ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO NA ARTROPLASTIA TOTAL DE QUADRIL: RELATO DE CASO

PHYSIOTHERAPEUTIC TREATMENT STRATEGIES IN TOTAL HIP ARTHROPLASTY: CASE REPORT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102502031359


Maria Iderlania de Freitas Sousa1
Josafá Justino Barbosa¹
José Cleilson Medeiros²
Maria de Lurdes Silva Lima²
Jayna Priscila Silva dos Anjos²
Ana Clara Quirino de Oliveira²
Maria Jéssica da Silva Freires²
Maria Mirelly Ferreira Vidal²
Ana Camila Mota da Costa Alves²
Drielly Bezerra Holanda²


RESUMO – A osteoartrose é uma doença reumática, crônico-degenerativa caracterizada pelo no desgaste da cartilagem articular e que afeta nos países ocidentais cerca de  10% da população. Afeta principalmente pessoas com idade superior a 60 anos. O tratamento de escolha no Brasil para os casos avançados é a artroplastia total do quadril. A fisioterapia desempenha papel essencial tanto no pré operatório quanto na reabilitação pós operatória desses pacientes.  O objetivo desse estudo foi definir estratégias de tratamento fisioterapêutico na artroplastia total de quadril. Trata-se de um sujeito de 65 anos submetido a artroplastia total de quadril esquerdo, recebido para reabilitação em pós operatório recente. As estratégias de reabilitação foram sequenciadas em fase I: condutas voltadas a analgesia, cicatrização e manutenção da amplitude de movimento (ADM), fase II, atividades voltadas ao ganho de ADM e força. A fase III foi composta de condutas para recuperação da marcha, fortalecimento do quadril e equilíbrio. O paciente foi recuperado totalmente em 10 semanas. Portanto, entende-se que as estratégias definidas para o tratamento foram eficientes e possibilitaram a reabilitação em tempo mínimo. 

PALAVRAS-CHAVE: Osteoartrose. Reabilitação. Fisioterapia

ABSTRACT – Osteoarthritis is a rheumatic, chronic-degenerative disease characterized by wear and tear of the articular cartilage that affects approximately 10% of the population in Western countries. It mainly affects people over 60 years of age. The treatment of choice in Brazil for advanced cases is total hip arthroplasty. Physiotherapy plays an essential role in both the preoperative and postoperative rehabilitation of these patients. The aim of this study was to define physiotherapeutic treatment strategies in total hip arthroplasty. This is a 65-year-old subject who underwent total left hip arthroplasty and was admitted for rehabilitation in the recent postoperative period. The rehabilitation strategies were sequenced in phase I: actions aimed at analgesia, healing and maintenance of range of motion (ROM); phase II, activities aimed at gaining ROM and strength. Phase III consisted of actions for recovery of gait, hip strengthening and balance. The patient fully recovered in 10 weeks. Therefore, it is understood that the strategies defined for treatment were efficient and enabled rehabilitation in a minimum time.

KEYWORDS: Osteoarthritis. Rehabilitation. Physiotherapy

1 INTRODUÇÃO

A articulação coxofemoral é classificada como uma diartrose esferóide, caracterizada pela articulação da cabeça do fêmur com a cavidade acetabular da bacia. Essa estrutura é essencial para suportar o peso corporal e facilitar os movimentos. Para garantir a integridade e funcionalidade, a articulação é coberta por cartilagem hialina, que atua como uma camada protetora entre os ossos, reduzindo o atrito e permitindo movimentos fluidos e sem dor. Este revestimento cartilaginoso desempenha um papel essencial na manutenção da saúde articular e na prevenção do desgaste prematuro das superfícies ósseas (CHOI ET AL., 2023).

Essa articulação desempenha um papel crucial na marcha, no equilíbrio e na postura, qualquer problema nessa articulação afeta diretamente a capacidade de deambular e as atividades de vida diária do indivíduo.

No cenário brasileiro, a artroplastia da articulação do quadril (ATQ) representa uma alternativa fundamental para tratar fraturas, luxações e condições osteoarticulares específicas que não apresentam melhora com tratamentos conservadores. Esse procedimento tem se destacado por proporcionar significativas melhorias na função e na qualidade de vida dos pacientes afetados por tais problemas, oferecendo uma solução eficaz para restaurar a mobilidade e aliviar a dor associada ao quadril comprometido (REGOLIN ET AL., 2022).

A artroplastia total da articulação do quadril é um procedimento cirúrgico em que tanto a cabeça do fêmur quanto a cavidade acetabular são substituídas por implantes feitos de materiais biocompatíveis, como metal e polietileno, é considerada quando outras opções de tratamento não proporcionam alívio adequado da dor ou restauração da função articular, visando melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes.

. A fisioterapia desempenha um papel fundamental na recuperação precoce do paciente, promovendo a restauração da funcionalidade e permitindo um retorno mais rápido às atividades de vida diária. O tratamento fisioterapêutico é direcionado para a recuperação da mobilidade, força e estabilidade articular, fatores essenciais para a independência funcional do indivíduo. Além dos benefícios imediatos na recuperação pós-cirúrgica, a fisioterapia também contribui para a promoção da saúde geral do paciente e para a prevenção de complicações futuras.

A reabilitação adequada pode minimizar o risco de novos problemas musculoesqueléticos que poderiam comprometer a funcionalidade do paciente a longo prazo. Assim, a fisioterapia não apenas acelera a recuperação inicial, mas também desempenha um papel preventivo, reduzindo a probabilidade de novas intervenções cirúrgicas (MATOS ET AL., 2021).

Levando em consideração o aumento no número de cirurgias de artroplastia e a importância da fisioterapia na fase pós-operatória, o presente estudo teve como objetivo definir estratégias de tratamento fisioterapêutico na artroplastia total de quadril.

Trata-se de um relato de caso de um paciente atendido no setor de fisioterapia numa instituição pública, na atenção especializada.

Do ponto de vista da reabilitação, a intervenção fisioterapêutica no pós-operatório é crucial para o sucesso do procedimento desempenhando um papel fundamental na recuperação precoce do paciente, promovendo a restauração da funcionalidade e permitindo um retorno mais rápido às atividades de vida diária.

2 metodologia

Trata-se de um relato de caso de um paciente em reabilitação pós operatória de artroplastia total de quadril esquerdo, atendido na Policlínica Aderson Tavares Bezerra, Tipo II, na cidade de Crato-CE, uma instituição de assistência especializada pertencente ao Sistema Único de Saúde.

O estudo é fruto de uma sequência de atendimentos fisioterapêuticos com evolução desde o pós operatório imediato até o final da reabilitação. O período de reabilitação compreendeu os meses de julho, agosto e setembro de 2023.

RELATO DE CASO

F.A.S, sexo masculino, 65 anos, agricultor, casado, domiciliado na cidade de Crato-CE com diagnóstico clínico de osteoartrose de quadril esquerdo há 5 anos, paciente cardiopata, com hipertrofia ventricular esquerda e hipertensão arterial sistêmica, foi submetido a artroplastia total de quadril em 11 de julho de 2023 no Hospital Estadual Leonardo da Vinci em Fortaleza.

O paciente foi admitido no quinto dia de pós-operatório. Ao exame físico apresentou-se acamado com movimentação mínima, ferida cirúrgica seca e sem sinais de infecção, hematoma cirúrgico e queimadura de 1º  e 2º graus.

A Figura 1 A, B , C e D mostram a evolução do tratamento fisioterapêutico na cicatriz cirúrgica.

Figura 1 (ABCD): Evolução do tramento fisiterapêutico sobre a cicatrização.

  A: Apresentação da cicatriz cirúrgica 5º dia de pós operatório    B: Lesão tecidual associada a queimadura de 1º e 2º graus.
  C: Lesão tecidual decorrente da duração dos curativos.   D: Cicatriz cirúrgica após o tratamento fisioterapêutico.    

A Figura A apresenta o edema e hematoma no 5º dia de pós operatório, já a Figura B demostra os achados no exame físico no qual apresentou áreas edemaciadas com queimaduras de 1º e 2º graus devido a imobilidade e a duração dos curativos, uma vez que não foram trocados no intervalo orientado o que levou á lesão tecidual por queimadura, pele com sinais flogísticos do processo inflamatório apresentando hiperemia, calor e edema local.  

Na avaliação de dor mensurada por escala visual analógica (EVA) referiu 8,0 indicando assim dor intensa. Segundo informações obtidas do mesmo foi relatado desconforto e dificuldade ao ficar em pé, parestesia, ardência e queimação em membro inferior.

 O tratamento fisioterapêutico foi iniciado seguindo o modelo conservador, associado a técnicas voltadas à cicatrização tecidual e a cinesioterapia. A estratégia do atendimento foi dividida em semanas, como descrita no quadro abaixo.

Quadro 1: Estratégias de reabilitação pós cirúrgica na artroplastia total de quadril.

SemanasCondutas
        1ªLaser 904nm pontual com dose de 3 j/cm². Laser 630nm varredura 3j/cm². Mobilização de joelho e tornozelo, flexão até 45° Isometria de quadríceps. Bomba de gastrocnêmio, Alongamento dos músculos do membro inferior com uso de theraband para abdução respeitando o limite de movimento articular. Ortostatismo e treino de marcha sem carga.
      2ªLaser 904nm pontual com dose de 3 j/cm². Laser 630nm varredura 3j/cm². Mobilização de joelho e tornozelo, flexão até 45°.  Isometria de quadríceps. Retirada do andador e inserção de muletas canadenses. Ortostatismo e treino de marcha sem carga em barra paralela.
  3ª e 4ªLaser 904nm pontual com dose de 3 j/cm². Exercícios resistidos (1kg) para flexão e extensão de joelho e quadril. Respeitando ADM 45° de flexão de quadril.
      5ª a 8ªExercícios resistidos (2 kg) para flexão e extensão de joelho e quadril. respeitando ADM 45° de flexão de quadril. Marcha com descarga parcial de peso com aumento da distância percorrida. Extensão de joelho com bola suíça. Retirada de uma muleta.
Abdução de quadril com peso do corpo em posição ortostática. Exercícios resistidos com caneleira de 2kg para flexão do quadril a 90°. Marcha com descarga total associado à caneleira de 2kg.
10ªRetirada total de muletas canadenses. Treino de marcha em circuito utilizando peso de 3kg. Treino de marcha escada e  rampa. Exercício de flexão plantar em pé na plataforma de equilíbrio Agachamento com bola até 90°.
11ªTreino de fortalecimento de quadril e joelho.  Abdução e adução de quadril com 4 kg. Agachamento com bola suíça com aumento da intensidade e duração.
12ª e 13ºTreino de marcha e corrida em esteira, circuito de agilidade e equilíbrio.
13ªAlta completa e indicação de musculação.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

O paciente foi submetido a um programa de tratamento cujas estratégias de reabilitação foram sequenciadas em fases, a saber:

Fase I: condutas voltadas a analgesia, cicatrização e manutenção da amplitude de movimento (ADM).

A Fase II, com atividades voltadas ao ganho de ADM e força muscular, desenvolvendo a autonomia do paciente sob suas atividades de vida diária.

A fase III foi composta de condutas para recuperação da marcha, fortalecimento do quadril e equilíbrio. O paciente foi recuperado totalmente em 13 semanas. A Figura 1D mostra a evolução da cicatriz cirúrgica ao final do tratamento.

O estudo de Choi et al. (2023), ressalta a eficácia do tratamento das patologias do quadril quando escolhido a artroplastia de quadril como forma de tratamento, mais especificamente no tratamento de fraturas do fêmur proximal e coxartrose, pontuando os benefícios como melhora álgica, qualidade e distância da marcha, deambulação precoce, boa amplitude de movimento, redução dos riscos de atrofia muscular e excelente estabilidade funcional, salientando a colaboração do paciente nos procedimentos da fisioterapia em reabilitação do pós operatório.

Zucolotto et al.(2023), traz na sua revisão multifacetada as indicações para ATQ, estratégias de reabilitação e desfechos clínicos na tomada de decisão, Dentre as estratégias de reabilitação é citado a fisioterapia com a mobilização precoce, exercícios terapêuticos, reintegração funcional, treino de marcha, biofeedback, terapia manual e educação do paciente; na estratégia de controle da dor é incorporado técnicas farmacológicas e não farmacológicas no almejo de otimizar o conforto do paciente.

O estudo de Casarotto et al.(2023), analisou a eficácia da reabilitação fisioterapêutica em pacientes submetidos à artroplastia total do quadril e avaliou o papel do fisioterapeuta na obtenção de benefícios para os pacientes, enfatizando a importância do tratamento pós-operatório precoce para uma reabilitação mais rápida e com menos dor. O estudo destacou a relevância da fisioterapia na prevenção de complicações após a artroplastia de quadril.

Matos et al. (2021) realizou uma revisão sistemática que objetivou identificar os efeitos da fisioterapia pós-operatória por meio de exercícios terapêuticos após artroplastia do quadril. Os resultados demonstraram efeitos positivos da fisioterapia precoce após a cirurgia, melhorando a mobilidade, a funcionalidade e a qualidade de vida dos pacientes.

De acordo com Silva et al. (2021), as evidências revisadas confirmaram os benefícios da fisioterapia imediata no pós-operatório. No entanto, foi observada uma falta de uniformidade nos protocolos de intervenção e no número de participantes dos estudos. Apesar disso, as evidências apoiam que a fisioterapia imediata após a cirurgia de artroplastia do quadril é benéfica para a recuperação e reabilitação dos pacientes.

4 CONCLUSÃO

O relato de caso descrito, aponta que as estratégias de tratamento fisioterapêutico na artroplastia total de quadril foram eficientes na redução da dor, cicatrização, retorno da ADM e regularização da marcha, e permitiu o retorno as atividades da vida diária (AVDs).  bem como reabilitou o paciente em tempo recorde, demonstrando assim ser um tratamento eficaz na artroplastia total de quadril.

 As estratégias de fisioterapia empregadas na reabilitação deste caso foram consideradas satisfatórias, evidenciando benefícios como a redução do risco de atrofia muscular, boa amplitude de movimento, alívio da dor, melhora na qualidade da marcha e excelente estabilidade funcional.

É crucial destacar a importância do início do tratamento logo no pré-operatório para uma reabilitação breve e com menor risco de sequelas. Além disso, o conjunto de exercícios específicos desempenha um papel primordial na obtenção de resultados positivos.

REFERÊNCIAS

CASAROTTO, V. J; SOARES M. S. A atuação do fisioterapeuta no pós-operatório de artroplastia total de quadril: Revisão Bibliográfica. Revista Saúde Viva Multidisciplinar da AJES. v. 6, n. 9 (2023).Disponível em https://www.revista.ajes.edu.br/revistas-noroeste/index.php/revisajes/article/view/56. Acesso em: 25 abr. 2024.

CHOI, M. S. de À. NASCIMENTO, N. M. A., FILHO, R. S. C. P. de, SOUZA, V.A.S., QUEIROZ, V.I.O, RIBEIRO, R.S. Artroplastia total de quadril no Brasil, 2012-2021. Research, Society and Development, 12(5), e26812541831. https://doi.org/10.33448/rsd-v12i5.41831. Disponível em: https://www.google.com/search?q=Artroplastia+total+de+quadril+no+Brasil%2C&rlz=1C1GCEU Acesso em: 25 abr. 2024.

MATOS, L. R. R. S, SANTOS, R.M .E., MEDRADO,  B. B, LESSA, E. A., Bezerra, N. K. M. S., BONFIM, E. M.. Fisioterapia no pós-operatório de artroplastia de quadril: uma revisão sistemática. Fisioter. Bras ; 21(6): 609-618, Jan 6, 2021. Disponível em https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1283761 Acesso em: 17 jun. 2024.

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SILVA, L.N.; VARELA, J.F.; SANTOS, M. P.; DELOROSO, F.T.; Fisioterapia aquática no pós-operatório tardio de artroplastia total de quadril: estudo de caso. Brazilian Journal of Health Review, 4(2), 8856–8867. Disponível em  https://doi.org/10.34119/bjhrv4n2-396 Acesso em: 06  set. 2024.

ZUCOLOTTO, T.E.; SILVA, D.I., CRUZ, D.S., SILVA, P.I.J., COSTA, L.C.S. Artroplastia total de quadril: indicações e reabilitação. Brazilian Journal of Health Review, 6(6), 31221–31236. https://doi.org/10.34119/bjhrv6n6-357 Disponível em  Acesso em: 06  set. 2024.


1 Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Paraíso – Unifap. Fisioterapeuta da Policlínica Aderson Tavares Bezerra.  e-mail: iderlania.sousa@fapce.edu.br

1 Fisioterapeuta do Centro de Reabilitação do município consorciado de Farias Brito.

2 Discente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Paraíso – Unifap