ESOPHAGITIS AND PEPTIC ULCER: PREVALENCE IN PATIENTS WITH DYSPEPSIA
ESOFAGITIS Y ÚLCERA PÉPTICA: PREVALENCIA EN PERSONAS CON DISPEPSIA
REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7829913
Horley Soares Britto Neto1
Elaine Oliveira Lima2
Pedro Henrique Santos de Jesus3
Alexandre Magno Teixeira de Melo4
Alan Silva Cesar5
Andrey Melo Campos6
Icaro Celso Gomes Menezes7
João Marcos Ferreira Assis8
Mathias Luca Melo Alves9
Yan Alves Rocha10
Leda Maria Delmondes Freitas Trindade11
Frederico Santana de lima12
Resumo
Objetivo: avaliar a prevalência de esofagite e úlcera péptica em pacientes com dispepsia. Metodologia: estudo prospectivo e transversal realizado em duas clínicas privadas em Aracaju, capital do estado de Sergipe, de 2018 a 2019. A amostra foi composta por 860 pacientes, com diagnóstico clínico de dispepsia, que foram submetidos à Endoscopia Digestiva Alta (EDA) e ao estudo histopatológico de mucosa esofagogastroduodenal. Foram aplicados questionários sociodemográficos e clínicos, além de questões que abordaram os Critérios de ROMA III. Resultados: 845 (98,2%) dos laudos foram considerados válidos, desses 195 (23,07%) tiveram o diagnóstico endoscópico e histopatológico de esofagite, sendo mais comum em homens com idade média de 39 anos, casados 105 (54,7%), pardos 95 (51,1%) e com ensino médio completo 102 (53,4%). Além disso, das lesões associadas à esofagite, hérnia hiatal foi estatisticamente significativa (p<0,001). Os achados mais prevalentes foram gastrite 164 (84,1) e pólipo gástrico 15 (93,8). Endoscopicamente, a gastrite enantemática foi um dos achados mais frequente (84,1%), enquanto, a úlcera péptica foi mais prevalente em mulheres (66,7%) com idade média de 49 anos. Conclusão: grande parte dos pacientes que possuíam sintomas dispépticos apresentaram alterações endoscópicas, sendo a esofagite uma das alterações mais frequentes quando associada com hérnia hiatal. A úlcera péptica foi um achado pouco frequente na amostra estudada.
Palavras-Chave: Dispepsia; DRG; Refluxo; Úlcera.
Abstract
Objective: to evaluate the prevalence of esophagitis and peptic ulcer in patients with dyspepsia. Methodology: prospective and cross-sectional study conducted in two private clinics in Aracaju, capital of the state of Sergipe, from 2018 to 2019. The sample was composed of 860 patients, with clinical diagnosis of dyspepsia, who underwent Upper Digestive Endoscopy (EDA) and histopathological study of esophagogastroduodenal mucosa. Sociodemographic and clinical questionnaires were applied, in addition to questions addressing the ROMA III Criteria. Results: 845 (98.2%) of the reports were considered valid, and of those, 195 (23.07%) had an endoscopic and histopathological diagnosis of esophagitis, being more common in men with a mean age of 39 years, married 105 (54.7%), mixed race 95 (51.1%), and high school graduates 102 (53.4%). Moreover, of the lesions associated with esophagitis, hiatal hernia was statistically significant (p<0.001). The most prevalent findings were gastritis 164 (84.1) and gastric polyp 15 (93.8). Endoscopically, enanthematous gastritis was one of the most frequent findings (84.1%), whereas, peptic ulcer was more prevalent in women (66.7%) with a mean age of 49 years. Conclusion: a large proportion of patients who had dyspeptic symptoms had endoscopic changes, esophagitis being one of the most frequent changes when associated with hiatal hernia. Peptic ulcer was an infrequent finding in the sample studied.
Key Words: Dyspepsia; GERD; Reflux; Ulcer
Resumen
Objetivo: evaluar la prevalencia de esofagitis y úlcera péptica en pacientes con dispepsia. Metodología: estudio prospectivo y transversal realizado en dos clínicas privadas de Aracaju, capital del estado de Sergipe, de 2018 a 2019. La muestra estuvo compuesta por 860 pacientes, con diagnóstico clínico de dispepsia, que se sometieron a Endoscopia Digestiva Alta (EDA) y estudio histopatológico de mucosa esofagogastroduodenal. Se aplicaron cuestionarios sociodemográficos y clínicos, además de preguntas que abordaban los Criterios ROMA III. Resultados: Se consideraron válidos 845 (98,2%) de los informes, de los cuales 195 (23,07%) tenían el diagnóstico endoscópico e histopatológico de esofagitis, siendo más frecuente en hombres con una edad media de 39 años, casados 105 (54,7%), castaños 95 (51,1%) y con estudios secundarios completos 102 (53,4%). Además, de las lesiones asociadas a esofagitis, la hernia hiatal fue estadísticamente significativa (p<0,001). Los hallazgos más prevalentes fueron gastritis 164 (84,1) y pólipo gástrico 15 (93,8). Endoscópicamente, la gastritis enantematosa fue uno de los hallazgos más frecuentes (84,1%), mientras que la úlcera péptica fue más prevalente en mujeres (66,7%) con una edad media de 49 años. Conclusión: gran parte de los pacientes con síntomas dispépticos presentaban alteraciones endoscópicas, siendo la esofagitis una de las alteraciones más frecuentes cuando se asocia a hernia de hiato. La úlcera péptica fue un hallazgo infrecuente en la muestra estudiada.
Palabras clave: Dispepsia; ERGE; Reflujo; Úlcera.
1. Introdução
Os sintomas relacionados ao trato digestivo representam uma das queixas mais comuns na prática clínica diária. Dados da década de 1980 mostram que, a cada ano, entre cada mil consultas, setenta são por causa de sintomas dispépticos (Oliveira et al., 2005). Globalmente, a dispepsia ocorre em 10 a 20% dos adultos e corresponde a 3% das consultas médicas (Assefa et al., 2022).
Por mais que seja uma doença com baixa mortalidade, a síndrome dispéptica interfere nas relações sociais, pessoais e laborativas, provocando redução do bem-estar biopsicossocial desses pacientes (Longstreth et al., 2013). Desse modo, tais sintomas são motivos frequentes de consulta pelo absenteísmo ao trabalho e piora da qualidade de vida do paciente (Braga et al., 2013), consequentemente, gera gastos com os serviços de saúde.
A dispepsia, um problema atual, comum e universal, é caracterizada como o conjunto de sintomas de dor ou desconforto no abdome superior, especificamente no epigástrio. Nesse sentido, a sensação de desconforto referida pelos pacientes é de dor, empachamento pós-prandial e saciedade precoce (Alvariz, 2010). Junto a isso, náuseas e vômitos podem estar presentes, mas não são específicos e nem enquadrados em sua definição (Albuquerque, Pereira & Caldas, 2018). Ressalta-se que é manifestação de diferentes doenças, principalmente das doenças pépticas, ou seja, das doenças determinadas pela disfunção cloridropéptica: a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), a úlcera péptica gastroduodenal e a dispepsia funcional (Silva, 2008).
A doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) é decorrente do fluxo retrógrado de parte do conteúdo gastroduodenal para o esôfago e/ou órgãos adjacentes a ele, acarretando sinais e sintomas esofagianos e/ou extraesofagianos, associados, ou não, a lesões teciduais (Alvariz, 2010). Nesse contexto, a esofagite é uma condição encontrada na população com DRGE, podendo ser erosiva ou não erosiva, sendo que a erosão é definida, endoscopicamente, como erosões visíveis na mucosa esofágica (Garcia & Munoz, 2013); e a não erosiva ocorre quando não há perda da integralidade da mucosa no esôfago (Gomes et al., 2011).
As úlceras pépticas são defeitos na mucosa gástrica e/ou duodenal, que se desenvolvem na mucosa gastrointestinal por conta do aumento da secreção do suco gástrico e da pepsina e redução da secreção de muco e bicarbonato, e é associada a duas etiologias principais: infecção pela bactéria Helicobacter pylori e ao uso de anti-inflamatórios não esteroides (Sung, Kuipers & El-Serag, 2009). A literatura aponta que a doença ulcerosa péptica (DUP) é caracterizada por dor epigástrica incapacitante, ou não, ocorrendo periodicamente, e que pode apresentar alívio com a ingestão de alimentos (Albuquerque, Pereira & Caldas, 2018).
Este estudo é parte de uma pesquisa sobre dispepsia e tem como proposta, identificar a prevalência de esofagite e úlcera péptica em portadores de dispepsia ao perfil; avaliar o diagnóstico clínico, endoscópico e histopatológico de esofagite e úlcera péptica e correlacionar a associação de sintomas dispépticos nos portadores de esofagite e úlcera péptica de acordo com os critérios de ROMA III.
2. Metodologia
Estudo transversal, prospectivo, descritivo e exploratório realizado em duas clínicas privadas localizadas em Aracaju, Sergipe, Brasil, no período de 2018 a 2019. A amostra foi composta por 860 pacientes, com diagnóstico clínico de dispepsia, que foram submetidos a endoscopia digestiva alta (EDA) e estudo histopatológico de mucosa esofagogastroduodenal. Foram incluídos indivíduos com idade maior de 20 anos, de ambos os sexos, que no momento da coleta de dados estavam presentes para a realização da EDA. Foram excluídos pacientes que apresentavam doença orgânica ou mental que os limitassem no entendimento das questões, e pacientes com histórico de doenças neoplásicas, antecedentes de dispepsia orgânica e grávidas.
A presença dos pesquisadores no local da realização da endoscopia favoreceu o contato direto com os participantes, ao tempo em que as dúvidas eram esclarecidas durante o preenchimento dos instrumentos de pesquisa. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e os laudos foram liberados pelos participantes ao final do exame. Os laudos histopatológicos foram cedidos com o devido consentimento, posteriormente.
Para a análise e descrição dos dados foram utilizadas frequências absolutas e relativas simples e percentuais. Aplicou-se análise bivariada e multivariada para as associações e testes de Mann-Whitney, Qui-Quadrado de Pearson e Exato de Fisher. Adotou-se, como intervalo de confiança, 95%, e uma margem de erro de 5%. O estudo foi aprovado pelo CEP/UNIT/, conforme parecer nº 2.832.329.
3. Resultados:
Do total de 860 pacientes com sintomas dispépticos, foram considerados, como dados válidos, 845 (98,2%) dos laudos. Desses, 195 (23,07%) tiveram diagnóstico endoscópico e histopatológico de esofagite. A idade média foi de 39 anos, sendo mais prevalente no sexo masculino, pois a prevalência no sexo feminino foi estatisticamente significativa menor (p<0,001). Observou-se maior prevalência entre os indivíduos casados 105 (54,7%), pardos 95 (51,1%) e entre aqueles que possuíam ensino médio completo 102 (53,4%), conforme descrição abaixo (Tabela 1).
Tabela 1. Perfil sociodemográfico de pessoas com dispepsia com diagnóstico endoscópico e histopatológico de esofagite.
Legenda: n – frequência absoluta. % – frequência relativa percentual. IIQ – intervalo interquartil. W – Teste de Mann-Whitney. Q – Teste Qui-Quadrado de Pearson. F – Teste Exato de Fisher. Fonte: pesquisadores.
Quanto ao tempo de realização da última endoscopia, 189 (96,9%) estavam realizando pela primeira vez quando foram convidados a participar da pesquisa. Das lesões identificadas em associação com esofagite, a hérnia de hiato se apresentou estatisticamente significativa (<0,001), enquanto que a gastrite 164 (84,1) e pólipo gástrico 15 (93,8) foram achados mais prevalentes (Tabela 2).
Tabela 2. Associação de esofagite e lesões de mucosa de esôfago, estômago e duodeno em pacientes com sintomas dispépticos de acordo com exame de endoscopia.
Legenda: n – frequência absoluta. % – frequência relativa percentual. IIQ – intervalo interquartil. W – Teste de Mann-Whitney. Q – Teste Qui-Quadrado de Pearson. F – Teste Exato de Fisher. Fonte: pesquisadores.
Para avaliar as queixas dispépticas foram aplicados testes de associação nos indivíduos com diagnóstico de esofagite associados aos critérios de ROMA III.
Nos últimos 3 meses, 41 pacientes (21,2%) queixaram – se de dor/desconforto no meio do peito mais de 1 dia por semana. Ter azia (um desconforto ou dor de queimação no peito) foi apontado como tendo ocorrido mais de um dia por semana em 57 (29,5%) indivíduos. Junto a isso, 40 participantes (20,7%) se sentirem com empachamento pós-prandial nos últimos 3 meses, após uma refeição habitual, além da sensação de empachamento após as refeições por 6 meses, presentes em 74 (61,2%) dos integrantes. 11 pessoas (5,8%) foram incapazes de terminar uma refeição de tamanho habitual mais de um dia por semana, nos últimos 3 meses, no entanto 27 pacientes (46,6%) não tiveram essa incapacidade por mais de 6 meses. Entretanto, relataram a frequência nos últimos 3 meses de ter tido dor ou queimação na região do abdome, especificamente, acima do seu umbigo e abaixo do peito, 61 (31,4%) deles relataram esses sintomas mais de uma vez por semana.
Ao referir-se a esse tipo de dor ou queimação, nos últimos 6 meses ou mais, 86 (66,2%) afirmaram tê-la sentido, e 53 (41,1%) informaram que sempre ocorria e depois desaparecia completamente durante o mesmo dia. É importante sobrelevar que, segundo relato de 66 respondentes (51,6%), a dor, quanto à intensidade, foi considerada moderada; os quais afirmaram também que houve resolução da pirose com o uso de antiácidos, e, às vezes, com movimentos ou trocas de posição do seu corpo e apenas 9 partícipes (7%) referiram que não havia melhora da dor com a evacuação.
Com relação à localização e ao tipo de dor constante no meio ou na área superior direita do abdome, 24(12,3%) responderam que, nos últimos 6 meses, sentiam mais de uma vez ao dia. 18 partícipes (27,3%) relataram que essa dor, às vezes, durava, em média, 30 minutos, 16(25%) disseram que a dor sempre é de intensidade progressiva e muito forte e foi relatado por 23 (37,1%) dos participantes que a dor sempre desaparecia completamente entre os episódios. 14 pessoas (22,6%) afirmaram que essa dor não impedia de realizar atividades usuais, por conseguinte não as levaram a procurar serviço médico. (Tabela 3).
Tabela 3. Associação de esofagite e sintomas dispépticos segundo os critérios de ROMA III.
Legenda: n – frequência absoluta. % – frequência relativa percentual. IIQ – intervalo interquartil. W – Teste de Mann-Whitney. Q – Teste Qui-Quadrado de Pearson. F – Teste Exato de Fisher. Fonte: pesquisadores.
Foram identificados 9 (1,06%) pacientes com diagnóstico endoscópico e histopatológico de úlcera péptica, com idade média de 49 anos (IIQ 38-61), 6 (66,7%) eram do sexo feminino, 7 (77,8%) casados, 4 (50%) tinham a cor parda e 4 (44,4%) ensino médio completo (Tabela 4).
Tabela 4. Perfil epidemiológico de portadores com dispepsia com diagnóstico endoscópico e histopatológico de úlcera péptica.
Legenda: n – frequência absoluta. % – frequência relativa percentual. IIQ – intervalo interquartil. W – Teste de Mann-Whitney. Q – Teste Qui-Quadrado de Pearson. F – Teste Exato de Fisher. Fonte: pesquisadores.
Dentre as principais lesões esofagogastroduodenais encontradas em associação com úlcera péptica, 8 (88,9%) apresentavam gastrite, 3 (33,3%) esofagite e 2 (22,2%) hérnia de hiato (Tabela 5).
Tabela 5. Associação de úlcera péptica e lesões de mucosa de esôfago, estômago e duodeno em pacientes com sintomas dispépticos.
Legenda: n – frequência absoluta. % – frequência relativa percentual. IIQ – intervalo interquartil. W – Teste de Mann-Whitney. Q – Teste Qui-Quadrado de Pearson. F – Teste Exato de Fisher. Fonte: pesquisadores.
Dentre os achados histopatológicos mais prevalentes, a inflamação crônica estava 100% presente em todos os pacientes que sofrem de úlcera péptica. Foram detectados 4 (44,4%) laudos com Helicobacter pylori positivo, e nenhum apresentou metaplasia intestinal (Tabela 6).
Tabela 6. Prevalência de associação de úlcera péptica com HP e outras lesões de mucosa de esôfago, estômago e duodeno
Legenda: n – frequência absoluta. % – frequência relativa percentual. IIQ – intervalo interquartil. W – Teste de Mann-Whitney. Q – Teste Qui-Quadrado de Pearson. F – Teste Exato de Fisher. Fonte: pesquisadores.
Buscou-se estabelecer uma relação dos sintomas dispépticos das pessoas que sofrem de úlcera péptica com os critérios de ROMA III (Tabela 7).
Nos últimos 3 meses, a minoria dos indivíduos, 4 (44,4%) nunca apresentaram dor ou desconforto no meio do peito. Ter azia (um desconforto ou dor de queimação no peito) foi apontado como tendo ocorrido mais de um dia por semana em 2 (22,2%) indivíduos e 2(22,2%) relataram esse sintoma um dia por semana. Junto a isso, 4 participantes (44,4%) nunca foram acometidos pelo empachamento pós-prandial nos últimos 3 meses, após uma refeição habitual, 2 (22,2%) sentiram menos de um dia por mês e 2 (22,2%) mais de um dia por semana, verifica – se – se que, 3 entrevistados (60%) relataram a sensação desconfortável de estarem cheios após as refeições por 6 meses. 8 pessoas (88.9%) nunca foram incapazes de terminar uma refeição de tamanho habitual, nos últimos 3 meses, no entanto 1 paciente (50%) essa incapacidade não persistiu por mais de 6 meses.
Relataram a frequência nos últimos 3 meses de ter tido dor ou queimação na região do abdome, especificamente, acima do seu umbigo e abaixo do peito, 2 (22,2%) deles relataram haver tido esses sintomas um dia por mês. Ao referir-se a esse tipo de dor ou queimação nos últimos 6 meses ou mais, 4 (66,7%) afirmaram persistência dela nesse período, e 4 pessoas (66,7%) informaram que sempre ocorria e depois desaparecia completamente durante o mesmo dia, na maioria das vezes. É importante sobrelevar que, segundo relato de 4 respondentes (66,7%), a dor, quanto à intensidade, foi considerada moderada; os quais afirmaram também essa dor ou queimação sempre era aliviada com o uso de antiácidos, e, às vezes, com movimentos ou trocas de posição do seu corpo e apenas 2 partícipes (33,3%) referiram que não havia melhora da dor com a evacuação ou eliminação de gases.
Com relação à localização e ao tipo de dor constante no meio ou na área superior direita do abdome, 2 (22,2%) responderam que, nos últimos 6 meses, sentiam mais de um dia por semana. 2 partícipes (33,3%) relataram que essa dor, às vezes, durava, em média, 30 minutos e 2 (33,3%) se queixaram que sempre essa dor persistia nesse tempo. 3 (50%) disseram que a dor, na maioria das vezes, aumentou a intensidade até ficar forte e contínua, sendo relatado por 3 participantes (50%) que a dor nunca desaparecia completamente entre os episódios. 5 pessoas (83,3%) afirmaram que essa dor nunca impedia de realizar atividades usuais, por conseguinte não as levaram a procurar serviço médico.
Tabela 7. Relação de úlcera péptica e sintomas dispépticos de acordo com os critérios de ROMA III.
Legenda: n – frequência absoluta. % – frequência relativa percentual. IIQ – intervalo interquartil. W – Teste de Mann-Whitney. Q – Teste Qui-Quadrado de Pearson. F – Teste Exato de Fisher. Fonte: pesquisadores.
4. Discussão
Neste estudo, além de avaliar a prevalência de esofagite e úlcera péptica em pacientes com dispepsia, buscou-se identificar o perfil desses pacientes com diagnóstico clínico, endoscópico e histopatológico de esofagite e úlcera péptica; avaliar a prevalência de esofagite e de úlcera péptica em pessoas com esse problema; mensurar a prevalência de achados histopatológicos em associação com úlcera péptica; e investigar a associação de sintomas dispépticos em pessoas que sofrem de esofagite e úlcera péptica de acordo com os critérios de ROMA III. Para tanto, foram aplicados os critérios de ROMA III, por considerar ser o melhor protocolo que caracteriza a dor dispéptica, seja por apresentar dor tipo azia ou queimação, ou desconforto epigástrico, em geral, relatado pelos pacientes no dia a dia do gastroenterologista.
Almeida et al. (2017) afirmam que sintomas dispépticos são mais prevalentes na zona urbana brasileira. Corroborando com esses autores, esta pesquisa revelou que mais de 65% das pessoas que sofrem com dispepsia foram procedentes de Aracaju. Junto a isso, para Zelaya et al. (2020) e Umakanth (2017), as mulheres são mais acometidas que homens, sendo a faixa etária mais prevalente entre 30 e 49 anos.
A esofagite, enquanto processo inflamatório, é o resultado de reações teciduais que ocorrem em resposta à exposição do conteúdo gastroesofágico na mucosa esofágica. A prevalência na amostra estudada foi em torno de 195 partícipes do estudo (23,07%), com prevalência entre homens de, em média, 39 anos. Segundo a literatura, 9,9% é a prevalência de esofagite em pacientes com sintomas dispépticos (Ford et al., 2010). No entanto, Dent et al. (2005), em uma revisão sistemática, identificaram 5 estudos que constataram que não houve relevância significativa entre sexo e Doença de Refluxo Gastroesofágico (DRGE).
Em um estudo retrospectivo, ao utilizar fichas de exames de pacientes que realizaram Esofagomanometrias e pHmetrias, no Laboratório de Motilidade do Serviço de Gastroenterologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Alvariz et al. (2010) avaliaram os indivíduos que foram submetidos, previamente, à Endoscopia Digestiva Alta (EDA), onde, dos 253 pacientes avaliados, 145 (57,3%) tinham esofagite erosiva, e destes, 93 (64%) possuíam sintomas dispépticos.
Por outro lado, 108 (42,7%) tiveram o achado de esofagite não erosiva, tendo 86 (79,6%) o diagnóstico de dispepsia. Isto significa que a prevalência das queixas dispépticas foi elevada em ambos os grupos, sendo mais prevalente em indivíduos com esofagite não erosiva (Alvariz et al., 2010). Esse fato corrobora com o este estudo, que evidenciou a prevalência de sintomas dispépticos em pacientes com esofagite.
Fujiwara et al. (2005) analisaram 253 pacientes. Desses, 89 (35,2%) com esofagite não erosiva e 164 (64,8) com esofagite erosiva. Vale frisar que a frequência de Hérnia Hiatal foi significativamente associada com esofagite erosiva. Além disso, Garcia e Munoz (2013), em um estudo retrospectivo, analisaram 478 pacientes com alterações endoscópicas de esofagite, com e sem hérnia hiatal. Nesse contexto, notou-se a presença de hérnia de deslizamento em 46,32% dos pacientes de esofagite.
Nesse sentido, Maganty e Smith (2008) afirmam que a prevalência da Hérnia Hiatal varia de 0,8 a 2,9% dos achados da EDA. Além disso, Umakanth (2017) detectou a prevalência de 50,52% de hérnia hiatal em indivíduos dispépticos na região de Batticaloa, no Srilanka. Esse trabalho evidenciou a prevalência de 10,8 % de Hérnia Hiatal em pacientes com Esofagite (P<0,001).
Os mecanismos que a hérnia se correlaciona com a DRGE são explicados pelo deslocamento cranial do Esfincter Esofageano Inferior (EEI). Por conseguinte, os sintomas dispépticos são frequentes, sugerindo defeito da acomodação gástrica, porque vai aumentar o tempo de exposição ácida esofágica, sobretudo, em posição supina em pacientes do DRGE erosiva e sem DRGE (Abrahão Jr, et al., 2006).
Fujiwara et al. (2005) observaram que a infecção por H pylori, no corpo gástrico, é mais prevalente em pacientes que não possuem esofagite (48,3%), uma vez que a infecção pela cepa cagA, também no corpo gástrico, provoca aumento dos níveis de gastrina, mas uma redução da secreção ácida. Os pesquisadores apontam que a gastrite, com dominância do corpo, e a atrofia gástrica são resultados da liberação de citocinas como fator de necrose tumoral alfa e interleucina – 1 – beta, provocando a hipocloridria (John & Kahrilas, 2021). Dessa forma, a baixa secreção de ácido clorídrico no epitélio gástrico pode explicar a prevalência maior de esofagite em pacientes com ausência de infecção pelo H pylori.
A literatura aponta que a gastrite é um dos achados mais prevalentes da Endoscopia Digestiva Alta. Em um estudo prospectivo e transversal realizado com 400 indivíduos com dispepsia, a gastrite representou 62,5% das alterações histopatológicas (Ghamar-Chehreh et al., 2016). Além disso, na pesquisa caso-controle, de Albuquerque, Pereira e Caldas (2018), ao avaliar 76 laudos de EDA de pacientes com dispepsia, o achado mais frequente foi o de Gastrite Enantematosa (68%). Esses dados colaboram com o presente estudo, que identificou a Gastrite Enantematosa (84,1%) como um dos mais prevalentes.
O estudo descritivo, observacional, retrospectivo e transversal de Durães et al. (2010) na análise de 324 laudos endoscópicos de pacientes com úlcera péptica e dispepsia, afirma que o caso mais frequente foi o de gastrite enantematosa (45,7%), seguido de gastrite erosiva (29,3%). Junto a isso, o estudo observacional, com delineamento transversal de Fonseca et al., (2014), afirma que foi o de gastrite macroscópica enantematosa e/ou erosiva (46%). Portanto, esse dado está em concordância com a presente pesquisa, já que identificou a gastrite em 8 laudos (88,9%), como um dos achados endoscópicos mais frequentes.
Durães et al. (2010) identificaram que o diagnóstico de úlcera péptica foi mais predominante em indivíduos entre 50 e 79 anos; e Fonseca et al. (2014) revelaram que a DUP foi mais comum em mulheres entre 30 e 49 anos. No nosso estudo, o perfil de pacientes mais acometidos por úlcera péptica foi de mulheres com 49 anos (66,7%).
Estudos de Sung, Kuipers e El-Serag (2009), Assefa et al. (2022) e Braga et al. (2013), encontraram baixa incidência de DUP em pacientes dispépticos, 5,3%, 35% e 13,9%, respectivamente. Logo, tais estudos possuem dados que corroboram com a presente pesquisa, que identificou que apenas 9 (1,06%) dos pacientes tiveram o diagnóstico endoscópico e histopatológico de úlcera péptica.
Dessa forma, evidencia-se a baixa incidência de Doença Ulcerosa Péptica em indivíduos dispépticos. De acordo com Fonseca et al. (2014), isso pode ser devido ao uso indevido dos Inibidores de Bomba de Prótons (IBP), que causam a cicatrização da úlcera por reduzirem a acidez gástrica, e aos médicos que prescrevem essas drogas na presença de um sintoma dispéptico. Associado a isso, Sung, Kuipers e El-Serag (2009) afirmam que o manejo da DUP melhorou substancialmente após a inserção de IBP e terapia antimicrobiana para erradicação do H pylori, refletindo, então, na redução da prevalência de úlceras pépticas.
No estudo de Marques et al. (2011), que avaliou a presença de úlceras em dispépticos, a prevalência da H pylori foi de 53% (786), de um total de 1.478 indivíduos; e Assefa et al. (2022) identificaram a presença de úlcera péptica em 35 % dos indivíduos, em um total de 218 pacientes dispépticos, sendo 71% com diagnóstico de H pylori.
A atual pesquisa identificou que 4 laudos (44,4%) apontam a positividade histopatológica para essa bactéria. Dessa maneira, Assefa et al. (2022) afirmam que a diferença da taxa de infecção do H pylori em pacientes com DUP depende do status socioeconômico, saneamento ambiental, condições de vida e higiene pessoal.
5. Considerações Finais
A esofagite foi uma alteração endoscópica presente em pessoas que sofrem de dispepsia, sobretudo quando associada à hérnia hiatal, sendo mais frequente em homens com idade média de 39 anos.
A Úlcera Péptica, mais comum no sexo feminino, na faixa etária dos 49 anos, possuiu baixa incidência em pacientes dispépticos, não só pela terapia de erradicação antimicrobiana para Helicobacter pylori, mas também pelo fácil acesso às drogas como IBP e efervescentes que podem mascarar sintomas dessa doença, só ocorrendo o diagnóstico quando os pacientes complicam com sangramento, sendo visto na Endoscopia sinais de cicatrização. Ressalta – se que, o número de pacientes com Úlcera Péptica foi baixo, fato que dificultou a interpretação dos dados.
A maioria dos pacientes que realizaram Endoscopia Digestiva Alta possuíam alterações na mucosa similares com sintomas da dispepsia, sendo a gastrite enantematosa o achado endoscópico mais frequente nos laudos médicos.
Embora seja uma doença crônica, a esofagite requer investigação em associação com outros sintomas e suas correlações com outras doenças e comorbidades. Sugere-se que, no futuro, sejam aplicados novos estudos relacionados a indivíduos dispépticos, com e sem o uso dos IBP, a fim de esclarecer melhor a baixa incidência da doença ulcerosa péptica em indivíduos com dispepsia.
Referências
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