ESPIRITUALIDADE COMO FATOR DE QUALIDADE DE VIDA E TRABALHO – ANÁLISE DE COLABORADORES EM UMA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA DE UMA CIDADE BRASILEIRA COM ALTO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.12636227


Pesquisador Responsável/Orientador: Profª. Drª. Elizabeth do Espírito Santo Cestário
Orientador: Dr. Jenner Luciano Lopes;
Co-orientadora: Profª. Drª. Daniele Cristina dos Santos Bofo.
Pesquisadores:
Amanda Vargas de Souza;
Eduarda Ferreira de Queiroz;
Joyce Teles Junqueira;
Lesley Martil da Silva;
Maiby Gabriely Soler Lyra;
Victória França Coelho;
Vinícius Cavallari.


Resumo

Introdução: Estudos epidemiológicos de meados do século XX, evidenciaram relações entre espiritualidade e religiosidade. Na atualidade, essa relação é associada a menores índices de doença mental, melhor qualidade de vida, melhor enfrentamento da doença e diminuição da morbimortalidade. A religião está associada de forma dependente à indicadores como nível educacional, econômico e étnico. Vivências espirituais e religiosas devem ser destacadas em uma equipe de Centro de Terapia Intensiva, visto que esses profissionais sofrem com situações adversas, luto, o que amplia seus conhecimentos sobre tais temas, gerando empoderamento para lidar com pacientes e familiares. Dessa forma, identificar a contribuição da espiritualidade na qualidade de vida e por conseguinte na qualidade do trabalho pode favorecer o surgimento de estratégias de atendimento mais adequadas com melhor desempenho dos colaboradores. Objetivos: Avaliar se a espiritualidade do colaborador influencia na qualidade de vida e do seu trabalho. Avaliar a presença de fadiga crônica nas pessoas não espiritualizadas. Avaliar a presença de distúrbios do sono nas pessoas não espiritualizadas. Avaliar níveis pressóricos e de glicemia e correlacionar com a espiritualidade dos participantes do estudo.
Casuística e Métodos: foi realizado um estudo de Coorte, transversal, prospectivo avaliando colaboradores da Unidade de Terapia Intensiva da Santa Casa de Votuporanga, aplicando um questionário adaptado baseado na Escala de Religiosidade da Duke – DUREL, outro questionário para avaliação de fadiga crônica de acordo com a “Adaptação Portuguesa Do Questionário Checklist Of Individual Strength (CIS20-P)” e outro questionário para avaliação da qualidade do sono de acordo com a Escala de Sonolência de Epworth (EES-BR), além de aferição da pressão arterial, medidas antropométricas e teste rápido de glicemia. Resultados: Espera-se que colaboradores com maior espiritualidade/religiosidade tenham desempenho mais satisfatório em seu trabalho, além de melhor qualidade do sono e menor fadiga crônica, e menores níveis de glicemia e pressão arterial, culminando em melhor tratamento dos pacientes.
Conclusão: Em síntese, os dados encontrados na literatura se correlacionam com os aspectos identificados nos resultados do trabalho. Fica evidente que a religiosidade interfere no bem-estar e qualidade de vida dos indivíduos. Além disso, a religião está diretamente relacionada com a ética e educação, já a espiritualidade é uma forma de expressar a religiosidade e, assim, encontrar meios que ajuda a passar por problemas complicados.
De acordo com a literatura, os pacientes tem maior chance de ter sonolência quanto maior for o IMC, além disso, nos profissionais sem espiritualidade há uma maior chance de desenvolver fadiga devido exaustão profissional. Outrossim, percebe-se que o aumento da fadiga está diretamente ligado ao aumento IMC e peso, isso é verificado no presente trabalho e está, desse modo, de acordo com a literatura. 
Ademais, foi verificado na literatura que quanto maior a idade do profissional maior será seu nível de sonolência, isso ocorre devido anos de trabalho em condições cansativas e está de acordo com os resultados obtidos na pesquisa. Com relação ao score de Duke e o peso, os resultados condizem com os dados literários que demonstraram baixo risco para score de Duke assim como no presente trabalho.
Portanto, é evidente a correlação dos dados presentes neste trabalho com os fatos obtidos em literaturas. É entendível que neste trabalho existe uma limitação que é o número (N) pequeno de participantes do estudo. Acredita-se ser necessário um estudo com número maior de pacientes para estabelecer uma maior correlação com o estudo da religiosidade com a qualidade de vida.

Palavras-chave: Espiritualidade, Qualidade de Vida, Qualidade de atendimento

1. INTRODUÇÃO

O tema espiritualidade na saúde e suas implicações está ganhando espaço no âmbito da pesquisa científica. (1)

De acordo com Pais-Ribeiro e Pombeiro (2) religiosidade pode ser uma forma de expressão da espiritualidade, incluindo nichos que têm a mesma crença e ritual. Segundo os autores, a palavra espiritualidade é derivada do latim e significa “golfada de ar”, está relacionada ao transcendente, sagrado, intencionalidade e valores, considerada subjetiva e pode evidenciar um estado de paz e harmonia exprimindo a capacidade para encontrar a divindade no “status quo” da vida, essa transcendência ajuda a ultrapassar os problemas e circunstâncias desagradáveis presentes.

Revisões literárias mostram que a maioria dos elementos como significado e propósito de vida, significado e reação frente aos limites impostos na vida como a morte, esperança e desesperança, solidariedade e restauração da saúde vem sendo empregados na definição de espiritualidade(3). 

Vários estudos avaliaram o benefício deste tema, associando-o à melhor saúde psicológica e física e melhor reação aos momentos de estresse, ou seja, estilo de vida mais saudável principalmente quando relacionada à religiosidade, o que diminui a necessidade de assistência médica.(1) Estudos epidemiológicos de meados do século XX, evidenciaram relações entre espiritualidade e religiosidade. Na atualidade, essa relação é associada a menores índices de doença mental, melhor qualidade de vida, melhor enfrentamento da doença e diminuição da morbimortalidade, corroborado por um estudo realizado na George Washington University. Outro estudo realizado em nefropatas em estágio terminal por OBrien, evidenciou relação diretamente proporcional da fé religiosa do próprio paciente com o conhecimento da doença e o modo como encara a mesma.(4)

Em seu trabalho,  Moreira-Almeira(5) demonstra que noventa e cinco por cento dos brasileiros declaram ter religião, a grande maioria declara que a religião tem muita importância para as suas vidas e quase metade comparece ao menos uma vez por semana ao seu culto religioso. A religião está associada de forma dependente à indicadores como nível educacional, econômico e étnico. Uma pequena parcela da população brasileira frequenta mais de uma religião.

Pacientes enfermos muitas vezes utilizam-se de crenças religiosas para melhor entendimento e aceitação de suas patologias. Estudos mostram que essa religiosidade está vinculada a melhor prognóstico e menor prevalência de depressão, principalmente no enfrentamento de doenças incapacitantes, sendo de suma importância o entendimento, respeito e apoio por parte do médico, mesmo que este tenha uma crença divergente(1).

A fisiologia dessa relação, apesar do número elevado de estudos, não está bem esclarecida. Atualmente são aceitas teorias que envolvem menores níveis de cortisol, proteína C reativa e fibrinogênio, além de maior controle por parte do sistema nervoso autônomo(5).

Estudos demonstraram, através de exames de imagem, que durante episódios de meditação e oração ocorre hiperativação do cérebro, com maior liberação de neurotransmissores interligando as áreas cerebrais. Inicia-se pela ativação do córtex frontal, gerando uma série de reações em busca de equilíbrio e bem-estar. Há menor função da região posterior lateral do lobo frontal, culminando em relaxamento, porém sem perda do estado de alerta. Pode-se dizer que ocorre menor tensão muscular, melhor função orgânica, gerando paz espiritual e psicológica, auxiliando no enfrentamento de doenças e outras adversidades(6-8). A espiritualidade reflete emoções positivas, geradas pelo sistema límbico. Embora significante, essas emoções são profundamente negligenciadas pela ciência moderna (9).

A espiritualidade está ganhando destaque nas escolas médicas norteamericanas, visando melhor relação médico-paciente (1). Hoje, o paciente é visto na perspectiva holística, envolvendo questões biopsicossociais, não mais de forma segmentada e focada no processo saúde-doença como ocorria anteriormente, fato que é corroborado pela Política Nacional de Humanização, a qual tem como um de seus princípios o atendimento integral do usuário, incluindo a abordagem no âmbito espiritual, sendo parte integrante da subjetividade humana (10). Os pacientes querem ser tratados como pessoas, observando os aspectos físico, emocional, social e espiritual, portanto, ignorar esses aspectos, torna a abordagem do paciente incompleta (11). Nos EUA foi realizado um estudo no qual evidenciou-se que 77% dos pacientes internados gostaria de maior reconhecimento de suas necessidades especiais pelos médicos e, desses, 48% desejaria a participação do médico em suas orações, se possível. Em outro estudo, levando em consideração 177 pacientes ambulatoriais, demonstrou-se que mais de 66% gostaria de ser questionado sobre sua espiritualidade no caso de doença grave. (1) 

No Brasil, um estudo chamado SALUD (Spirituality and Life Under Dialysis) realizou o mesmo questionamento do estudo acima, evidenciando que 59% dos pacientes gostaria de ser questionado pelo médico sobre a sua religião e dentre estes, 74% relataram que nunca foram abordados sobre tal assunto (4). 

Estudos são necessários para mensurar o real impacto da religiosidade e espiritualidade na saúde dentro do contexto do envelhecimento populacional. Isto é importante para pessoas mais velhas que frequentemente lidam com a perda do companheiro, além da perda de função física e mental (12).  A religião traz satisfação de viver, otimismo e autocuidado, junto com o encontro de sentido para viver, tudo isso reduzindo o impacto de eventos estressantes na vida dos indivíduos (7) .

Vivências espirituais e religiosas devem ser destacadas em uma equipe de Centro de Terapia Intensiva, visto que esses profissionais sofrem com situações adversas, luto, o que amplia seus conhecimentos sobre tais temas, gerando empoderamento para lidar com pacientes e familiares. (13). Dessa forma, desenvolver programas de intervenção com foco na Espiritualidade são desejáveis para promover melhor qualidade de vida. (2)

A espiritualidade é reconhecida como um fator que contribui para a saúde e a qualidade de vida. Porém, ainda são necessárias pesquisas na área para definir o exato papel da religiosidade e/ou espiritualidade na prevalência, impacto e tratamento de pacientes. (11)

Portanto, identificar a contribuição da espiritualidade na qualidade de vida e por conseguinte na qualidade do trabalho pode favorecer o surgimento de estratégias de atendimento mais adequadas com melhor desempenho dos colaboradores.

2. CASUÍSTICA E MÉTODOS

Foi realizado um estudo de Coorte, transversal, prospectivo avaliando colaboradores da Unidade de Terapia Intensiva da Santa Casa de Votuporanga, aplicando um questionário adaptado baseado na Escala de Religiosidade da Duke – DUREL (Anexo A), outro questionário para avaliação de fadiga crônica de acordo com a “Adaptação Portuguesa Do Questionário Checklist Of Individual Strength (CIS20-P)” (Anexo B) e outro questionário para avaliação da qualidade do sono de acordo com a Escala de Sonolência de Epworth (EES-BR) (Anexo C).

Foram incluídos 40 (quarenta) colaboradores de acordo com os critérios abaixo:

– Homens e mulheres, com idade superior a 18 anos e inferior a 75 anos.
– Colaboradores de todos os turnos da UTI e abrangendo todas as especialidades de atendimento
– Todos os indivíduos participarão deste estudo mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido.

Foram excluídos os colaboradores de acordo com os critérios abaixo:

– Recusa em participar do projeto  

Foi coletado os dados antropométricos, aferição de pressão arterial e teste aleatório de glicemia.

A PA foi aferida pelo método indireto, conforme as VII Diretrizes Brasileiras para o Tratamento da Hipertensão Arterial

O peso e a altura foram aferidos por balança antropométrica e seu uso imediato no cálculo do IMC expresso pela fórmula peso(kg)/altura(m)². Foram considerados eutróficos valores para IMC de 18,5 – 24,9 kg/m2, sobrepeso de 25,0 – 29,9 kg/m2 e obesidade ≥ 30kg/m2.  Valores da circunferência abdominal foram obtidos pela medida realizada no meio da distância entre a crista ilíaca e o rebordo costal inferior, considerando ser este o índice antropométrico mais representativo da gordura intra-abdominal e de aferição mais simples e reprodutível. Foram considerados apropriados valores igual ou abaixo de 80 cm para as mulheres e igual ou abaixo de 94 cm para os homens.

3. FLUXOGRAMA DO ESTUDO

4. RESULTADOS

Foi realizada estatística descritiva das variáveis quantitativas. Posteriormente, para análise de inferência procederá ao teste de normalidade dos dados pelo teste de Shapiro-Willk a 5% de significância e aos testes de inferência paramétricos ou não paramétricos a 5%. Correlacionar as variáveis quantitativas obtidas a espiritualidade dos participantes do estudo.

Para a análise das percepções utilizou-se um questionário com escala likert. A validação deste questionário foi baseada pelo cálculo do coeficiente de correlação linear. Para tanto pontuou-se a escala de satisfação de 1 a 5, sendo 1 = muito insatisfeito e 5 = muito satisfeito. Para cada asserção avaliada, foi calculado o coeficiente de correlação linear para sua validação, tomando-se a variável x como a pontuação da asserção de cada indivíduo e a variável y a pontuação total no instrumento para cada indivíduo. O coeficiente de correlação linear foi calculado de acordo com a Equação 1:  

(Equação 1)

É válido ressaltar que o valor de corte recomendado para o cálculo de correlação linear é de r ≥ 0,15 segundo Likert53 em 1967 , porém modificado por comunicação oral por Schmitt (2010).

Para a análise estatística dos dados foi utilizado o software IBM SPSS estatistics versão 22, 2013.

O score de fadiga evidenciou média de 39,25 ± 3,955 nos pacientes eutróficos, enquanto nos pacientes obesos, apresentou média de 41,67 ± 2,958 no teste de ANOVA com Z=1,792 e valor p de 0,192.

Gráfico 1

Quando avaliado o score de fadiga em relação a quantidade de vezes a pessoa exercitava a sua religiosidade, obteve-se:

A tabela 2 apresenta Z=2,63 e valor p=0,05. A partir desses resultados, pode-se afirmar que aqueles que exercitam mais sua religiosidade possuem maior controle da fadiga quando comparados àqueles que praticam religiosidade com menor frequência.

Gráfico 2

Ao comparar o IMC com o diagnóstico de sonolência, segundo o teste ANOVA, foi evidenciado que quando o IMC é menor que 27,9, não há mudança no nível de sonolência. Já quando o IMC é maior que 29,45, há uma alteração clara do nível de sonolência, onde Z=0,215 e valor p=0,08. Sendo assim, quanto maior o peso do paciente, maior é o risco para desenvolver problemas como a apneia do sono que tem como fator de risco o aumento da circunferência abdominal.

Em relação as correlações do teste de taub Kendall obteve-se coeficiente de correlação 0,242 e valor p=0,122 comparando idade Vs score de fadiga, ou seja, conforme o aumento da idade, espera-se aumento da fadiga nos profissionais.

O score de Duke mostrou média de 11,13 ± 3,399 em eutróficos, média de 9,67 ± 2,65 em sobrepeso e média de 10,44 ± 3,43 em obesos, com Z=0,347 e valor p=0,07.

Já em relação ao score de sonolência Vs idade, obteve-se coeficiente de Pearson -0,422 e valor p=0,045, evidenciando que quanto maior a idade, menor será o score de sonolência.

Ao analisarmos a correlação do score de fadiga Vs IMC, tabela 7, o teste de correlação de taub Kendall mostrou coeficiente 0,204 e valor p=0,184, ou seja, correlação positiva e diretamente proporcional entre IMC e o escore analisado.

5 – DISCUSSÃO

No que diz respeito a tabela 1 e 7 que compara score de fadiga com peso e IMC, um estudo com 189 (60,2%) estudantes da escola de enfermagem da USP, sendo 96,2% de mulheres com idade média de 21,6 anos, 43,9% realizavam atividades extracurriculares e 24,8% tinham IMC alterado. A fadiga foi moderada/ intensa para 83,5% dos estudantes (Escala de Fadiga de Piper Revisada e Pictograma de Fadiga) e 59,8% relataram prejuízo moderado/intenso nas atividades habituais. A fadiga apresentou correlação positiva com ano de graduação, com o IMC e a depressão (p<0,001).

Trata-se de estudo transversal, descritivo e exploratório. Nesse estudo, constatou-se que dos 189 participantes, 60 relataram sentir muita fadiga e 14 referiram extrema fadiga. Além disso, ficou evidente no estudo o quanto a fadiga impacta na realização das atividades, sendo que do total de participantes 43 relataram só conseguir fazer o que foi determinado para realizar e 5 pessoas referiram conseguir fazer muito pouco dos afazeres.  Esses dados indicam que o primeiro ano foi descrito como menos fatigante do que os demais anos e que ter maior IMC correlacionou-se com fadiga mais intensa. Logo, pode-se inferir que tais dados se relacionam com os obtidos no presente trabalho e o motivo seria devido as altas cargas de trabalho, estudo e privação de sono desses profissionais.

Com relação a tabela 2 de fadiga x religiosidade, não foram encontrados dados na literatura que comparassem diretamente o score fadiga com religiosidade em profissionais de saúde. Entretanto, foi possível achar 2 estudos em que houvesse uma relação entre o tema religião e espiritualidade com a redução da qualidade de vida e a extenuação desses profissionais. 

O primeiro trabalho foi realizado em 2019 e pautou-se no conceito de Coping Religioso/Espiritual (CRE), definido como a utilização da religião e espiritualidade para manejo do estresse. Esses parâmetros foram investigados através do questionário Whoqol-bref – que analisa a qualidade de vida nos domínios físico, social, relações sociais e meio ambiente – e também através da escala Inventário de Habilidades Sociais, Problemas de Comportamento e Competência Acadêmica (SSRS). Dentro do domínio físico do questionário citado encontra-se a fadiga, que foi detectada em menor quantidade em profissionais que possuíam maior espiritualidade e demonstrou uma correlação entre CRE e SSRS positiva.

Acerca da tabela 3 que compara IMC x sonolênica, um estudo prospectivo feito em uma população com mais de 4 mil mulheres sem distúrbios do sono foi visto que 8% delas desenvolveram sonolência excessiva durante o dia em um período de 10 anos, sendo que a obesidade foi um dos fatores de risco para a incidência dessas alterações. Logo, pode-se notar que o aumento do peso é um importante critério para se analisar quando o paciente apresenta alteração do nível de sonolência.

Além disso, é possível notar que os dados condizem com a literatura que mostra que há uma melhora da Apneia Obstrutiva do Sono quando o paciente apresenta redução de peso. Isso foi visto em um ensaio clínico randomizado, no qual os participantes foram divididos em 2 grupos de acordo com a alteração de peso nos 5 anos seguintes usando como ponto de corte a perda de 5% do peso corporal, que foi indicado como grupo bem sucedido (n = 20) ou mal sucedido (n = 27). O objetivo era a mudança do índice de apneiahipopneia, sendo que durante o passar desses anos a mudança foi significativa para o grupo bem sucedido (p = 0,002) que conseguiu alcançar uma redução de 80% na incidência de progressão da AOS a partir da perda de peso, quando comparado ao grupo mal sucedido (p = 0,016) (TUOMILEHTO, H; SEPPA, J. et al 2014). Com isso, pode-se evidenciar os resultados desse estudo em que a tabela de IMC x sonolência mostra que quando o IMC é menor que 27,9 não há alteração do nível de sonolência, confirmando o que foi visto no ensaio clínico com a redução de 80% da AOS para aqueles que haviam tido uma redução de peso.

O segundo estudo, publicado em 2022, demonstrou que profissionais de saúde com maior Religiosidade e Espiritualidade possuíam menor fadiga por Compaixão (exaustão ao intervir na dor do paciente), além de melhor saúde mental e imunidade. Com isso, ambos os estudos vão ao encontro do resultado encontrado em nosso trabalho, apontando para a importância da espiritualidade na melhora da fadiga.

Com referência a tabela 4 de idade x fadiga, um trabalho em âmbito hospitalar, em particular a Unidade de Terapia Intensiva é feito através de inúmeros profissionais, que se juntam coletivamente para assistência em saúde, tendo como foco exclusivamente a saúde e o bem estar do usuário.

Para isso, no entanto, tais profissionais são submetidos a diversos fatores que podem colocar a sua própria saúde em risco, chegando até a exaustão física e mental.

Um desses fatores é a grande demanda de pacientes, aos quais estão expostos diariamente, levando a estágios de extrema fadiga. Além de ainda não ter profissionais suficientes nesse meio, ora pelas péssimas condições contratuais, ora pelas situações insalubres.

Isso vai de encontro aos nossos resultados encontrados, onde conforme há o aumento de idade, maior é o número de  colaboradores que se encontraram com fadiga, pois estarão mais expostos aos fatores vistos acima.

Acerca da tabela 5 que avalia score de Duke x peso em um estudo foram alocados 311 pacientes e encaminhados para exame de cintilografia do miocárdio com dois ou mais fatores de risco para DAC (doença arterial coronariana). Os fatores de risco considerados foram: hipertensão arterial sistêmica, diabete melito, dislipidemia, obesidade, doença arterial coronariana prévia, tabagismo e história familiar para coronariopatia. Destes 311 pacientes, alguns foram excluídos por diversos motivos restando 162 pacientes que foram acompanhados de forma prospectiva, durante no mínimo 12 meses.

O protocolo de esteira de Bruce foi aplicado a todos os indivíduos. O índice de Duke escore2 do teste ergométrico foi obtido com a fórmula: tempo (minutos) 5 X (infradesnível de segmento ST mm) – 4 X (dor torácica: 0= sem dor/ 1= dor não limitante/ 2= dor limitante). Foi considerado Duke escore baixo risco o índice >+5, risco intermediário entre +4 a -10 e alto risco < -11. Foi considerado como estatisticamente significativo o índice de p<0,05.

Neste estudo, a comparação dos fatores de risco com Score de Duke levando em consideração o fator obesidade, foi obtido Duke de baixo risco correspondendo a 20,48% dos pacientes e de risco intermediário/alto correspondendo a 12,66% dos pacientes. Obtendo, assim, um p = 0,20.

Com isso, os dados condizem com os resultados obtidos na literatura, pois a maioria dos pacientes obtiveram baixo risco para o score de Duke e no nosso trabalho todos os índices de Duke obtidos estão acima do índice de baixo risco > + 5.

Com referência a tabela 6 de sonolência x idade, os profissionais de saúde que trabalham em uma UTI estão condicionados a fatores inerentes desse ambiente. Esses fatores são considerados como potenciais geradores de sofrimento, sendo eles: o contato com a morte e com o sofrimento de pacientes e familiares, a exigência abrupta de tomada de decisões difíceis e o constante estado de alerta.

Soares et.al (2018) revelam índices significativos de sonolência diurna em profissionais de equipe de enfermagem em duas UTIS de dois hospitais gerais. A sonolência diurna excessiva (SDE) que consiste no aumento da propensão para dormir em circunstâncias inapropriadas foi verificada em 22 trabalhadores (38,6%). Dessa forma, deve-se considerar que a sonolência tende a prejudicar a capacidade de atenção, elevando o risco de acidentes e do cometimento de erros, que podem ter consequências variadas para os pacientes que estão sob os cuidados desses profissionais.

Tais dados se relacionam aos encontrados nos resultados do score de sonolência Vs idade, uma vez que quanto maior a idade do profissional de saúde, maior o tempo de exposição aos potenciais fatores geradores de sofrimento em uma UTI, e portanto, maior o score de sonolência do profissional.

6 – CONCLUSÃO

Em síntese, os dados encontrados na literatura se correlacionam com os aspectos identificados nos resultados do trabalho. Fica evidente que a religiosidade interfere no bem-estar e qualidade de vida dos indivíduos. Além disso, a religião está diretamente relacionada com a ética e educação, já a

espiritualidade é uma forma de expressar a religiosidade e, assim, encontrar meios que ajuda a passar por problemas complicados.

De acordo com a literatura, os pacientes tem maior chance de ter sonolência quanto maior for o IMC, além disso, nos profissionais sem espiritualidade há uma maior chance de desenvolver fadiga devido exaustão profissional. Outrossim, percebe-se que o aumento da fadiga está diretamente ligado ao aumento IMC e peso, isso é verificado no presente trabalho e está, desse modo, de acordo com a literatura. 

Ademais, foi verificado na literatura que quanto maior a idade do profissional maior será seu nível de sonolência, isso ocorre devido anos de trabalho em condições cansativas e está de acordo com os resultados obtidos na pesquisa. Com relação ao score de Duke e o peso, os resultados condizem com os dados literários que demonstraram baixo risco para score de Duke assim como no presente trabalho.

Portanto, é evidente a correlação dos dados presentes neste trabalho com os fatos obtidos em literaturas. É entendível que neste trabalho existe uma limitação que é o número (N) pequeno de participantes do estudo. Acredita-se ser necessário um estudo com número maior de pacientes para estabelecer uma maior correlação com o estudo da religiosidade com a qualidade de vida.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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