ESTILO DE VIDA E CÂNCER DE BOCA: O PAPEL DO TABAGISMO E DO ÁLCOOL NA ETIOLOGIA DO CÂNCER EM CAVIDADE ORAL

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202410292051


Elvis De Souza Beserra1, Andressa De Fatima Mendonça Carvalho De Vasconcelos1, Cinthia Alves Soares Mendes2, Daiana Fernanda Pereira Da Silva1, Kéthillyn Walléria De Oliveira Santos1, Luis Henrique Marinho Pereira Da Silva1, Maria Gabriela Souza Moura3, Shesly Suenny Vieira Corte Real Pyrrho1, Victória Karla Araújo1, Orientador: Rodrigo Gonzalo Valdivia Ugarte4


RESUMO

Introdução: O câncer de boca é considerado um problema de saúde pública global devido ao aumento expressivo no número de casos, especialmente desde o século passado. Também, caracterizado como uma doença multifatorial, pois, seu desenvolvimento é resultado da associação de fatores extrínsecos e intrínsecos ao organismo. Dentre os principais fatores extrínsecos, são o fumo e álcool. Objetivo: Realizar uma revisão integrativa sobre o câncer de boca, sua epidemiologia, fatores de risco, diagnóstico, tratamento e prevenção. Métodos: Foi realizada uma busca literária envolvendo o uso dos descritores: “Câncer de boca”, “Tabagismo”, “Etilismo” e “Diagnóstico precoce” através dos operadores boleanos: AND/OR nas bases de dados: Pubmed, SciELO, Google Acadêmico e Biblioteca Virtual de Saúde. Resultados: A análise permitiu identificar que o câncer de boca está fortemente associado com indivíduos do sexo masculino, em sua maioria acometendo indivíduos leucodermas, acima de 40 anos, de baixo estrato socioeconômico e educacional. Entre os fatores de risco relacionados ao câncer de boca, pode-se ressaltar o etilismo e o tabagismo como fatores predominantes. Um padrão epidemiológico pode ser observado entre os pacientes, contudo, a principal causa do seu surgimento é difícil de ser definida, pois não há um fator causador isolado. Considerações finais: O cirurgião-dentista tem um papel importante no diagnóstico e tratamento desses pacientes, deve atuar junto à equipe  multidisciplinar, participando do planejamento que minimize os danos, devendo buscar uma prática de promoção de saúde para os pacientes oncológicos, na qual devem ser conhecidos os fatores que causam danos à saúde para que possam ser minimizados.

Palavras-chaves: Câncer de boca. Tabagismo. Etilismo. Diagnóstico precoce

ABSTRACT

Introduction: Oral cancer is considered a global public health problem due to the significant increase in the number of cases, especially since the last century. It is also characterized as a multifactorial disease, as its development results from the association of extrinsic and intrinsic factors. Among the main extrinsic factors are smoking and alcohol. Objective: To conduct an integrative review on oral cancer, its epidemiology, risk factors, diagnosis, treatment, and prevention. Methods: A literature search was conducted using the descriptors: “Oral Cancer,” “Smoking,”Alcoholism,” and “Early Diagnosis” through Boolean operators AND/OR in the databases: Pubmed, SciELO, Google Scholar, and the Virtual Health Library. Results: The analysis identified that oral cancer is strongly associated with male individuals, primarily affecting lighter-skinned individuals over 40 years old from lower socioeconomic and educational backgrounds. Among the risk factors related to oral cancer, alcoholism and smoking are predominant. An epidemiological pattern can be observed among patients; however, the main cause of its emergence is difficult to define, as there is no isolated causative factor. Final Considerations: The dentist plays an important role in diagnosing and treating these patients and should work alongside a multidisciplinary team, participating in planning to minimize harm. It is essential to promote health for oncology patients, recognizing the factors that cause health damage so they can be minimized.

Keywords: Mouth cancer. Smoking. Alcoholism. Early diagnosis.

1. INTRODUÇÃO

A palavra “câncer” é um termo caracterizado para um grupo de doenças cujo significado incorpora mais de 100 tipos de patologias malignas, que, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), apresentam semelhanças. É uma doença onde ocorrem mutações genéticas, ocasionando uma proliferação celular desordenada, que dividindo-se rapidamente podem invadir os tecidos adjacentes ou alcançar outros órgãos. Estas células tendem a serem agressivas e incontroláveis levando a formação de tumores13.

Embora tenha um caráter genético, o câncer é caracterizado como uma doença multifatorial12. Possuindo agentes extrínsecos e intrínsecos com papéis colaborativos, sendo a maioria dos casos relacionados a fatores ambientais, principalmente ao estilo de vida. De origem extrínseca encontra-se o etilismo, tabagismo, Sífilis, Candida sp, Papiloma Vírus Humano (HPV) e radiação solar. Já no intrínseco, desnutrição, dieta rica em gorduras, anemia por deficiência em ferro e suscetibilidade genética26

O câncer de boca é uma lesão tumoral que afeta lábios e estruturas da boca, como gengivas, bochechas, céu da boca, língua (principalmente as bordas) e a região embaixo da língua9, 27. Está entre os tumores malignos que mais afetam a cabeça e o pescoço, sendo caracterizado por diferentes perfis histológicos e fatores de risco11.

O objetivo desse estudo visou realizar uma busca na literatura para analisar a influência e o impacto do tabagismo e do álcool no desenvolvimento do câncer de boca, e a qualidade de vida dos pacientes. Bem como, as formas de diagnóstico e prevenção do câncer em cavidade oral.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Quando células anormais se proliferam de forma rápida, causando perda da regulação metabólica e originando modificações celulares, damos a isso o nome de câncer4. O câncer oral inclui especificamente um subgrupo de neoplasias malignas que surgem nos lábios, na língua, nas gengivas, no palato duro e mole, nas superfícies da mucosa oral e no assoalho da boca21. No Brasil, o câncer é a segunda causa de morte dentre as doenças crônico-degenerativas, sendo o câncer bucal o sexto mais incidente ao redor do mundo20.

Baseado em dados epidemiológicos brasilianos, são esperados 704 mil casos novos de câncer para o triênio 2023- 2025 no país. Segundo dados para estimativas epidemiológicas do câncer de boca do INCA, o número estimado de casos novos de câncer da cavidade oral para o Brasil, para cada ano do triênio de 2023 a 2025, é de 15.100 casos, correspondendo ao risco estimado de 6,99 por 100 mil habitantes, sendo 10.900 em homens e 4.200 em mulheres. Esses valores correspondem a um risco estimado de 10,30 casos novos a cada 100 mil homens e 3,83 a cada 100 mil mulheres12.

O câncer da cavidade oral ocupa a oitava posição entre os tipos de câncer mais frequentes. Em homens, é o quarto mais frequente na Região Sudeste (13,16 por 100 mil) e o quinto nas Regiões Nordeste (8,35 por 100 mil), Centro-oeste (8,14 por 100 mil) e Norte (4,53 por 100 mil). Na Região Sul (10,52 por 100 mil), ocupa a sexta posição. Entre as mulheres, é o 13º nas Regiões Sudeste (4,37 por 100 mil), Nordeste (3,87 por 100 mil) e Norte (1,96 por 100 mil). Já na Região Centro-oeste (3,21 por 100 mil), ocupa a 15ª posição. Na Região Sul (3,60 por 100 mil), está na 16ª posição12.

As neoplasias malignas da cavidade oral apresentam evoluções clínicas distintas, variando de acordo com o tipo histológico, estadiamento e subsítio de origem29. A borda lateral da língua é a localização preferencial para o desenvolvimento de CEC oral, seguida do assoalho da boca23. Tipicamente envolve homens durante a quinta até oitava década de vida e está fortemente associado ao tabaco e o abuso de álcool5. É o quinto mais frequentes em homens e o décimo terceiro em mulheres e sua  mortalidade atinge cerca de 50%19

Clinicamente, as lesões cancerosas orais podem se apresentar de formas variadas, podendo ser exofíticas (nodular), endofíticas (ulcerativo), verrucosa, leucoplásicas, eritroplásicas ou eritroleucoplásicas20. As lesões pré- cancerosas que são muito comuns e precursoras do CEC é a leucoplasia e a eritroplasia, sendo a leucoplasia seis vezes mais frequente em fumantes do que em não fumantes, resultando no aspecto esbranquiçado15. Entretanto, a úlcera indolor é o achado mais encontrado em pacientes com câncer bucal em fase inicial e maior prevalência da doença na faixa etária acima de 40 anos9. Todavia, o câncer de boca é facilmente confundido com lesões benignas, por outro lado, em estágio avançado, pode apresentar diferentes níveis de sintomas dolorosos2.

O tipo histológico mais frequente é o CEC, que corresponde a cerca de 90 a 95% das malignidades orais. Esse tumor é predominante no sexo masculino e a maioria dos casos ocorre entre 50 e 70 anos de idade9. Entretanto, as taxas de incidência e mortalidade por esse tumor variam de acordo com sexo e status socioeconômico29. Sendo o CEC de boca uma neoplasia epitelial maligna caracterizada por alta morbidade/mortalidade e baixos índices de sobrevida23.

O tabaco contém mais de 70 agentes cancerizáveis, por exemplo, nitrosaminase e hidrocarboneto policíclico, como o benzopireno, que, em contato com a mucosa bucal, causa agressão térmica, provocando uma inflamação crônica que favorece o aparecimento de lesões predisponentes15. O risco de câncer da cavidade oral eleva-se exponencialmente se adicionarmos bebida alcoólica, pois aumenta a permeabilidade da cavidade oral para a ação de carcinógenos29. Muito já se falou sobre o tabagismo tradicional e as consequências trazidas por este, mas nos últimos anos, os cigarros eletrônicos ganharam popularidade entre os jovens, por sua praticidade, não soltarem cinzas e por suas variedades de aromas e sabores4.

O cigarro eletrônico é um dispositivo que fornece doses de nicotina e outros aditivos em aerossol aos usuários, é composto por uma bateria, um atomizador e um cartucho contendo nicotina, podendo apresentar substâncias que modificam o sabor, o que o torna mais atrativo6. Na saúde oral estes, se relacionam a alterações na microbiota oral, cáries, doenças periodontais e câncer de boca. Assim, o uso de cigarros eletrônicos entre os jovens é uma grande preocupação de saúde pública a nível mundial, uma vez que pode levar ou progredir para o consumo convencional de cigarros8.

O consumo de álcool foi primeiro determinado como um fator de risco para câncer de cavidade oral, orofaringe, hipofaringe e laringe pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer7. Ele (o álcool) interfere na circulação sanguínea local e também na resposta imune, levando a um desequilíbrio28. Entretanto, a ação do álcool ainda não se encontra totalmente bem definida no desenvolvimento de neoplasia maligna5. Assim, estudos apontam que indivíduos que consomem álcool, mas não fumam, talvez não apresentem risco de desenvolver carcinogênese bucal15.

Dado que a maioria dos fatores de riscos podem ser eliminados, o câncer oral pode ser considerado uma doença amplamente evitável. Porém, sua ocorrência em pacientes não pertencentes a categorias de risco ainda é possível1.  Já foi comprovado também o risco do fumante passivo, no surgimento de tumores de cavidade oral29. Apesar disso, a infecção pelo vírus HPV, exposição intensa ao sol, sedentarismo e predisposição genética também contribuem para a etiologia multifatorial do câncer27.

A tendência epidemiológica global do câncer de boca está a mudar ao longo do tempo. Um aumento generalizado da prevalência está sendo registrado nas mulheres em comparação aos homens25. Entretanto, a etiologia e patogênese do câncer de boca em mulheres não está bem estabelecida. Para as mulheres jovens, muitos autores afirmam a causa multifatorial e a associação de fatores como: agentes virais (HPV), tipo de dieta, medicamentos imunossupressores, anemia, antecedentes genéticos e hormonais5.

Os estudos recentes observaram um aumento da incidência de CEC oral na população jovem (abaixo dos 45 anos). Compreender as características dos pacientes jovens portadores dessa neoplasia maligna, bem como os fatores de risco que levaram à manifestação precoce é de fundamental importância para traçar estratégias de controle e prevenção da doença22. Porém, os estudos estão demonstrando atraso no diagnóstico do câncer oral (tempo decorrido entre a percepção dos sintomas, o diagnóstico e o tratamento correto) que podem ser decorrentes da falta de conhecimento sobre o câncer bucal e pelas barreiras dos sistemas de saúde19.

Ainda se questiona as evidências sobre a efetividade de estratégias coletivas de prevenção comumente citadas na literatura, como campanhas educativas midiáticas, incentivo ao autoexame bucal e rastreamento de lesões orais em grandes populações11. Por outro lado, a prevenção da doença é reconhecidamente um fator importante na redução dos índices de incidência. A prevenção primária visa ações ou iniciativas que possam reduzir a incidência e a prevalência da doença, modificando os hábitos da comunidade, buscando interromper ou diminuir os fatores de risco como o tabaco, o álcool e a exposição solar dos lábios, antes mesmo que a doença se instale23.

3 MÉTODOS

Foi realizada uma pesquisa quantitativa, exploratória e descritiva, de caráter bibliográfico. Foram pesquisados trabalhos científicos nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) SciELO, Pubmed e Google Acadêmico através do uso dos seguintes descritores: “Câncer de boca”, “Tabagismo”, “Etilismo” e “Diagnóstico precoce”, além dos operadores boleanos: AND/OR. Dentre os critérios de elegibilidade, incluímos: artigos publicados em língua portuguesa e inglesa, entre os anos de 2020 a 2024, que relacionasse o câncer de boca com os fatores de risco. Foram excluídos artigos que não apresentam informações relevantes sobre o tema proposto.

5. RESULTADOS

Câncer, tumor ou neoplasia são palavras com significado próximo para se referir a um conjunto de cem doenças que acometem qualquer órgão, cujo aspecto comum é a replicação rápida, excessiva e anormal das células, induzindo a formação de tumores nas células15. A etiologia do câncer de boca é multifatorial e resulta da interação de fatores extrínsecos e intrínsecos. O tabaco, o álcool, a radiação ultravioleta e infecções por alguns microrganismos configuram-se como fatores de risco extrínsecos. Dentre os fatores intrínsecos enquadram-se a hereditariedade e deficiência imunológica. Sugere-se ainda a interação de determinantes sociais, como a precária condição socioeconômica e educacional9.

A apresentação habitual do câncer de boca é de lesão mucosa ou submucosa única, indolor e com crescimento progressivo, onde a maioria aparece em áreas de mucosa normal29. O tratamento se baseia, em geral, na histologia, na localização, no estágio do câncer e nas condições físicas do paciente. As opções terapêuticas, curativas ou paliativas, são divididas nestas modalidades: cirurgia, radioterapia, quimioterapia, terapia alvo ou uma combinação delas. O estabelecimento de um diagnóstico prévio é essencial, pois conserva as funções do indivíduo, além de melhorar a sobrevida15. Devido ao pior prognóstico, à maior mutilação e ao acometimento psicológico ocasionados aos pacientes em estágios mais avançados do carcinoma espinocelular, é de extrema importância o estabelecimento de um diagnóstico precoce20.

O debate sobre a influência das condições socioeconômicas como motivadoras da doença tem se intensificado nas últimas décadas, propondo que a população vulnerável em termos socioeconômicos apresenta maior risco para câncer bucal e suas complicações27. O grau de acesso aos serviços públicos de saúde também é determinante na variação da incidência de câncer de boca e orofaringe no mundo. Os estudos epidemiológicos demonstram ser de grande relevância, para que se possa estimar a magnitude do problema e caracterizar o perfil dos pacientes acometidos23. Possuindo um aspecto importante para a compreensão dos fatores que podem influenciar no tempo de demora e os desfechos dos casos de câncer, definido como o caminho percorrido em busca de cuidados para solução dos problemas de saúde deles11.

Sendo assim, muitos fatores influenciam a tendência de mortalidade pelo câncer de boca, como a fase da doença no momento do diagnóstico e o tempo percorrido19. O conhecimento desta patologia, com suas variadas apresentações clínicas e suas consequentes implicações no curso da doença, é fundamental para os profissionais de saúde dedicados à prevenção, à detecção precoce e ao tratamento do câncer de cabeça e pescoço, em especial do CEC oral15. Para isso, é importante que o cirurgião-dentista (CD) esteja integrado às equipes de saúde, pois sua intervenção no serviço público envolve promoção na prevenção e recuperação da saúde bucal9.

O conhecimento adequado da doença e dos seus fatores etiológicos e prognósticos devem capacitar os profissionais a prevenir, identificar e controlar o câncer de boca; pois o profissional tem papel fundamental na prevenção e no diagnóstico desse tipo de doença, bem como no tratamento e na reabilitação do paciente acometido15. O CD deve estar apto a detectar desordens orais potencialmente malignas, bem como ser capaz de avaliar os possíveis fatores de risco associados9. Para isso, deve realizar um exame clínico (anamnese e exame físico) minucioso, no qual seja possível identificar sinais iniciais da doença, evitar sua evolução, aumentar a sobrevida e promover melhor qualidade de vida aos pacientes20.

O cirurgião-dentista vai estar exercendo um papel primordial na prevenção do câncer de boca, principalmente quando atua nos níveis de prevenção primária e secundária, ao propor ações que facilitem o reconhecimento dos indivíduos pertencentes ao grupo de risco, e ao realizar práticas que busquem diagnosticar precocemente as lesões suspeitas e fornecendo suporte durante o tratamento oncológico3

As células cancerígenas geralmente se espalham rapidamente pelo corpo, passando por diferentes etapas evolutivas e isso requer diferentes protocolos de tratamento, específicos para cada estágio evolutivo16. Os cânceres da cavidade oral em fase inicial são geralmente tratados com cirurgia primária ou radiação definitiva, enquanto os tumores em fase avançada requerem frequentemente tratamento multimodal18. A excisão cirúrgica do CEC por muitas vezes se tratar de lesões amplas e com comprometimento ósseo, é comum haver sequelas estéticas e funcionais, o que culmina em problemas psicológicos para o paciente20.

A quimioterapia associada a esses tratamentos deve ser opção de escolha em casos consideravelmente avançados, que não respondem positivamente em sua totalidade quando expostos apenas aos métodos já citados. Entretanto, é o tratamento que possui mais efeitos colaterais como inflamações orais, alopecia, perda de apetite, hematomas ou hemorragias em decorrência da diminuição das plaquetas e fadiga devido à diminuição dos glóbulos vermelhos. Tais efeitos afetam direta e negativamente a qualidade de vida do indivíduo, resultando na não aceitação de sua condição, agravando o desconforto e encurtando o convívio social15.

Dois terços dos tumores de cavidade oral ocorrem em áreas de fácil acesso, entretanto o diagnóstico é geralmente estabelecido em estágios mais avançados já apresentando, em sua maioria, metástases linfonodais29. As neoplasias que estão na região da cabeça e pescoço determinam carga de sofrimento adicional, por serem doenças devastadoras para os pacientes, suas famílias e para a sociedade 2. Assim, o câncer tornou-se um problema de saúde pública por se tratar de uma doença com grande incidência, sendo o responsável por uma em cada seis mortes no mundo9, 20.

O controle do câncer atualmente é compreendido como um contínuo de estratégias que possuem início no controle dos fatores de risco, na identificação precoce da doença e nos cuidados paliativos, esses últimos formados por diagnóstico, tratamento, seguimento durante a fase de sobrevivência e cuidados de final de vida para aqueles que não possuem possibilidade de cura ou controle do câncer24. Entretanto, mesmo com os avanços na prevenção, diagnóstico e tratamento de diversos tipos de câncer, favorecendo o diagnóstico precoce e aumento de sobrevida, não foram observadas melhoras dos indicadores epidemiológicos do CEC de boca ao longo do tempo, sendo ainda bastante frequente o diagnóstico da doença em estágio avançado23.

A predominância de diagnósticos tardios está diretamente ligada ao prognóstico e ao tratamento empregado, que de acordo com o estadiamento da doença no momento  do diagnóstico serão mais invasivos e mutiladores, reduzindo a qualidade de vida do paciente e uma maior chance de mortes causadas pela doença26. Quanto mais avançado for o estágio clínico, pior é o prognóstico e menor as taxas de sobrevida dos indivíduos afetados23.

Também, a importância das ações de conscientização contra o tabagismo e etilismo, as propagandas demonstrando os riscos do consumo nicotínico e sua relação com o câncer bucal deve ir além das embalagens de cigarros.  A informação carece ser amplamente divulgada e acessível aos seus usuários, para que todos os efeitos adversos e malefícios citados seja compreensível a qualquer classe social4. Por fim, com hábitos saudáveis e manter uma boa higiene bucal é possível manter uma boa saúde geral e possibilitar um diagnóstico precoce destas lesões, apresentando consequentemente um melhor prognóstico e controle da patologia17.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sinergia do uso do tabaco e a ingestão alcoólica é o principal determinante para o câncer de boca. A fins de diagnóstico precoce, a aparência clínica mais comum em forma de lesão é a leucoplasia como desordem oral potencialmente maligna que poderá evoluir para o CEC, sendo a língua o sítio mais acometido. Além disso, na análise literária, não foi encontrado nenhum mencionando em que o álcool cause qualquer tipo de câncer específico em cavidade oral. Ainda, observamos que, mesmo com as campanhas voltadas para o combate ao câncer de boca, tal como vemos nas embalagens de cigarro, o número de casos de neoplasias no Brasil é expressivo e não apresenta diminuição. Muito embora exista uma rede de apoio e cuidado ao câncer de boca pelo SUS, os desafios no combate ainda persistem na tentativa de garantir uma qualidade de acesso aos usuários. Assim, o cirurgião dentista deve estar apto para realizar o diagnóstico precoce, pois nos estágios iniciais, o CEC apresenta índices de cura em aproximadamente 90% dos casos.

6. REFERÊNCIAS

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28 TJIOE, Kellen Cristine. Momento Odontologia# 96: Consumo crônico de bebidas alcoólicas pode contribuir para o desenvolvimento do câncer de boca, alerta especialista [Entrevista]. Jornal da USP, 2021.

29 XAVIER, Jady Wroblewski. Câncer de boca avançado: o que está acontecendo com os nossos pacientes?. 2021.


1Discente do curso de Odontologia pelo Centro Universitário Brasileiro (UNIBRA)

2Discente do curso de Odontologia pela Universidade Cidade de de São Paulo (UNICID)

3Discente do curso de Odontologia pelo Centro Universitário Tiradentes (UNIT)

4Cirurgião Dentista Especialista em Radiologia Oral e Maxilofacial, Residente em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilo fácil pela Universidade de Pernambuco (FOP – UPE)