ESCALA DE MANCHESTER IMPACTOS NO ATENDIMENTO DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA HOSPITALAR

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10982174


Letícia Martins Simões


RESUMO 

O objetivo desta pesquisa foi identificar na literatura as dificuldades e os benefícios na aplicação da escala de Manchester no atendimento de urgência e emergência hospitalar. Realizou-se uma revisão integrativa, com busca nas bases de dados Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Foram selecionados onze artigos que atenderam aos critérios de inclusão. Os resultados evidenciaram que dentre as dificuldades dos enfermeiros existe problemas na escassez de profissionais treinados, na falta de conhecimento tanto da população como também de alguns profissionais. Nos benefícios destaca-se a padronização no atendimento e o princípio da equidade. 

Palavras-Chave: Manchester; Classificação de risco; Urgência e emergência. 

ABSTRACT 

The aim of this research was to identify in the literature the difficulties and benefits of applying the manchester scale in urgent and emergency care. Performed an integrative review, searching the databases of the Online Scientific Electronic Library (SCIELO) and Latin American and Caribbean Health Sciences Literature (LILACS). Eleven articles were selected that meet the inclusion inclusion. The results showed that among the difficulties of nurses there are problems in the shortage of trained professionals, lack of knowledge both in the population and in some professionals. Benefits reduce standardization of care and the principle of equity. 

Keywords: Manchester; Risk rating; Urgency and emergency. 

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

FC- Frequência Cardíaca
FR- Frequência Respiratória
MIE – Membro inferior esquerdo
MIN – Minutos
PA – Pronto Atendimento
PS- Pronto Socorro
SSVV- Sinais vitais
SUE- Serviços de Urgência e Emergência
SUS- Sistema Único de Saúde 

INTRODUÇÃO 

Os Serviços de Urgência e Emergência (SUE) são indispensáveis na assistência em saúde e considerados serviços abertos no Sistema Único de Saúde (SUS). 

Entretanto, há sobrecarga de serviços, dentre eles: demanda excessiva, problemas de estruturação das redes de atenção à saúde, ausência de recursos materiais, violência e acidentes de trânsito (FEIJÓ, 2015) 

As unidades de SUE são destinadas ao atendimento de pacientes com problemas agudos e com alta gravidade, e precisa de uma assistência imediata e efetiva quando o risco de morte é iminente, requerendo equipes preparadas (BERTOZZI, 2011).

Com o atendimento realizado por ordem de chegada e o grande número de pacientes que procuravam o atendimento de urgência, havia um tempo de espera longo para quem tinha um risco eminente de vida e que precisava de atendimento imediato, e estatisticamente, havia mais óbitos por conta da falta de priorização de casos graves, se via então, a necessidade de triar e agilizar as queixas com maior risco de vida, para isso foi implantado o protocolo de Manchester (SOUZA, 2009) 

O protocolo de Manchester foi criado em 1994, na cidade de Manchester, na Inglaterra, sua finalidade é segmentar os pacientes entre atendimento não urgente, pouco urgente, urgente, muito urgente e emergente, utilizando como parâmetro as queixas relatadas pelos pacientes, o tempo de duração da queixa e os SSVV apresentados no momento da admissão, sendo que para cada classificação existe uma cor, para ser mais didático para o entendimento da população, e um tempo de espera determinado para a realização do atendimento médico conforme a gravidade de cada classificação, que detalharemos no decorrer do estudo. (Pinto Júnior, 2012) 

Existem outros protocolos de triagem, como por exemplo o modelo Australiano, Canadense, Americano e Andorra, mas no Brasil, o protocolo de Manchester foi utilizado pela primeira vez em 2008 pela Prefeitura do estado de Minas Gerais, e é utilizado no território nacional até os dias de hoje, com acreditação pelo Ministério da Saúde, Ordem dos Enfermeiros e Ordem dos Médicos, devendo ser realizada por um enfermeiro com treinamento e conhecimento dos fluxogramas que nele existem. (Pinto Júnior, 2012) 

A classificação de risco realizada através do protocolo de Manchester tem muitos benefícios, como por exemplo a priorização do atendimento a pessoas em estado crítico e semicrítico acima de pacientes não críticos, prezando pela sobrevida de todos, mas também traz algumas dificuldades para os enfermeiros que o realizam, as principais são a falta de conhecimento, tanto dos pacientes quanto dos próprios enfermeiros triadores e também o tempo estimado de três minutos para realização de toda a triagem, desta forma vimos, por meio dessa pesquisa científica identificar os principais benefícios, dificuldades e importância, com o objetivo de promover o conhecimento sobre a sequência de atendimento no pronto atendimento, garantindo a eficácia do desfecho clínico dos pacientes. 

OBJETIVO 

Identificar na literatura científica as dificuldades e os benefícios na aplicação da escala de Manchester para triagem de pacientes no atendimento de Urgência e Emergência hospitalar. 

METODOLOGIA 

Trata-se de um estudo bibliográfico para o levantamento dos artigos na literatura que abordasse os benefícios e as dificuldades encontradas na aplicação do Sistema Manchester de Classificação de Risco, realizou-se uma busca nas seguintes bases de dados: SciELO – Scientific Electronic Library Online, uma biblioteca eletrônica, LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde).Foram utilizados para busca dos artigos as palavras: “Manchester”, “classificação de risco” “urgência e emergência”. Pesquisamos durante os meses de Julho a Setembro de 2019, utilizando como palavras chave: Manchester, triagem e dificuldades. Os critérios de inclusão são artigos de periódica, publicados entre julho de 2009 a setembro de 2019 disponíveis online na íntegra, em português (Brasil). Após a leitura dos resumos foram selecionados onze publicações. 

RESULTADOS 

No Brasil nós temos o SUS como o princípio de todo o atendimento médico prestado para a população, desde atendimento primário até o terciário, que tem como pilar a integralidade, a universalidade e a equidade, que visa principalmente a prevenção da saúde, pensando na saúde da população e também na economia, já que é um sistema de saúde sem fins lucrativos que acaba obtendo mais gastos quando um cidadão precisa de tratamento para uma doença desenvolvida, do que para a prevenção dela. Sem gerar gastos diretos para o paciente, não diferenciando o atendimento considerando classe social e/ou poder aquisitivo, e outros motivos não citados, o SUS se tornou simplesmente um exemplo inigualável para o mundo de modelo de assistência de saúde e humanização. 

O atendimento básico de saúde é importante para a prevenção e detecção precoce de doenças, porém, hoje temos a superlotação em atendimento de urgência e emergência, o que nos leva a discutíveis, porém inoportunos, motivos para esse atendimento primário não acontecer da forma como planejada, a sociedade acaba por procurar o atendimento de urgência e emergência como alternativa rápida e resolutiva a um serviço básico sucateado, precário e com informações desencontradas. (PAI; LAUTERT, 2015) 

O atendimento de urgência e emergência se torna, também, além de realizar os devidos atendimentos de queixas urgentes e emergentes, palco para o atendimento de queixas não urgentes. Colocamos em uma fila de espera por ordem de chegada, pessoas que tinham risco eminente vida junto com pessoas que não apresentavam nenhum risco de vida no momento, e assim, causamos impactos alarmantes na sobrevida de pacientes críticos tratados em Pronto-socorros, colocamos em risco a vida de usuários que realmente precisavam do atendimento rápido e resolutivo dos Pronto-atendimentos para tratarmos pacientes que era possível aguardar mais para o atendimento médico. 

Pensando nisso, o médico Kevin Mackway-Jones criou o Protocolo de Manchester, que foi implantado pioneiramente em 1994 na cidade de Manchester, na Inglaterra, onde inicialmente existiu resistência por parte dos pacientes, já que não fazia sentido ver uma pessoa que acabou de chegar ser atendida antes. Mas foi comprovado a diminuição de óbitos e sequelas graves em pacientes críticos, então esse protocolo foi rapidamente absorvido e difundido em todo o mundo. (JÚNIOR; SALGADO; CHIANCA, 2012) 

No Brasil, o primeiro estado que adotou esse protocolo foi Minas Gerais no ano de 2008, e logo após foi adotado por todo o país. 

O Protocolo de Manchester é constituído por 52 fluxogramas, como: dor abdominal, mal estar no adulto, cefaléia, dor torácica, dispneia no adulto, criança mancando, pais preocupados e até mesmo 2 fluxos para catástrofes com grandes e pequenos números de vítimas, que é escolhido conforme a queixa de entrada de cada paciente, por exemplo: Paciente deu entrada no PS com queixa de dor em MIE, o fluxograma que obviamente se adequa é o de problemas em extremidades, mas temos também alguns fluxogramas que não adequam corretamente algumas queixas, por exemplo: Paciente deu entrada no PS com queixa de tosse, o mais indicado seria o fluxograma de dispneia, por ser uma queixa respiratória, porém, o paciente não tem queixa nenhuma de dispneia. 

As classificações são diferenciadas por cor, para melhor entendimento da comunidade, porém o mais importante para os profissionais de saúde é de fato o risco de vida e o tempo estimado de espera. São definidos como vermelho os pacientes classificados como emergência onde o atendimento deve ser imediato por ter um risco imediato de vida, logo após vem o laranja, onde temos os pacientes com risco iminente de vida e deve ser atendido em até 10 min, o amarelo onde estão os urgentes que podem aguardar até 1 hora, os pacientes verdes são pouco urgentes e podem aguardar até 2 horas e por fim os azuis são não urgentes, não apresentam nenhum risco de vida e geralmente são pacientes com queixas não-urgentes com mais de 7 dias. 

Figura 2 : Classificação de Risco segundo o protocolo de Manchester 

Fonte: PORTAL DA ENFERMAGEM, 2011. 

Após a escolha do fluxograma, existem perguntas que devem ser respondidas pelo profissional triador, que são confirmadas ou negadas, por exemplo: Apresenta obstrução de vias aéreas? sim ou não?, sendo que a primeira sequência de questões se estiver presente no paciente, o mesmo será classificado como vermelho, caso seja ausente o mesmo será agora avaliado na classificação laranja, se um discriminador laranja estiver presente a triagem finaliza e o paciente mantém o laranja como classificação, e assim sucessivamente e respectivamente nas classificações amarelo, verde e azul, sendo que o primeiro discriminador positivo deve ser considerado. 

Com a queixa inicial anotada, o fluxograma definido e a realização da classificação de risco do paciente é imprescindível que o paciente seja orientado quanto seu tempo estimado de espera e sua classificação, assim como, colocado seu prontuário em ordem de classificação de risco e dentro das classificações, por ordem de chegada, ou seja, dentre os pacientes classificados como verde, por exemplo, a ordem de atendimento médico deve ser por chegada. 

Quando o paciente chega ao PA a sequência realizada é a seguinte: Abertura de ficha, realização da triagem e atendimento médico. Porém já é preconizado que a triagem deve ser realizada antes mesmo da abertura de ficha, já que a abertura de ficha pode demorar mais que 10 min, que é o tempo máximo que um paciente crítico poderia esperar, o que também tem influência no desfecho clínico. Hoje, as instituições que já realizam triagem antes da abertura de ficha ainda são minoria, mas aos poucos estão aderindo à esse novo fluxo. 

Com a implantação da Manchester, os enfermeiros se depararam com alguns desafios, a principal queixa era sobre a dificuldade na identificação da queixa e relacionamento com os fluxogramas, se via então a necessidade da capacitação dos profissionais, para garantir a triagem correta dos pacientes, por esse motivo, todos os profissionais que forem realizar triagem necessitam ter o curso do Sistema de triagem da Manchester, para que possamos ter um padrão bem definido e assertividade em todas as triagens. Lembrando que médicos podem realizar triagem também, porém não é rentável para nenhuma instituição manter um médico triando, sendo que um enfermeiro, que em termos financeiros é mais econômico, realiza o mesmo trabalho com a mesma fidelidade. (AMARO; FERREIRA; SILVA, 2016.) 

Uma das mais importantes dificuldades encontradas na época de implantação que permanece até os dias de hoje é a falta de conhecimento da população em relação à priorização no atendimento de pacientes com maior gravidade clínica. O que significa clientes insatisfeitos com alto índice de reclamação por não ter o conhecimento do protocolo, isso impacta na satisfação do enfermeiro, pois a todo momento ele é questionado por “passar o outro paciente na frente”. (FREITAS, 2014.) 

Outro ponto é o tempo estimado de triagem, conforme o protocolo, o enfermeiro tem até 3 minutos para realizar a triagem, lembrando que só para aferir FR é 1min e caso não tenha a disposição um aparelho que calcule rapidamente a FC é mais 1 min gasto apenas com 2 parâmetros dos SSVV, em seguida vem um rápido histórico que conta com as comorbidades, as alergias do paciente e sua principal queixa, na tentativa de cumprir com o tempo estimado o profissional precisa ser objetivo e conduzir muito bem a triagem, que leva à desumanização do atendimento, o torna robótico e descaracteriza o acolhimento, que também deveria acontecer durante a triagem.

Para melhor compreensão dos resultados foram selecionados após cruzamento onze artigos de acordo com o critério de inclusão, base de dados da SCIELO e LILACS. 

Quadro 1 – Benefícios e dificuldades da escala de Manchester, São Paulo, 2019. 

Benefícios na aplicação da escala de Manchester Dificuldades na aplicação da escala de Manchester 
Atendimentos realizados com mais eficiência Escassez de profissional 
Padronização no atendimento Adaptação do sistema 
Implantar o princípio da equidade Falta de conhecimento da população 
Organização do fluxo hospitalar e no atendimento Falta de conhecimento dos profissionais com a aplicação da escala 
Usuário tem uma previsão média dos atendimentos Dificuldade de encaminhamento dos usuários não urgentes para outras redes de saúde 
Diminuição do risco clínico dos pacientes Resistência da equipe médica em trabalhar em conjunto com a equipe de enfermagem 

CONCLUSÃO 

O presente estudo e conclui que a triagem na urgência e emergência é um progresso para a saúde pública, especialmente sobre a rapidez e o eficiente atendimento aos pacientes mais necessitados. 

A ordem de chegada não é o que define o atendimento mais rápido, e a utilização do protocolo ajuda a população que está precisando de atendimento mais rápido, assim melhorando o desfecho clínico nas unidades de saúde. 

Dentre as dificuldades dos enfermeiros ficou evidente que existe problemas na escassez de profissionais treinados, na falta de conhecimento tanto da população como também de alguns profissionais. Já os benefícios destaca-se a padronização no atendimento e o princípio da equidade. 

Ressalta-se a necessidade de avanços e discussões na capacitação, para aprimorar os profissionais e orientar a população. 

REFERÊNCIAS 

ACOSTA, Aline Marques; DURO, Carmen Lúcia Mottin; LIMA, Maria Alice Dias da Silva. Atividades do enfermeiro nos sistemas de triagem /classificação de risco nos serviços de urgência. Out, 2012. Visto em 25/8/19 

AMARO, Ana Laura Teixeira; FERREIRA, Jéssica Aparecida Gregório Ferreira; SILVA, Lais Daniele Lourenço. AS DIFICULDADES ENCONTRADAS POR ENFERMEIROS NA IMPLANTAÇÃO DA CLASSIFICAÇÃO DE RISCO EM UM SETOR DE EMERGÊNCIA DE UMA UNIDADE HOSPITALAR DO INTERIOR PAULISTA. Dez, 2016. Visto em 09/09/19 

ANZILIERO, Franciele et al. Sistema de Manchester: tempo gasto na classificação de risco e prioridade para atendimento de emergência. Rev. Gaúcha Enfermagem. Fev, 2017. Visto em 25/8. 

BERTOZZI, Flavia de Moraes. Importância da triagem realizada pelo enfermeiro na emergência. 2011 

BOHN, Marcia Luciane da Silva; LIMA, Maria Alice Dias da Silva; DURO, Carmen Lúcia Mottin; ABREU, Kelly Piacheski de. Percepção de enfermeiros sobre a utilização do protocolo do sistema de Classificação de risco Manchester. Abr, 2015.  Visto em 24/8/2019 

CAVALCANTE, Ricardo. Acolhimento com Classificação de Risco: proposta de humanização nos serviços de urgência. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro, 2013. Visto em 09/09/2019 

COUTINHO, Ana Augusta Pires; CECÍLIO, Luiz Carlos de Oliveira; MOTA, Joaquim Antônio César. Classificação de risco em serviços de emergência: uma discussão da literatura sobre o sistema de triagem de Manchester. Rev. Méd. de Minas Gerais. Mar 2012. Visto em 24/08/2019 

FREITAS, Maria Madalena Andrade Mendes de. Dificuldades percepcionadas e grau de Satisfação dos enfermeiros que fazem triagem de manchester nos serviços de urgência. Dez, 2014. Visto em 25/8/19 

JUNIOR, Domingos Pinto; SALGADO, Patrícia de Oliveira; CHIANCA, Tânia Couto Machado. Validade preditiva do protocolo de classificação de risco de Manchester: avaliação da evolução dos pacientes admitidos em um pronto atendimento. Rev. Latino-Am. Enfermagem 2012. Acesso em: 15/09/2019 

PAI, Daiane Dal; LAUTERT, Liana. SOFRIMENTO NO TRABALHO DE ENFERMAGEM: REFLEXOS DO “DISCURSO VAZIO” NO ACOLHIMENTO COM CLASSIFICAÇÃO DE RISCO. Jul, 2015. Visto em 24/8/19. 

SOUZA, Cristiane Chaves; TOLEDO, Alexandre Duarte; TADEU, Luiza Ferreira Ribeiro; CHIANCA, Tânia Couto Machado. Classificação de risco em pronto-socorro: concordância entre um protocolo institucional brasileiro e Manchester. Rev. Latino-Am. Enfermagem jan-fev 2011. Visto em 24/8/2019.