REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202504300058
André Joaquim De Araújo Neto; Bruno Henrique De Souza Oliveira; Luís Eduardo Alencar Da Silva; Pedro Júnior Da Silva Costa; Samuel Cronemberger Cavalcanti Guimarães; Orientador: Dr. Ricardo César De Hollanda Nogueira
RESUMO
A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico grave caracterizado por sintomas, como delírios, alucinações e prejuízo do pensamento e comportamento. Este estudo tem como objetivo relatar um caso clínico de um paciente diagnosticado com esquizofrenia em um Centro de Atenção Psicossocial, de São Julião/PI, discutindo os desafios do tratamento e evolução do quadro. A metodologia utilizada foi um estudo de caso baseado na análise clínica do paciente, incluindo histórico médico, sintomas apresentados e resposta às intervenções terapêuticas. Foi utilizada a literatura científica atualizada sobre o tema em questão. O relato de caso descreve um paciente do sexo masculino, diagnosticado com esquizofrenia na adolescência, que apresentou episódios psicóticos recorrentes e dificuldades na adesão ao tratamento. Foram analisadas suas condições clínicas, abordagens terapêuticas utilizadas e evolução do quadro ao longo do tempo. Na discussão, abordam-se as dificuldades no manejo da esquizofrenia, destacando a importância do acompanhamento multidisciplinar e da adesão ao tratamento medicamentoso e psicoterapêutico. Desse modo, reforça a necessidade de estratégias individualizadas para cada paciente, visando melhorar sua qualidade de vida e reduzir a recorrência dos sintomas psicóticos.
Palavras-chave: Esquizofrenia; Estudo de Caso; Tratamento; Má adesão.
1 INTRODUÇÃO
A esquizofrenia é caracterizada, principalmente, pela presença de delírios persecutórios e alucinações auditivas, com preservação relativa da cognição e da afetividade. Trata-se de um transtorno psiquiátrico grave e crônico, que compromete, significativamente, a funcionalidade do indivíduo, afetando sua interação social, capacidade laboral e qualidade de vida. Embora sua etiologia ainda não seja completamente compreendida, sabe-se que fatores genéticos, neurobiológicos e ambientais desempenham um papel fundamental no seu desenvolvimento (Nunes et al., 2020).
Os sintomas predominantes desse subtipo incluem delírios de perseguição e referência, além de alucinações auditivas, frequentemente, ameaçadoras ou imperativas. Diferentemente de outras formas de esquizofrenia, os pacientes tendem a apresentar um menor comprometimento da fala, da expressão emocional e da organização do pensamento, o que pode contribuir para um diagnóstico tardio. Com o avanço da doença, entretanto, há um risco elevado de desorganização comportamental, isolamento social e piora da funcionalidade global (Rodrigues et al., 2024).
O diagnóstico da esquizofrenia é essencialmente clínico, baseado nos critérios estabelecidos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10). A identificação precoce dos sintomas é fundamental para a implementação de estratégias terapêuticas eficazes, que podem retardar a progressão da doença e minimizar suas consequências funcionais. No entanto, o estigma social e a dificuldade no reconhecimento dos primeiros sinais podem retardar o diagnóstico e o início do tratamento (Fulone; Silva; Lopes, 2023; Organização Mundial da Saúde, 2019; American Psychiatric Association, 2014).
O tratamento da esquizofrenia envolve o uso de antipsicóticos típicos e atípicos, associados a intervenções psicossociais e reabilitação cognitiva. A adesão ao tratamento é um dos maiores desafios enfrentados na prática clínica, uma vez que muitos pacientes apresentam baixa consciência da doença (anosognosia) e resistência ao uso contínuo da medicação. Além disso, os efeitos adversos dos antipsicóticos podem comprometer a aceitação do tratamento e exigir ajustes terapêuticos frequentes. (Souza et al., 2022)
O presente artigo relata um caso clínico de um paciente diagnosticado com esquizofrenia, enfatizando a evolução dos sintomas, as dificuldades no diagnóstico e os desafios enfrentados no manejo da doença. A apresentação clínica do paciente, o impacto da patologia em sua rotina e as estratégias terapêuticas adotadas serão discutidos à luz da literatura científica.
Este estudo tem como objetivo destacar a importância do diagnóstico precoce e da abordagem multidisciplinar no tratamento da esquizofrenia. Além disso, busca-se evidenciar como a individualização do tratamento pode contribuir para a melhora dos sintomas, a reintegração social do paciente, para à adesão ao tratamento e a redução do impacto da doença na vida do indivíduo e de seus familiares.
O relato de caso aqui apresentado reforça a necessidade de políticas públicas voltadas para a desestigmatização da esquizofrenia, bem como para o fortalecimento de redes de apoio e serviços de saúde mental. A inserção de programas de educação continuada para profissionais da saúde e o acesso facilitado a tratamentos modernos são fundamentais para melhorar o prognóstico desses pacientes (Nunes et al., 2020).
Dessa forma, este artigo contribui para a ampliar o conhecimento sobre a esquizofrenia, fornecendo subsídios para profissionais da saúde mental e pesquisadores interessados no tema. A partir da análise deste caso, espera-se fomentar discussões sobre novas abordagens terapêuticas e estratégias de intervenção que possam aprimorar o cuidado e a qualidade de vida dos indivíduos afetados por essa condição.
2 METODOLOGIA
O presente estudo trata-se de um relato de caso de forma descritiva e exploratória, onde foi realizada a análise clínica de um paciente diagnosticado com esquizofrenia. As informações foram coletadas através da revisão de prontuário médico, resultados de exames diagnósticos acompanhados no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), localizado na cidade de São Julião/PI e da consulta à literatura científica relevante para a contextualização do caso.
A coleta de dados foi realizada de forma retrospectiva, utilizando registros médicos disponíveis no sistema hospitalar. Todas as informações foram analisadas de maneira criteriosa para garantir a precisão dos dados clínicos e a adequação do relato ao contexto científico. Além disso, para à discussão deste caso, foi realizado um estudo de artigos científicos com base na literatura científica atual.
O paciente foi devidamente informado sobre a finalidade do estudo e consentiu sua participação por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), assegurando sua concordância com a divulgação dos dados clínicos de forma anonimizada para fins acadêmicos e científicos.
Para garantir a privacidade e a confidencialidade das informações, todas as diretrizes estabelecidas pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD – Lei nº 13.709/2018) foram rigorosamente seguidas. Nenhum dado sensível ou identificável foi exposto e todas as informações foram tratadas de forma ética e sigilosa, conforme os princípios da bioética e das normas de boas práticas em pesquisa.
3 RELATO DE CASO
Paciente do sexo masculino, 35 anos, solteiro, sem filhos, residente com a mãe e um irmão mais novo em São Julião/PI, com histórico de progressivo isolamento social e comportamentos paranoides nos últimos cinco anos. Segundo os familiares, inicialmente, apresentava apenas desconfiança excessiva em relação a colegas de trabalho e vizinhos, relatando que era observado, constantemente, e que havia conspirações contra ele. Com o tempo, começou a demonstrar comportamento agressivo e resistência a qualquer tipo de diálogo sobre seu estado emocional.
Os sintomas se intensificaram nos últimos dois anos, com o paciente verbalizando com frequência que estava sendo perseguido por pessoas desconhecidas e que sua família estava envolvida em uma conspiração para prejudicá-lo. Além disso, passou a ouvir vozes que o insultavam e ordenavam que se protegesse. A mãe relatou que, nos últimos meses, ele evitava sair de casa, mantinha as janelas fechadas por medo de estar sendo vigiado e apresentava episódios de fala desconexa e irritabilidade extrema.
Sem diagnóstico psiquiátrico prévio e nunca tendo feito uso de medicação controlada, o paciente foi levado à Unidade Básica de Saúde Luiz Gonzaga da Rocha após um episódio de agitação intensa. Ele afirmava que estava sendo monitorado por câmeras escondidas em sua casa e que desconhecidos estavam tentando envenená-lo através da comida. Durante a abordagem inicial, demonstrou comportamento hostil, recusando-se a fornecer informações detalhadas sobre suas queixas, mantinha um discurso desconexo, frequentemente, desviando o olhar e apresentando grande inquietação psicomotora.
No exame clínico, encontrava-se vigilante, orientado em tempo e espaço, mas com discurso desorganizado e forte ideação paranoide. Apresentava alucinações auditivas em segunda pessoa, com vozes de teor persecutório e ameaçador. O exame neurológico não revelou anormalidades e os exames laboratoriais e de neuroimagem não indicaram causas orgânicas para o quadro. Com base no CID-10, foi diagnosticado com esquizofrenia paranoide (F 20.0), considerando a presença de sintomas psicóticos persistentes por mais de seis meses, com delírios persecutórios bem estruturados e alucinações auditivas (Organização Mundial da Saúde, 1993).
Diante da intensidade dos sintomas, foi indicado o início de tratamento com antipsicóticos atípicos, optando-se pela risperidona 4 mg/dia, associada a benzodiazepínicos para controle da agitação inicial. O paciente, entretanto, apresentou forte resistência à medicação, recusando-se a tomá-la sob o argumento de que estavam tentando envenená-lo. Foi necessário acompanhamento próximo da equipe de enfermagem para garantir a administração da terapia, bem como intervenções psicológicas para facilitar a aceitação do tratamento.
Nos primeiros dias de internação, o paciente manteve o comportamento paranoide, com episódios de agitação e recusa alimentar, pois acreditava que os alimentos estavam contaminados. Progressivamente, após ajuste da medicação e suporte psicossocial, houve melhora parcial da desconfiança e ele passou a se alimentar normalmente. No entanto, ainda verbalizava a presença de vozes que o insultavam, demonstrando irritabilidade frequente.
Aos poucos, com a continuidade do tratamento medicamentoso e a introdução de estratégias psicoterapêuticas, houve uma discreta redução na intensidade dos delírios e das alucinações auditivas. A equipe multiprofissional trabalhou na orientação da família, enfatizando a importância da continuidade do tratamento e da criação de um ambiente estável e de suporte para o paciente.
Após três semanas de internação, observou-se estabilização parcial do quadro, com menor intensidade dos sintomas psicóticos e melhora na organização do pensamento. O paciente ainda demonstrava desconfiança, mas conseguiu dialogar com a equipe médica sobre sua condição e aceitou o encaminhamento para acompanhamento psiquiátrico ambulatorial. A alta hospitalar foi concedida com prescrição de risperidona 6 mg/dia e acompanhamento regular em centro especializado em saúde mental.
No primeiro mês pós-alta, o paciente apresentou discreta melhora na interação social, embora ainda evitasse sair de casa sozinho. Os familiares relataram que ele mantinha uma postura reservada, mas já não expressava com tanta frequência as ideias persecutórias. No entanto, a adesão ao tratamento continuou sendo um desafio, com episódios em que o paciente recusava a medicação por acreditar que não estava doente.
Nos meses seguintes, a equipe de saúde optou por introduzir a paliperidona injetável de longa duração (dose inicial de 150 mg no primeiro dia, seguida de 100 mg no oitavo dia e dose de manutenção 75 mg a cada 4 semanas), visando maior controle dos sintomas e melhor adesão ao tratamento. Com essa mudança, observou-se uma diminuição significativa nos episódios de desconfiança extrema e menor frequência de alucinações auditivas. A inserção do paciente em um programa de reabilitação psicossocial também contribuiu para melhorar sua capacidade de socialização e autonomia.
Apesar dos avanços, o paciente ainda apresentava momentos intermitentes de desconfiança e resistência a interações sociais prolongadas. A equipe multidisciplinar manteve o acompanhamento próximo, enfatizando a necessidade de manter o suporte familiar e o monitoramento contínuo para evitar recaídas.
A participação da família no tratamento foi fundamental para garantir a continuidade da terapia. A mãe e o irmão do paciente foram orientados sobre a natureza da esquizofrenia e a importância da paciência e do suporte emocional. Além disso, foram encaminhados para grupos de apoio a familiares de pacientes psiquiátricos, o que contribuiu para a melhor compreensão da doença e a criação de estratégias para lidar com os desafios do cotidiano.
Este caso reforça a complexidade do manejo da esquizofrenia e a importância de um tratamento abrangente, que envolva medicação adequada, suporte psicossocial e participação ativa da família. A introdução da paliperidona injetável mostrou-se uma estratégia eficaz para melhorar a adesão ao tratamento e reduzir as crises psicóticas.
Além disso, destaca-se a necessidade de políticas públicas voltadas para a saúde mental, garantindo maior acesso a tratamentos especializados e a programas de reabilitação. O estigma em torno da esquizofrenia ainda representa uma barreira para a busca por ajuda e estratégias de conscientização são essenciais para reduzir o impacto da doença na vida dos pacientes e de seus familiares.
A continuidade do acompanhamento psiquiátrico e a personalização das abordagens terapêuticas foram determinantes para a melhora do quadro do paciente. A reabilitação psicossocial e o envolvimento familiar seguirão como pilares essenciais no manejo da esquizofrenia, garantindo uma melhor qualidade de vida e minimizando o risco de recaídas.
4 DISCUSSÃO
A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico crônico que se destaca pelo predomínio de sintomas psicóticos positivos, como delírios persecutórios e alucinações auditivas. O caso relatado demonstra a complexidade do diagnóstico e do manejo clínico dessa condição, evidenciando a necessidade de uma abordagem multidisciplinar para garantir um tratamento eficaz e minimizar o impacto da doença na qualidade de vida do paciente (Costa et al., 2023).
A má adesão ao tratamento no transtorno de esquizofrenia é um problema significativo e comum, com taxas que variam entre 40% e 60% dos pacientes em diferentes estudos epidemiológicos. Fatores como efeitos colaterais dos antipsicóticos, falta de insight sobre a doença, estigma social e dificuldades no acesso aos serviços de saúde contribuem para essa baixa adesão. Além disso, variáveis socioeconômicas, como baixo nível educacional e apoio familiar insuficiente, estão associadas a um maior risco de descontinuação do tratamento. Dados epidemiológicos também apontam que pacientes jovens, do sexo masculino e com múltiplas internações psiquiátricas prévias apresentam maior propensão a abandonar o uso regular da medicação (Rodrigues et al., 2024).
A má adesão ao tratamento tem impactos negativos diretos na evolução clínica da esquizofrenia, aumentando o risco de recaídas, hospitalizações frequentes e agravamento dos sintomas psicóticos. Estudos mostram que até 80% dos pacientes que interrompem o uso de antipsicóticos sofrem recaídas dentro de um ano, enquanto aqueles que mantêm a adesão apresentam maior estabilidade. Dessa forma, compreender a epidemiologia da má adesão permite o desenvolvimento de políticas de saúde mais eficazes para reduzir o impacto da esquizofrenia na qualidade de vida dos pacientes e na sobrecarga dos sistemas de saúde (Nunes et al., 2020)
Na CID-10, a esquizofrenia paranoide está classificada sob o código F20.0 e é descrita como a forma mais comum da esquizofrenia, caracterizada, principalmente, por delírios e alucinações persistentes, geralmente de natureza persecutória, grandiosa ou religiosa. No DSM-5, a esquizofrenia paranoide não é mais considerada um subtipo separado, pois o manual eliminou as subdivisões da esquizofrenia (paranoide, desorganizada, catatônica, indiferenciada e residual). Agora, a esquizofrenia é diagnosticada como um único transtorno dentro do capítulo dos Transtornos do Espectro da Esquizofrenia e Outros Transtornos Psicóticos (Organização Mundial da Saúde, 1993; American Psychiatric Association, 2014).
O diagnóstico da esquizofrenia, assim como de outras formas do transtorno, é essencialmente clínico e depende da avaliação detalhada dos sintomas e da evolução do quadro. No caso apresentado, o paciente demonstrou resistência ao reconhecimento da doença e procurou ajuda médica apenas em estágio avançado, o que reflete um problema comum na prática psiquiátrica: a demora no diagnóstico, devido à baixa percepção da própria condição. Essa dificuldade pode estar associada à anosognosia, fenômeno em que o indivíduo não reconhece sua própria patologia (Silva et al., 2022).
A adesão ao tratamento também representa um grande desafio para pacientes com esquizofrenia. No relato apresentado, a dificuldade em manter o uso contínuo da medicação foi um fator que contribuiu para a recorrência dos sintomas e internações psiquiátricas sucessivas. A não adesão pode estar relacionada a diversos fatores, incluindo efeitos adversos dos antipsicóticos, falta de suporte social adequado e a própria natureza da doença que, muitas vezes, faz o paciente rejeitar o tratamento (Melo; Freitas, 2023).
Para melhorar a adesão ao tratamento da esquizofrenia, é essencial adotar uma abordagem multidimensional que envolva tanto o paciente quanto sua rede de apoio. A psicoeducação é uma das estratégias mais eficazes, ajudando o paciente e seus familiares a compreenderem a natureza da doença, a importância do tratamento contínuo e as consequências da interrupção da medicação (Rodrigues et al., 2024).
A construção de uma relação de confiança entre o paciente e a equipe de saúde pode facilitar a aceitação do tratamento, reduzindo a resistência e incentivando um acompanhamento mais próximo. Consultas regulares, escuta ativa e um plano terapêutico individualizado, considerando preferências e necessidades do paciente, também são fundamentais para garantir um maior engajamento (Nunes et al., 2020)
Outra estratégia importante é o uso de antipsicóticos de longa duração, que reduzem a necessidade de administração diária e minimizam os riscos de esquecimento ou recusa da medicação. O suporte psicossocial, incluindo programas de reabilitação e assistência comunitária, também desempenha um papel essencial, ajudando o paciente a manter uma rotina estruturada e melhorar sua qualidade de vida (Silva et al., 2022)
A integração entre psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e familiares no processo terapêutico aumenta a adesão, pois permite um suporte mais abrangente e contínuo. Políticas de saúde pública voltadas para a ampliação do acesso a medicamentos, acompanhamento domiciliar e redução do estigma social são essenciais para garantir que os pacientes recebam o tratamento adequado e mantenham sua estabilidade clínica. (Rodrigues et al., 2024)
Os antipsicóticos atípicos, como a risperidona, olanzapina e quetiapina, têm sido amplamente utilizados no manejo da esquizofrenia, devido ao seu perfil mais favorável de efeitos colaterais em comparação com os antipsicóticos típicos. No entanto, é importante ressaltar que cada paciente responde de maneira diferente à medicação, sendo necessário um acompanhamento contínuo para ajustes na dosagem ou troca do fármaco conforme a necessidade. No caso relatado, a escolha do tratamento farmacológico considerou a minimização de efeitos adversos e a melhora na adesão terapêutica (Lima; Espíndola, 2015).
Os antipsicóticos de depósito, como a paliperidona de liberação prolongada, são indicados no tratamento da esquizofrenia para pacientes que apresentam dificuldades na adesão ao uso diário da medicação oral, reduzindo o risco de recaídas e hospitalizações. Essas formulações injetáveis permitem uma administração menos frequente, geralmente mensal ou trimestral, garantindo níveis estáveis da medicação no organismo e minimizando as flutuações nos sintomas.
As drogas de depósito são recomendadas para pacientes com histórico de interrupção do tratamento, múltiplas internações psiquiátricas ou em situações em que o suporte familiar para o uso regular de antipsicóticos orais é limitado. O uso da formulação injetável também pode melhorar a tolerabilidade ao tratamento, uma vez que reduz os picos de concentração da droga no sangue, diminuindo a ocorrência de efeitos adversos.
Além da farmacoterapia, a reabilitação psicossocial é um componente essencial do tratamento. Estratégias, como terapia cognitivo-comportamental, grupos de apoio e programas de reinserção social, demonstraram benefícios significativos na redução de recaídas e na melhoria da funcionalidade do paciente. O caso em questão reforça a importância dessas abordagens, destacando a necessidade de um suporte psicossocial contínuo para evitar isolamento e promover maior independência (Güths; Sausen, 2024).
Outro ponto relevante no manejo da esquizofrenia é o impacto da doença na família do paciente. O relato de caso evidenciou o papel fundamental dos familiares no acompanhamento do tratamento e na garantia do suporte emocional. No entanto, o desgaste psicológico dos cuidadores também deve ser considerado, sendo essencial oferecer suporte adequado a eles por meio de orientações e programas de psicoeducação (Nunes et al., 2020).
O estigma associado à esquizofrenia é um obstáculo adicional que pode dificultar o tratamento e a reintegração social do paciente. No caso em apreço, observou-se que o preconceito e a falta de compreensão da sociedade em relação à doença, contribuíram para o isolamento do indivíduo. Isso reforça a necessidade de campanhas de conscientização para desmistificar a esquizofrenia e incentivar uma visão mais inclusiva e humanizada dos pacientes psiquiátricos (Costa et al., 2023).
Ademais, abordagens inovadoras no tratamento da esquizofrenia, como a estimulação cerebral não invasiva e a terapia assistida por realidade virtual, vêm sendo exploradas como alternativas para o manejo dos sintomas. Embora essas estratégias ainda estejam em fase de estudo, podem representar avanços promissores no cuidado a longo prazo de pacientes com esquizofrenia (Fulone; Silva; Lopes, 2023).
No contexto da saúde pública, a falta de acesso a serviços especializados é um fator que compromete o tratamento adequado de pacientes com transtornos psiquiátricos graves. O presente estudo ilustra a necessidade de maior investimento em políticas públicas voltadas para a ampliação do acesso a serviços de saúde mental, garantindo um acompanhamento adequado desde os primeiros sintomas (Rodrigues et al., 2024).
Além disso, a integração entre psiquiatria e atenção primária à saúde pode ser uma estratégia eficaz para o diagnóstico precoce e o encaminhamento adequado dos pacientes. Profissionais da atenção básica devem estar capacitados para identificar os primeiros sinais da esquizofrenia e orientar os familiares sobre a importância do tratamento especializado (Fulone; Silva; Lopes, 2023).
Por fim, o relato de caso apresentado reforça a complexidade da esquizofrenia e a importância de um tratamento abrangente, que envolva não apenas a farmacoterapia, mas também, suporte psicossocial, envolvimento familiar e estratégias para promover a reintegração do paciente à sociedade. A continuidade da pesquisa sobre novas abordagens terapêuticas e a implementação de políticas públicas voltadas à saúde mental são fundamentais para melhorar o prognóstico e a qualidade de vida desses indivíduos. (Melo; Freitas, 2023)
5 CONCLUSÃO
O presente relato de caso evidencia a complexidade do diagnóstico e do manejo clínico da esquizofrenia, um transtorno psiquiátrico grave que compromete significativamente a funcionalidade e a qualidade de vida do paciente. A evolução do caso apresentado ressalta a importância da identificação precoce dos sintomas e da implementação de estratégias terapêuticas adequadas para minimizar as complicações decorrentes da doença. O atraso no diagnóstico e as dificuldades na adesão ao tratamento são desafios comuns na prática clínica, exigindo abordagens personalizadas e suporte contínuo.
A terapia medicamentosa, especialmente com o uso de antipsicóticos atípicos, continua sendo a base do tratamento da esquizofrenia. No entanto, como demonstrado neste caso, a adesão ao tratamento pode ser dificultada por diversos fatores, como a falta de percepção da doença (anosognosia), efeitos colaterais dos medicamentos e o estigma social. A reabilitação psicossocial e o apoio familiar são componentes essenciais para a melhora do prognóstico, possibilitando maior estabilidade clínica e reintegração social.
Além do impacto direto no paciente, a esquizofrenia afeta profundamente seus familiares e cuidadores, que frequentemente enfrentam desafios emocionais e estruturais no acompanhamento do tratamento. Dessa forma, é fundamental que políticas públicas e programas de suporte sejam fortalecidos, garantindo acesso a serviços de saúde mental, acompanhamento multiprofissional e campanhas de conscientização para reduzir o estigma associado à doença.
Por fim, este estudo reforça a necessidade de uma abordagem holística no manejo da esquizofrenia, combinando farmacoterapia, suporte psicossocial e estratégias de reintegração social. A continuidade das pesquisas sobre novas abordagens terapêuticas e a ampliação do acesso a tratamentos inovadores são fundamentais para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e reduzir o impacto da esquizofrenia na sociedade.
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