REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202501231342
Giovanna de Sousa Almeida¹; Ana Júlia Souza Santos²; Thaís Adriano Luiz²; Judy Rêgo Santos²; Isabella Manara Bordignon²; Giulia Tessari²; Victoria Gabrielle Silva de Castro²; Fernanda Stoffel Covolan³; Beatriz de Sousa Almeida⁴; Domingos Jordão Neto⁵
RESUMO
O eritema anular centrífugo (EAC) é uma dermatose rara caracterizada por lesões eritematosas que se expandem de forma periférica, deixando a região central mais clara. A doença é mais comum em mulheres jovens e caucasianas, podendo afetar principalmente áreas fotoexpostas. Este artigo irá relatar o caso de uma paciente de 40 anos, com lesões persistentes nos membros inferiores, glúteos e mama direita, associadas a prurido e calor local. A paciente, sem histórico relevante de doenças prévias ou tratamentos eficazes, realizou uma biópsia que confirmou a dermatite espongiótica focal, compatível com EAC. No entanto, embora seja a hipótese diagnóstica mais provável, estão sendo realizados estudos para que sejam descartados todos as outras condições dermatológicas diferenciais, como micose fungóide.
O diagnóstico do EAC é desafiador, sendo feito principalmente por exclusão, uma vez que a etiologia é frequentemente idiopática, embora estudos associem a doença a fatores infecciosos, hormonais, medicamentosos e neoplásicos. A condição, autolimitada na maioria dos casos, pode requerer o controle dos fatores desencadeantes, e os tratamentos sintomáticos incluem o uso de corticosteróides tópicos.
PALAVRAS-CHAVE: Eritema anular centrífugo; Lesões Eritematosas; Dermatose; Placa descamativas.
INTRODUÇÃO E OBJETIVO
O eritema anular centrífugo (EAC) é um quadro dermatológico caracterizado por um padrão clínico de anéis eritematosos¹, que se expandem de forma periférica com sua região central de cor mais clara², podendo ter diferentes durações e sintomas. Ocorre com maior frequência em adultos jovens do sexo feminino e caucasianos³, manifestando-se, predominantemente, em áreas que ficam mais expostas à luz³.
Este trabalho relata o caso de uma paciente que apresenta lesões eritematosas em seus membros inferiores, glúteos e mama direita. Após os exames laboratoriais e pesquisa de malignidades apresentarem resultados negativos, a hipótese diagnóstica mais provável foi estabelecida como eritema anular centrífugo. Por ser uma doença rara, seu diagnóstico só poderá ser concluído após todos os diagnósticos diferenciais serem descartados. Dado isso, o objetivo deste trabalho é concluir o diagnóstico e investigar sua possível causa para que o tratamento possa ter resultado absoluto.
RELATO DE CASO
Paciente feminina, branca, 40 anos, foi encaminhada ao ambulatório de dermatologia para avaliação de lesões eritematosas apresentadas há um ano de maneira persistente. Paciente associa as lesões com pouco prurido, calor local e, durante exame físico, foi notado múltiplas placas eritêmato-violáceas com descamação periférica, localizada em membros inferiores, glúteos e uma única lesão em mama direita (figuras 1,2 e 3 respectivamente). Referia exacerbação piora do quadro durante episódios de estresse. Negou episódios prévios similares, infecções recentes ou cirurgias anteriores ao surgimento das lesões. Paciente sem patologias prévias, uso de medicações esporádicas e de uso contínuo, assim como qualquer outro sintoma sistêmico neste período. Os tratamentos instituídos durante este período com corticoides tópicos, sistêmicos e outros medicamentos não ofereceram qualquer melhoria, com exceção do clobetasol tópico onde apresentou remissão parcial das lesões, com retorno após cessar o uso. Exames laboratoriais, como hemograma, auto-anticorpos, sorologia para hepatites virais, pesquisa para fungo e marcadores de neoplasia não apresentaram alterações. A biópsia incisional realizada em Abril de 2021 apresentou o diagnóstico de dermatite espongiótica focal com infiltrado linfocitário perivascular superficial, correspondendo ao quadro histológico de EAC.
DISCUSSÃO
Eritema anular centrífugo (EAC) é uma patologia dérmica rara de caráter inflamatório⁴ que tem como sua principal característica lesões anulares que se expandem em círculos centro-perifericamente¹. Existem duas classificações a respeito desta dermatose: a superficial, sendo a mais comum, apresentando sintomas como prurido e descamação; e a profunda, que não manifesta estes sintomas¹.
A doença é considerada autolimitada, com tendência a regredir espontaneamente dentro de algumas semanas. No entanto, casos com lesões persistentes foram relatados na literatura científica⁵.
A etiopatogênese do EAC permanece incerta, sendo, na maioria dos casos considerada idiopática¹, embora já existam estudos correlacionando a doença a processos infecciosos, distúrbios hormonais, hipersensibilidade a alguns alimentos e medicamentos como, antimaláricos e amitriptilina, e até mesmo com neoplasias e insuficiência renal¹.
O diagnóstico diferencial do EAC deve ser feito com diversas doenças cutâneas e sistêmicas. Dentre eles temos: Eritema anular eosinofílico, tinea corporis, eritema migrans, erupção polimorfa à luz, lúpus túmido, hanseníase indeterminada, pitiríase rósea, dentre outros⁶.
Não há recursos terapêuticos ou farmacológicos exclusivos para tratamento do EAC, sendo indicado, portanto, a busca dos possíveis fatores etiológicos desencadeantes, visando assim a remissão clínica das lesões após o tratamento, quando possível, de tais fatores¹. Corticosteróides tópicos podem ser receitados para amenizar os sintomas locais, como o prurido.
Como o diagnóstico do EAC é realizado através de exclusão, foi programado durante o mês de Julho de 2021 outras duas biópsias, para pesquisa de fungos e micobactérias, e também sorologia Anti-HIV e HTLV 1 e 2. O resultado destes exames ainda estão em fase de análise.
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Figuras 1, 2 e 3. Placas eritematodescamativas anulares de crescimento centrífugo nos MMII, glúteos e mama D.
CONCLUSÃO
O diagnóstico da EAC se dá através de exclusão¹, visto que se trata de uma doença rara, com pouco conhecimento¹ a respeito da sua etiologia, incidência, fisiopatologia e possíveis tratamentos. No entanto, mesmo sendo a hipótese diagnóstica mais provável, não se exclui a possibilidade de micose fungóide, visto que ainda necessitamos acompanhar a paciente, aguardar os laudos e possivelmente a realização de novas biópsias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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- ROMITI, Ney; LOPES MATTOS E DINATO, Sandra; et al. Lúpus eritematoso cutâneo subagudo apresentando-se como eritema anular centrífugo. SciELO: Lúpus, Santos, 10 nov. 2011. Disponível em: https://www.scielo.br/j/abd/a/twbp4LVdLRdjwDSqHwjhYvH/?lang=pt#. Acesso em: 20 ago. 2021.
- BRESSLER, G. S., & Jones, R. E. (1981). Erythema annulare centrifugum. Journal of the American Academy of Dermatology, 4(5), 597– 602. doi: 10.1016/s0190-9622 (81)70063-x
- DUARTE, Bruno; PÁRIS, FR; et al. Fotoquimioterapia no Eritema Anular Centrifugo Recalcitrante: Uma Opção Terapêutica Promissora? Revista SPDV 76(3) 2018.
- Belda, Junior Walter et al. Tratado de dermatologia – 3ª edição – Rio de Janeiro; Atheneu, 2018.
1Autora principal – Médica formada pela Universidade Nove de Julho.
2Coautoras – Médicas formadas pela Universidade Nove de Julho.
3Coautora – Médica formada pela Universidade São Francisco.
4Coautora – Discente do curso de Medicina da Universidade Nove de Julho.
5Professor orientador – Docente do curso de Medicina da Universidade Municipal de São Caetano do Sul.