EPIDEMIOLOGIA E MEDIDAS PREVENTIVAS PARA EVITAR A CONTAMINAÇÃO POR ACINETOBACTER BAUMANNII EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10116641


Aline da Costa França¹
Janaína Ferreira Xavier Evangelista²
Daiana Alfaro de Souza³
Juliana Loca Furtado Fontes4


RESUMO

O Acinetobacter baumannii é um patógeno Gram-negativo associado às infecções hospitalares, principalmente nas Unidades de Terapia Intensiva e apresenta um impacto clínico importante, devido à sua grande incidência nesta unidade nosocomial e sua resistência aos antimicrobianos. Esta pesquisa tem como objetivo verificar a epidemiologia da contaminação por Acinetobacter baumannii, o perfil de resistência desse patógeno e analisar as formas de prevenção e controle de contágio desse bacilo em UTI. Trata-se de uma revisão sistemática, realizada mediante uso de artigos científicos publicados entre os anos de 2017 e 2021, nos idiomas Português, Espanhol e Inglês. Os níveis de evidências dos estudos serão julgados por dois revisores independentes. Os resultados evidenciaram incidência de 56,5 a cada 1000 pacientes em um estudo realizado em vários continentes, maior taxa de mortalidade em países de baixa ou médio desenvolvimento, criação de novos antibióticos a fim de melhor manejo com patógenos multirresistentes. Além disso, os fatores mais associados ao aumentos das taxas de infecção por AB estão relacionados ao tempo prolongado de internação, ventilação mecânica, uso inadequado de equipamentos de proteção individual e coletiva pelos profissionais de saúde, propiciando a infecção cruzada e uso em larga escala de antibióticos propiciando a resistência bacteriana. Assim, é essencial à promoção da educação em saúde continuada, implementação de taxonomias e estudos para identificar os benefícios e obstáculos para avaliação da implantação das medidas adotadas.

Palavras-chave:  Acinetobacter baumannii. Unidade de Terapia Intensiva. Epidemiologia.

ABSTRACT

Acinetobacter baumannii is a Gram-negative pathogen associated with nosocomial infections, mainly in Intensive Care Units, and has na important clinical impact, due to its high incidence in this nosocomial unit and its resistance to antimicrobials. This research aims to verify the epidemiology of contamination by Acinetobacter baumannii and to analyze the forms of prevention and control of contagion of this bacillus in the ICU, to propose the creation of a standardized protocol to be used, with practical recommendations to optimize the therapy and establish measures preventive control measures to eliminate infections by that bacteria. This is a systematic review, carried out using scientific articles published between 2017 and 2021, in Portuguese, Spanish and English. The evidence levels of the studies will be judged by two independent reviewers. The results showed na incidence of 56.5 per 1000 patients in a study carried out on several continents, a higher mortality rate in countries with low or medium development, creation of new antibiotics in order to better manage multiresistant pathogens. In addition, the factors most associated with increased rates of AB infection are related to prolonged hospitalization, mechanical ventilation, inadequate use of individual and collective protection equipment by health professionals, leading to cross-infection and large-scale use of antibiotics leading to bacterial resistance. Thus, it is essential to promote continuing health education, implement taxonomics and studies to assess the benefits and obstacles to evaluating the implementation of the adopted measures.

Keywords:  Acinetobacter baumannii. Intensive care unit. Epidemiology.

1 INTRODUÇÃO

O ambiente hospitalar é considerado um grande reservatório de agentes patogênicos, como vírus, fungos e bactérias. O bacilo é um dos principais patógenos associados às infecções hospitalares, destacam-se, principalmente os bacilos Gram-negativos (BGN) fermentadores, do grupo das enterobactérias, como Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli, Enterobacter spp. E bacilos Gram-negativos não fermentadores, principalmente por Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumannii e spp (MOTA, 2018). O ambiente hospitalar e seu ambiente externo como: os esgotos hospitalares são importantes disseminadores de agentes patogênicos de resistência a antimicrobianos para a microbiota ambiental (GUSATTI et al, 2009).

Dentre os setores hospitalares, a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) representa um ambiente favorável à presença desses agentes patogênicos, sendo que cerca de 30% das infecções nosocomiais ocorrem nesse local. Existem muitos fatores que propiciam a presença de microrganismos na UTI, como a diversidade e disseminação desses agentes ocasionadas pelo fluxo de pacientes submetidos a procedimentos invasivos, como cirurgias, inserção de cateteres urinários e venosos, aspiração endotraqueal e ventilação mecânica invasiva, internação prolongada, doença de base, estado imunológico, idade e uso de medicações imunossupressoras; dessa forma, os pacientes ficam sujeitos aquisição de infecções (MOTA, 2018).

O Acinetobacter baumannii é um patógeno que se desenvolve em ambientes secos e úmidos, e com o uso indiscriminado de antimicrobianos, a falha terapêutica e profissionais de saúde deficientes, ele vem se tornando cada vez mais resistente. No âmbito hospitalar, ele é um dos responsáveis pelas altas taxas de infecções graves, o que aumenta a mortalidade e os custos financeiros. (COSTA, 2010).

O gênero Acinetobacter consiste em bactérias que durante sua fase de crescimento rápido mostram-se na forma de bacilo e na fase final do desenvolvimento em forma de cocobacilo. São Gram-negativos, estritamente aeróbicos, encapsulados, ubiquitários, não fermentadores, sem motilidade, catalase positiva, oxidase negativa e um importante patógeno hospitalar oportunista que acomete pacientes imunocomprometidos (SCARCELLA et al, 2017; LEÃO et al, 2015).

Estudos mostram que as estratégias já utilizadas nos hospitais do mundo para conter a disseminação da bactéria são insuficientes, determinantes para o aparecimento desta bactéria, em UTI, dando-nos uma visão mais esclarecedora (SILVA, 2009).

A resistência aos antibióticos em UTI tem sido um dos grandes desafios encarados pelos profissionais de saúde, ocasionando um grave e sério problema de saúde pública pelo grande impacto econômico e social, sendo uma das causas principais de óbito no mundo (MOTA, 2018). A Sociedade Brasileira de Microbiologia (2017), relata que anualmente cerca de 700 mil óbitos são causados por infecções ocasionadas por bactérias multirresistentes.

Em decorrência, do crescente aumento de infecções secundárias causadas por Acinetobacter baumannii, à resistência desse aos antimicrobianos utilizados em UTI e o aumento da mortalidade e da morbidade dos pacientes acometidos por essas infecções, nos últimos anos, revelou-se a necessidade de se realizar um levantamento epidemiológico das infecções relacionadas ás cepas de Acinetobacter baumannii em pacientes de UTI, bem como das medidas de prevenção e controle que são atualmente adotadas nestas unidades contra esse patógeno (SILVA, 2009)

Esta revisão bibliográfica tinha como objetivo verificar a prevalência da contaminação por Acinetobacter baumannii e analisar as formas de prevenção e controle de contágio desse bacilo em UTI, para propor a criação de um protocolo padronizado a ser utilizado, com recomendações práticas para otimizar a terapia e estabelecer medidas de controle preventivas para eliminar as infecções por esta bactéria, tendo em vista que a terapêutica adotada tem se tornado cada vez mais ineficaz, devido a sua capacidade de resistência, principalmente no âmbito hospitalar.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Tal estudo é uma revisão bibliográfica sistemática, realizada mediante a pesquisa de dados eletrônicos, retirados dos artigos científicos publicados entre os anos de 2017 e 2021, nos idiomas Português, Espanhol e Inglês. Para a escolha dos descritores, foi utilizada a ferramenta de pesquisa Medical Subject Headings (MeSH) (www.ncbi.nlm.nih.gov), sendo escolhidos os descritores “Acinetobacter baumannii” e “Unidade de Terapia Intensiva”.

A coleta eletrônica de dados foi realizada na base Scielo. Sendo incluídos artigos completos, como revisão bibliográfica e estudos clínicos, com suas versões disponíveis na íntegra, de forma gratuita, no espaço temporal delimitado de 2017 a 2021 e nos idiomas já citados. 

Foram excluídas teses, dissertações e monografias que disponibilizaram apenas o resumo para consulta. Com o propósito de reconhecer fatores que segundo a literatura científica, sejam determinantes para o aparecimento desta bactéria, em UTI, dando-nos uma visão mais esclarecedora, os níveis de evidências dos estudos apreciados serão julgados por dois revisores independentes. Pelo fato de ser uma revisão bibliográfica, segundo a Resolução 466/12/CNS, não necessita de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa.

Após filtragem, os resumos foram lidos e selecionados aqueles que contemplavam o tema da pesquisa. Após, as informações acerca do ano de produção, autoria, resultados e conclusão foram tabuladas no Microsoft Excel, para análise mais detalhada e comparação dos dados obtidos.

3 RESULTADOS

Uma pesquisa realizada a fim de mensurar a incidência e prevalência de infecções por Acinetobacter baumannii (AB) e Acinetobacter baumannii resistentes aos carbapenêmicos na Europa, Mediterrâneo Oriental e África, evidenciou:  a incidência e densidade de incidência de infecção em UTI 56,5 (IC 95% 33,9-92,8) casos por 1.000 pacientes e 4,4 (IC 95% 2,9-6,6) casos por 1.000 pacientes-dia; e para AB resistentes a carbapenem em UTI’s, a incidência agrupada e a densidade de incidência foram de 41,7 (IC 95% 21,6-78,7) casos por 1.000 pacientes e 2,1 (IC 95% 1,2-3,7) casos por 1.000 pacientes-dia (AYOBAMI et al, 2019).

Na Suíça, um surto de infecção por Acinetobacter baumannii ocorreu na segunda metade de 2020, envolvendo 10 dos 32 leitos de UTI para pacientes diagnosticados com COVID-19 no hospital estudado. Além destes, houve mais 17 notificações de casos de infecção por AB em outros hospitais no mesmo período. Os principais fatores de risco relacionados ao surto foram: não adesão a equipamentos de proteção individual e higiene das mãos (n = 11), escassez de EPI (n = 8) e uso de antibióticos (n = 8), contaminação ambiental (n = 7), doença crítica prolongada (n = 7) e falta de profissionais de saúde treinados (n = 7) (THOMA et al, 2022).

Já um estudo que comparou países de baixa, média e alta renda, revelou que nos dois primeiros há maior a prevalência de infecções adquiridas em Unidades de Terapia Intensiva, bem como a prevalência de infecções por microrganismos que apresentam resistência antimicrobiana. Entretanto, este também afirma que intervenções associadas a medidas de prevenção podem ser eficazes nesses ambientes (SAGARMAN et al, 2021).

Uma revisão de literatura incluindo 31 artigos mostrou que a maioria vem demostrando redução da prevalência de infecções por AB após a implantação de medidas preventivas e vigilância ativa, entretanto estratégias de triagem não se mostraram significativas no que diz respeito a este declínio (VERDUGO-PAIVA et al, 2022). 

Um estudo de coorte retrospectiva realizado em uma Unidade de Terapia Intensiva com 415 pacientes revelou que 32,5% destes estavam internados por causas não relacionadas à sepse e cirurgia, 56,4% estava sobre intubação orotraqueal, 26% recebeu transfusão de eritrócitos e 9,8% positivou cultura para Acinetobacter baumannii. Nele foi vista uma correlação significativa A correlação (p = 0,001) entre pacientes com AB e transfusão de hemácias (TORO CONTRERAS et al, 2018).

No México, um relato de caso da cidade de Chihuahua mensurou a eficácia da implantação dos planos de cuidados com pacientes em UTI e profissionais de saúde que trabalham no setor, mostrando que estes foram essenciais para a estabilização do quadro hemodinâmico comprometido da paciente com cultura positiva para Acinetobacter baumannii (RUIZ-GONZALEZ; PACHECO-PEREZ; PAZ-MORALES, 2020). 

Por fim, a produção de novos antibióticos visando conter patógenos multirresistentes como o Acinetobacter baumannii tem sido utilizado para melhora dos desfechos dos casos. Assim um novo antibiótico Sulbactam-durlobactam (SUL-DUR) vem sendo tratado visando se tornar mais uma ferramenta a ser lançada para o manejo desta bactéria (BONELL et al, 2019; WATKINS et al, 2023).

4 DISCUSSÃO

As taxas de incidência do AB são significativas e, ainda mais assustadoras que elas, as taxas de morbimortalidade por Acinetobacter baumannii em hospitais gira em torno de 25 a 54% (TORO CONTRERAS et al, 2018). Além disso, a mortalidade é muito maior em países de baixa e média renda (33,6%) quando comparadas aos países de alta renda (< 20%) SAGARMAN et al, 2021). É possível então levantar a hipótese de que o poderio técnico-científico e consequentemente socioeconômico é um determinante para a evolução dos pacientes infectados (TACCONELLI et al, 2014).

Vale ressaltar que nas plataformas buscadas, não foram encontrados artigos que traziam dados epidemiológicos do Brasil acerca do agente pesquisado nesse estudo, sendo um dos obstáculos encontrados para a construção deste trabalho.

O longo período de internação em Unidade de Terapia Intensiva e ventilação mecânica constituem os fatores de risco para o desenvolvimento de infecção por Acinetobacter baumannii, sendo os mais citados pelos artigos selecionados (RUIZ-GONZALEZ; PACHECO-PEREZ; PAZ-MORALES, 2020). O fato das unidades intensivas nosocomiais abrigarem pacientes graves e que precisam de cuidados invasivos aumenta de forma considerável a chance destes evoluírem com algum foco infeccioso por patógenos hospitalares (MILLAN et al, 2012).

Além destes, as infecções por patógenos multirresistentes está na maior parte dos casos associada a fatores de risco com potencial de modificação. Como já citado, a simples adoção do uso adequado de EPIs, higienização correta das mãos e prescrição sensata e cientificamente embasada se antibióticos, já reduziria significativamente as taxas de contaminação (THOMA et al, 2022).

Devido à sua alta resistência, apenas a antibioticoterapia como única ferramenta para manejo de infecções por Acinetobacter baumannii tem se mostrado alternativa falha no que diz respeito ao tratamento e prevenção do patógeno (MILLAN et al, 2012).

Assim, alternativas como vigilância dos fatores de risco, promoção da educação continuada e atualizada para as equipes de saúde, cuidados na assepsia e antissepsia, e desinfecção adequada do ambiente podem ser empregados em protocolos dentro das unidades de saúde, a fim de melhorar os desfechos dos pacientes internados em UTI (RUIZ-GONZALEZ; PACHECO-PEREZ; PAZ-MORALES, 2020). 

Ademais, rastrear colonização em pacientes, ser cauteloso quanto a promoção de infecções cruzadas e lançar mão de antibioticoterapia de forma restrita são outra medidas capazes de diminuir os dados epidemiológicos relacionados ao AB (MILLAN et al, 2012).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim, entende-se que o AB é um patógeno com importante relevância clínica e epidemiológica, tendo como seu principal ambiente de disseminação as Unidades de Terapia Intensiva nosocomiais. A patogenia que o envolve é diversa, podendo cursar com desfechos negativos aos pacientes infectados e até com óbito por infecção hospitalar. 

Pode-se perceber, portanto, que há necessidade de elaboração de estudos epidemiológicos brasileiros que descrevem o cenário atual de infecção por AB, bem como levantamento dos principais fatores de risco nos hospitais daqui, para extração de dados mais fidedignos e consequente elaboração de planos de cuidados e prevenção aos pacientes hospitalizados em Unidades de Terapia Intensiva. 

Várias são as intervenções que podem ser implementadas para declínio das taxas de infecção por AB. Entretanto, para que isto seja colocado em prática é necessária a conscientização de toda a equipe de saúde acerca dos riscos relacionados a esta infecção. Portanto, é essencial à promoção da educação em saúde continuada, implementação de taxonômicas e estudos para avaliar os benefícios e obstáculos para avaliação da implantação das medidas adotadas. 

REFERÊNCIAS

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¹Acadêmica de Medicina. E-mail: linezinhafranca@gmail.com. Artigo apresentado ao Centro Universitário Aparício Carvalho- FIMCA, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Medicina, Porto Velho/RO, 2023.
²Acadêmica de Medicina. E-mail: janainafxe@gmail.com. Artigo apresentado ao Centro Universitário Aparício Carvalho- FIMCA, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Medicina, Porto Velho/RO, 2023.
³Acadêmica de Medicina. E-mail: daianaalfarosouza@gmail.com. Artigo apresentado ao Centro Universitário Aparício Carvalho- FIMCA, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Medicina, Porto Velho/RO, 2023.
4Professor Orientador. Professor do curso de Biomedicina. E-mail: julianafontesro@gmail.com