PAIN MANAGEMENT STRATEGIES IN THE ADULT INTENSIVE CARE UNIT: INTEGRATIVE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202501281243
Henrique Carvalho Lima Farias1
Stephanie Wilkes da Silva2
Resumo
A dor em pacientes críticos internados em unidade de terapia intensiva (UTI) é uma experiência frequente e complexa, que pode ter impactos negativos na recuperação e no bem-estar do paciente. O manejo eficaz da dor, através de abordagens multimodais, é fundamental para garantir um cuidado de qualidade e humanizado. Este estudo teve como objetivo identificar as estratégias de manejo da dor eficazes para adultos nas UTIs. Trata-se de uma revisão integrativa, incluindo estudos que abordassem estratégias de manejo da dor em pacientes críticos. A busca foi realizada nas bases de dados National Library of Medicine (PubMed), Web of Science (WOS), Scopus, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). A seleção resultou em 1266 estudos, onde 9 atenderam os critérios de inclusão, entre eles, estudos de natureza revisional, incluindo revisões sistemáticas, metanálise e revisões integrativas, além de ensaios clínicos e estudo de coorte. Conclui-se que a presente revisão, reforça a importância de uma abordagem multidisciplinar nesse manejo, onde a combinação de fármacos e técnicas não farmacológicas demonstra-se fundamental para atender às necessidades individualizadas de cada paciente e promover um controle efetivo da dor.
Palavras-chave: Unidades de Terapia Intensiva. Manejo da Dor. Saúde do Adulto.
Abstract
Pain in critically ill patients admitted to intensive care units (ICUs) is a frequent and complex experience that can have negative impacts on patient recovery and well-being. Effective pain management through multimodal approaches is essential to ensure quality and humanized care. This study aimed to identify effective pain management strategies for adults in ICUs. This is an integrative review, including studies that addressed pain management strategies in critically ill patients. The search was conducted in the National Library of Medicine (PubMed), Web of Science (WOS), Scopus, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL) and Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS) databases, via the Virtual Health Library (VHL). The selection resulted in 1266 studies, of which 9 met the inclusion criteria, among them, revisional studies, including systematic reviews, meta-analysis and integrative reviews, as well as clinical trials and cohort studies. It is concluded that this review reinforces the importance of a multidisciplinary approach in this management, where the combination of drugs and non-pharmacological techniques proves to be fundamental to meet the individualized needs of each patient and promote effective pain control.
Keywords: Intensive Care Units. Pain Management. Adult Health.
1 INTRODUÇÃO
A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) trata-se de um setor especializado de um hospital direcionado a cuidados intensivos para pacientes que apresentam condições críticas ou que necessitam de suporte e monitoramento contínuo (Perveen, 2022).
As UTIs desempenham um papel fundamental na medicina moderna. Possuem diversidade conforme a necessidade e o perfil de cada usuário, quantidade de leitos, gravidade das condições de saúde e as determinações dos cuidados intensivos (Araújo, 2023).
A Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) publicou, no ano de 2016, informações baseadas no Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde que, no Brasil, existem 41.741 leitos de UTI, divididos em hospitais públicos, privados e filantrópicos, na qual 27.709 (66,38%) leitos são direcionados aos adultos em situação crítica (AMIB, 2016).
Nesse cenário crítico as intervenções terapêuticas avançadas e o monitoramento contínuo auxiliam na detecção precoce de complicações, elevando a segurança do paciente (Costa et al., 2023). Inúmeras ações invasivas são realizadas dentro desse ambiente da terapia intensiva, procedimentos esses dolorosos em que aproximadamente metade dos usuários relatam dor em algum momento da internação (Azevedo et al., 2022).
A dor do paciente passou a ser considerada um quinto sinal vital, podendo ser mensurada por diversas escalas e métodos de avaliação, e, sendo ela subjetiva, pode estar associada a diversas fisiopatologias. Ainda sendo um fator que pode causar desconforto extremo no paciente, na maioria das vezes, não é dada sua devida importância durante os períodos de internação e tratamento (Viana; Whitaker; Zanei, 2019).
A avaliação da dor é destacada como essencial pelas diretrizes, entretanto é de difícil adesão pela equipe assistencial. Um estudo transversal realizado no Reino Unido em 45 UTIs demonstrou que os profissionais médicos não documentavam a avaliação da dor em quase dois terços dos pacientes e os enfermeiros em 28,6% do total de usuários (Kemp et al., 2017).
A literatura destaca que aproximadamente 50% dos pacientes de UTI relatam dor durante a internação. Existe uma correlação do manejo da dor com a redução da duração da ventilação e as baixas taxas de infecção, pois o controle eficaz desse sinal vital pode facilitar o controle e a recuperação dessas pessoas (Back; Lee; Aldridge, 2024; Yamakova et al., 2024). A Society of Critical Care Medicine (SCCM) possui diretrizes que recomendam abordagem proativa da dor, incluindo: avaliação da dor com escalas validadas; uso de opioides como terapia de primeira linha para a dor; e analgesia multimodal para diminuir o uso de opioides em determinadas situações (Devlin et al., 2018).
O manejo e controle da dor nesse cenário é desafiador por diferentes razões, entre elas, a modificação da farmacocinética dos analgésicos (opioides e não opioides), passando por alterações em decorrência das disfunções orgânicas e a instabilidade hemodinâmica.
Estratégias farmacológicas e não farmacológicas são adotadas nas UTIs, com intuito de promover alívio da dor e consequentemente qualidade de vida aos pacientes críticos (Zakeri et al., 2024).
Diante do exposto, o presente estudo tem como objetivo identificar as estratégias de manejo da dor eficazes para adultos nas UTIs.
2 METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa (RI) qualitativa da literatura, em que este tipo de estudo visa resumir os resultados de estudos sobre determinados temas. Os resultados dessa abordagem demonstram o estado atual da situação avaliada, tendo uma contribuição para a saúde, identificando lacunas que podem orientar futuras pesquisas (Salvador et al., 2021).
Segundo Polit e Beck (2019) e Mendes, Silveira e Galvão (2008), para a construção de uma RI, deve-se seguir as seguintes etapas: Identificação do assunto; escolha da hipótese ou questão a ser respondida na pesquisa; definição dos critérios de inclusão e exclusão; estipulação dos dados a serem extraídos dos estudos selecionados; análise dos estudos a serem incluídos; interpretação dos resultados; e síntese da revisão (apresentação dos resultados).
A estratégia PICO foi empregada para formular a pergunta central da pesquisa. Essa estratégia refere-se a P – paciente ou Problema, I – intervenção, C – Controle ou Comparação e O – Outcome/Desfecho (Santos; Pimenta; Nobre, 2007). Assim, neste estudo o “P” refere-se a pacientes adultos internados na UTI; “I” diz respeito a estratégias de manejo da dor; “C” (controle) não aplicável; e “O” (resultado) relacionado a eficácia das estratégias de manejo da dor. Sendo estabelecida a seguinte pergunta norteadora: “Quais são as estratégias de manejo da dor eficazes para adultos em Unidade de Terapia Intensiva?”.
Para a realização da pesquisa e levantamento de dados, foram acessadas as bases de dados virtuais, sendo elas: National Library of Medicine (PubMed), Web of Science (WOS); Scopus, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Os descritores foram selecionados nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e cadastro do Medical Subject Headings (MeSH): Unidades de Terapia Intensiva/Intensive Care Units e Manejo da Dor/Pain Management. Para a realização do cruzamento entre os descritores, foi empregada a lógica booleana AND.
Estabeleceu-se como critério de inclusão estudos nos idiomas português, inglês e espanhol, disponíveis na íntegra de forma eletrônica e gratuita, que respondessem a pergunta norteadora e com um recorte temporal de cinco anos, abrangendo o intervalo de 2020 a 2025. Optou-se por a exclusão de teses, dissertações, monografias, resumos, livros, estudos de caso e de opinião.
Para seleção dos documentos adequados para revisão, foi utilizado a ferramenta gratuita Rayyan (http://rayyan.qcri.org), sendo desenvolvida para auxiliar nas revisões, permitindo que pesquisadores organizem, filtrem e analisem artigos de forma colaborativa (Ouzzani et al., 2016). A seleção dos estudos foi realizada de acordo com o modelo padrão do diagrama de fluxo PRISMA 2020 (PRISMA, 2020), conforme demonstrado nos resultados.
Os estudos incluídos nesta revisão foram identificados para melhor explanação dos resultados, seguindo os seguintes critérios: estabelecido a letra E (referente ao estudo), seguindo uma ordem cronológica de números arábicos (e.g.: E1, E2, E3, E4…). O autor reuniu as informações necessárias e relevantes em um quadro (Quadro 2), contendo os seguintes tópicos: identificação (ID), autor, ano de publicação, título, tipo de estudo, estratégias e nível de evidência.
Para classificação do nível de evidência, utilizou-se os níveis sugeridos por Melnyk e Fineout-Overholt (2011), sendo eles: I – Revisões sistemáticas, metanálise de todos os ensaios clínicos controlados e randomizados; II – Ensaios clínicos controlados randomizados e bem delimitados; III – Ensaios clínicos controlados sem randomização; IV – Estudo de coorte, estudo de caso-controle; V – Estudos de revisão sistemática de: estudos descritivos e qualitativos; VI – Apenas um estudo qualitativo ou descritivo; VII – Opinião de autoridades e/ou especialistas.
3 RESULTADOS
Foram identificados 1266 artigos nas bases de dados. Antes da triagem, foram excluídos 656 duplicados, restaram 610 que passaram por avaliação de título e resumo. Em seguida, foram excluídos 170 por não abordarem estratégias de manejo da dor e 285 por não estarem direcionados à UTI, assim restando 155 estudos para análise do texto completo. Ao final do processo de seleção, leitura na íntegra, extração e organização dos dados, a amostra final consistiu em nove artigos, já que os 146 estudos descartados não estavam voltados para adultos. A Figura 1 exemplifica as fases de cada processo de seleção dos estudos de acordo com o modelo Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses (PRISMA) (PRISMA, 2023).
Figura 1 – Fluxograma de seleção dos estudos incluídos para a revisão integrativa. Fortaleza, Ceará, 2025.
Fonte: Elaborado pelos autores (2025).
Os 10 documentos selecionados para compor essa revisão foram publicados entre os anos de 2020 a 2024, não havendo publicações sobre o tema no ano de 2025. O ano com mais publicações foi 2023 com três estudos (30%), seguido de 2020 e 2021 (20%/ano), cada um com 2 artigos, e os anos com menos publicações foram 2022 e 2024, com 1 achado por ano (10%/ano).
Os estudos foram listados e organizados de forma individual e por tópicos (Quadro 2), sendo eles: ID, autor/ano, título, tipo de estudo, estratégia e nível de evidência. Esse estudo identificou na sua maioria estudos de natureza revisional (4), incluindo revisões sistemáticas, metanálise e revisões integrativas. Também foram encontrados ensaios clínicos randomizados (3), ensaio clínico prospectivo randomizado controlado (1), estudo clínico simples cego, randomizado e controlado (1), e estudo de coorte prospectivo e observacional (1). A predominância de estudos revisionais sugere que há uma lacuna na literatura quanto a novos estudos primários sobre o tema, especialmente ensaios clínicos randomizados.
Quadro 2 – Fluxograma da seleção e identificação dos estudos escolhidos para a revisão integrativa. Fortaleza, Ceará, 2025.
ID | Autor/ano | Título | Tipo de estudo | Estratégia | Nível de evidência |
E1 | Oshvandi et al. (2020) | Effects of Foot Massage on Pain Severity during Change Position in Critically Ill Trauma Patients; A Randomized Clinical Trial | Ensaio clínico randomizado. | Massagem nos pés. | II |
E2 | Richard-Lalonde et al. (2020) | The Effect of Music on Pain in the Adult Intensive Care Unit: A Systematic Review of Randomized Controlled Trials | Revisão sistemática e metanálise. | Música (associada ou não a morfina, fentanil e anti-inflamatórios não esteroides). | I |
E3 | Wang e Xi (2021) | Application of Remifentanil in Analgesia and Sedation of Mechanically Ventilated Patients in Intensive Care Unit | Ensaio clínico randomizado. | Grupo 1: remifentanil combinado com dexmedetomidina; Grupo 2: sufentanil combinado com dexmedetomidina. | II |
E4 | Gonçalves, Righetti e Magrin (2021) | Protocolos nacionais e internacionais para manejo de dor em unidade de terapia intensiva adulta | Revisão integrativa da literatura. | Sedação e analgesia; Escalas de avaliação da dor. | V |
E5 | Rousseaux et al. (2022) | Virtual reality and hypnosis for anxiety and pain management in intensive care units | Ensaio clínico prospectivo randomizado controlado. | Hipnose e inteligência artificial. | II |
E6 | Dalli et al. (2023) | The effect of music on delirium, pain, sedation and anxiety in patients receiving mechanical ventilation in the intensive care unit | Estudo clínico simples cego, randomizado e controlado. | Musicoterapia. | II |
E7 | Eadie et al. (2023) | Opioid, sedative, preadmission medication and iatrogenic withdrawal risk in UK adult critically ill patients: a point prevalence study | Estudo de coorte prospectivo e observacional. | Opioides. | IV |
E8 | Guerrero-Gutiérrez et al. (2023) | Analgesia multimodal em el paciente crítico | Revisão de literatura. | Analgesia multimodal. | V |
E9 | Zakeri et al. (2024) | Pain Management Strategies in Intensive Care Unit: Challenges and Best Practice | Revisão de literatura. | Manejo farmacológico e não farmacológico. | V |
Fonte: Elaborado pelos autores (2025).
4 DISCUSSÃO
Os resultados desta revisão demonstram a diversidade de estratégias usadas para o manejo da dor nos pacientes críticos, já corroborando com a literatura existente. O uso dos fármacos para a analgesia é ainda o pilar do tratamento da dor, porém pode apresentar limitações e risco, principalmente quando utilizado por pacientes com comorbidades e instabilidade hemodinâmica. Nesse contexto, as terapias não farmacológicas aparecem como alternativas eficazes para complementar o tratamento da dor (Vieira Junior; Prinz, 2022; Brazoloto, 2021).
Um estudo realizado com 80 pacientes vítimas de trauma, admitidos em uma UTI em um hospital no Irã, demonstrou a eficácia da massagem nos pés após a avaliação da dor em vários momentos, sendo eles antes da intervenção, imediatamente após a primeira mudança de posição e dez minuto depois e antes da segunda mudança de posição. Essa abordagem sistemática permitiu uma comparação entre o grupo intervenção (que recebeu a massagem) e o grupo controle (que recebeu cuidados de rotina), embora não tenha havido diferença significativa nos escores de dor antes da intervenção. Após a massagem nos pés, a intensidade da dor foi significativamente menor no grupo de intervenção em comparação com o grupo controle (p<0,001), indicando a eficácia da massagem nos pés em aliviar a dor (Oshvandi et al., 2020).
A literatura relata que estratégias como massagem e liberação miofascial estimulam a liberação de endorfinas e neurotransmissores com propriedades analgésicas semelhantes aos opioides, além de aumentar o fluxo sanguíneo para os músculos, o que promove a remoção das toxinas e o relaxamento muscular (Rizal et al., 2024). Estas medidas são particularmente úteis em pacientes críticos, sujeitos a períodos prolongados de restrição e imobilidade.
Outras estratégias não farmacológicas de manejo da dor são utilizadas, porém existem poucas publicações sobre o tema. As revisões sistemáticas existentes na literatura, que têm o intuito de embasar o conhecimento, exploram mais a musicoterapia por ser uma estratégia eficaz e de baixo custo. Segundo Richard-Lalonde et al. (2020), os principais achados sobre a eficácia das intervenções musicais na redução da dor na UTI adulta são: a eficácia comprovada pela diminuição de escores em 18 estudos clínicos; duração do tempo de música, onde foi comprovado que 20 a 30 minutos de música levam a uma diminuição da dor; e os sons mais utilizados são os naturais (canto dos pássaros), promovendo calmaria e relaxamento.
Um dos estudos incluídos nesta revisão, avaliou o efeito da música sobre delírio, dor, sedação e analgesia em 75 pacientes com uso de ventilação mecânica invasiva (VMI). Ao final, foi verificado redução significativa na gravidade de delirium, dor, nível de sedação, ansiedade e menor número de dias com VMI no grupo com música (Dalli et al., 2023).
A música emergiu como uma intervenção promissora em vários ambientes clínicos, incluindo os cenários crônicos, agudos e críticos. Essas afirmações já são comprovadas na literatura (Bradt et al., 2024; Arnold; Bagg; Harvey, 2024).
Outras técnicas mais atuais também são utilizadas para controle da dor e da ansiedade. Em um estudo clínico randomizado realizado na Bélgica com 100 usuários submetidos a cirurgia cardíaca, com pós em UTI, teve como objetivo avaliar o efeito da realidade virtual e a hipnose antes e após o procedimento cirúrgico. Os principais resultados demonstram diferença significativa entre os grupos avaliados, onde o relaxamento aumentou em todos os grupos no pré-operatório (P < 0,0001) e pós-operatório (P = 0,03) (Rousseaux et al., 2021).
Na literatura há comprovação da eficácia dos efeitos da hipnose e da Inteligência Artificial (IA) no controle da dor. Através de um estudo clínico randomizado realizado com 60 pacientes de UTI, demonstrou-se uma diminuição significativa do período de VMI e do tempo de internação no grupo teste com hipnose e IA (Szilágyi et al., 2007). Entretanto, encontrou-se uma divergência de resultados sobre a IA em um estudo de forma não randomizada, com 59 pacientes críticos, onde ao final do experimento, houve redução significativa na ansiedade e depressão, e sem efeito na dor, sono e parâmetros fisiológicos (Ong et al., 2020),
As estratégias não farmacológicas surgem para complementar a analgesia farmacológica, pois o manejo da dor em pacientes críticos exige uma abordagem multifacetada.
A analgesia multimodal consiste na combinação de diferentes classes de fármacos e terapias não farmacológicas, tendo como objetivo a atuação em diversos mecanismos de dor. Segundo Guerrero-Gutiérrez et al. (2023), a crioterapia e estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) são técnicas eficazes no controle da dor.
Além disso, a pesquisa realizada por Zakeri et al. (2024) reuniu ações não farmacológicas, sendo elas: técnicas de relaxamento (respiração profunda, imagens, relaxamento muscular progressivo); musicoterapia, demonstrando uma melhora significativa na agitação, diminuição da frequência cardíaca e da frequência respiratória; e os cuidados espirituais também estão nessas estratégias, bem como acupuntura e massagem. As farmacológicas foram: opioides (sulfato de morfina, fentanil e sufentanil, anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), paracetamol, gabapentinoides, cetamina), anestésicos locais (lidocaina), agonista alfa-2 (dexmedetomidina) e corticosteroides (metilprednisolona).
Os opioides específicos são mais eficazes para o manejo da dor, porém possuem risco de intoxicação em pacientes com insuficiência renal, além dos efeitos colaterais (Yu et al., 2023). Um estudo do tipo ensaio clínico randomizado, realizado na China com 164 pessoas em ventilação mecânica, avaliou o grupo remifentanil combinado com dexmedetomidina e o de sufentanil com dexmedetomidina através de instrumento de observação da dor para pontuar a analgesia e o efeito sedativo através da escala de Ramsay. Os dois grupos apresentaram efeito analgésico maior em uso dessas medicações do que antes do tratamento. Já a porcentagem de avaliação da escala de Ramsay dos pacientes do grupo remifentanil foi significativamente maior quando comparada ao grupo sufentanil, demonstrando a eficácia e vantagens superiores do uso do remifentanil (Wang et al., 2021).
O remifentanil surge como uma opção eficaz para pacientes críticos, tem meia-vida rápida, sensível ao contexto, reduzindo o risco de acúmulo durante o uso prolongado (Li et al., 2023).
Um estudo realizado nos Estados unidos com 212 pessoas demonstrou que 202 pacientes receberam opioides parenterais, onde os mais utilizados foram o fentanil (35,1%) e o alfentanil (33,2%), além de que fármacos como remifentanil, alfentanil, fentanil e morfina também foram destacados (Eadie et al., 2023).
Para a aplicação dos métodos de alívio de dor é necessário avaliação desse sinal vital, bem como, utilização de técnicas baseadas em evidências. Os protocolos para o manejo da dor em UTI são de suma importância, pois servem como guias para a equipe multidisciplinar, estabelecendo diretrizes claras e padronizadas para a avaliação, tratamento e monitoramento da dor. O estudo de Gonçalves, Righetti e Magrin (2021) reúne as principais escalas de avaliação de dor e sedação, além de medidas de análises.
A presente revisão, embora busque explanar sobre as estratégias de manejo da dor em pacientes adultos internados na UTI, tema esse de extrema relevância para os cuidados críticos, apresenta limitação inerente ao número de estudos encontrados.
Ainda que a quantidade de estudos seja limitada, a mesma contribui de forma significativa para o campo do manejo da dor nos pacientes críticos, fornecendo estratégias atuais e evidências eficazes. Essa síntese do conhecimento é essencial para orientar os profissionais atuantes na UTI nas suas práticas clínicas.
5 CONCLUSÃO
A presente revisão demonstrou a multiplicidade de estratégias de manejo da dor nas UTIs, tendo a necessidade de uma abordagem multidisciplinar que combine fármacos e técnicas não farmacológicas. A escassez de estudos sobre o assunto limita a generalização dos resultados e padronização das estratégias a serem aplicadas.
A necessidade de futuras pesquisas com metodologias mais robustas para o aprofundamento do conhecimento sobre diferentes ferramentas de avaliação da dor e diversas estratégias terapêuticas para um manejo eficaz da dor, nas quais visem a melhora do tratamento e da qualidade de vida dos pacientes críticos, é de extrema importância para a avaliação individualizada, holística e humanizada dos pacientes.
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¹Residência Médica em Terapia Intensiva do Hospital Universitário Walter Cantídio. E-mail: henriqueclf@gmail.com
²Médica intensivista e diarista da UTI Verde do Hospital Geral de Fortaleza e da UTI Materna da Maternidade Escola Assis Chateaubriand.