ESTADO NUTRICIONAL E PADRÃO DE REFEIÇÕES REALIZADAS POR IDOSOS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11514485


Daniela Nascimento Santos1,
Orientadora: Prof. Greisse Vieiro da Silva Leal2 


RESUMO 

É comum na velhice ocorrer alterações corporais e diminuição no apetite, porém essas alterações estimulam o consumo de alimentos de fácil preparação como os industrializados, contribuindo para o excesso de peso associado às doenças crônicas não transmissíveis. Objetivou-se avaliar o estado nutricional dos idosos e o padrão de refeições realizadas por idosos, que procuraram o Programa Envelhecer Sorrindo do departamento de Prótese da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP), para tratamento dentário com prótese removível. Foram coletados dados através do recordatório de 24 horas e anamnese de 32 indivíduos de 60 a 82 anos. A ingestão energética encontra-se inadequado (78,37%), porém com ingestão adequada dos macronutrientes, prevalecendo 50% dos idosos com obesidade (possível subestimativa da ingestão energética). Sendo necessário, técnicas adequadas para o monitoramento do estado nutricional e programas voltados a prevenção e controle da obesidade, para a melhoria da qualidade de vida dos idosos.

PALAVRAS-CHAVE: Idosos, ingestão alimentar, consumo energético, obesidade e estado nutricional.

ABSTRACT  

It is common in old age and bodily changes occur decrease in appetite, but these changes stimulate the consumption of foods easy to prepare as industrialized, contributing to excess weight associated with chronic diseases. The objective was to assess the nutritional status of the elderly and the pattern of meals for the elderly, who sought the Smiling Aging Program of the Department of Prosthodontics, School of Dentistry, University of São Paulo (USP) for removable dental prosthesis. Data were collected through 24-hour recall interview, and 32 individuals of 60 to 82 years. Energy intake is inadequate (78.37%), but with adequate intake of macronutrients, prevailing 50% of elderly people with obesity. (possible underestimation of energy intake). If necessary, appropriate techniques for monitoring nutritional status and programs to prevent and control obesity, to improve the quality of life for seniors.

KEYWORDS: Elderly, food intake, energy intake, obesity and nutritional status.

INTRODUÇÃO

De acordo com os dados do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) realizada, em 2003 o índice da população de 60 anos ou mais era de 17 milhões de indivíduos, representando cerca de 10% da população total do país e em 2006 o envelhecimento da população alcançou aproximadamente 19 milhões das pessoas1. A media para o Brasil em 2025 é que o país atinja o número de 35.148.000 idosos (15,4% do total da população) se comparado à 16.488.000 de 2005 equivalentes a (8,8%), demonstrando assim o aumento da expectativa de vida da população2.

O alto índice do envelhecimento da população vem se mostrando um grande desafio para a saúde pública atual3. De certa forma modelando as políticas de saúde, ao desenvolver programas específicos para os idosos, tornando-se de grande importância o atendimento a faixa etária em questão, já que as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) estão presentes nesta população 4,5,6.

Nesta fase da vida o estado nutricional torna-se comprometido, devido às alterações fisiológicas e enfermidades causadas pelos hábitos desenvolvidos durante a vida (dieta, atividade física e situação socioeconômica). O acompanhamento nutricional adequado possibilita identificar o risco de infecções e mortalidade nos casos de baixo peso e de doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares e câncer6.  

Alterações corporais comuns em idosos ocorrem devido à diminuição na sensibilidade para sabor, aroma, olfato, redução da saliva, insuficiência mastigatória8, além do uso excessivo de medicamentos devido à maior freqüência de doenças e o hábito do fumo, o que contribui na redução do consumo alimentar7. Porém essas alterações estimulam o consumo excessivo de açúcares e sal, redução da ingestão de verduras, frutas, fibras, carboidratos complexos, diferenciação na forma de preparo dos alimentos e uma dieta rica em alimentos calóricos especialmente de origem animal e associado com a diminuição de exercícios físicos, contribuem para o sobrepeso e obesidade explicando o aparecimento de DCNT 9,11. Deste modo, medidas antropométricas como altura, peso e questionários de consumo alimentar aplicados em idosos, indicam seu perfil nutricional e tornam-se úteis para identificar possíveis inadequações9.

Dentre os métodos mais usados nas pesquisas realizadas com idosos está o Índice de Massa Corporal (IMC)9, que aponta as alterações na composição corporal, ocorridas com os idosos, onde os mesmos exibem a redução de altura, quantidade de água e massa magra e o aumento na porcentagem de gordura de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e proposto por Lipschitz ET AL10,12 .

Para a avaliação do consumo alimentar o melhor método para aplicar em idosos é o recordatório de 24 horas (R24h) , pois é de  simples aplicação, barato e um instrumento rápido. Não exigi alfabetização da população analisada e o comportamento alimentar é pouco alterado. O R24h consiste na obtenção dos dados em que o indivíduo descreve tudo que consumiu das 24 horas anteriores às consultas de formações sobre os alimentos e bebidas consumidos atualmente, descrição das preparações e tamanho das porções em mililitros, gramas ou medidas caseiras. Sendo assim um método importante para avaliar o estado nutricional desta população13, 14.

Não foram encontrados estudos nacionais que avaliem o consumo alimentar referente ao padrão de realização de refeições em idosos. Portanto, torna-se necessário avaliar o consumo alimentar e sua associação com o padrão de refeições apresentado por idosos a fim de se identificar possíveis inadequações.

O objetivo do presente estudo foi avaliar o padrão alimentar e o estado nutricional de idoso.

MATERIAIS E MÉTODOS

Participaram do estudo pacientes que procuraram o “Programa Envelhecer Sorrindo” do departamento de Prótese da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, para tratamento dentário com prótese removível. Os pacientes, de forma randomizada, foram selecionados para os serviços de confecção e instalação de próteses removíveis (Padrão ouro – grupo controle) e de próteses termoplásticas (grupo experimental). Foram fatores de inclusão idosos (60 anos ou mais) que necessitaram de prótese removível inferior e que no arco superior tivessem prótese total.

 A coleta de dados foi realizada utilizando-se o inquérito alimentar do tipo recordatório de 24 horas e anamnese padronizada para coletar: dados pessoais, prática de atividade física, hábito intestinal, alterações recentes de peso, histórico de morbidades, uso de medicamentos e/ou suplementos nutricionais, ingestão de bebida alcoólica e histórico alimentar. Foram aferidas medidas antropométricas para obtenção do estado nutricional dos idosos, classificados segundo o índice de massa corpórea (IMC) proposto por LIPSCHITZ (1994)12

Foi utilizado o programa Virtual Nutri Plus (PHILIPPI et al., 2006)16 para análise de inquérito dietético, no qual foram incluídos os alimentos e preparações que não fazem parte do banco de dados do software e classificados de acordo com a freqüência diária de alimentos consumido e o padrão de refeições por dia.

RESULTADOS

Na tabela 1, verifica-se o número de idosos estudados segundo faixa etária, sendo que a maioria tinha entre 70 e 79 anos (56,25%). Quanto ao gênero, a maior participação foi feminina (68,75%). Baseado na prática de atividade física, 50% dos idosos não praticava nenhum tipo de exercício físico, 46,87% faziam atividade física e 3,13% não responderam esta questão.

                                                                              TABELA 1

Variáveisn  %  
Idade  
60 – 691139,37
70 – 791856,25
≥ 806 ,25
Sexo  
Masculino1032,25
Feminino22  5 8,25
Nível de atividade física  
Sedentário1650
Ativo1546,97

Foi calculada a média da recomendação energética para a população estudada (2017,13 Kcal/dia), sendo que a média consumida foi inferior (1580,85 Kcal/dia) representando apenas 78,37% do recomendado (figura 1). Quanto ao consumo dos carboidratos (CHO), proteínas (PTN) e lipídios (LIP), estavam adequados segundo a recomendação da DRI17 (Ingestão Alimentar de Referência) sendo 35 a 65% de CHO, 10 a 35% PTN e 20 a 35% de LIP.

FIGURA 1

Comparação da média do consumo energético e dos macronutrientes com a recomendação.

A tabela 2 apresenta a análise descritiva do consumo energético dos idosos, estando abaixo do recomendado. Quanto ao consumo dos macronutrientes (carboidrato, proteína e lipídio) estão adequados segundo a DRI.

TABELA 2

Consumo energético

 EnergiaCarboidratoProteínaLipídio
Média1580,85 Kcal218,88 Kcal64,61 Kcal50,59 Kcal
Mín.580,70 Kcal94,13 Kcal17,58 Kcal7,90 Kcal
Máx.3131,86 Kcal448,1 Kcal160,04 Kcal199,54 Kcal
DP467, 8560,5421,0819,7

Na figura 2, contêm os resultados do índice de massa corporal (IMC) segundo a classificação Lipschitz para idosos, sendo que a maioria apresentou excesso de peso (50%) apenas 6,25% estavam abaixo do peso. A obesidade foi maior no sexo feminino (34,37%).

FIGURA 2

Estado nutricional de homens e mulheres idosos segundo a classificação por Lipschitz 60.00%

Em relação ao número de refeições realizadas, 40,62% realizavam entre duas a três refeições por dia, 50% de quatro a cinco refeições e 9,37% seis refeições. 

DISCUSSÃO

A expectativa de vida da população tem aumentado, devido a vários fatores como renda, educação, maior acesso ao serviço de saneamento básico. Os idosos que participaram da pesquisa apresentaram uma maior prevalência entre 70 a 79 anos de idade predominando o sexo feminino (68,75%), mostrando maior preocupação das mulheres com a saúde e com o bem estar, resultados semelhantes ao estudo realizado com 65 idosos, que maior foi à média de idosos com 71 anos, prevalecendo o sexo feminino (81%)18.

Segundo Barbosa et al.19 a inatividade está associada com o excesso de peso, devido a diminuição do gasto energético que consequentemente ocorre o acúmulo de gordura corporal. No presente estudo, metade dos idosos avaliados não tinha como hábito a prática de atividade física. Semelhante ao achado de Alvarenga et al.20 que 74,35% dos idosos não realizavam  atividade física. Distinto de Cruz et al.21 que no seu estudo, a realização de atividade física entre idosos obesos e não obesos, não houve diferença significativa.

Quanto ao número de refeições realizadas diariamente, 40,62% da população observada alegaram efetuarem ≤ 3 vezes por dia,  50% de 4 a 5 refeições e somente 9,37% 6 refeições. Em síntese, o número de refeições recomendado para os idosos é fracionar em mais vezes durante o dia em menores quantidades, devido ao processo do envelhecimento (Sass et al)22.

Referente ao valor energético da alimentação dos idosos foi inferior à necessidade energética estimada, porém, em relação ao consumo dos macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídios), encontram-se adequados segundo a DRI. Diferente do estudo realizado por Souza et al23. mostram ingestão energética adequada, consumo elevado de proteína e lipídio e baixa ingestão de carboidrato. Essa distinção nos resultados pode ser devido à dificuldade em conseguir informações confiáveis da ingestão energética, pois pode ocorrer uma subestimação nos dados.

Neste estudo observou-se maior prevalência de obesidade (IMC ≥ 30) entre os idosos, sobretudo do sexo feminino entre 70 e 79 anos. Estes dados está em concordância com Bueno et al24. tendo 52,4% dos idosos com sobrepeso e 28,0% eutrófico. 

Além do aparecimento de doenças crônicas não transmissíveis, com 56,25% dos idosos avaliados são hipertensos, 43,75% com dislipidemia e 15,62% com tireopatia, tendo um consumo elevado de medicamentos e diminuindo assim a eficácia da digestão, absorção e no metabolismo dos nutrientes.  É importante observar que maior foi a presença de idosos hipertensos 50,7%, apenas 4,3% eram diabéticos e 14,9% apresentaram ambas as doenças no estudo de Andrade et al25. Houve valores significativos em outros estudos de idosos, que relacionam a obesidade com o aparecimento da hipertensão 26,27.

CONCLUSÃO

Os dados do presente estudo mostra que há ingestão energética abaixo do recomendado, porém com ingestão adequada dos macronutrientes, não sendo um fator para o aparecimento de maior número de idosos com obesidade. Porém, um dos fatos para esse efeito, é devido à subestimação da ingestão energética diária, dificultando em obter informações confiáveis desta população com excesso de peso. Portando, torna-se imprescindível estabelecer técnicas adequadas para monitorar o estado nutricional, além de inserir os idosos em programas voltados ao controle e prevenção da obesidade, para a melhoria da qualidade de vida.  

REFERÊNCIAS

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1Graduando em Nutrição da Universidade Nove de Julho [nutri_dany@hotmail.com]

2Mestre em Saúde Pública Professor do curso de Nutrição da Universidade Nove de Julho [greisse@uninove.br]