021Compreender como ocorre o preparo dos pais/cuidadores para a administração segura de medicamentos para criança no domicílio, na perspectiva de pais/cuidadores.Sobre as crianças, houve distribuição igual para ambos os sexos; maior frequência para tempo de diagnóstico superior a dois anos; e mais de três quartos delas estavam hospitalizadas há menos de uma semana. As principais classes medicamentosas utilizadas foram antibióticos, seguida de antifúngico, antiemético, analgésico/antitérmico, anti-hipertensivo e vitamina. Da apresentação farmacêutica, mais de três quartos dos medicamentos prescritos para uso no domicílio era líquido, seguido de comprimido. Maior frequência da via de administração oral, seguida das vias enteral e subcutânea. 
Erros de medicação em pediatria: Avaliação das notificações espontâneas em hospital pediátrico em Porto Alegre/RS, Brasil. Lazaretto; Dos Santos; Millão.2020Quantificar os erros de medicação notificados espontaneamente pelos profissionais que atuam em hospital pediátrico.Foram registrados 471 eventos relacionados a erros de medicação. Destaca-se a dose incorreta com maior número de notificações nos anos de 2016, 2017 e 2018 (22,4%, 26,2% e 24% consecutivamente), no ano de 2015 o maior número de eventos notificados foi referente a omissão de dose ou medicamento (20,8%). Os erros de dose foram agrupados em três subclasses distintas: sobredose, subdose e dose extra. 
Segurança do paciente pediátrico no processo de administração de medicamento endovenosoCosta et al.2020Avaliar o processo de preparo e administração de medicamentos endovenosos em um hospital pediátrico. Na etapa de leitura de prescrição médica uma ação obteve desempenho satisfatório (igual ou maior que 70%). As ações de todas as 15 ações da etapa de organização do ambiente e seleção dos materiais nove foram satisfatórias (maior que 70%). 
Segurança na preparação e administração da medicação: intervenção do enfermeiro especialista em saúde infantil e pediátricaJesus2023Conhecer os ganhos da implementação de um Programa Formativo, no conhecimento dos estudantes do Curso de Licenciatura em Enfermagem, acerca da preparação e administração segura de medicamentos em pediatria.Para tal considerou-se importante conhecer quais as necessidades formativas dos enfermeiros recém-licenciados, a fim de adequar o conteúdo do programa formativo para os estudantes da licenciatura em Enfermagem sobre preparação e administração segura de medicamentos na idade pediátrica. Posteriormente realizar-se-á a avaliação do impacto do mesmo nos conhecimentos dos estudantes após a formação e se estes foram mobilizados para o contexto da prática em ensino clínico.
Significados e ações inferidos por enfermeiras para a minimização do erro de medicamentos em pediatriaMoraes et al.2022Compreender os significados e as ações inferidos por enfermeiras para a minimização do erro na administração de medicamentos em pediatria.Emergiram três categorias: Ações individuais (planejamento, atenção, comunicação e aplicação do checklist na utilização dos “certos”); Interações multiprofissionais e organizacionais (trabalho em equipe, sistema automatizado, dimensionamento de pessoal, dupla verificação na conferência das medicações, articulação profissional, ações organizacionais, políticas institucionais e comunicação) e Estratégias na educação continuada (treinamentos e capacitações).
Estratégias de prevenção de eventos adversos na administração de medicamentos pela equipe de enfermagemMeneses et al. 2023Analisar as evidências científicas relacionadas as estratégias de prevenção de eventos adversos devido a erro por administração de medicamentos pela equipe de enfermagem publicadas no período de 2016–2020As principais intervenções encontradas como medidas de prevenção para evitar erro na administração de medicamento foram: pulseira de identificação, pulseira de risco, prescrição eletrônica, educação continuada, identificação de leito, identificação de medicação, dimensionamento de enfermagem, código de barras na medicação, checklist, a regra dos 9 certos. Foi possível encontrar como evidências para prevenção de erros de medicamentos pelo menos 10 intervenções. Apesar das intervenções não garantirem uma assistência 100% segura, ela diminui o risco da exposição aos eventos adversos, elevando assim a qualidade do cuidado de enfermagem.
Boas práticas de enfermagem na administração de medicamentos em uma clínica pediátricaDantas2023Analisar as estratégias de boas práticas de enfermagem relacionadas à administração de medicamentos em pediatria.As estratégias mais utilizadas durante o processo de medicação envolvem medidas como checar os certos da medicação antes e durante a administração, identificar corretamente os leitos dos pacientes, identificar os pacientes por meio de pulseiras contendo as informações necessárias e sempre observar bem a prescrição médica antes do preparo das medicações.
Percepções da equipe de enfermagem sobre o preparo e administração de medicamentos em pediatriaCamargo; Renovato; Ganassin2021Analisar as percepções da equipe de enfermagem sobre preparo e administração de medicamentos em pediatriaAs categorias identificadas foram processo de trabalho relacionado à medicação; precarização do trabalho em saúde; sistema de medicação: prescrição médica; e protocolos relacionados a medicamentos. A prescrição médica foi apontada como um dos fatores indutores de erro de medicação, além da interrupção durante o preparo e administração de medicamentos e ausência de protocolo sobre os cuidados específicos em pediatria. Situações como sobrecarga profissional, conflitos, falta de materiais e estrutura física inadequada foram percebidas no processo de medicação em pediatria.

Fonte: Autores, 2024.

A partir das informações extraídas dos estudos, foi possível realizar uma análise dos resultados referentes às estratégias para administração segura de medicamentos em pediatria. 

No estudo de Lazaretto, Santos e Millão (2020) a elevada ocorrência de erros na dosagem pode ser atribuída à prática de prescrição fora das especificações aprovadas (off label) e à exigência de adaptar as doses de adultos para crianças. Vários medicamentos não possuem formulações adequadas para o uso pediátrico, o que obriga a manipulação das formas farmacêuticas e, consequentemente, a realização de numerosos cálculos para garantir a dose correta.

Para Jesus (2023), durante a idade pediátrica a probabilidade da ocorrência de erros é maior no período neonatal, cerca de 50% dos erros ocorrem nesta faixa etária e cerca de 12% dos erros causam danos às crianças com isso, o risco de dano de um erro de medicação nas crianças é três vezes superior ao do adulto. 

Meneses et al. (2023) chama a atenção a forma como os erros são abordados. É evidente a tendência de individualizar o erro e adotar uma cultura de punição, conforme relatado na pesquisa, onde há um tratamento diferenciado dependendo da categoria envolvida no erro. Essa abordagem não se mostra eficaz na prevenção de erros, pois coloca a culpa unicamente em uma pessoa e não busca compreender as falhas no sistema. No estudo, ainda menciona exemplos de outras áreas, como a aviação e a indústria, que lidam com os erros de forma sistêmica e não individualizada para a prevenção de falhas.

Na pesquisa de Dantas (2023), os erros mais citados pelas enfermeiras foram troca de pacientes, via de administração errada, dose errada e prescrição médica errada, contendo medicação errada, diluição errada, dose errada e via errada. Além disso, nesse mesmo estudo é observado que o enfermeiro tem um papel fundamental no que diz respeito a administração de medicamentos, tendo em vista que é a equipe de enfermagem a responsável pela etapa de preparo e administração do medicamento. 

Vória et al. (2020) os resultados evidenciaram que houve rompimento de pelo menos uma das barreiras de segurança em todas as oportunidades de observação, sendo que na fase do preparo ocorreu em 81,4% das ações observadas e no momento da administração em 76,3% das vezes. 

Corroborando com isso, em outro estudo realizado na área pediátrica, foram identificados problemas relacionados ao preenchimento incorreto ou à ausência de rótulos em medicamentos, onde 310 observações (94,9%) apresentaram irregularidades. Por outro lado, em um hospital no Sul do Brasil, no mesmo setor, a transcrição foi realizada em 173 casos (90,6%); entretanto, não ficou claro no estudo se houve verificação completa do preenchimento dos rótulos. (Branco, 2019).

Dos estudos analisados neste estudo, 50% indicaram a educação contínua como uma barreira na prevenção de erros na administração de medicamentos. Meneses et al. (2023), Camargo; Renovato; Ganassin (2021), Dantas (2023), Costa et al. (2020), Branco (2020) ressaltam a importância de educar e treinar a equipe, além de identificar e corrigir falhas. Profissionais bem treinados têm uma melhor resposta na prevenção de erros durante a assistência, e tanto os profissionais quanto os empregadores têm a responsabilidade de fornecer estratégias de educação contínua aos seus funcionários.

Interligado a isso, Moraes et al. (2022) relata que é necessário implementar estratégias para reduzir esse risco, como sistemas automatizados com códigos para a administração de medicamentos, implementação e monitoramento de protocolos eficazes de segurança do paciente, fotos dos pacientes no registro, identificação de dados demográficos do paciente e identificação biométrica, dupla conferência da distribuição e dimensionamento adequado da Enfermagem.

5 CONCLUSÃO 

Este estudo investigou estratégias para garantir a administração segura de medicamentos em pediatria, visando construir uma assistência mais segura para os pacientes. Ao longo da pesquisa, foi possível identificar uma série de desafios e oportunidades de melhoria nesse contexto específico.

Foi evidenciada a importância da educação continuada e do treinamento da equipe como estratégias fundamentais na prevenção de erros, assim como a necessidade de uma abordagem sistêmica na análise dessas ocorrências, em vez de atribuir culpa individualmente.

Além disso, a implementação de protocolos padronizados, como a regra dos 9 certos, mostrou-se uma medida eficaz na promoção de uma prática mais segura. No entanto, é importante destacar a necessidade de adaptação desses protocolos às particularidades da pediatria, levando em consideração aspectos como doses adequadas e formas farmacêuticas apropriadas para crianças.

Além disso, foram identificados problemas relacionados ao preenchimento incorreto ou à ausência de rótulos em medicamentos, evidenciando a importância da etapa de transcrição como momento de verificação e identificação de possíveis inconsistências.

Portanto, este estudo reforça a necessidade de uma abordagem holística e multifacetada na promoção da administração segura de medicamentos em pediatria. Espera-se que este estudo contribua para o avanço do conhecimento nessa área e sirva como base para futuras pesquisas e práticas clínicas para a melhoria da qualidade da assistência prestada às crianças, garantindo assim um ambiente mais seguro e propício ao seu desenvolvimento saudável.

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